Opinião

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BOA VISTA, 130 ANOS

Linoberg Almeida*

Minha vó dizia que dar parabéns antes dá azar. Como lá de cima, ela está guardando a gente e minha coluna neste jornal é três dias antes do aniversário de nossa cidade, vou deixar crendices de lado e festejar essa jovem senhora de 130 anos, mesmo que de um jeito diferente: Sem alegria nas praças, sem confraternizações, sem almoço em família, sem ir ao banho, sem festa como a gente gosta, mas de máscaras e distanciamento social, hein.

Esse vírus não diminui meu amor e meu carinho por essa cidade que me acolheu tão bem, me abraçou como uma mãe abraça um filho. Foi aqui que conclui meus estudos, virei o professor que sou com alegria e orgulho. Foi aqui que iniciei minha jornada na vida pública, como vereador, e que seja o primeiro degrau cheio trabalho e dedicação, onde me junto a mais gente corajosa, desbravadora, inovadora, empreendedora e cidadã, apaixonados e apaixonadas como eu, a fim de retribuir um pouco daquilo que recebi.

Aniversário é sempre uma oportunidade para se pensar e planejar o futuro, avaliar o que temos feito até aqui e traçar outros rumos. Não tem fórmula pronta, mas temos que fazer a cidade com todos e para todos, juntos. É preciso sair da zona de conforto. A colaboração cidadã com a ocupação dos bens e equipamentos públicos é o melhor caminho. Tratar de política local, ir às sessões da Câmara, acompanhar tudinho sem esperar eleição chegar, ter as ruas e praças da cidade como suas, é parte da nossa contribuição para termos um ambiente próspero e sustentável. A república agradece.

Fazer uma cidade para todos é estimular a veia criativa de crianças a idosos protagonistas. Artistas, profissionais da saúde, do turismo, professores, empreendedores, costureiras, agricultores juntos podem transformar Boa Vista num farol do extremo norte a iluminar tempos tão complexos. O vírus pode ser um professor na dor que nos leve a dias melhores. Só que isso não cai do céu; sem suor não tem mel.

Passado, presente e futuro juntos. Sem mentiras. Transparência como manda a lei. A questão migratória segue aí e debaixo do tapete, né? Assim como suicídio, mortalidade neonatal, baixa qualidade e dificuldade de acesso ao pré-natal, precariedade da atenção básica em saúde, desemprego, a lacuna entre fundamental I e II na educação, a falta de diálogo entre prefeitura e estado que atrapalha o bom investimento de dinheiro público são problemas de quem tem 130 anos. Escondidos, invisíveis, até nas diretrizes orçamentárias ou nas falsas prioridades da cidade, aniversário é chance sim de repensar a vida.

O mundo muda e é preciso repensar o papel da cidade, dos seus recursos e como funciona o planeamento urbano. Eu acredito na participação cívica na gestão da cidade, a possibilidade de todos poderem se ver nas decisões. Por isso, insisto em popularizar o orçamento público. Saber quanto custa um bloco de meio fio, um banco na praça, um ponto de ônibus muda nossa relação com dinheiro da gente. Até o vândalo vai pensar duas vezes. Repito e insisto: Não dá pra ser avestruz em terra de tamanduá.

Pensar a cidade como algo que faz parte da vida das pessoas é cuidar de nossa história e tradições, do coração de gente que tem hipertensão e diabetes e pouco se dá bola aos programas de saúde da família. Ah, se tivéssemos priorizado internet nas escolas, para professores e alunos, antes das praças… É saber dos autistas, cadeirantes, deficientes visuais, auditivos e suas necessidades incluídas na cidade. Até cães e gatos precisam estar nessa festa de fazer e acontecer um lugar coletivo.

Esse sentimento de pertencer e ser feliz nessa cidade que é nosso lar, conhecendo novas pessoas de todo canto e toda fé, trocando experiências, acreditando na Política como a arte do possível, e na sala de aula como palco da transformação mais profunda do cidadão, é tudo que me faz um boa-vistense cheio de verdes esperanças, sempre. Muita saúde, muitas felicidades e muitos anos de vida, Boa Vista!

*Professor e Vereador de Boa Vista

A DIPLOMACIA PARLAMENTAR E A ECONOMIA DE RORAIMA

Telmario Mota*

No início de 2019, eu fui sozinho à Venezuela em missão de diplomacia parlamentar para convencer o governo daquele país a reabrir a fronteira com Roraima e retornar o fornecimento de emergia elétrica da usina de Guri, fundamental para o abastecimento do meu estado, o único do país desconectado do sistema elétrico nacional. 

Cheguei a reunir-me com o presidente Maduro e voltei com a promessa de que o problema seria solucionado. E foi. A fronteira foi reaberta e o fluxo de comércio foi retomado. O fornecimento de energia elétrica até hoje não restabelecido em razão das idas e vindas da burocracia do Estado brasileiro e desencontros entre os governos do Brasil e da Venezuela. 

Na época, paguei  um preço alto pela ousadia de transpor os obstáculos burocráticos e arregaçar os braços para resolver problemas que asfixiavam a economia roraimense. Fui vítima de uma ação criminosa dos quadrilheiros das fake news. A minha foto cumprimentando o presidente constitucional da Venezuela foi apresentada nas redes sociais como se eu tivesse me convertido num militante comunista bolivariano. Os bandidos não disseram uma palavra a respeito das razões que me levaram a viajar a Caracas: reabrir a fronteira para restabelecer o fluxo de comércio e obter a volta do fornecimento da energia elétrica para o nosso povo. Dias depois, Trump foi à Coreia da Norte reunir-se com o Kim Jong-un e os jornais de todo o mundo estamparam nas suas capas a foto histórica. Mas os cachorros raivosos de Roraima que me atacaram com fake news quando fui ao presidente Maduro defender os interesses do meu povo calaram-se em silêncio obsequioso diante do gesto do presidente dos EUA para com o “ditador” norte-coreano. Além de covardes revelaram-se sabujos do império estadunidense. 

É verdade também, e devo prestar aqui o meu reconhecimento e gratidão, que recebi uma inesperada e volumosa manifestação nacional de apoio. Dezenas de personalidades da política, da economia, do Direito e das artes produziram uma nota de reconhecimento e solidariedade ao meu gesto de buscar a paz e a integração regional.

E porque escrevo a respeito desse assunto um ano depois? Por que hoje a rodovia brasileira na fronteira com a registra dezenas de quilômetros de caminhões carregados com alimentos destinados à Venezuela. É praticamente o único oxigênio do nosso comércio, um pouco de vida comercial na tragédia da estagnação econômica provocada pelo coronavírus.

Na época a minha atitude de ir à Venezuela reunir-me com as autoridades em busca de soluções imediatas para o sofrimento que afligia o povo do meu Estado, a minha querida Roraima, causou surpresa em muita gente pelo Brasil afora. Muitos se perguntavam: quem é esse Telmário Mota? Como ele tem semelhante coragem de ir sozinho a um país conflagrado e sair de lá com um começo de solução para o fechamento da fronteira entre a Venezuela o Brasil, um problema que parecia não ter solução pelo diálogo e pela diplomacia?

Só faz tais perguntas quem não me conhece. Venho de longe. Recebo dos meus antepassados o legado de compromisso com o povo roraimense e com o povo brasileiro. O meu bisavô, Coronel Mota, educador, foi o primeiro prefeito e Juiz de Paz de Boa Vista. O seu primeiro filho, o tio Vitor, morreu lutando pelo território nacional contra os ingleses. Junto com ele estava o meu avô, Pedro Rodrigues, o último comandante do Forte São Joaquim do Rio Branco. Aprendi com a minha mãe, Ana, índia macuxi, e com o meu pai,
o vaqueiro Tuxaua Pereira, a amar as pessoas e ter coragem na vida. Assim como o tio Vitor, que morreu lutando pela Pátria, se necessário dou a minha vida pelo povo do meu Estado e do meu país.

O Brasil tem uma missão, pela qual eu pauto a minha vida e o meu mandato: construir no hemisfério sul da América um território de paz e de prosperidade para o bem dos nossos povos. Não tenho a pretensão de ser mais do que sou. Tenho consciência de que a sociedade e a história se movem por gigantescas forças objetivas de natureza econômica e geopolítica. Sei o meu tamanho, mas sei também das minhas responsabilidades. Sei que as mudanças que precisam ocorrer não acontecem por inércia, mas pela ação concreta de homens concretos, aqui e agora. Acredito no papel do indivíduo na história. Como fizeram os meus antepassados, eu faço a minha parte. Que cada um faça a sua. E colha o que planta.

*Senador – PROS-RR

INTEGRANTES

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Todos devemos ser a mudança que desejamos ver no mundo.” (Gandhi)

É só isso. Porque enquanto não mudarmos, nada mudará. E lá vêm os gafanhotos. Segundo a história, eles já fizeram zorra, aqui na Terra, na época em que, por conta deles o mar teve que ser cortado para o povo fugir. E os fugitivos tiveram que ficar quarenta anos caminhando pelos desertos para se acharem novamente. Então vamos ter muito cuidado. Ou mudamos ou continuaremos à mercê dos gafanhotos, que podem muito bem estarem na política, ou nos vírus que estão por aí, há séculos.

Mas vamos falar sério, porque a brincadeira está séria. É claro que depois da crise que estamos vivendo e não deveríamos estar vivendo, tudo ou pouco, vai mudar. Porque nada mudamos depois das crises passadas. Estou pisando sobre o mesmo terreno porque não quero entrar no assunto. Mas não vai dar pra fugir dele. Enquanto ficarmos tremendo e chorando, dentro de casa com medo do vírus, não iremos resolver o problema no futuro. Nada mais ridículo do que os Estados estarem desesperados por falta de condições para o atendimento aos infetados.

São Paulo tem mais de trinta milhões de habitantes. Vexatoriamente está desesperado por não ter condições, na saúde, para atender, emergencialmente, a um por cento da população. Não sei pra você, mas pra mim isso parece ridículo. É uma questão de despreparo administrativo. E não bata palmas nem ria, porque Roraima, como todos os outros Estados, está na mesma gangorra, com uma população de município.

Vamos mudar? Mas não mudaremos enquanto não mudar, nós mesmos. E é simples pra dedéu. É só nos educarmos para podermos entender o que os não educados não entendem. E enquanto isso, continuaremos no mesmo nível deles. Então vamos cuidar de nós, para que apossamos servir de exemplo para os outros. Vamos nos educar politicamente. E isso não quer dizer que devemos ser políticos.

O que devemos é sabermos escolher os políticos que irão trabalhar por nós, e para nós. E só quando nos educarmos saberemos que estamos elegendo administradores públicos para trabalharem para nós. Porque somos nós, eleitores, que pagamos os alarmantes salários deles. E só entenderemos isso quando formos realmente cidadãos. E dependemos dos políticos, para alcançarmos o patamar da cidadania. Veja se seu candidato está interessado no voto facultativo.

E enquanto formos obrigados a votar não seremos cidadãos. Mas nunca obteremos o voto facultativo enquanto não nos educarmos. Vamos nos educar, para construirmos o mundo que queremos ter. E tudo vai depender de cada um de nós. Vamos fazer nossa parte, fazendo o melhor. Pense nisso.

*Articulista

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