Opinião

OPINIAO 10615

RORAIMA – LUTO E FLAGELO

Júlio Martins*

Roraima está de luto

Paira sobre nós uma nuvem escura, que assombra e amortalha esta formosa terra.  Os “lavrados banhados de sol”, como canta o nosso hino, as serras altivas, o verde das matas, o prateado sinuoso dos rios, cidades, vilas, aldeias, fazendas, vicinais… tudo parece mergulhado num eclipse total de pranto e de dor. 

Um espectro medonho ronda dia e noite, por toda a parte, ceifa a torto e a direito e ninguém pode fugir à foice ávida desse anjo exterminador. É o flagelo da pandemia que se abate, como fera faminta, sobre um povo pávido, perplexo, indefeso….

Povo há muito traído e espoliado, já lhe tinham tirado quase tudo. Do pouco que ainda restava, agora nada ficou. Veio a pandemia e varreu tudo. Nem mesmo na morte inesperada de uma pessoa querida, nem nesse momento extremo, lhe é permitido o conforto da tradição, o lenitivo da fé, proibidos os velórios, interditos os ofícios fúnebres, esquifes lacrados, igrejas fechadas, silenciosas… Só desespero e desolação, sem fim, sem remédio….

Ora, direis, cenas tais e tantas, de igual força dramática aconteceram e acontecem no Brasil e no mundo, diariamente, nessa pandemia. Sem dúvida. O problema aqui em Roraima é a veemência dos números. 

Segundo levantamento concluído às 18:30 h do dia 09 de agosto de 2020, disponível na internet, em número de mortes por milhão de habitantes, o estado de Roraima ocupa o primeiro lugar no Brasil e no mundo. Com 605.761 habitantes e 547 óbitos, Roraima apresenta uma relação de 903 mortes/milhão de habitantes. Seguem-se Ceará/871, Rio de Janeiro/816, Amazonas/810, Pernambuco/726, Amapá/712 e assim por diante, até Minas Gerais com 21.168.791 habitantes e 3.537 óbitos, 167 mortes por milhão de habitantes, portanto o melhor estado brasileiro, disparado, no enfrentamento da pandemia. No quadro mundial, a Bélgica e o Reino Unido, com 851 e 686 mortes/milhão, respectivamente, são os países com o pior cenário, ainda assim números mais modestos do que os de Roraima.    

São números cruéis, que ferem, amedrontam, causam indignação, mas, ao mesmo tempo, em sua fria linguagem, interrogam e fazem veemente denúncia. Por que? Que é que aconteceu em Roraima? Por que essa terra, de conhecida salubridade, de largos espaços, de rarefeita população padeceu tão grande martírio?

Os estudiosos do assunto hão de encontrar a resposta. Qualquer que seja, no entanto, não será completa, se não chegar à raiz do problema, que é de natureza política. Na verdade, o fenômeno acontecido aqui nada tem de raro. É até trivial. Pode e deve ter acontecido em outros estados. Mais uma vez, o que há de anormal aqui é a intensidade dele. Trata-se do encontro, da coalizão de dois flagelos simultâneos, um virótico, outro político; um de fora, outro de dentro. Ambos mortíferos.

O segundo, sem dúvida, mais letal do que o primeiro. Porque, pior do que a pandemia chinesa, que há de passar, é o pandemônio político de Roraima, que não passa, vigente e reinante aí há trinta anos. Se a pandemia chinesa veio encontrar em Roraima a vítima perfeita de sua sanha assassina, é ao pandemônio político que se deve essa atrocidade. Se a fragilidade dos serviços de saúde do estado e do município elevaram exponencialmente o número de mortes, é a ele que se deve essa explosão de dor, esse dilúvio de lágrimas.

Se temos governantes inaptos, ineptos, inseguros, que se apequenam diante de grandes crises, como essa, é a ele que se deve essa deficiência crônica. Ele é, em suma, a matriz dos problemas sociais e econômicos que aprisionam o estado nessa espécie de areia movediça, nessa dependência perpétua da União. Mas ele, por sua vez, é causado por uma lesão mais profunda do tecido social e dos costumes políticos, sedimentados desde o advento do estado. Refiro-me ao processo eleitoral.

As eleições em Roraima, há muito, deixaram de ser o debate de ideias, o escrutínio da vida e do caráter dos candidatos, como deve ser numa democracia que se preze.  As eleições em Roraima, digamo-lo sem disfarce, são um espetáculo deprimente,  funambulesco, vergonhoso, quando o povo é tangido, como gado, para o brete das seções eleitorais, ao aboio, ao estímulo irresistível de milhares das assim chamadas “bocas de urna”, as famigeradas “BUs”, velhas conhecidas de todos, além  de muitos milhões de reais que correm, como rios subterrâneos, pelos meandros secretos do caixa dois. Na verdade, isso nem merece o nome que ostenta. Pode ser qualquer coisa, menos eleição.

É um processo espúrio, ilegítimo, imoral e, sobretudo, contraditório, porque agride sistematicamente o regime do qual depende a sua existência. Ele afronta a legislação, estrangula a vontade do povo, zomba da soberania popular e termina por sufocar a democracia, que não pode respirar, se a eleição não puder cumprir limpidamente o seu papel: a escolha dos melhores.

De modo que, a cada dois anos faz-se em Roraima a encenação, pelo avesso, da famosa parábola evangélica do joio e do trigo (Mt 13,24). Em Roraima, o joio é cultuado e recolhido no celeiro dos eleitos; o trigo, salvo poucas e honrosas exceções, é ignorado, escarnecido e jogado fora.

Em sua Carta aos Gálatas, povo que corria perigo iminente por sua própria teimosia, o apóstolo São Paulo desfere um grito emocionante de angústia e de alerta: “Ó insensatos gálatas!” (Gal 3,1). Esse grito do apóstolo, bom seria ouvi-lo retumbar hoje nos quatro cantos de Roraima: “Ó insensatos roraimenses!”. Nascidos ou acolhidos!

Pode não ser agradável ouvir palavras assim. Menos ainda escrevê-las, podem crer. Mas é preciso. No rastro dessa pandemia, diante da perda de tantas vidas e do luto de tantas famílias, é preciso verbalizar a dor e a indignação de muita gente, que não pode ou não sabe fazê-lo. É preciso também investigar, discutir, buscar respostas, a fim de que não se repita no futuro semelhante flagelo.

Fazer isso é uma espécie de sacerdócio civil, de magistratura moral. Quem pode e sabe tem o dever de fazê-lo. Se não o fizer é um crime.         

*Ex-deputado federal, ex-prefeito de Boa Vista e ex-vereador de Boa Vista

E SE NÃO ENTENDEM? 

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“As palestras de autoajuda pouco ajudam quando as pessoas não compreendem o funcionamento da mente.” (Augusto Cury) 

Quando entendemos o funcionamento da mente entendemos como ajudar, através da palavra. Mas o mais importante é que entendamos os que não entendem. Já sabemos que o bom conversador é o que ouve mais, e não o que fala mais. O recado deve ser passado com calma, parcimônia e muita harmonia. O que é muito difícil, mas não é impossível. E se não é impossível deve ser feito em beneficio do possível. Vamos debulhar. A dificuldade em passar o recado para os iniciantes nem sempre é notada. E por isso deve haver muito preparo em quem vai transmitir o recado. Simples pra dedéu.

É realmente preocupante o momento que vivemos. Não me parece que estamos dando tanta importância ao preparo dos jovens, para eles viverem o mundo deles, no futuro. A evolução na tecnologia caminha em ritmo acelerado. Mas a educação não está acompanhando a aceleração. Devemos, ou não, deixar que nossos filhos voltem às escolas antes do final da crise que vivemos? Se estivéssemos preparados não teríamos dúvidas. E está se tornando cansativa a discussão que ouvimos todos os dias, de autoridad
es que não tiveram competência para preparar o País para possíveis crises. E estas sempre existirão. Enquanto isso, continuamos escondidos detrás da porta, esperando que as coisas aconteçam para podermos espernear em falatórios. 

E como não estamos falando em reuniões de autoajuda, vamos fazer nossa parte como ela deve ser feita.  Comecemos nos educando, já que não nos educaram nem nos educam. E vamos iniciar a tarefa preocupando-nos com os nossos descendentes. Porque se não nos educarmos não saberemos educá-los para viverem o mundo deles. E se não fizermos isso, eles nos julgarão como estamos julgando nossos antecessores. 

Comecemos nossa tarefa não nos deixando desesperar com a grandeza do desastre que estamos vivendo com mais um vendaval de vírus. Porque os gafanhotos não são novidade. Nem o vírus. Não deixe de verificar o que o seu candidato às próximas eleições está planejando para a Educação. Desculpem-me pela aparente grosseria na fala, mas vamos, com o voto, combater a corrupção que nos assola, desde os nossos princípios na política. E como o problema é universal, vamos estar mais atentos, para sermos o que devemos ser: Cidadãos Brasileiros. Porque ainda não somos. O que somos é marionetes de títeres que se dizem políticos. Mas não se esqueça de que ainda temos bons políticos no Brasil. Só precisamos ajudá-los a trabalhar, livres dos maus políticos, que são a maioria. Pense nisso.

*Articulista Email: [email protected] 95-99121-1460