Opinião

OPINIAO 10919

O QUE VOCÊ ESCOLHE: FURAR O ISOLAMENTO OU A REALIDADE?

Danielle Fracaro da Cruz*

Eduardo Santana Valli**

Em tempos de isolamento social, temos a cada dia novos desafios. Nossa percepção da realidade vem se modificando e se edificando em novas alternativas. A história tem sido narrada a partir de várias nuances e os jogos são exemplos de narrativas capazes de tirar o jogador do isolamento, propondo interações, descobertas e boas histórias. Nesse universo criativo, os jogadores deixam de ficar trancados e isolados em suas casas, imergindo em aventuras de diferentes temas, diferentes épocas, diferentes cenários.

Passemos a pensar no jogo como uma forma de linguagem, que aprimora a comunicação, despertando um efeito significativo na construção da identidade do jogador. Esse processo de criação identitária, reflete também na maneira como o jogador interage a partir da escolha do jogo. Além disso, um jogo deve ser considerado um aparato para a leitura e o seu jogador reconhecido com um leitor.

Por ser uma possibilidade de leitura, a prática do jogo tenciona a imaginação, a partir de uma ação interativa, que apresenta um efeito de flexibilidade e criatividade, além das múltiplas viabilidades em relação às várias narrativas que podem ser produzidas. Caracterizando-se assim como um aparato de interação que facilita a compreensão de procedimentos artísticos, interferindo na interpretação.

Essas considerações nos possibilitam construir algumas perguntas decisivas nesse momento: seriam os jogos, os facilitadores de novas formas de despertar interpretação? Passariam os jogadores a conhecer e experimentar o mundo físico com os mesmos critérios subjetivos que usam para definir suas escolhas nos consoles? Estaria o isolamento social afirmando que a interação virtual intermediada por jogos pode consolidar novas formas de leitura do mundo? Responder todas essas questões demandaria formas mais específicas de pesquisas quantitativas e qualitativas, mas esse não é o objetivo desse texto.

Talvez o simples fato de que algumas perguntas possam ser feitas apenas a partir do isolamento social, seja um importante elemento revelador acerca da realidade. Os jogos, escolhidos como protagonistas dessa pauta, aparecem nos centros das discussões relacionadas ao isolamento e as formas encontradas para manter a sanidade. Aspectos positivos como conseguir abstrair o indivíduo das duras limitações de interação social que o momento exige, tem sido levantado nas discussões acadêmicas e numa percepção estratégica do mercado cultural. Sem dúvidas, essa percepção tem sido apropriada pelos diferentes setores de produção audiovisual visto que muitas séries, em serviços de streaming, têm adaptado jogos e proposto modelos mais interativos em suas narrativas.

Na leitura desses jogos que moram nossas inquietações, pois ainda que estes produtos culturais possam ser importantes ferramentas na percepção de diferentes leituras, os jogadores assumem uma posição consciente frente a isso? Da mesma forma que poderíamos indagar se um leitor, assume uma postura de consciência em relação ao livro que tem em mãos: ele investiga a vida e as motivações do autor? Percebe os detalhes da editoração? Pensando objetivamente: este leitor vai além das percepções que compõe determinada estrutura narrativa e usa a leitura do livro com um aprendizado na leitura de mundo, ou vê seu processo de leitura como uma desejada abstração da realidade?

Esse texto é resultado de um esforço para contextualizar as formas perceptíveis de enfrentamento da realidade, por uma camada da população que não está necessariamente preocupada com os efeitos que ameaçam a essência da vida, mas encaram outras preocupações e fazem o uso de jogos digitais, nesse momento. Trata os efeitos benéficos da articulação de jogos digitais como suposições, nos permitindo fazer certos questionamentos podem ser importantes numa escolha para ler o mundo nas condições atuais, funcionando como um decisivo caminho para pensar no aprimoramento das dúvidas. Quem sabe assim consigamos analisar concretamente o ser humano naquilo que ele produz, considerando como este significa e ressignifica suas próprias criações.

*Mestre em Teoria Literária, professora da área de Linguagens e Sociedade, Letras e História da Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional Uninter.

**Mestrando em Sociologia, professor da área Linguagens e Sociedade, Letras e História da Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional Uninter.

DE ARMAS NA MÃO

Francisco Arid*

Nos últimos dias, foi noticiado um significativo aumento das candidaturas de policiais e/ou militares em relação às eleições anteriores. São sargentos, delegados, coronéis que fazem da segurança pública sua principal bandeira, muitos dos quais se aproveitando do “efeito Bolsonaro” para concorrer a uma vaga nas prefeituras e câmaras de vereadores por todo o país. No entanto, erra quem se apressa em condenar ou menosprezar esse fenômeno de forma generalizada, vendo-o necessariamente como um sinal dos retrocessos que o Brasil está vivendo.

Em primeiro lugar, o fato de que tantos candidatos dão tamanha atenção à segurança pública mostra que essa é uma preocupação real da população – afinal, o Brasil é um país com altíssimos índices de criminalidade e violência. Os discursos populistas e violentos (que conhecemos da já consolidada “bancada da bala” e dos discípulos do bolsonarismo) de muitos desses candidatos devem ser repudiados, é claro, mas é importante lembrar que, se chegamos a esse ponto, é porque a segurança pública foi um tema negligenciado ou sucateado por vários governos anteriores, que inclusive adotaram medidas bem parecidas ao modelo militarista, punitivista e ineficaz defendido por partidos de direita.

Entretanto, não é s
omente por meio desses partidos que são lançadas candidaturas de policiais e/ou militares: também há, na área da segurança pública, candidatos com propostas progressistas que enfrentam o modelo vigente. Se queremos combater o autoritarismo que toma conta da política e da polícia no Brasil, não podemos entregar à direita punitivista o monopólio do debate sobre segurança pública. Por isso, a existência de candidaturas que disputam essa narrativa e apresentam alternativas viáveis e democráticas é algo a ser visto com bons olhos.

O Brasil é um país extremamente violento e autoritário. Por isso, em vez de condenarmos a priori a presença de policiais nas eleições, é essencial que levemos a sério as preocupações da população e nos informemos acerca dos candidatos. A vitória de um modelo alternativo de segurança pública não pode depender de discursos fáceis e promessas vazias, mas de planejamento, propostas concretas e resultados.

 

*Estudante de Ciência Política na Universidade de Marburg, na Alemanha, e articulista da Saíra Editorial.

EDUCAÇÃO

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“A educação pelo medo deforma a alma”. (Coelho Neto).

Cada vez que me envolvo neste assunto, fico à deriva. O tempo passa, a vida se vai e nós continuamos os mesmos. Sento-me ali e fico viajando pelo cosmo da mente. Por que será que não evoluímos enquanto seres humanos? Aí me lembro do Coelho Neto, do Miguel Couto, do Menotti Del Picchia, e outros que se preocuparam com o desmantelo na Educação. Já citei o Miguel Couto, por aqui, várias vezes com a frase: “Só há um problema nacional: a educação do povo”. Por que será que as autoridades responsáveis pela Educação Pública não se atentam pra isso?

Mas o Menotti Del Picchia define: “Está tudo errado porque os homens nunca procuram saber o que realmente são”. E não sabem mesmo. Galeão Coutinho define melhor: “A mulher tem o poder de esvaziar o cérebro dos homens, domesticando-os”. Depois de domesticado ele vira elefante de circo. Gira, gira, mas não consegue sair do círculo demarcado por quem o domesticou. E como o mundo tem sido dirigido quase que exclusivamente pelo homem, não é de admirar que não saiamos do picadeiro. Há quantos milênios as mulheres vêm sendo “domesticadas” pelos homens que não percebem que elas sempre os domesticaram ficando, ardilosamente, por trás deles, dirigindo-os ao modo delas? Tomara que elas não continuem nessa tolice esférica de não quererem mais ficar por trás. É aí que elas vão perder a força incomensurável que têm.

Façam isso não, bonecas. Vocês são muito mais vivas do que parece e sabem que nós, homens, gostamos e até adoramos o fato de saber que vocês estão por trás, segurando o timão para que possamos ser o que somos. E não se iludam que o mérito é todinho de vocês. Deixem esses caretas continuarem pensando que são os donos da cocada. Mas não era sobre isso que eu queria falar. Que mancada. Sentei-me aqui pensando na fala do Menotti. No dia em que o homem parar de ser burro e procurar descobrir o que ele realmente é, tudo vai mudar. O diabo é fazer com que acordemos para o que somos. E foi aí que me deixei levar pelo pensamento do Coelho Neto. De fato, toda nossa origem é marcada pela educação do medo. Nunca nos ensinaram a ser o que somos, mas a ser o que acham que devemos ser. Isso vem desde as cavernas e continua até hoje, e pelo que vejo vai continuar, sabe Deus, por quantos milênios, ainda.

A verdade é que mesmo inconscientemente, temos medo de descobrir o que realmente somos. Preferimos acreditar que somos produto de uma escultura de barro. E nunca conseguimos sair do círculo em que fomos domesticados. E como somos o que pensamos, continuamos impossibilitados. Pense nisso.

*Articulista

Email: [email protected]

95-99121-1460