Opinião

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STARTUPS – VALE A PENA TER A SUA?

Armando Kolbe Junior*

Startup é um modelo empresarial que soluciona necessidades reais, possui um alto potencial de viralização e replicável, são focadas em ideias arriscadas e antecipam tendências tecnológicas. Mas, será que realmente vale a pena ter a sua?

Entre as vantagens e motivos pelos quais muitos empreendedores investem nelas, é o fato de que mesmo em um investimento muito arriscado, o foco está no alto índice de viralização do projeto.

Um empreendedor não investe em uma startup por impulso ou incerteza. Precisa passar por muitas fases de validação e ter uma base concreta de informações. E uma das vantagens é que normalmente, os seus colaboradores terão uma experiência muito enriquecedora. Exige mais conhecimento dos profissionais, sendo considerada um modelo muito flexível em questão de horários e atividades.

Logicamente, por conta do risco, não é possível ter tanta certeza sobre o sucesso do negócio. As empresas tradicionais se apoiam em análises de tendências, comportamento do público-alvo, planejamento, gerenciamento, entre outros fatores para ter sucesso, já a startup começa seu plano com uma visão mais limitada, justamente por não ter referências ou informações suficientes sobre a aceitação do público sobre o projeto.

Àqueles profissionais que pretendem ter uma carreira definida e longa, uma startup com certeza não é a melhor opção, pois ao cria-la, as chances de falência também são maiores, além de que a procura por funcionários que vão se interessar por encarar esse desafio também será maior.

Essa análise inicial impacta naqueles que querem empreender, mas se acompanharmos alguns dados e informações veremos o quão promissor é esse novo ecossistema.

De acordo com o Jornal O Estadão – economia (10 de maio de 2020), e do Jornal Estado de Minas (23 de junho de 2020), de um lado temos mais de 13 milhões de desempregados e do outro sobram vagas no mercado digital. O Banco Mundial afirma que há mais de 200 mil vagas abertas neste segmento, sendo cinco mil apenas em startups. A estimativa é de que, até 2024, pelo menos metade dos 420 mil empregos que devem ser criados em TI podem não ser preenchidos.

No site RFI (2020), encontramos dados que apontam que a economia digital já representa mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e as oportunidades no setor de startups são tão grandes quanto os desafios futuros.  Fala-se de investimentos anuais de U$ 2,7 bilhões em 2019, que dobraram em relação a 2018, sendo um ecossistema quantitativamente muito representativo, representando 55% dos financiamentos na América Latina. Sendo que dessas empresas digitais, 46% atuam nos setores de logística e distribuição, 25% em finanças e 7% em transportes, que surgem para preencher uma lacuna existente no mercado nacional.

Estudos do Sebrae, em 2016, mostram que 30% dos universitários brasileiros possuem ou pretendem abrir seu próprio negócio. As discussões sobre startups também têm crescido nos últimos anos, como demonstram dados sobre o volume de participantes da maior conferência do setor no Brasil, a Case (Conferência Anual de Startups e Empreendedorismo), que seguiu de 2 mil em 2014 para 10 mil em 2018.

Os empreendedores de startups, hoje, no Brasil, estão buscando muito mais qualificação que antigamente. Antes, eram profissionais sem muita opção no mercado, que haviam perdido o emprego e acabavam buscando um caminho no empreendedorismo, de acordo com a revista TecHoje.

O ecossistema de startups no Brasil está em franco desenvolvimento. Já temos nossos primeiros unicórnios (startup que alcança valor de mercado de mais de 1 bilhão de dólares) e a atenção de grandes empresários é latente no setor.

Há uns dez anos, era comum as pessoas buscarem fazer carreira em grandes empresas, entretanto, atualmente elas iniciam em startups. Uma das razões do sucesso rápido e crescente desses empreendedores se dá ao fato de que até um tempo atrás quase ninguém sabia o que era uma startup unicórnio.

O modelo construído para alavancar empresas que estão em busca de crescimento são chamadas de aceleradoras, e no Brasil, no relatório do IDB, são relacionadas 64, sendo 1 na região norte, 6 na região nordeste, 48 na região sudeste e 10 na região sul. Nesse estudo também foram abordadas questões sobre a cultura, onde as startups têm estado em voga, principalmente na valorização do tema pela mídia especializada e geral. Alinhadas com as novas tecnologias e as tendências de um mundo mais conectado e com processos mais otimizados e rápidos, têm ganhado destaque como promotoras dos processos de transformação digital. Desse modo, já despertam, em especial na juventude, o interesse crescente pelo empreendedorismo na área.

No Brasil, são inúmeros os muitos problemas grandes que não são resolvidos e que criam um ambiente que favorece a criação de startups. Assim, a atuação desses profissionais contribuirá, de forma direta ou indireta, para planejar, executar, controlar e avaliar recursos, processos e atividades da organização, visando a redução dos custos, ampliação das receitas, aumento da produtividade, melhoria da qualidade e melhor aplicação dos resultados.

As startups surgem como uma ponte de ligação entre um mercado confuso e cheio de incertezas para outro no qual, as esperanças estão colocadas no surgimento de pequenas notáveis, empresas que venham a criar novas formas de negócios sustentáveis e que defendam o meio ambiente social, reconhecendo os empreendedores como um de seus principais valores.  Devemos, portanto, ficar atentos, pois, podem ser consideradas como o reflexo das inovações tecnológicas. Afinal, elas acompanham a tecnologia e desenvolvem soluções para as necessidades digitais do momento, além de atender as mais diversas áreas.

*Coordenador do curso de Gestão de Startups e Empreendedorismo Digital do Centro Universitário Internacional Uninter.

A SAÚDE MENTAL DOS JOVENS E DAS CRIANÇAS

Isabel Marçal*

Milena Fanucchi**

Quem nunca se sentiu excluído, sozinho, ignorado ou envergonhado por ter pensamentos recorrentes que são classificados pela sociedade como inadequados? Essa sensação é resultado do hábito – construído e reforçado pelo convívio em sociedade – de não expor sentimentos negativos. Falar sobre as nossas dores, angústias e tristezas é praticamente um tabu. Esse silêncio, aliás, nos levou à situação mundial que enfrentamos atualmente: um adoecimento mental da sociedade, incluindo jovens e crianças. O século XXI é marcado pelo boom das doenças relacionadas à mente, principalmente, as decorrentes da ansiedade e da depressão. No mundo, uma em cada três pessoas sofre com problemas relacionados à ansiedade; 322 milhões vivem com depressão. No Brasil, a situação é bem grave, pois somos o país com mais ansiosos do mundo e o quinto em casos diagnosticados de depressão.

Os jovens, em especial os adolescentes, são os que mais sofrem com problemas de saúde da mente, ou seja, um a cada cinco vivem um sofrimento psíquico. Dos 10 aos 19 anos, vivemos uma situação única, totalmente peculiar e de transição, na qual múltiplas mudanças físicas e emocionais acontecem, fazendo com que a criança se transforme em um adulto. Mudanças geram medo, insegurança e dúvidas – e não fomos ensinados a lidar com esses sentimentos quando crianças. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), metade das doenças mentais começa na faixa etária próxima aos 14 anos; o suicídio, infelizmente, é a terceira principal causa de morte entre adolescentes mais velhos (de 15 a 19 anos). No Brasil, houve um crescente considerável e assustador no número de suicídios nesse período de vida.

Mas, por que tantos adolescentes tiram a própria vida? Segundo a OMS, as tentativas de suicídio podem ser impulsivas ou ligadas a um sentimento de desesperança ou solidão; esse é o último passo, a última tentativa para acabar com o sofrimento. Algumas situações podem colaborar com essa atitude – uso de drogas, o abuso infantil e, principalmente, o estigma que gira em torno dos transtornos mentais. A maneira mais eficaz para acabar com esse preconceito com a saúde mental é falar sobre o assunto e, acima de tudo, escutar com atenção e empatia o que o outro está falando ou demonstrando. Todos os casos de suicídio apresentam algum sinal. É necessário olhar para o outro com atenção e estar disposto a ouvir e ajudar; e, sem dúvida alguma, o passo mais importante é se permitir olhar para dentro, identificar e acolher seus sentimentos, sabendo que todos nós estamos buscando a felicidade, mas que também sofremos com a tristeza e isso é normal. Na verdade, é bem mais do que normal, é o que nos humaniza.

Empatia – palavra gasta e “batida” pelas redes sociais, mas pouco aplicada –, significa a habilidade de imaginar-se no lugar de outra pessoa, observar e buscar sentir ao máximo o que ela está passando. Só com ela que conseguimos ajudar, de fato, o próximo, assim como a nós mesmos. Isso porque ter esse sentimento por nós, também, é extremamente necessário. Um dos meios de cultivar empatia é por meio de histórias, que podem nos inspirar e despertar auto-observação. Para nós, compartilhar experiências fortalece tanto quem expõe (seja pela escrita ou pela fala) quanto quem recebe (seja pela leitura ou pela escuta ativa), além de ser capaz de gerar transformações pessoais e coletivas.

Quando recebemos o convite da Editora Burn Books para fazer parte da antologia ‘Você não está sozinho – uma coleção de contos que rompe o silêncio’ –, não havia como recusar. Até porque, há dois anos, resolvemos dedicar nossas carreiras à promoção e à prevenção da saúde da mente ao nos reunir com pessoas que compartilhavam a vontade de atuar com a saúde da mente.  O Instituto Bem do Estar nasceu desse desejo que se tornou missão.

Você não está sozinho, cuja parte da renda de venda será doado ao Instituto Bem do Estar, vai muito além de dar voz aos sofrimentos psíquicos, gerar identificação e acolhimento. Esse livro nos traz conhecimentos sobre saúde mental, aproximando os jovens dos profissionais de atendimento terapêutico, assim como diminuindo o abismo entre eles e o preconceito que ronda a saúde mental. Todas as histórias são seguidas de uma carta escrita por um psicólogo – que conversa sobre os assuntos abordados naquele conto, esclarecendo muitos pontos e direcionando de maneira simples e direta como buscar apoio. Esta era uma grande preocupação dos organizadores, Guilherme Cepeda e Lari Azevedo, autores da obra, não queriam que fosse somente uma coleção de contos; desejavam fazer do livro uma fonte de conhecimento e mostrar a importância de procurar ajuda profissional. Foi a partir da premissa da conscientização que observamos outros pontos importantes que essa obra nos traz.

Desmistificar o tratamento para saúde mental é o primeiro passo para conseguirmos diminuir os dados crescentes de suicídio e de transtornos. Nossa mente merece e precisa urgentemente ser tratada como qualquer outra parte do nosso corpo. Por que, quando sentimos dor de dente, vamos ao dentista? Por que, quando sentimos dor no peito, vamos ao cardiologista, mas, quando a dor é na alma, ignoramos e, pior, achamos que é fraqueza? Isso precisa acabar. A terapia com psicólogo e/ou psiquiatra é para nos conhecermos, entrarmos em contato com nossas necessidades, anseios, dificuldades e sentimentos. Muitas vezes, como fazemos para sanar outras dores, é necessária uma medicação. Como diz o psiquiatra Ricardo Feldman – colunista do Instituto Bem do Estar – “os transtornos mentais podem incapacitar e prejudicar tanto quanto as doenças ‘físicas’ e, assim como elas, também possuem tratamentos eficazes para restabelecer a saúde, o equilíbrio e o bem-estar.”

Além do apoio profissional, contar com uma rede de apoio formada por pessoas de confiança é extremamente importante. Ter com quem conversar e desabafar e a quem pedir ajuda pode evitar resultados piores. Por isso, lembra-se da empatia que a gente comentou? Pois bem, ela pode e deve aparecer por aqui também. Quando olhamos para o outro, conseguimos identificar os pequenos sinais que a pessoa em sofrimento pode estar tentando mostrar.

Talvez você esteja se perguntando se é possível prevenir os transtornos da mente. Sim, é possível. Não tenha medo de olhar para dentro, observe suas emoções e tente identificar quais pensamentos e ações levam a elas. Busque reservar um tempo só para você e exercite a sua presença. Por quê? Normalmente, a ansiedade está ligada à preocupação excessiva com o futuro e à depressão do passado, então, nada melhor do que ESTAR PRESENTE para cuidar da sua mente. Existem diversas técnicas que colaboram para a auto-observação, como a meditação e a atenção pl
ena. O autoconhecimento é a chave para a prevenção. Por isso, esteja presente, cuide da sua mente, cuide Bem do seu Estar!

*Especialista em gestão de projetos sociais e especializando-se em Psicanálise.

**Comunicadora em multimeios e em publicidade, com experiência no mercado do Turismo e no setor de Impacto Social