Opinião

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PERSPECTIVAS DALINIANAS

Walber Aguiar*

Lá vinha ele, sob o olhar distante, retilíneas histórias, fatigadas retinas

Menino da terra do boi, do vasto Amazonas, talvez das Icamiabas, guerreiras que o teriam inspirado, sob a força da coragem e o desígnio da arte, do estético, da imaginação lavradiana, a correr pelos campos sem fim. Gente do surreal, do espírito Daliniano, da grandeza de pincelar a vida com gosto de desejo, sob a plasticidade do universo simples, subjetivamente delicioso.

Assim viveu Augusto. Soberanamente acompanhado de Edicilda, sua esposa, companheira de agruras, inspirações e pinceladas divinas, divinamente tocadas na tela do mundo, na moldura de um universo frio, mudo e assustador. Augusto, um César das cores e matizes, da linha torta dos igarapés, que choram todos os olhos do surrealismo, da subjetividade líquida, dos relevos que parecem tocar o céu e a copa dos buritizais.

Lá vinha ele, de repente, dando a entender que a vida ganha mais grandeza e significado quando tocada pelo traço simples, mudo, indecifrável. Quando carrega consigo a proposta da profundidade plástica, do longe e da miragem; que se desviam do mal rasteiro, da mediocridade que enfia dinheiro na cueca e manda o povo vender o voto e se corromper. Cada signo do que pintava dizia da dignidade, do autêntico, do lírico, da flor na boca carregada pelo poeta.

Lá vinha ele, sob a plasticidade de Macunaíma, o herói sem caráter, de Mário de Andrade; mas, sobretudo, revestido de toda a ética e profundidade de caráter, diametralmente oposto ao personagem da Amazônia, que transformava tudo em pedra, conforme suas pulsões e a variação de seu humor.

Cardoso carregava em si a profundidade dos vales, a resistência dos caimbés, a postura altaneira dos buritis. Daí o enigmático espírito daliniano em sua obra, que soube tão bem retratar o rosto de Deus no sobrenatural naturalidade do ser que sofre, busca, se descobre, enquanto caminha pelos lavrados de Roraima, pelo contato existencial com o verde que nos circunda. Pelas canoas carregadas de dores históricas e entusiasmos juvenis, das tribos que se perdem pelo caudaloso mar da fluvialidade.

E aquele que vinha, que nos aquecia o coração com sua arte, com sua beleza imanente e transcendente, um dia precisou ir. E lá se foi ele, com o coração carregado de saudade, deixando acervos magníficos e repletos de arquetipia. Há quem diga que ele, ainda hoje, é visto por aí, caminhando num lavrado de sonhos, sob a perspectiva daliniana, na hora em que o crepúsculo explode entre as palhas de fogo dos buritizais…

*Poeta, historiador, professor de filosofia, membro do Conselho de Cultura e membro da Academia Roraimense de Letras

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COLHEMOS O QUE PLANTAMOS 

Marlene de Andrade*

“Deus ama a justiça e a retidão; a terra está cheia da bondade do Senhor” (Salmos 33:5).  

É estranho perceber que temos, muitas vezes, dificuldade de agir com ética e moralidade. Todos nós erramos e esses erros atrapalham a nossa própria vida e, às vezes, prejudicam a vida dos nossos semelhantes. Sendo assim, acabamos colhendo frutos amargos. 

Várias vezes, já avancei o semáforo e dirigi falando ao celular. E aí? Evidentemente, que as multas chegaram à minha residência. Como se pode perceber, colhi frutos nada doces. De tanto ganhar multas, tomei uma decisão: não cometer mais essas infrações. 

Desta maneira, aprendi apanhando. Outro erro? Deixar de ajudar morador de rua e flanelinha. Eu nem olhava para eles. Na minha concepção, vejam só:  eles estavam ali porque plantaram errado e eu tinha mais é que deixá-los sofrerem por seus erros. Mas, num belo dia, ouvi uma pregação a esse respeito. O pregador parecia que estava falando comigo e aí percebi o quanto estava agindo cruelmente. 

Saí da Igreja arrasada, pois a tal pregação deixou muito claro para mim, que dar as costas para essas pessoas era um pecado abominável. Mudei de tal maneira, que peguei um haitiano, o qual ficava muito tempo sentado à porta de uma farmácia pedindo esmolas. Eu o levei no meu carro para interná-lo no HGR. Quando eu iria pensar que um dia faria isso? 

Esse morador de rua estava dispneico e foi descoberto que ele tinha tuberculose e por isso ficou internado até vir a óbito. De vez em quando, eu ia visitá-lo no HGR e passei a cuidar dele conforme ia podendo. Porém, acabei descobrindo que sua família vivia muito bem em New York. A história foi muito triste e muito linda também, pois consegui contatar com o pai dele que veio a Roraima para se encontrar com ele. Esse haitiano havia caído no mundo das drogas, mas jamais roubara para consumi-las.  Os pais mandavam-lhe certa quantia em dinheiro e quando essa ajuda financeira acabava, esse haitiano, pedia esmolas, visto que a sua tuberculose o impedia de trabalhar.  

Aí eu pergunto: será que esses políticos corruptos não perceberam ainda que vão colher frutos amargos também? Nossa quanta inocência! O cabra está vendo o que aconteceu com o colega, também político, mas não para de roubar. Parece que pensam que com eles nada acontecerá. Pode até não acontecer, mas acabam se tornando motivo de escárnio. Ah, isso é indiscutivelmente certo como dois mais dois são quatro, tanto aqui como nos confins da terra, por isso mudei de rota. E vejam que essas minhas plantações eram fichinhas frente a essa roubalheira do dinheiro público. 

Que bom seria se os políticos acordassem e passassem a compreender que não existem crimes perfeitos e se regenerassem dos seus maus costumes, pois o povo não aguenta mais viver num país onde a corrupção se tornou endêmica. 

*Médica Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT-AMB-CFM 

POR QUE ESQUENTAR?

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Quem mais pensa em ti são os teus inimigos”. (Mário Pissarra de Almeida).

Quando paramos pra pensar, descobrimos que somos tolos. Aí ficamos um tempão matutando sobre nosso despreparo na vida. Mais um dilúvio está sendo preparado para iniciar uma nova humanidade, e ainda não aprendemos a nos comportar como humanos. Os bons médicos estão sempre nos dizendo que nossas doenças são meros sintomas. O que elas estão nos dizendo é que temos que mudar nosso comportamento mental. As doenças induzidas pela mente predominam. E ainda não aprendemos a acreditar nisso. Não queremos admitir que maior parte de nossas doenças é causada pela nossa incompetência em pensar. Não queremos acreditar que são nossos inimigos que mandam em nós. Que estamos o tempo todo fazendo exatamente o que eles querem que façamos: aborrecer-nos. Cada vez que você se aborrece com alguém ou com o que alguém lhe fez, está dando uma de tolo. Está lutando contra você mesmo. Está travando sua mente e se tornando impotente diante do problema que você mesmo está causando, alimentando. Há coisas na vida que são difíceis de fazer. Difíceis, mas muito simples. E uma delas é aprender a viver. E quem sabe viver não se aborrece.

Nenhum ser humano é capaz de viver sem se aborrecer. A diferença está em não deixar que o aborrecimento se instale. É quando ele se instala que vira semente e logo brota em forma de doença. E aí você tem mais um motivo, segundo você, para se aborrecer. E nem tem tempo de perceber que o inimigo que lhe trouxe a trouxa de aborrecimentos está rindo de você. Gozando de sua cara. Levante a cabeça, olhe para o espelho de sua alma e veja o que você vê. Se não vê o que quer ver, acorde. Acredite em você, e você será capaz de coisas de que nunca imaginou ser capaz. Sorria sem presunção. Faça do seu riso um escudo leve. Nada é mais simples nem mais fácil no mundo do que ser forte. A dificuldade está em você acreditar nisso. Uma vez consciente de sua capacidade, nada poderá aborrecê-lo.

Nunca se deixe levar pelas reações negativas. Elas não levam você a lugar nenhum. E é aí que você adquire o mau hábito de culpar as pessoas pelos seus fracassos. Aprenda a assumir seus fracassos. Se não são só seus, é porque você tem parceria. E se fez parceria, assuma sua apenas a sua responsabilidade. Porque na parceria você terá sido enganado. Vire a medalha e do outro lado você verá, surpreso, que foi você que se enganou, não foi enganado pelo parceiro. E nesse caso a culpa é toda sua. Corrija-se a admitindo. Faça isso, e você dará um passo muito importante e valioso para a sua importância. Pense nisso.

*Articulista

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