Opinião

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YANOMAMI E YE’KWANA PRODUZEM CHOCOLATE COM CACAU NATIVO

José Ignacio Gomeza Gomez Corte*

Em 2019, foi lançado no mercado o “Chocolate Yanomami”, produzido com amêndoas silvestres beneficiadas por produtores indígenas dentro da Terra Indígena Yanomami. As barras de chocolate foram fabricadas pelo chocolatier De Mendes e podem ser compradas pela internet (https://demendes.com.br/).  O lucro retorna para as associações indígenas.

Esta história que está começando, surgiu de uma iniciativa das lideranças e jovens Yanomami e Ye’kwana que com o apoio do Instituto Socioambiental (ISA) e do Instituto ATA, enxergaram no cacau, “fruto dos deuses” (Theobroma cacau), uma possibilidade de ouro: gerar renda para que as comunidades possam acessar ferramentas e bens da cidade utilizados em atividades cotidianas, de forma autônoma, com base nos recursos disponíveis e inserindo-se numa rede de comércio justo.

Os Yanomami e Ye’kwana do Brasil são mais de 27 mil pessoas que produzem, manejam e conservam a biodiversidade da floresta há centenas de anos. Além das suas roças com banana, mandioca, tabaco, taioba, milho, algodão, e outros, eles identificam mais de 400 espécies silvestres que fazem parte da sua dieta alimentar, e sabem quando e onde coletar. Neste cardápio, está o cacau.

O imenso conhecimento da floresta é resultado de um alto grau de mobilidade no território e fruto de uma apurada e paciente observação, acumulada no tempo e transmitida de geração em geração.

Há alguns anos os Yanomami e Ye’kwana vêm inovando no aproveitamento desses recursos, desenvolvendo projetos para beneficiamento e comercialização de produtos nativos (cogumelos comestíveis, castanha do Brasil, artesanato, cacau). Para isso vem incorporando tecnologias adaptadas à floresta e novos conhecimentos oferecendo produtos de alta qualidade.

O cacau utilizado tradicionalmente no preparo de mingaus e consumo da polpa tem agora mais uma função: a comercialização de amêndoas beneficiadas para produzir chocolates.

O projeto desenvolvido na calha do rio Uraricoera é um instrumento para criar alternativas ao garimpo, que afeta gravemente a vida dos Yanomami e Ye’kwana da região, desenvolvendo atividades que interessam especialmente aos mais jovens. Também estão plantando mudas de cacau nativo, aumentando o potencial de produção e reflorestando áreas degradadas.

Na região do rio Toototopi, os cacauais são abundantes. O adensamento do cacau tem correspondência com os locais de antigas roças e casas coletivas. Na cosmologia Yanomami, o céu já desabou uma vez, aplastando os habitantes da floresta, mas foi um cacaueiro que possibilitou que alguns Yanomami se protejam da queda do céu, ao ficar apoiado na copa da árvore e não despencar sobre eles. Um papagaio-moleiro, rasgou a superfície do céu e permitiu a saída dos Yanomami. Essa história de como os pés de cacau sustentaram o céu e possibilitaram a vida humana, indica o valor que tem o fruto para o povo.

Assim, o cacau será aproveitado para gerar renda e riqueza para as comunidades e outros atores que participam da cadeia (transportador, lojas de materiais, fábrica de chocolate), aliando conhecimento tradicional, manejo territorial e inovação tecnológica.

Como parte dos trabalhos, os Yanomami e Ye’kwana realizam desde 2018 oficinas de processamento de amêndoas de cacau, da fermentação à secagem, apropriando-se de novos conhecimentos para ampliar as possibilidades do aproveitamento dos recursos.

A variedade de cacau encontrada na Terra Indígena Yanomami era desconhecida até agora pelos não indígenas, acrescentando  diversidade às amêndoas disponíveis no mercado de chocolates e advertindo sobre a vasta biodiversidade que existe na Amazônia ainda para ser descoberta.

Diferente da lógica da monocultura, do garimpo e do extrativismo em grande escala que se impõe sobre a diversidade da floresta, destruindo-a, as práticas indígenas fomentam a reprodução da diversidade e o manejo dos recursos visando sua sustentabilidade.

A floresta amazônica é vital para o equilíbrio ambiental e climático do planeta. Os alimentos que consumimos nas cidades dependem da umidade para os “rios voadores” que a floresta emana e que fazem chover em outras partes do país. O desafio contemporâneo mais urgente é manter a floresta em pé para minimizar os impactos das mudanças climáticas. E os povos indígenas sabem como fazê-lo. 

Diante do panorama esfumaçado da atualidade, essas iniciativas indígenas apresentam soluções e propõem novos arranjos produtivos com foco no aproveitamento cuidadoso do imenso acervo de biodiversidade da Amazônia. Os Yanomami e Ye’kwana não só produzem a riqueza da floresta como também a preservam para as futuras gerações. E ainda, fazem um chocolate de primeira qualidade.

*Assessor em Pesquisa e Desenvolvimento de Cadeias de Valor dos Produtos da Sociobiodiversidade do Instituto Socioambiental (ISA)

 

BLACK FRIDAY: PROMOÇÃO AMIGA OU INIMIGA DO CONSUMIDOR?

Paulo C. F. de Castro*

Está se aproximando a famosa promoção Black Friday, que utiliza aqui no Brasil o mesmo termo originalmente criado nos Estados Unidos. E diante da esperteza peculiar dos nossos comerciantes, desde já cabem algumas recomendações aos consumidores.

Porém, antes convém explicar o porquê do termo Black Friday. E é fácil de entender, pois lá nos Estados Unidos esta promoção acontece anualmente, na última sexta-feira do mês de novembro, logo após o feriado de Ação de Graças.

Diferentemente do que acontece aqui, lá os descontos são verdadeiros, o que ge
ra um impacto significativo nas vendas, pois os comerciantes norte-americanos fazem a promoção visando o esgotamento dos estoques, para a imediata colocação de novos produtos já com vistas ao comércio natalino.

Mas no Brasil, a coisa é diferente, pois ainda impera a “Lei de Gerson”, ou melhor, a cultura de levar vantagem sempre, o que faz com que esta promoção acabe por cair no descrédito e até venha a ser chamada de Black “Fraude”.

Em nosso país, todos os anos são registradas milhares de denúncias contra os comerciantes, que se utilizam de uma prática irregular já antiga, a da maquiagem de preços. Ela consiste em alguns dias antes aumentar os preços dos produtos, para depois fingir a aplicação de desconto e desta forma atingir o mesmo preço anterior. Destaque-se que esta prática não ocorre somente na Black Friday, mas praticamente em todas as promoções de datas festivas.

Perante a nossa legislação de proteção do consumidor, a prática citada se caracteriza não só como propaganda enganosa, mas também como crime de falsa informação. E vale lembrar que, mediante o grande crescimento das vendas online, as leis vigentes aplicam-se também ao comércio eletrônico.

Para não cair em golpes desta ou de qualquer outra natureza, o consumidor deve estar sempre atento e não comprar as cegas. Antes das promoções cabe verificar os preços dos produtos e mesmo no ato da compra realizar novas comparações de preços. Outra dica importante, o site “Reclame Aqui” é ótimo para verificar a reputação de uma loja.

Cabe ressaltar que a legislação que protege o consumidor prevê também o direito ao arrependimento em compras feitas em lojas virtuais. A intenção da lei é proteger o consumidor das compras feitas por impulso, sob forte influência da publicidade. Através deste dispositivo legal, o consumidor tem até sete dias para desistir da compra, sem necessidade de justificar a razão do arrependimento.

Ao detectar alguma fraude nas promoções, recomenda-se que sempre faça contato inicial diretamente com o fornecedor, expondo a situação na tentativa de se chegar a uma solução amigável. Se mesmo assim não houver acordo, deve denunciar a empresa ao PROCON e, dependendo do prejuízo, pode ainda ingressar uma ação junto ao Juizado Especial Cível, objetivando a efetivação do seu direito e a reparação do dano.

Por fim, concluímos que, uma vez adotados os devidos cuidados, principalmente no tocante a veracidade dos descontos e a qualidade dos produtos, a Black Friday se revela uma ação comercial bastante positiva, pois aquece a economia nacional e satisfaz o desejo dos consumidores, através da sensação de realização de uma compra realmente vantajosa.

*Economista, advogado e professor do Centro Universitário Internacional Uninter

SEJA RESPONSÁVEL

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“O homem livre é senhor da sua vontade e somente escravo da sua consciência”. (Aristóteles).

Ultimamente tenho caído no epicentro do redemoinho da desorganização. E estou caindo de medo de me tornar desorganizado. Já tentei deixar de ver televisão; não deu certo. Parei de ler jornal; não adiantou nada. Acho que a doença já virou epidemia. Tempo desses entrei na paranóia de anotar todas as tolices que ouvia nos meios de comunicação. Quase pirei. Difícil pra dedéu, quando você tem que conviver com vícios de linguagem, pensamentos anacrônicos, analfabetismo citadino e por aí afora. Está cada vez mais difícil encontrar alguém que tenha plena consciência do que seja ser uma pessoa livre. Se se for seguir os ensinamentos do Aristóteles, com certeza vamos ficar rodando em círculo. Quando perdemos o conceito de consciência, perdemos a noção de liberdade. E, consequentemente, a noção de responsabilidade.

Já vivi pra dedéu, mas todos os dias estou descobrindo coisas que já conhecia, mas não acreditava que elas estivessem escondidas. Quer pirar como eu pirei? Então preste atenção às tolices que ouvimos, todos os dias, pela televisão, ditas por grandes comunicadores. Parece tolice mais não é. Pouca gente está prestando atenção ao absurdo: “…as milhares de mulheres…”. Ouvimos essa tontice, todos os dias pelos maiores apresentadores da televisão nacional. Ainda ontem ouvimos. Todos os dias ouvimos essa pérola saída das bocas sadias de políticos: “…eu estou fazendo de tudo para dar o mínimo de educação para essas crianças no interior”. O arrufo já se tornou tão banal que ninguém mais se atenta pra ele. Ninguém mais percebe que ninguém quer o mínimo. O que queremos, porque necessitamos, é pelo menos o mínimo e não o mínimo. Gostaria de saber o que o Cristóvão Buarque pensa disso.

Mas sabe o que realmente me tem preocupado? É um ex-Presidente da República vir à televisão e declarar que os arrufos histriônicos do presidente venezuelano, Hugo Chavez, são uma autêntica demonstração de democracia. Aí corro para o meu altar e rezo para o Emerson que nos diz que: “Você é tão pobre ou tão rico quanto o seu vizinho, senão não seria vizinho dele”. E quem é o primo rico e o pobre nessa história de carochinha? Mas aí vai minha sugestão: não encuque com isso não. Procure ser responsável fazendo sua parte. Mas não deixe de observar que as mulheres não usam mais o termo, “obrigada,” elas estão usando o termo “brigada.” Não importa se você está dando uma de colibri. O que interessa é o que você está fazendo. E no que quer que você esteja fazendo, faça o melhor que você puder fazer. Pense nisso.

*Articulista

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