Opinião

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Um menino de ferro e sensibilidade

Walber Aguiar*

Prefiro acreditar que não dissemos adeus, mas que nos separamos para que o destino nos dê um reencontro feliz…

Era um dia comum, como outro qualquer. Talvez nem fosse. Afinal nascia José Augusto Ferro Bittencourt. Homem de fibra, raça, vontade de viver. Um profissional, uma pessoa que honrava pai e mãe, conforme a Palavra do Deus vivo. Um menino simples e sem grandes pretensões. Queria viver, queria fazer companhia à sua mãe, a tia Dica.

Vivia com alegria, simplicidade e sua cara de menino. Um menino que falava pouco e sorria muito. Um menino branco, filho de José Ferro e dona Raimunda, a tia Dica, a mulher parteira que trouxe à vida milhares de crianças, inclusive as minhas. Através de suas mãos a vida veio, jamais a morte. A vida fascinante, cheia de grandeza e expectativa, repleta de ineditismo e esperança.

Afinal, ele era José, como seu velho pai. Como alguém tecido de ferro, bronze, aço. Homem de caráter, que ao filho emprestou essa marca indelével. Um José de Drummond, que encarava a escuridão, o tédio, a dor, a solidão. Um José de tessitura forte, disposto a dançar a dança da vida, a acompanhar todos os dias aquela que lhe deu à luz. Um José disposto a enxergar a luz do Caminho, a glória de Deus na face de Cristo.

Também era Augusto, o iluminado, o menino magnífico, a majestade emblemática no caminho do existir. Augusto não era imperador, queria apenas ser, entender, compreender porque a vida tão bela e fascinante podia ser tão limitada e breve. Na verdade, algo conforme a palavra de Camões, que dizia ter tanto amor pra tão pouca vida.

Assim, para os fortes e fracos, a vida é uma espécie de Augusto: de Ferro. Assim como o velho poeta Itabirano, Carlos Drummond de Andrade, Augusto era homem de ferro, de aço, enquanto habitado por enorme fragilidade. Conquanto fosse grande e firme, Augusto tinha pulsões e compulsões, amor e sensibilidade.

Ora, o brasão dos Bitencourt traz um escudo de prata com um leão negro. Assim era nosso primo, um menino branco vestido num leão negro, num instrumento de prata, de força, de grandeza. Ele vai ser sempre lembrado como aquele que tinha um sorriso enigmático, franco, cheio de graça e luz.

Vai primo, vai José Augusto Ferro Bitencourt. Vai para os braços do Eterno, daquele que habita num alto e sublime trono, mas também habita o peito do contrito e quebrantado de espírito.

Vai primo, um dia nos encontraremos debaixo das frondosas mangueiras do infinito, onde não haverá nem dor nem cicatriz, mas intensa e eterna felicidade…

*Poeta, professor de filosofia, historiador, membro do Conselho de Cultura e membro da Academia Roraimense de Letras

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Avaliação e suas possibilidades: vamos repensar?

Rita de Cássia Turmann Tuchinski

É fato que a pandemia do novo coronavírus transformou a realidade do sistema educacional. Para tanto, instituições de ensino básico e superior  tiveram que se adaptar ao ensino a distância. E, com essa transformação, um novo desafio foi colocado em evidência: a avaliação da aprendizagem.

Considerando a avaliação como uma das protagonistas do processo ensino-aprendizagem, a ação de avaliar nos revela um olhar docente voltado à concepção política do professor frente à educação, ao conhecimento e a um diálogo que permite uma aproximação necessária entre o método, a metodologia e, é claro, a própria avaliação.

Mesmo antes dessa crise mundial, a avaliação vinha sendo ponto de discussões e críticas em prol de uma efetividade neste processo que englobasse diretamente o desenvolvimento da aprendizagem, descaracterizando a função de ser vista somente como quantitativa com foco apenas em notas, erros e acertos.

Sabemos que a avaliação não acontece de forma isolada e, em todos os níveis de ensino, está vinculada a uma ação, como por exemplo, no desenvolvimento de uma atividade, de uma aula, de uma brincadeira, de um jogo.

Sendo assim, surge a oportunidade de repensar antigas práticas avaliativas que detinham seus processos baseados em um produto final – a nota, e pensar na avaliação como um processo contínuo que garanta o progresso dos estudantes a partir da valorização dos conhecimentos e das habilidades que cada um traz consigo. Assim, é no momento de avaliar, que estes pontos devem ser considerados para que o processo de avaliação seja garantido.

E, neste cenário, podemos destacar a concepção do modelo de avaliação como mediadora da aprendizagem que possibilita uma cultura interativa entre professor e estudantes, proporcionando um universo rico de interação, participação, colaboração na busca mútua e contínua de conhecimentos que alcançam resultados expressivos na melhoria do aprendizado.

Contudo, para que tenhamos toda a potencialidade do processo avaliativo, é necessário que os professores passem a olhar suas práticas com olhares significativos para novas experiências, oportunizando um processo diversificado e rico em perspectivas nas quais os sujeitos se envolvam com o próprio processo de aprendizagem.

Diversificar as atividades avaliativas é o ponto chave para o sucesso no processo de avaliação, pois devemos levar em consideração que nossos estudantes têm diferentes estilos e maneiras de aprendizagem: uns gostam de encenar, ler, escrever, ouvir, relatar e outros de realizar atividades práticas, por exemplo.

As possibilidades avaliativas são muitas e envolvem desde avaliações objetivas, discursivas e orais até aquelas bem tradicionais, como as provas com consulta ou sem consulta, além dos seminários, das observações de situações-problemas, participações colaborativas na busca de resolver desafios, as autoavaliações, as produções de textos, de histórias, os vídeos, os exames orais, os podcasts, os estudos de caso. E sem contar com a variedade de ferramentas digitais, como kahoot, google forms, fóruns, tarefas, wikis que podem ser desenvolvidas em momentos reais de interação, como também em momentos individuais de acordo com o tempo e horário de cada um.

Pois bem, para que todas estas possibilidades avaliativas se efetivem, cabe ao professor o papel de mediar essa aprendizagem, considerando para cada estratégia metodológica uma forma de avaliar significativa, assertiva, e relacionada à realidade do estudante, para que possibilite uma construção sólida de conhecimentos sobre os caminhos tomados, estimulando uma visão crítica e reflexiva frente às suas necessidades.

Autora: Rita de Cássia Turmann Tuchinski é professora do curso de Pedagogia do Centro Universitário Internacional Uninter.

Depende de quem vive

Afonso Rodrigues de Oliveira

“A vida é para quem topa qualquer parda, e não para quem para em qualquer topada.” (Bob Marley
)

Eu inda era pré-adolescente quando topei. Mas topei numa topada. E foi das boas. Naquela época para você ir a um velório tinha que usar gravata e paletó, independentemente de sua idade cronológica. Era o velório do pai de um amiguinho meu. Aprontei-me e saí. Ainda perto de casa lá estava, à beira da estrada, uma lata, “galão-de-tinta.” Não vacilei, pelo menos foi o que pensei, e dei um tremendo chute na lata. Ela nem se mexeu. Estava cheia de cimento. Cara… Quase desmaiei com a dor. Voltei para casa e foi difícil tirar o sapato, com pé já inchando. Nunca mais chutei uma lata na rua.

Para ver não basta só olhar. Pensando nisso pensei em duas piadinhas que têm muito a ver como você olha e como você vê. Aquele gaúcho entrou no bar, com cara de chateado. Apoiou-se no balcão, pediu uma bebida e começou a pigarrear. Olhou para o pessoal nas mesas e começou o insulto:

– Na minha terra só tem matcho! Somos todos matchos!

Continuou a fala, mas ninguém lhe deu a menor atenção. Até que ele se enfezou, virou-se para um caipira que estava do seu lado, e perguntou:

– Como é que é tchê… aqui na sua terra também só tem matcho?”

O caipira franziu a boca, balançou a cabeça de um lado para outro e respondeu calmamente:

– Não sinhô… Aqui nós é metade home e metade mulé. Mas quando tamo juntos nós se damo munto bem! Damo conta do recado.

As coisas não são como nós as vemos. Nem todos nós vemos as coisas do mesmo jeito e pelo mesmo lado. Lembro-me do causo daquele cara que falava mais do que a boca, tentando orientar os ouvintes, como se estivessem numa palestra. Ele perguntou a um garoto:

– Se você ouvisse um ruído estrondoso dentro de um mata, de que animal você se lembraria?

O garoto respondeu:

– Uma onça!

O homem perguntou para outro homem:

– E você? Se você estivesse deitado à noite, e ouvisse um miado bem longo, de que animal você se lembraria?

Sem demora, o homem respondeu:

– De um rato!

Simples pra dedéu. Cada um de nós tem pensamentos e atitudes diferentes. Na maioria das vezes o que fazemos é tentar imitar. Ficamos tentando imitar alguém a quem admiramos, em vez de seguir-lhe os passos. Seguindo-lhes as pegadas pelo caminho que ele percorreu na travessia do campo minado que ele atravessou para estar onde está. Siga sempre os bons exemplos, mas nada de imitações. Cada um é cada um. Somos todos seres humanos. E como tal, sujeitos às travas que dificultam a caminhada. Use sempre seus pensamentos para a orientação na travessia dos pantanais da vida. Pense nisso.

afonso_rr/@hotmail.com

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