Opinião

OPINIAO 11543

Caboco das águas III

Walber Aguiar*

Tudo é mais simples diante de um copo d’água (Drummond)

Sonhei que estava no meio da Serra Grande, entre pedras e árvores monumentais. Também haviam ingaranas, Maranatas pra nadar no poção das cobras, papéis de contas que se transformavam em miragens, que se perdiam em enormes desertos. No sonho, o caboco das águas, com um olhar apreensivo.

Conversávamos filosofia, história, geografia, causos que pareciam com os do Lula, o Luciano Alvarenga, contador de estórias e histórias. Mas, ali, entre um riso e outro, um poema e uma canção, percebia seus olhos marejados por aquilo que mais o preocupava como guardião das águas, como aquele que ensinava a preservar, usar racionalmente e amar o bem mais precioso: a água, o manancial, o rio de águas limpas, branquejantes, que nos sustentava todos os dias, que nos fazia visitar a Companhia de Águas e Esgotos de Roraima, que nos banhava e alimentava com o chafariz existencial, que escapava magicamente pelas torneiras da cidade.

Assim, sonhei que estava com o caboco Dagmar, conversando sobre o futuro, a vida e a morte, sobre as águas que corriam sob nossos pés, sobre uma pretensa privatização do líquido essencial, abundante, majestosamente imprescindível.

Ele falava na preocupação com os desertos que, futuramente, poderiam assumir o lugar de rios, igarapés e outros mananciais. Dizia da ganância dos que faziam suco de dinheiro, daqueles que, não satisfeitos em tirar o pão da boca das crianças e o remédio da vida dos velhinhos, tinham sua alma entristecida pela probabilidade de o mar virar sertão, do rio tornar-se sequidão de estio, aridez.

Começamos a entristecer com aquela possibilidade, com aquele pesadelo que parecia virar realidade. Onde o líquido essencial escorria por entre os dedos da ignorância, do medo, da carestia, da privatização daquele recurso que tínhamos em abundância.

Contava o caboco que a vida se tornaria inviável, e que o lugar das águas claras, tipo o reino encantado de Monteiro Lobato, estava lamentavelmente ameaçado. Pensamos na possibilidade de convocar a todos para uma grande manifestação, onde, dadas as mãos, formaríamos um imenso muro de margaridas, um paredão de águas e mais águas. Um protesto de todos contra aquela miserável decisão de privatizar o grande lugar dos reservatórios e mananciais.

Ora, somente entrariam nessa luta, nesse combate, os defensores da natureza, os que amavam a fauna, a flora, os igarapés e buritizais. Por isso fora confiado ao caboco aquele sonho, aquela revelação.

Assim, estávamos assustados com a ganância, a ambição desmedida, a loucura daqueles que se diziam representantes do povo, mas que não passavam de desumanos, insensíveis, destituídos de grandeza, ética e caráter. Aqueles que, durante a peste que matava e assombrava a todos, se enchiam de sarcasmo e engordavam seus corações em dias de matança.

A prevalecer o argumento da água sendo vendida pra quem cuidava das fontes e do mistério da perenização ameaçada, veríamos, finalmente, o dia em que as águas escasseariam da Amazônia, de Roraima, da terra inteira.

Teríamos que unir forças e convencer os miseráveis políticos de que as águas não poderiam ser vendidas a um preço exorbitante, sendo que tínhamos aquela riqueza em abundância no subsolo, nos rios, igarapés, açudes e outros mananciais.

Ali estávamos nós. Eu, Dagmar, a Serra Grande, o Maranata e as ingaranas. De repente, assim do nada, seus olhos ficaram muito marejados. E o volume de lágrimas foi aumentando, aumentando, até virar um enorme igarapé. O caboco das águas sumira de repente do meu sonho. A mensagem última foi o amor às águas, o desejo de mergulhar, de não privatizar, de viver submerso.

*Advogado, poeta, historiador, professor de filosofia e membro da Academia Roraimense de Letras – Email: [email protected] – Telefone: 99144-9150

Prós e contras da autonomia do Banco Central

Pollyanna Rodrigues Gondin*

Surgiu um grande debate nos últimos dias por conta da votação sobre a autonomia do Banco Central. Essa autonomia já vem sendo pensada há algum tempo, mas agora foi votada. A ideia central, segundo defensores, é “blindar” o BACEN de ser capturado pelos interesses governamentais. Além disso, para os defensores, essa autonomia é fundamental para melhorar o investimento externo e a percepção do que é feito dentro do Brasil, pois, pode ajudar a controlar a inflação. Entretanto, esse argumento pode ser questionável já que, independente se o BACEN tiver uma atuação mais ou menos conservadora, não significa necessariamente que não irá prejudicar os trabalhadores, as políticas de emprego e renda e crédito mais acessível.  Isso ocorre uma vez que, o que é bom para o mercado financeiro, não necessariamente será bom para o restante da população.

Entretanto, para os opositores, a grande questão é: a captura dessa instituição pelo setor privado. Essa captura pode ocorrer caso não hajam regras claras e bem específicas para que interesses do mercado financeiro não sejam absorvidos pela política monetária, fiscal e de regulação, uma vez que o BACEN é responsável por manejar a regulação do Sistema Financeiro Nacional.

Alguns países, como os Estados Unidos, já possuem um Banco Central autônomo. Entretanto, a questão é que neste caso, existem instituições e legislação de regulação sólidas para que os interesses do setor financeiro não prevaleçam frente aos interesses da população em geral.

Em contrapartida, no caso brasileiro, algumas ressalvas devem ser feitas, principalmente no que se refere a falta de debate suficiente e o momento em que houve essa proposição. Vivemos um momento de alto número de mortes, um plano de vacinação ineficiente, alto desemprego da população e assim, a preocupação maior neste momento deveria ser a pandemia e suas consequências sociais e econômicas. Desse modo, considero que está fora de ordem as prioridades do governo, já que essa independência, levará um tempo para surtir algum efeito, ou seja, deve surtir efeitos no Médio e Longo Prazo.  

Para além das questões já citadas, a autonomia do BACEN está em declínio mundialmente, desde a Crise Financeira de 2008 que demonstrou ao mundo os pontos negativos dessa autonomia no que s
e refere à legitimidade democrática. Além disso, o que se tem, em muitos casos, é que a autonomia do Banco Central gera sua independência da vontade popular, mas não das instituições financeiras, o que pode corroborar, para o aumento da desigualdade social.

A credibilidade do BACEN poderia ser mantida com transparência em relação às escolhas de política. Mais uma vez cabe afirmar que no momento atual que vivemos outras questões deveriam assumir prioridade, já que, há um agravamento da desigualdade econômica e social da população brasileira com a crise do COVID-19.

*Economista e professora da Escola de Negócios do Centro Universitário Internacional Uninter.

“A inguinorança é qui astravanca o pogréssio”

Afonso Rodrigues de Oliveira*

E como ela é imensa, avassaladora, destruidora. E está se tornando popular. E é uma doença cultural, difícil de curar. E como a população mundial não para de crescer, a ignorância, cresce em maior velocidade. É quando ficamos detrás da porta esperando o vizinho faça para podermos fazer.

É o Dólar que determina quanto vale o Real. E nesse embaralhado, a Educação é jogada para o fundo do poço. Parece que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Mas tem. Tenho a impressão de que mais para a frente, o idioma inglês vai enterrar nosso português. A vulgaridade em que anda nossa língua está preocupando a quem a ama de verdade. E eu sou um desses tolos.

Tudo bem, vamos mudar o ritmo da prosa. Mas não sei se você presta atenção às barbáries que ouvimos, diariamente, pelos meios de comunicação, despejadas pelos que deveriam combatê-las. E os absurdos são tão simples que nem lhes damos atenção. E é aí que se aloja o despreparo. Atente-se quando o apresentador ou apresentadora, falar: o novo programa é amanhã às oito horas.

Percebeu o disparate que ouvimos todos os dias e que nem lhe damos bola? É simples pra dedéu. E é por isso que devemos ser e estar mais atentos à defesa da nossa querida e adorada Língua Portuguesa. Não sou nenhum intelectual, mas sofro com o desdém que nossa cultura vem sofrendo. Estou sempre citando o Miguel Couto, na sua fala expressada lá pelos idos dos anos quarentas: “No Brasil só há um problema nacional: a educação do povo.” A humanidade cresceria se a administração pública prestasse atenção ao Miguel Couto.

Mas vamos maneirar. Vamos fazer nossa parte. E o importante é que a façamos como ela deve ser feita. E iniciemos cuidando da educação dos nossos filhos. Porque só assim eles cuidarão da educação dos filhos deles. E não devemos deixar de prestar atenção à faça do Bill Gates: “É claro que meus filhos terão computadores, mas antes terão livros.” Não deixe de incentivar seus filhos à leitura.

Eu ainda era criança, e faz um zilhão de anos, quando li, na barra da capa do meu caderno, na escola, essa frase genial: “A educação é como a plaina: aperfeiçoa a obra, mas não melhora a madeira.” Não tente fazer do seu filho um doutor; deixe que ele seja. Uma decisão que só ele tem o direito de tomar. Então vamos ler mais uma frase que nos ensina muito sobre isso. É do Gibran Khalil Gibran: “Vossos filhos não são vossos filhos. São filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma. Eles vêm através de vós, e não de vós. E embora vivam convosco, não vos pertencem.” Eduque-os para o mundo e nós teremos um mundo melhor. Pense nisso.

*Articulista – Email: [email protected] – Telefone: 99121-1460

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