Opinião

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Querer ser priorizado na fila da vacina é questão de sobrevivência Paula Menezes e Flávia Lima 

Com o início da vacinação contra COVID-19 no Brasil e, diante da previsível escassez de vacinas a toda população para imunização imediata, iniciou-se uma corrida pela priorização. Diversos grupos passaram a clamar e justificar por que deveriam constar na lista de prioridades do Plano Nacional de Imunização. Os pacientes de doenças crônicas respiratórias, claro, se incluem nesse movimento. Desde o começo da vacinação, questionam a nós, representantes de pacientes, por que tinham que esperar tanto. As pessoas com asma, ainda que de fora dos grupos de risco, acostumadas a viverem com medo de crises, também sonhavam em estar nessa lista. A falta de uma diretriz clara do Governo Federal traz brechas para que os Estados e municípios definam suas prioridades. Em Recife, por exemplo, os pacientes de doenças raras conquistaram o direito de serem vacinados de forma prioritária, enquanto que em tantos outros Estados isso não é uma realidade. A verdade é que não faltam boas razões para priorizarmos diversos grupos negligenciados. Mas, quando tudo é exceção, a exceção deixa de existir. E, quando todos estão com medo e pedem socorro, temos que pensar que há outros motivos além do medo do coronavírus. Não é por razões subjetivas que os pacientes de doenças cardiorrespiratórias pedem a priorização. Eles sabem que não são tratados de forma adequada, que sua “doença de base” não recebe o devido cuidado do Estado e, portanto, são frágeis. Os pacientes de hipertensão pulmonar, por exemplo. Muitos deles necessitam de mais de uma medicação para sobreviver, mas com o atual protocolo do Ministério da Saúde, só têm direito ao tratamento com uma medicação. Há mais de 5 anos, esperam por novas medicações que ofereçam melhor qualidade de vida a eles. Já os pacientes de DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica)vêem a incorporação de novas tecnologias de SUS como esperança. Mas há meses aguardam a publicação do protocolo e a devida disponibilização dessas medicações. Quando olhamos para além da busca por “privilégios”, vemos que a COVID-19 apenas tem escancarado o descaso do Governo com os pacientes de doenças cardiorrespiratórias. Em um cenário de desamparo, a vacina, que pode salvar vidas, é objeto de ansiedade e de muita espera. Pacientes que já estão desesperançosos, sentindo no corpo a falta de mais opções de tratamentos e de um cuidado maior por parte do Estado, veem na vacina um fôlego para continuarem vivos. Paula Menezes é advogada e pós-graduada em patient advocacy. É presidente da ABRAF desde 2014 e atuou como vice-presidente da Sociedade Latina de Hipertensão Pulmonar durante sete anos. Flávia é jornalista, especialista em Saúde Coletiva pela Fiocruz Brasília e líder da ABRAF em Brasília.

A democracia  

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Somos o único caso de democracia que os condenados por corrupção legislam contra os juízes que os condenaram”. (Joaquim Barbosa)

Você se lembra do juiz Joaquim Barbosa? Onde ele está e o que faz? Nem eu sei. Mas li esta frase dele, num jornal, no Rio de Janeiro, logo que ele se afastou do cargo. E sempre que me deparo com os absurdos a que estamos assistindo na nossa política, me lembro do Joaquim Barbosa. Tristemente assistimos ao espetáculo ridículo que vibra na política. Tantas coisas boas estão acontecendo, Brasil afora, e continuamos perdendo tempo com blá-blá-blás vazios em discussões ocas. Ainda somos um povo despreparado para o País maravilhoso que temos. Ainda não somos capazes para distinguir a cor da verdade. Somos todos daltônicos no arco-íris da política. Vamos parar de ficar ciscando o que deveria ser varrido. “Varre, varre vassourinha. Varre, varre a bandalheira. Que o povo já está cansado de sofrer dessa maneira”. Vamos varrer a ignorância política em que estamos nadando e nos afogando. Vamos nos educar politicamente para corrigir essa democracia capenga em que vivemos, e nos dizem que somos cidadãos. O que nunca seremos enquanto não formos educados para a cidadania.  Mas cada um de nós tem e está com o dever de se cuidar. Mas primeiro temos que nos prepararmos para as mudanças. Porque enquanto ficarmos esperando que nos preparem, ficaremos nadando em águas turvas. Pisoteando na encruzilhada sem saber que vereda tomar, na direção certa. A seta aponta para a vereda certa, mas não a enxergamos. O horizonte continua escuro para quem tem vista curta. Então, vamos abrir os olhos e enxergar, vendo o caminho certo para a nossa liberdade cidadã. E iniciemos crendo que não há liberdade sem educação, nem educação sem liberdade.  Vejamos se estes dois pensamentos não se enquadram na nossa política: “Reconhece-se um país subdesenvolvido pelo fato de nele ser a política a maior fonte de riqueza”. Gaston Bouthoul). Em seguida vem o William Shentsone: “Contemplei as leis e vi que são redes tecidas de tal forma que os pequenos se insinuam através delas, os grandes as rasgam, e ficam presos nelas somente os homens de tamanho médio”. Em que rede estamos nos insinuando? Cabe a cada um de nós pensar em que estado estamos, na rede do engodo. Estamos vivendo um período de desenvolvimento, num nível avassalador. E quem não souber nadar está correndo o risco de se afogar. Vamos usar nossa educação como instrumento para sairmos dessa queda de água suja que está inundando nossa política, há décadas e décadas. E todos nós temos o poder de salvamento. Pense nisso. 

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