Opinião

Opiniao 01 03 2019 7774

Tecnologia e sua vitalidade para o futuro das cidades

Amilto Francisquevis*

O Governo Federal lançou o programa “Cidades Inovadoras”, uma iniciativa que contempla financiamento para modernizar os municípios brasileiros com o objetivo de construir políticas públicas sustentáveis. Os recursos vão ser distribuídos de forma prioritária para alguns setores básicos, como saneamento e mobilidade urbana, além do investimento em energias renováveis e eficiência energética. Entretanto, a proposta tem como propósito colocar o País no século XXI quando se fala de tecnologia – o que ainda é um grande gap enfrentado pela nação.

Avanços já foram vistos nos últimos anos, com a disponibilização de ferramentas que permitem um melhor acompanhamento da gestão pública. Por exemplo, o Portal da Transparência trouxe um acesso mais próximo para verificação do uso de recursos públicos. Também pelos sites governamentais é possível checar os projetos de lei propostos pelos representantes eleitos, assim como seus posicionamentos nas votações realizadas. A tecnologia acaba sendo uma ferramenta imprescindível para a democracia, aproximando a informação a quem quiser obtê-la.

Porém, ainda há muito que se investir para que a tecnologia também aja como facilitadora da vida dos cidadãos e para as tarefas que envolvem a administração pública. A portabilidade de serviços ainda é uma área pouco explorada, com algumas iniciativas que têm se destacado por desburocratizar serviços e solicitações. Um exemplo nesse âmbito é o aplicativo Saúde Já, de Curitiba, que disponibiliza o agendamento do primeiro atendimento em um posto de saúde. Outra solução de destaque lançada há pouco tempo foi o App 190, da Polícia Militar, que permite a solicitação do acompanhamento policial para grande parte dos delitos mais atendidos pelas equipes na rua.

A gama a ser explorada ainda é muito grande. Desde a integração de aplicativos que disponibilizem em tempo real informações sobre o transporte coletivo até o agendamento online da maioria dos serviços públicos, a tecnologia acaba sendo a infraestrutura necessária para agilizar processos e facilitar acessos. Além disso, em era de Big Data, a coleta, processamento e análise de informações podem identificar exatamente os pontos críticos, indicando os caminhos preferenciais para atividades e investimentos. Ainda é importante ressaltar que ela também pode ser vital para que o cidadão consiga ser vigilante e possa exercer seu papel com mais facilidade.

A grande verdade é: sem tecnologia usada de maneira efetiva, as cidades enfrentam um caminho brusco para atingirem seus potenciais. Sem facilidade de acesso, os cidadãos contemplam barreiras para um melhor equilíbrio de vida. E sem inteligência nesses processos, o desenvolvimento esbarra – assim como um futuro sustentável para todos.

*Assessor de mercado do Instituto das Cidades Inteligentes (ICI)

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‘Grandes’ homens e suas cruzes II

Max Franco*

Francisco França Miguel**

Apresento dois “grandes” homens com suas limitações físicas, mas que foram um divisor de águas no pensamento da esquerda no século passado em todo o mundo. O pensador italiano Antonio Gramsci, apesar de uma doença que reduziu seu crescimento e lhe deixou torto, é, sem dúvida, um dos maiores pensadores marxistas, e também um dos mais influentes intelectuais do século XX. Já o guerrilheiro Argentino Ernesto Che Guevara, sonhou e lutou por um mundo livre do imperialismo ianque. Che era asmático e, mesmo assim, foi e continua sendo o mais romântico de todos os revolucionários.  

Gramsci enfrentou, nos anos de 1920 e 1930, o grande Duce italiano Benito Mussolini, mesmo que o promotor que o condenou tenha dito que era preciso impedir o seu cérebro de funcionar por vinte anos. Nos dez anos em que ficou preso, este pequeno “grande” homem escreveu uma monumental obra,  “Os Cadernos dos Cárceres”. Nos Cadernos, o intelectual marxista aborda questões políticas, econômicas, sociológicas, antropológicas e educacionais. Gramsci era defensor de que toda atividade humana exige algum grau de abstração, mesmo que seja colocar arreios em um animal. Logo, todos os homens são classificados em intelectuais tradicionais e orgânicos.

Além de sua principal obra, Os cadernos do Cárcere, Gramsci escreveu várias cartas com instruções para educação de seus filhos. Todo educador que defenda uma escola única, uma escola não apenas com vínculo tecnicista/economista terá que beber nos Cadernos do Cárcere. Esta obra que fora produzida em meio a sofrimentos físicos e psicológicos, aponta que sobre a trajetória do homem, nunca se pode colocar um ponto final enquanto este ser respirar, pois é impossível e sempre inútil prender pensamentos em cadeias físicas. 

Em 5 de março de 1960, nascia  a “imagem mais reproduzida na história da fotografia”. A foto do guerrilheiro sem fronteira é usada em exemplares de jornais, revistas e livros, vídeos, pôsteres, camisetas e outros de cunho esquerdista. Até o capitalismo, que foi objeto de suas batalhas, pega carona nessa imagem que grande aceitação e vende as mais variadas mercadorias. Claro que com este ato, os seus ossos ficam revirando-se na tumba e na mente dos que ainda acreditam que é possível vencer a selvageria do capitalismo que fincou suas garras em todo o planeta, até mesmo no Dragão Chinês com duas cabeças – sistema político de matriz marxista e economia capitalista.

Mas esse médico argentino asmático poderia ficar cuidando de camponeses na América Latina e cuidar de sua saúde. Se assim tivesse agido, teria feito uma grande trabalho social e já velho escreveria sua memórias. Mas, não teria nascido o mito romântico para inspirar a luta armada nas regiões periféricas do globo. Não é fácil enfrentar as florestas tropicais para quem tem boa saúde, imagine um asmático enfrentando falta de alimento, o cansaço de longas marchas para não enfrentar o exército e a falta de ajuda dos camponeses na Bolívia. Mas esses problemas não suplantavam o sonho do comandante que dizia: “Prefiro morrer de pé que viver sempre ajoelhado.”

Antonio Gramsci é a prova de que não adianta aprisionar homens e suas ideias, de que limitações físicas não são maiores que a força da mente, das ideias que sempre mudam quem as projeta, e, consequentemente, o mundo.  E que a única forma de impedir esse agir é cortando sua cabeça. Ernesto Guevara não ficou olhando para seu umbigo, para suas crises asmáticas, nem para a tirania dos ditadores que estão a serviço do capital insaciável. Lutou e inspirou gerações nos anos de 1960 e 1970, deixando o desafio a todos os que conseguem ficar indignados com as injustiças que são cometidas no mundo. Se conseguirmos essa indignação, podemos dizer que somos seus companheiros. O espírito presente no cárcere frio da Itália, nas quentes e úmidas florestas tropicais, ainda paira sobre nós. Inspiremo-nos!

*Mestre em Sociedade e cultura na Amazônia.

**Mestre em Letras

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Falando sobre pessoas

Oscar D’Ambrosio*

Imagine todo dia você acordar num corpo diferente, mas mantendo a consciência de quem você. Essas transformações permitem ter uma rica visão multifacetada do mundo e, ao mesmo tempo, ser muitos significa não ser ninguém de verdade.  Essa questão é colocada no filme ‘Todo dia’. A direção de Michael Sucsy toma como ponto de partida o romance ‘Everyday’, de David Levithan. Não se trata de texto ou cinematografia brilhante, mas de um assunto que tem o seu charme e atualidade, pois, numa era de intolerância sob diversos aspectos, entender que os mesmos valores positivos podem estar sob diferentes ‘cascas’ é um exercício.

A tradicional discussão de essências e aparências é tratada de maneira superficial, numa perspectiva adolescente, mas, justamente por isso, o filme funciona. Não existe a pretensão de ser filosófico ao abordar a questão. Há a sincera intenção de contar uma história de amor, o que não é pouco num mundo repleto de mensagens de ódio.

‘Todo dia’ é apenas o que parece ser. Trata, com delicadeza, de uma pergunta assustadoramente complexa: como podemos manter as pessoas queridas perto de nós mesmo quando isso parece impossível? Como aprimorar a habilidade de sermos nós mesmos e respeitar o outro?

Um dos personagens, que se dedica à pintura de retratos após perder o emprego numa seguradora, questionado sobre por que escolheu esse assunto, apenas diz que “pinta aquilo que conhece e que está ao seu redor”: pessoas. Talvez seja isso que falte ao mundo contemporâneo: falar de verdade para quem e sobre quem nos rodeia: seres humanos, lindos e falhos em suas fortalezas e fraquezas.

*Mestre em Artes Visuais e doutor em Educação, Arte e História da Cultura, é Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. 

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Ela é a solução

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“A educação é como a plaina, aperfeiçoa a obra, mas não melhora a madeira.”

Talvez porque ainda não conseguimos entender isso, ainda não aprendemos a educar. Nossa Educação continua mergulhando. Educar é uma tarefa que nem é fácil nem simples. E continuamos pondo a culpa no desenvolvimento tecnológico e tantos outros que facilitam a vida de crianças, adolescentes e adultos. Não somos capazes. Não conseguimos acompanhar o avança no crescimento da população.

Recentemente li, num jornal local, aqui na Ilha, uma reclamação-crítica, de um habitante da Ilha, sobre a, segundo o reclamante, falta de educação dos turistas. E o argumento era sobre a quantidade de lixo deixado nas redondezas da praia. O que não reflete a verdade verdadeira. Mas, explicar isso levaria tempo. Prefiro me ater ao mau exemplo da crítica. Enquanto nos centramos nos maus hábitos dos turistas, deixamos de prestar atenção aos dos habitantes. Atentei-me para o assunto quando assisti a dois exemplos notáveis: um, de mau exemplo, outro do bom.

Dia desses, eu estava ali na varanda, à tarde. Um grupo de estudantes adolescentes, saía da escola, aqui nas proximidades. Quando o grupo passava pela praça, uma garota abriu um caderno e comentou algo com o colega. Não sei por que, ela atirou o caderno sobre a grama e seguiram normalmente. Com certeza, aquela garota, e o grupo que assistiu à cena não eram turistas. O caderno ficou ali até que, dias depois foi recolhido pela prefeitura.

O segundo exemplo foi notável na contramão do despreparo da estudante. Estávamos a Salete, o Alexandre e eu, num ponto de ônibus. Esperávamos o ônibus para o Município de Iguape, em São Paulo. De repente um cidadão vinha pela calçada, passou por nós, cumprimentou-nos e seguiu. Lá na frente ele parou, olhou para o asfalto, foi até lá e apanhou uma caixa vazia que estava jogada na rua. Ele apanhou a caixa, foi até um deposito de lixo, jogou a caixa no lixo e seguiu. Dias depois o encontrei batendo papo com colegas na mesa do barzinho da padaria onde eu ia comprar o pão. Não nos conhecíamos, mas fui até ele, apresentei-me e o cumprimentei pelo seu ato, naquele dia. Ele ficou surpreso e me agradeceu, honrado. Fiquei sabendo que ele era habitante da Ilha.

Dois exemplos que nos indicam como devemos ser cautelosos na hora de criticar. É quando aprendemos a criticar o ato e não quem o praticou. E como preferimos o mais fácil, continuamos não observando os erros e os acertos na educação da população. A garota estudante jogou o caderno sobre a grama. O cidadão apanhou um objeto atirado ao chão e o colocou na lixeira. Pense nisso.

*Articulista

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