Opinião

Opiniao 04 01 2019 7476

O que é desapego e como alcançá-lo

Flávio Melo Ribeiro*

Desapego é um sentimento que mexe com a personalidade humana, pois traz elementos de posse aprendidos desde a infância que ajudaram a constituir o seu EU. A primeira relação interpessoal da criança é a dialética do EU e do TU, também considerada uma relação de corredor, porque embora possa se relacionar com várias pessoas, ela só o faz uma por vez. Com o passar do tempo, a criança começa a entender que essas relações podem ocorrer no mesmo momento, então ela passa a viver a estrutura do NÓS. No entanto, o ponto de união é ela, ou seja, o ponto de vista sobre o mundo é sempre o dela, por isso que se diz que o ego está centrado nela. Tendo isso em mente, pode-se dizer que a posse sempre vai ser dela.

Entretanto, no momento em que se dá conta que as demais pessoas com que se relaciona também podem se relacionar entre si sem sua presença, ela constitui a vivência do ELES e se percebe fora da relação. Essa cisão a faz sentir uma perda e consequentemente surge o sentimento de ciúme. É nessa época que a criança quer se meter entre o pai e a mãe, faz birra quando se vê de lado e passa a exigir que o mundo continue a existir para ela. Surge o egocentrismo. Por isso que o desapego é tão difícil para algumas pessoas, pois de alguma forma elas não conseguiram ultrapassar as perdas e apresentam dificuldade para superar as frustrações.

Antes de aprofundar o tema é preciso deixar claro que desapego não significa deixar de lutar pelas coisas importantes da vida. Se for necessário, lute com unhas e dentes pelos projetos que lhe são fundamentais. Mas por que o desapego é importante? Porque para iniciar um novo ciclo de vida é fundamental deixar para trás o que não lhe serve mais. Pare e perceba o quanto você ainda arrasta consigo: coisas, lembranças, sentimentos e pessoas.

Primeiro, é preciso aprender a lidar com a frustração. Frustração é perda, é perceber que o outro existe no mesmo mundo que o seu, que não existe um mundo teu. Entender que no mundo todos existem e buscam seus respectivos projetos e que nesse ambiente dinâmico às vezes se ganha, mas também se perde. Superar as frustrações é identificar os limites e saber ultrapassá-los com ética e estratégias adequadas. Psicologicamente, desapegar é crescer.

O mundo adulto é de responsabilidades para cumprir os compromissos; de ética para fazer o que é certo; de empatia para se colocar no ponto de vista do outro; de segurança psicológica para construir seus projetos; de serenidade para saber que apesar de perder uma batalha não significa que a guerra está perdida; e, principalmente, de conhecimento para saber que não se faz um bom omelete sem quebrar os ovos. Desapegue para evoluir.

*Psicólogo; CRP12/00449

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Evolução da Legislação Brasileira, no Século XXI, dos Crimes de Colarinho Branco

Josué Hílace Veloso*

Paradoxalmente a um dos maiores romancistas da história brasileira, Nelson Rodrigues, todos são unânimes em reconhecer que o crime do “colarinho branco” é endêmico. Anualmente, bilhões de reais vão para o ralo das falcatruas, das obras superfaturadas, dos desvios. Muitos têm as mãos sujas de sangue, porque recursos que deveriam ir pra saúde, educação e segurança, por exemplo, simplesmente não chegam, ficam pelo caminho e financiam o enriquecimento ilícito de pessoas sem escrúpulos que, muitas vezes, frequentam a alta sociedade e as colunas sociais. Sendo assim, pessoas morrem. E o sangue delas está sobre aqueles que pervertem o sistema e tungam o dinheiro público.

O crime do colarinho branco encontra-se relacionado a fraudes, uso de informações privilegiadas, subornos e outras atividades praticadas por pessoas instruídas, e que muitas vezes possuem cargos públicos no primeiro escalão do governo. São pessoas influentes que vestem terno e camisa social.

O referido delito de ordem econômica tem no polo ativo pessoas de alto prestígio e confiança das autoridades governamentais que se utilizam de uso de informações indevidas, pagamento de propina, favorecimentos ilícitos, subornos e fraudes. São indivíduos que detêm alto conhecimento do legislativo e das lacunas que a lei não alcança e que com isso podem realizar várias atividades ilícitas.

Com a evolução da corrupção sistêmica, bem como a evolução do mercado, sentiu-se a necessidade de elaboração de leis que regrassem essa modalidade de crime.

A Lei nº 7.492/86 (chamada Lei dos Crimes de Colarinho Branco) foi criada para alcançar administradores e diretores de instituições financeiras. Com o tempo, a designação foi ampliada para agir contra qualquer indivíduo que lese a ordem econômica.

Além da Lei 7.492, que visa a tutela da integridade e higidez do Sistema Financeiro Nacional, foram cridas a Lei nº 8.492/92, que tipifica os crimes de Improbidade Administrativa, a Lei nº 12.683/12 da Lavagem de Dinheiro; a Lei nº 12.850/13 de Organização Criminosa (Formação de Quadrilha), e também, mais recentemente, foi criada a Lei nº 12.846/13 (Lei Anticorrupção) que adota uma responsabilidade de natureza objetiva para pessoa jurídica e subjetiva para as pessoas físicas integrantes de seu quadro social.

No que tange ainda ao arcabouço jurídico contra os crimes da ordem econômica, vimos que temos vários mecanismos internos de punição, no âmbito administrativo, e demais legislações de suma importância para o combate à corrupção.

Destaca-se que o crime do colarinho branco atinge muito mais do que a moral e os bons costumes. São ações criminosas que atingem em cheio nossos grupos vulneráveis: as crianças, jovens e adultos.

Em detrimento dessa mazela, o presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República, Alexandre Camacho de Assis, preleciona que somente a prisão coíbe a ação criminosa; que um sujeito que prejudicou milhões de vidas, desviando dinheiro público, representa um enorme risco à população. Alexandre Camacho destaca ainda que, se a sanção a crimes de colarinho branco fosse de multa, haveria muitas pessoas dispostas a arcar com o risco.

Noutro giro, o atual presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, discorda da posição do procurador. Toffoli enfatiza que deveriam ser aplicadas penas alternativas para os condenados do mensalão, e não penas privativas de liberdade; o magistrado ainda afirmou que colocar essas pessoas na cadeia seria um exagero por parte do Judiciário e que estaria remontando ao período da Inquisição.

Com isso, verifica-se que, paradoxalmente aos entendimentos de que deve haver mais rigor por parte do legislador nos crimes contra a ordem econômica, algumas decisões dos tribunais superiores, principalmente a Suprema Corte, são embasadas em questões políticas que efetivamente são necessárias, mas devem ser cautelosas para se evitar o fenômeno da judicialização (que é um fenômeno por meio do qual
importantes questões políticas, sociais e morais são resolvidas pelo Poder Judiciário, ao invés de serem solucionadas pelo poder competente, seja este Executivo ou Legislativo).

Numa última análise, é imperioso que deva haver mais rigor por parte do legislador para tratar de empresários e pessoas influentes, líderes, representantes e defensores do povo, que praticam os delitos econômicos enquadrados no crime do colarinho branco. A proteção de bens jurídicos coletivos deve ser tratada pelo Direito Penal Brasileiro, com a mais alta importância, frente aos abusos e consequências trágicas pelas quais a sociedade brasileira é atingida.

*Coronel da PMRR R/R; Doutor em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública e; Pós-Graduando em Direito Penal Brasileiro.

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O sacrifício fortalece

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“A boa madeira não cresce com sossego. Quanto mais forte o vento, mais fortes as árvores.” (Willard Marriott)

Problemas acumulados não se resolvem da noite para o dia. É preciso muita luta conjunta. Temos que nos unir para a tarefa que estamos iniciando na política. E vamos depender, cada um de nós, de cada um de nós. Vamos nos dar as mãos na tarefa árdua que teremos que encarar, enfrentando-a com sabedoria e fortaleza. E comecemos acreditando que somos capazes para reajustar os fragmentos desperdiçados nos descontroles do passado. O que passou, passou. Passado é passado e exige que façamos melhor no futuro. E é o que vamos fazer. Estou confiante na maturidade de cada um de nós. Que cada um de nós, independentemente de sexo, cor, raça, seja o que for, faça sua parte no aprimoramento da nossa cidadania.

Comecemos a nova jornada com o objetivo de alcançarmos o horizonte do nosso futuro. E o primeiro passo está na Educação. Porque sem ela nunca seremos o que devemos ser. Nunca seremos cidadãos de fato e de direito. Nunca conseguiremos sair do balaio de caranguejos em que nos meteram, desde o início da nossa República. Vamos parar de gritar e ficarmos mais espertos na nossa defesa diante do monstro que vem nos acorrentando num passado que deve ser esquecido. Mas não basta esquecer. O importante é que coloquemos no lugar do malfeito, o correto para nosso engrandecimento.

Não precisamos de gritos para acordar os dorminhocos que exercem o poder sem condições de exercê-lo. Mas não nos esqueçamos de que somos nós, os responsáveis pelos desmandos. Comecemos uma batalha silenciosa, mas forte e respeitosa, para que tenhamos, com nossa Educação, o direito ao voto facultativo. Porque sem ele nunca seremos cidadãos. Mas nunca o mereceremos enquanto não formos um povo realmente educado para o direito à cidadania. Estamos no final da encruzilhada.

Cabe-nos, agora, escolher a vereda que devemos tomar, para seguirmos nossa jornada. E não vamos permitir que continuemos sendo vistos como marionetes e títeres. Confio em você. Espero que nos encontremos no parque da felicidade. Porque só quando nos conhecemos somos o que realmente somos. Porque até agora, ainda não conseguimos ser o que pensamos que somos. E continuamos permitindo que os que não sabem o que realmente são, mantenham-nos presos no curral, círculo de elefante de circo. Concentremo-nos no maior obstáculo do nosso dia a dia. E o maior obstáculo que encaramos é a precariedade na nossa Educação. O que satisfaz os maus políticos que sabem que quando formos educados, eles cairão fora. Pense nisso.

*Articulista

[email protected]

99121-1460