Opinião

Opiniao 09 03 2019 7805

Mais impostos, para quê?

Celso Luiz Tracco*

Um dos principais problemas estruturais do Brasil é o gigantismo da máquina pública, mantido pela arrecadação tributária. Por que é tão difícil reduzir despesas?

Responder essa pergunta é uma dificuldade, uma vez que não há controle. Além disso, os nossos parlamentares, deputados federais e senadores eleitos pelo povo, e constitucionalmente legisladores, são os que aprovam o orçamento da União. Nunca se vê redução de gastos. Deputado julgado, condenado e preso continua recebendo seu gordo salário mesmo estando afastado de suas obrigações. O número de assessores parlamentares ou cargos de confiança ninguém sabe quantos são e pior, ninguém sabe o que fazem nem para que servem.

O custo do parlamento brasileiro é estimado em R$ 6,5 bilhões por ano, quatro vezes mais caro que o da França e quase oito vezes mais caro que o da Argentina, para efeitos de comparação. Há mordomias sem fim: auxílio-paletó, auxílio para correio (em plena era da internet) auxílio para gasolina, garçons, engraxates, segurança, viagens em aviões da FAB, plano de saúde sem limites… A lista é extensa. Mas isso é apenas a ponta do iceberg.

Devemos somar a essa fábula o custo do Legislativo e do Executivo de 26 Estados e DF, de 5.570 municípios, do Judiciário, das autarquias e empresas estatais. Existem 146 empresas estatais federais ativas, cujos diretores e gerentes são indicados pelos seus padrinhos políticos. Quantas mais existem nos Estados e municípios? O desperdício com o dinheiro público é infindável e crescente.

O Brasil, entre 30 países pesquisados, é o que, todos os anos, mostra o pior resultado em relação aos benefícios para a população por imposto arrecadado. Não é apenas uma questão financeira, mas, sobretudo humanitária. O dinheiro não vai para quem precisa, principalmente para os mais de 50 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza.

Mas, prepare-se: o rombo das contas públicas federais está estimado em torno de R$ 150 bi. Nossos representantes certamente irão sugerir mais aumento de impostos, apesar de aprovarem isenções e anistias aos poderosos entes econômicos: grandes empresários, países “amigos” devedores, sistema financeiro e outros. São “bondosos” com os poderosos, mas severos com quem trabalha e vive de salário: a tabela de isenção do Imposto de Renda, há anos defasada, deveria ser ajustada em, no mínimo, 90%.

*Economista e autor do livro Às Margens do Ipiranga – a esperança em sobreviver numa sociedade desigual.

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Desaceleração

Max Franco*

Francisco França Miguel**

“Ando de vagar porque já tive pressa” (Almir Sater e Renato Teixeira)

Nós que vivemos nas sociedades “capitalistas”, digam-se exploradas à exaustão pelo capital, temos e vivemos uma vida em ritmos frenéticos. Somos comandados em todos os sentidos pelos deuses crônus (deus do tempo) e mamon (deus do dinheiro). O primeiro é o oxigênio para a existência e forma do segundo. Quando o deus mamon parece que vai vencer e legitimar seu poder em nós, aí vem cronus e mostra a nossa finitude, e de fato é mesmo o fim para nós meros mortais.

É necessário vivermos com sabedoria o pouco tempo que nos foi destinado. A grande questão é que a sabedoria não é ensinada em nenhuma escola ou universidade. A sabedoria está em todos os lugares e à disposição de todos. Em cada esquina ou beco da vida, ela nos convida a vivermos com e para ela. A sabedoria diz que a função de mamon é celebrar a vida com aqueles que fazem parte de nosso círculo de amizades, mas também para ajudar os que não conhecemos e que são necessitados do básico para sobreviver.

O grande nó existencial repousa em usar o pouco de cronus para dividir, compartilhar mamon conosco e com as demais pessoas. O que é melhor? Ser um perdulário ou um “mão de vaca”? A primeira opção sinaliza que o sujeito conseguiu viver ao mesmo tempo e intensamente cronus e mamon. Já a segunda, mostra o triunfo de mamon e o sacrifício de cronus. Penso que viver perigosamente e apaixonante é desafiar esses dois deuses e viver nessa linha tênue, isto é uma práxis que tem e deixará memórias desafiadoras.

Vivemos mesmo tempos acelerados para a maioria das pessoas no globo que estão sob a égide do capital, mas também vivemos tempos de muita grana para poucas pessoas e tempos de pouca grana para muitas pessoas do globo. Que mundo mais global, que mundo mais desigual, esse mundo é o reino e ao mesmo tempo o triunfo dos deuses cronus e mamon pelas almas dos meros humanos. E como ainda não fomos extintos na face do globo, essa batalha irá continuar por muitos séculos.

É hora de puxar o freio antes de irmos de encontro e não ao encontro de cronus em sua fúria devorativa. Mesmo que tenhamos aquinhoado o deus mamon, na hora que cronus chegar, será mesmo o fim, o aniquilamento. Por isso, enquanto tempo temos e o cronus ao nosso lado, pensemos e amemos menos mamon e mais o deus cronus. O nosso maior patrimônio que temos é o tempo que usamos sabiamente, se assim o fizermos, poderemos, mesmo com a finitude que jaz sobre nós, desfrutar um pouco do muito que manon tem e oferece.

Todos nós queremos ter qualidade de vida, todos nós almejamos conquistar um lugar debaixo do sol. Só que entre a conquista existem duas “pedras” que necessitamos muito, cronus e mamon. Esse lugar ao sol está mais relacionado à qualidade de cronus e não especificamente com o acúmulo de mamon. É possível viver com sabedoria debaixo do sol, sem necessariamente ter a veneração ao deus mamon.  Mas é impossível viver a bênção longe do deus cronus.

Enquanto durar o “domínio” do sistema capitalista, vivemos e viveremos entre o dilema que aflige os mortais. Viver intensamente cronus e também mamon, sendo que usamos o primeiro para conquistar o segundo, e quando pensamos que vamos usar o segundo, é a hora do primeiro cobrar sua quota e o segundo não tem como postergar. E se isso ocorrer com o recurso tecnológico de que dispõe a medicina, ainda assim não possível desfrutar de nada, o que se tem não é vida, mas estado vegetativo.

Enquanto temos cronus ao nosso lado, vamos lhe dar o centro da vida e deixar mamon em segundo plano. O deus mamon tem importância, mas não deve prevalecer sobre cronus. Gastemos mais tempo com conversas menos séria, gastemos todo mamon que temos para celebrar momentos com quem amamos, mas também ser solidários com os que estendem a mão. Que não fiquemos reféns de cronus e de manon. O tempo é essencial ao nosso viver, já mamon é apenas necessário, mas não essencial.

*MSc em Sociedade e Cultura na Amazônia.

**Mestre em Letras

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Um anti-herói italiano

Oscar D’Ambrosio*

A época dos grandes heróis parece ter chegado ao fim. Os novos heróis são os anti-heróis, ou seja, aqueles que apar
entemente não tem nada de heroico, sendo comuns, mas que, em dado momento, revelam uma força interior que os motiva a realizar ações supostamente heroicas, mas marcadas por uma violência e/ou métodos discutíveis.

Esse é o caso do filme italiano ‘Dogman’, dirigido por Matteo Garrone. O cenário é um vilarejo miserável na Itália em que um brutamontes, quase sem cérebro, mas com a violência à flor da pele em seu desejo de conseguir dinheiro para se abastecer de drogas e para se mostrar e se sentir no topo do mundo, busca ser o macho alfa dominante.

No polo oposto, está o personagem Marcello, dono de um pet shop, carinhoso com os animais e motivado apenas pelo sentimento de ser querido pela comunidade e de subsistir. O choque entre os dois resulta num desfecho trágico, marcado pela violência do dominado sobre o dominador.

A grande questão que o filme coloca é que não existe nesse jogo um vencedor. Há uma grande derrota para a raça humana, pois a vingança do personagem baixinho e afável contra o alto e forte é caracterizado pelo sadismo e mero desejo de reconhecimento da comunidade. A morte e o sangue são assim, aparentemente, a única linguagem de uma raça que se diz racional.

*Jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

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Guardiões da moral

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“No Brasil só há um problema nacional: a educação do povo”. (Miguel Couto)

Quanto mais mal educado for o povo mais precisaremos de leis, na tentativa de protegê-lo. Quando não temos educação não sabemos nos proteger. Assunto já amplamente discutido, mas nada resolvido. Nunca resolveremos nossos problemas através de leis. Durante a euforia na criação da “lei seca”, por exemplo, criticaram-me porque eu disse que ela não ia além de uma pantomima. Os mal educados continuam bebendo, dirigindo, e matando. A “Lei Maria da Penha” está ofegante. Os débeis mentais continuam maltratando e matando as mulheres. E a lei contemporizando dentro da lei. Uma nova lei deverá surgir para garantir o direito à educação, para os que devem ser educados. E como não se educa com leis, dificilmente nós teremos uma civilização sexualmente educada. Continuaremos os trogloditas do sexo, buscando a proteção dos guardiões da moral.

Nenhum ser vivo vive sem sexo. O sexo é vida. Sem ele não há vida. Mas os moralistas classificam-no como imoral, e que não deve fazer parte da educação das crianças. Só quando a criança já não for mais criança e estiver suficientemente mal educada, é que pode se “educar sexualmente”. Até lá, a lei vai protegê-la, tentando punir o pedófilo que a violentar. Como se a punição pela lei curasse o mal sofrido.

A educação nasce no berço, com a criança. Não há idade mínima para educar. Cada dia passado sem o exercício da educação sexual é um dia perdido que nunca será recuperado. E a educação no berço é transmitida pelos pais. E todo pai preparado para educar, deve saber que o que deve fazer é educar e não ensinar, quando se trata de sexo. Ele é natural. A educação deve tratar dos modos como devemos nos comportar sobre ele. O sexo explícito é imoral e boçal. E o que devemos é evitar a boçalidade. A educação deve ser em relação ao sexo, e não em relação ao grau de moralidade ou imoralidade, no sexo. A hipocrisia em relação ao sexo é tamanha, que a mulher ainda não descobriu, porque não lhe disseram na educação sexual, que o seio não é um órgão sexual, e sim, uma glândula mamária.

A maior preocupação em relação à educação sexual na infância deve ser com quem vai educar. Porque na verdade, a criança já deveria ir para escola com essa educação. E se vamos remediar a falta da educação no berço, que o façamos com educação e não apoiados em apoio de leis que apoiam, mas não curam, nem resolvem o problema. Senão vamos continuar trancados na ignorância castradora e milenar. E que todos sabemos de onde ela vem. Não nos esqueçamos de que não há cultura sem educão. Pense nisso.

*Articulista

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9121-1460