Opinião

Opiniao 14 01 2019 7522

Superficial e frágil

Tom Zé Albuquerque*

É impressionante como a sociedade brasileira está doente. Nesse espectro, há quem diga que a depressão é o mal do século. Eu discordo. Entendo que a hipocrisia é o que de mais nocivo, deprimente e cruel tem se alastrado entre nós. Estar deprimido tem como uma das causas o fato de o ser humano buscar ser cada vez mais aquilo que não conseguiu ser.

Na realidade vigente, pessoas gastam o que não têm para comprar coisas desnecessárias no intuito de impressionar gente que em nada contribui ou repercute em suas vidas. Por vezes, nos deparamos com pessoas que tentam a qualquer custose postar de extrema bondade, mas ao mesmo tempo desferem desregradamente golpes baixos através de palavras e atos, seja em seu próprio meio ou não. Pseudointelectuais se arvoram como gênios, mas não passam de leitores alçados pela leviandade, dotados de frivolidades em defesa de ideários que nem sequer entendem.

Profissionais frustrados aos montes se debatem tentando mostrar aquilo que estão longe de ser, à custa de uma automutilação mental. Homens que se projetam como probos, ao contrário, saqueiam patrimônios e trapaceiam desmedidamente. Políticos que são eleitos para defender e proteger o povo e ascender na sociedade tratam de atender a seus privilégios antes e acima de tudo, em detrimento da coletividade. Comunistas consumistas de objetos caros, com viagens extravagantes mundo a fora, por vezes em gozo diário de seus luxuosos carros, quando precisam pagam hospitais caríssimos e comumente residem em ambientes suntuosos.

Numa sociedade enferma, tal qual a brasileira tem submergido vorazmente, a verdade é secundária; mentir é esporte nacional; astúcia calculista é regra. Preguiça, inveja, incapacidade de se gerir a própria vida são trivialidades já incorporadas no cotidiano do brasileiro. Os jovens brasileiros, em uma considerável parcela, de tão atordoados que estão orbitam entre a abulia, alienação e o consumo de ilícitas e lícitas drogas (incluindo os vazios e grotescos estilos musicais), ora pela autocobrança, ora pela exigência de grupos sociais, também doentes, carentes e simulados.

O filósofo Eduardo Giannetti, em seu ensaio “Tópicos Distópicos”, descreveu que “…os pobres estão entorpecidos, os ricos enfadados; os privilegiados acima da lei, os excluídos aquém dela; os bem-sucedidos sem tempo para nada, os desvalidos sem saber o que fazer com ele; os casais algemados, os amantes rompidos; os poetas à míngua; os corruptos à larga…”. E as máscaras humanas se multiplicam e se debatem entre nós numa sanha em expor e projetar a outrem o sempre mais de um nada indetectável.

E aí perdura uma farsa repulsiva que leva milhões de brasileiros aos divãs e ao consumo desenfreado e crescente de barbitúricos. Como pregava o brilhante Oscar Wilde: “O cínico é aquele que sabe o preço de tudo, mas não conhece o valor de nada”.

*Administrador

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Nem índio nem branco

Hudson Romério*

Fazer cultura e arte é transformar o ordinário em extraordinário. Isso é o que faz o povo brasileiro com sua surpreendente criatividade ao armar estratégias de sobrevivência da maloca à senzala, da tapera à favela. Tudo que produzimos é uma referência de transcrição da cultura popular, quando partindo das ferramentas dos orixás africanos, dos xamãs indígenas, cria-se uma sofisticada e construtiva caligrafia simbólica: nacional, regional e universal.

A frágil fronteira entre o que é arte popular e o que é arte erudita, é rompida por novos elementos inusitados de nossa cultura, a cultura brasileira, a cultura roraimense, onde toda nossa identidade é simples e transparente.

Na efervescência cultural dos anos 1980, surgiu aqui em Boa Vista o movimento “Roraimeira”, que é o nome dessa transgressiva ação revolucionária de nossa cultura – agora não defendemos mais uma identidade cultural regional – queremos uma “ENTIDADE UNIVERSAL RORAIMENSE-BRASILEIRA!”.

Desde então, vários artistas locais assumiram essa entidade como forma de ver e compreender a poética do mundo a partir da precária realidade do nosso Estado (até então, território federal). Poderia, então, falar-se que muitos artistas se valeram de uma “estética da precariedade” usada com sofisticação e sensível inteligência construtiva? Inspirada, inclusive, na herança cultural indígena e dos muitos migrantes que cruzaram a grande floresta, e transcriaram-se no caboclo: um brasileiro singular e ao mesmo tempo plural.

O resultado é uma arte de transfiguração da rude realidade roraimense que dialoga sem fronteiras numa região ameríndia, queira ou não queira, rompendo todas as estruturas sociais e culturais de nossa alienada elite econômica e intelectual. E assim, nessa simbiose louca e inusitada, fomos concebidos roraimenses!

Tivemos ainda o privilégio de nos mesclar com imigrantes de nações vizinhas, donos de uma cultura de raiz milenar que, ao cruzarem com pesar e dor nossos lavrados e matas, trouxeram a força e a magia da arte de seus deuses e ancestrais. Sobre essa diáspora de povos e etnias, Eliakim Araújo versou: “Tudo índio, Tudo parente”.

Essa é uma pequena amostra do milagre de fé de várias culturas que se intercomunicaram (e se intercomunicam) para formar a consciência do povo roraimense, sociedade formada por seres humanos que há tempos usa uma sofisticada tecnologia a serviço da construção dessa bela identidade cultural.

Estamos a urdir a textura cultural desta rica vida simbólica que se aviva a cada dia, a cada mês, a cada ano e ainda surpreende e emociona pelos inusitados diálogos interculturais dessa linda gente.

*Articulista

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Educação no país dos contrastes 

Ronaldo Mota*

Há um consenso acerca do papel central que a educação tem em democratizar oportunidades, consequentemente, contribuindo para minorar desigualdades, tanto sociais como regionais. Da mesma forma, a carência de educação ou sua baixa qualidade geram o efeito oposto: cristalizam e ampliam desigualdades. 

O Brasil é, antes de mais nada, um País de contrastes. Em qualquer área, educação e saúde inclusas fazemos coisas boas e para muitos, desde que não façamos as duas coisas ao mesmo tempo. Em geral, dispomos do que há de melhor e mais avançado no planeta, desde que para poucos. Igualmente, temos serviços e produtos que são estendidos para muitos, ainda que, usualmente, de qualidade insuficiente. Os dados educacionais evidenciam isso de forma clara e cristalina. 

A Meta 8 do Plano Nacional de Educação (PNE) consegue em um parágrafo sintetizar, de forma inequívoca, nossa contrastante Nação, deixando-a transparente e translúcida. O PNE, ao longo de suas 20 metas, estabelece diretrizes, metas e estratégias para os próximos dez anos da educação brasileira. Sendo lei (Lei no 13.005, de 25 de junho de 201
4), cabe ao governo e à sociedade respeitá-la e envidar todos os esforços para transformá-la em realidade. 

Na Meta 8 do PNE está escrito: “Elevar a escolaridade média da população de 18 a 29 anos, de modo a alcançar, no mínimo, 12 anos de estudo no último ano deste Plano, para populações do campo, da região de menor escolaridade do País e dos 25% mais pobres, e igualar a escolaridade média entre negros e não negros declarados à Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) “. 

Considerando que, hoje, a escolaridade média brasileira é de aproximadamente 11,3 anos, atingir 12 anos até 2024 seria, em tese, meta plausível de ser alcançada. O que transforma esta meta, aparentemente simples, em algo bem mais complexo são os seus detalhamentos, que colocam a nu o quão desiguais somos em renda, bem como em termos raciais e regionais. 

Para tanto, basta observar que alguns segmentos do País já ultrapassam a meta de 2024. Os 25% de maior renda demonstram já atingiram 13,1 anos de escolaridade, ou seja, mais de 9% acima da meta. Os brancos, com 12,1%, já superam a meta proposta. A Região Sudeste, com 11,8, está bem próxima. A região urbana apresenta 11,6 anos de escolaridade, ligeiramente abaixo da meta. 

Contrastando com os indicadores acima, os 25% de menor renda apresentam, em média, somente 9,5 anos de escolaridade, 26% abaixo da meta e incríveis 38% aquém dos correspondentes de maior renda. Os negros têm, em média, 10,8 anos de escolaridade, portanto, mais de 12% abaixo de seus conterrâneos não negros. O nordeste, com 10,6, destoa em mais de 11% do vizinho sudeste. Por fim, o meio rural, com índice médio de 9,6 anos estudados, fica mais de 20% distantes de seus irmãos da cidade. 

Todos os países contemporâneos, sem exceção, que desfrutam de desenvolvimento econômico, social e ambiental sustentável o fazem ancorados em consistentes e acessíveis sistemas educacionais. Portanto, ampliar níveis de escolaridade, bem como melhorar a qualidade dos anos estudados, são alicerces básicos que definem as possibilidades e potencialidades de uma nação. Na complexidade educacional envolvida, temos oportunidade de, ao conjugar qualidade com quantidade, enfrentar, com sucesso, os mais relevantes desafios que o Brasil conhece. 

*Chanceler da Estácio

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Eu, timoneiro de mim mesmo

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Entrei no barco do meu corpo para atravessar o oceano do futuro.” (Jagadar)

Você já conhece a aventura do Cabo “Sivirino.” E como somos comandantes de nós mesmos, devemos saber segurar o timão. O erro na direção da vida pode vir do comandante e ser corrigido pelo Cabo Sivirino. O importante é que sejamos competentes, para dirigir o barco da vida e atravessar o oceano rumo ao futuro. Cada um de nós é responsável pelo que acontece na sua vida. Quando o acontecimento não satisfez, é bom verificar onde erramos. E o mais importante é que você aprenda com o erro para acertar na nova tentativa. É nos erros que aprendemos a não errar. Aproveitar a vida é uma tarefa que exige inteligência e dedicação à vida. O universo tem todo o recurso de que necessitamos e está à nossa disposição.

Estamos iniciando mais uma semana. E o que devemos levar para a vivência do dia a dia é o conhecimento que adquirimos na semana que passou. Simples pra dedéu. Então, vamos levantar a cabeça, erguer os ombros e caminhar com passos firmes na caminhada rumo ao futuro. E o mais importante é que cada um de nós pode fazer isso sem sacrifícios. É só saber usar a mente como ela deve ser usada. Nosso futuro depende do que fizemos no passado. Ele, o futuro, pode ser favorável ou desfavorável se você ficar preso aos erros do passado. E a maneira mais eficaz de se libertar dos erros do passado é não pensar neles. São nossos pensamentos que nos levam para o futuro.

Aproveite cada momento do seu dia hoje. Até os que não lhes trouxeram satisfação, aproveite-os jogando-os para a lixeira do esquecimento. E por falar em esquecimento, esqueci-me de que lhe prometi falar sobre a exposição de artesanato aqui no Centro Cultural da Ilha. Mas vai ficar pra depois. Temos afazeres e mais tarde iremos assistir ao show do “Fala Mansa”. Só amanhã iremos à exposição que fica bem aqui, em frente à nossa residência. Mas, prometo que falarei. Mesmo porque estou adorando falar sobre as particularidades desta ilha paradisíaca e atípica. As coisas interessantes que estão acontecendo merecem comentários. Por exemplo: almoçamos no Centro e tomamos um ônibus para casa. A distância de lá para cá é de apenas três quilômetros. Nós três éramos os únicos passageiros. Quando nos aproximamos do nosso ponto, o motorista perguntou:

– Vocês vão ficar aqui, não vão?

– Vamos, sim!

– Tudo bem. Tamos chegando, e boa tarde pra vocês.

Ele parou em frente ao nosso portão, descemos, agradecemos e saímos rindo. Dá pra acreditar? Coisas aparentemente fúteis, mas que são muito importantes. Pense nisso.

*Articulista

[email protected]

99121-1460