Opinião

Opiniao 14 02 2019 7693

O Brasil não aprende!

Flamarion Portela*

“A síntese desse levantamento feito pelo Globo é que as consequências não deram em nada. Esse é o ponto que une todas essas tragédias. A impunidade é o que rege, o que comanda as orquestras das tragédias nacionais.”

O último comentário do jornalista Ricardo Boechat, na BandNews FM, no dia de sua morte, na segunda-feira, 11, é o retrato fiel do que tem acontecido em nosso País nos últimos tempos.

De acordo com o levantamento feito pelo jornal O Globo, em dez grandes tragédias ocorridas no Brasil nos últimos 12 anos ainda não há condenações pela Justiça.

Quem não se lembra do desastre com o avião da TAM, em São Paulo, em 2007, quando quase 200 pessoas morreram e, até hoje, seus parentes não foram indenizados?

Temos ainda aquele que foi o maior dos desastres ambientais naturais do País, quando em janeiro de 2011, o efeito do excessivo volume de chuvas nas cidades de Nova Friburgo e Teresópolis, no Rio de Janeiro, causaram enchentes e deslizamentos, que mataram mais de 800 pessoas e deixaram mais de 15 mil fora de suas casas.

Não podemos nos esquecer do incêndio da boate Kiss, tragédia que matou 242 pessoas e feriu 680 outras numa discoteca da cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.

Mais recentemente, em 2015, outra tragédia atingiu o Brasil com o rompimento de duas barragens da mineradora Samarco, em Mariana, Minas Gerais, quando uma mistura de água, lama e rejeitos sólidos foram espalhados por centenas de quilômetros, poluindo rios e destruindo tudo que tinha pela frente. Embora apenas 19 pessoas tenham perdido suas vidas, os prejuízos ambientais são incalculáveis.

E, quando pensávamos que não aconteceria mais nada pior, começamos 2019 com duas grandes tragédias: o rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, região metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais, no dia 25 de janeiro, onde já foram contabilizadas mais de 160 mortes e mais de 160 pessoas continuam desaparecidas; e o incêndio no Ninho do Urubu, o centro de treinamento do Flamengo, no Rio de Janeiro, no dia 8 de fevereiro, que deixou 10 jovens mortos e outros três feridos.

Citei aqui apenas algumas das tragédias que marcaram o nosso País nos últimos anos, mas aconteceram outras tantas que também tiveram grande impacto na vida das pessoas.

E o que podemos tirar de conclusão disso tudo é que todas elas poderiam ter sido evitadas ou seus efeitos minimizados.

Faltou prevenção, faltou fiscalização, faltou cuidado com a vida das pessoas e com a natureza. Vai tragédia e vem tragédia e o Brasil não aprende a punir aqueles que foram os responsáveis direta ou indiretamente por elas. 

Até quando veremos vidas sendo ceifadas e a natureza sendo destruída pela ganância do homem, sem que os responsáveis sejam punidos?

*Ex-governador de Roraima

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Perdão, o alívio da alma

Wender de Souza Ciricio*

O tempo oferece para nós infinitas surpresas, algumas boas e ótimas, outras gritantemente desapontadoras. Não temos o mundo aos nossos pés, não podemos controlar todas as circunstâncias, não temos poder de reis e rainhas, de suseranos nem de patrões e não exercemos plena autoridade sobre pessoas e circunstâncias. O que nos deixa pequenos e impotentes. Somos reféns de situações que acontecem sem que se encaixem nas nossas expectativas, metas e sonhos. Não gostamos do caos, da tragédia, da dor, da decepção e da ofensa.

Se é assim tão pesado, o que fazer? Não tem como tratar todo tipo de desalento de uma vez, mas dá pra sinalizar e pontuar algo que serve como bênção e paz para quem sofre. Penso em quem está sofrendo por conta de ofensas recebidas de outros, de quem tem feridas e cicatrizes provocadas por alguém que esteve próximo e causou enormes danos, sejam eles de quaisquer espécie e dimensão. Para aquele que é vítima, existe uma forma de costurar e dar fim a esse sofrimento e a esse peso na alma. Falo do perdão.

Perdoar é liberar o ofensor, é dizer que ele está livre da ofensa causada, é deixa-lo ir embora. Necessariamente, não tem relação com esquecimento, mas ajuda a não viver em função dessa lembrança, dessa raiva causada e desse rancor enraizado. Não é fácil e simples perdoar, mas é fundamental para sobrevivência das partes envolvidas.

O ofensor, aquele que bateu, agrediu e machucou nem sempre sente ou dá valor para o estrago que causou, porém aquele que foi o alvo do ofensor sofre desmedidamente. Por isso, se o ofendido é o que mais sofre diante da ofensa, é também o que mais sente paz e alívio quando perdoa. O perdão tem esse poder, o poder de gerar paz e alívio para quem o ministra. Não resta dúvida que dormirá mais leve.

Outro efeito gigantesco do perdão é que ao ministrá-lo descobre-se que quem mais necessita de cuidado é o ofensor, ele é o maior doente da história. O ofensor traz consigo marcas de um caráter corrompido, deturpado e cheio de problemas construídos no decorrer de sua história pessoal. Quando existe o perdão, consegue-se perceber essa pobreza de espírito do ofensor. Talvez o mesmo, ao se surpreender com o perdão, busque ajuda.

O perdão tem, também, a capacidade de impedir que o ofendido seja como o ofensor. Perdoar impede de desenvolver atitudes de fofoca, murmuração e ódio, o que provavelmente levaria a vítima a se tornar tão baixa quanto o ofensor. Ministrar perdão mantém dignidade e respeito.

Um jovem estudante norte-americano precisando levantar recursos para continuar pagando a faculdade arrumou, durante suas férias, um emprego de motorista de ônibus. Em uma de suas viagens, recebeu no ônibus quatro jovens arruaceiros. Isso foi péssimo, pois bateram nele e levaram o dinheiro das passagens. O resultado é que diante de denúncias os vândalos foram presos. Algum tempo depois, já no tribunal, o juiz, com os quatro jovens à sua frente, é interrompido pelo estudante que foi vítima do crime. O jovem disse: “Senhor juiz, vim aqui perdoar esses jovens e gostaria que o senhor os liberassem”. O juiz, atônito é claro, disse não ser possível atender ao pedido, pois fazendo isso estaria ferindo a lei. Então, o jovem tomou a seguinte decisão: “Está bem, senhor juiz, dê a sentença e permita que eu cumpra no lugar deles”. O perdão impulsionou esse jovem a essa decisão.

Quem está em sua lista negra? Quem tira seu sono? Quem contribuiu para sua alma chorar, sofrer e odiar? Perdoar é uma questão de decisão, está acima de sentimentos, é querer fazer, é entender que é necessário para o bem do coração e alívio da alma.

*Psicopedagogo, teólogo e historiador.

[email protected]

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Residências mais acessíveis

Caroline Cavalheiro*

O ú
ltimo Censo Demográfico do IBGE mostrou que mais de 45 milhões de pessoas convivem com algum tipo de deficiência. Portanto, empatia e consciência social são necessidades urgentes quando se trata de construção residencial. O ideal é que as novas construções adotem itens de acessibilidade ainda na fase de projeto, envolvendo as áreas de arquitetura, civil, elétrica, eletrônica, mecânica e hidráulica. 

As construtoras precisam respeitar a norma 9050 da ABNT, que estabelece diretrizes e critérios básicos para a promoção da acessibilidade, mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação.

Um condomínio precisa incluir itens de acessibilidade desde a entrada, passando pelas áreas comuns, até chegar ao próprio apartamento. Este deve permitir que a pessoa com deficiência física ou com mobilidade reduzida consiga se locomover com naturalidade, com circulações que permitam áreas de manobras adequadas para cadeiras de rodas. Portas adequadas, banheiros maiores, com barras de apoio, acessos que tenham pavimentação com revestimento adequado e caminhos sem desníveis ou degraus, privilegiando planos inclinados ou rampas, são itens que proporcionam mais autonomia, permitindo a circulação por todo o empreendimento.

O custo de implantação dos itens de acessibilidade é de baixo impacto, encarecendo menos de 1% do valor final da obra. Já adaptar um empreendimento pronto pode elevar o orçamento da obra em até 25%. Além disso, a adoção destas práticas favorece a questão de inclusão social, beneficiando a população e impactando em uma melhor qualidade de vida ao deficiente físico. É necessário entender a norma de acessibilidade não somente para atender uma legislação, mas como uma necessidade de inclusão social, para a construção coletiva de cidades mais humanas.

*Arquiteta e urbanista da Rôgga Empreendimentos

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Na escada da vida

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Nunca, em todas as civilizações, a humanidade alcançou um nível tão avançado de evolução quanto hoje.” (Waldo Vieira)

Estou com o Waldo Vieira, mas precisamos ter em mente que evolução estamos considerando. Atualmente, ainda seguimos orientações de sábios que continuam nos orientando para o crescimento da humanidade. Ainda não sabemos quantos dilúvios já aconteceram sobre a Terra. E não podemos saber qual era o grau de evolução na Terra no último dilúvio. O que sabemos é que não podemos acreditar nas fantasias criadas sobre os resultados do último dilúvio. Mais o que importa mesmo é que nos preparemos para o que iremos viver. O que virá depois do próximo dilúvio, deixa acontecer.

Vamos falar sério. Vamos nos cuidar para que em cada retorno estejamos preparados para vivê-lo. Os acontecimentos dramáticos atuais não são mais do que repetições dos de outrora. Que sofremos, sofremos, mas não a ponto de fazer da vida atual um desastre para a vida. Simples pra dedéu. É em nossa evolução que vivemos os momentos de preparação para o futuro. Olhe sempre para o futuro. O passado é passado. Viva dele apenas o que interessa para o progresso. Somos todos da mesma origem. Viemos todos do mesmo Universo Racional. Cabe a cada um de nós fazer o que deve ser feito para o seu retorno.

A vida é um pandeiro sem fundo. Mas não são tantos os que sabem tocar no pandeiro aparentemente inútil. Cada dia de nossas vidas é um aprendizado para o dia seguinte. E se é assim, por que perder tempo com tolices que não nos levam a lugar nenhum? E você pode estar perdendo tempo, pensando que esse papo é papo furado. As chuvas que caíram nos últimos dias, castigando o Rio de Janeiro e São Paulo, nos alertaram. Um alerta que vem se repetindo há milênios. E ainda não aprendemos a viver com as ameaças do tempo. Elas fazem parte do desenvolvimento e progresso. O importante é que aprendamos a conviver com as alterações e mudanças sobre a Terra.

Vamos viver cada momento de nossas vidas como se ele fosse o último. Mas isso não quer dizer que devemos viver assustados com o futuro. Ao contrário. O que devemos fazer é preparar-nos para o futuro, dirigindo e vivendo nossas vidas como nossas. Não deixemos que ninguém nos dirija. Todos, e cada um de nós, têm o poder de viver feliz. E o início está no grau de evolução que devemos considerar e respeitar, para que evoluamos. E importante é que o amor é o esteio da felicidade. Por isso, ame e ame-se. Só quando nos amamos e amamos as outras pessoas é que podemos alcançar a felicidade. E sem a felicidade não conseguimos evoluir racionalmente. Pense nisso.

*Articulista

[email protected]

99121-1460

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