Opinião

Opiniao 14 05 2019 8189

Tempo de perplexidade – Antonio de Souza Matos

A onda de violência, corrupção e perversidade que assola o nosso país deixa perplexa qualquer pessoa de bem, independentemente de religião ou posição política. Esse mesmo sentimento tomou conta do coração do salmista a ponto de levá-lo a pedir socorro de Deus: “Salva-nos, SENHOR, porque faltam homens bons; porque são poucos os fiéis entre os filhos dos homens” (Sl 12.1).

O salmista clamou a Deus porque, para onde dirigia o olhar, só via maldade, malícia e infidelidade. A escassez de pessoas bondosas e honestas era gritante. O contexto atual não é diferente. A inversão de valores é aplaudida em nossa sociedade, e a moralidade, a ética, ridicularizada. A vileza se alastra por toda parte. Poucos saem incólumes desse lamaçal que visa conspurcar a todos nós.

A descrição que o salmista faz dos homens de sua geração se encaixa perfeitamente com a dos homens da nossa: “Cada um fala com falsidade ao seu próximo; falam com lábios lisonjeiros e coração dobrado” (v.3). “Pois dizem, com a nossa língua prevaleceremos; são nossos os lábios; quem é senhor sobre nós?” (v.4). Eles são peritos na arte de ludibriar para obter algum tipo de vantagem (financeira, política, religiosa, ideológica). Têm um discurso agradável, mas o coração cheio de ódio, de inveja, de malícia e de toda sorte de maldade. Além disso, vangloriam-se de sua capacidade de persuasão e de sua autossuficiência. Movem-se pela arrogância. Desprezam a Deus e quaisquer regras. 

Alguns, conforme o salmista, oprimem os pobres, fazendo-os gemer debaixo da servidão. E, no lugar de sofrerem qualquer retaliação ou censura, são exaltados. Quando analisamos a situação dos venezuelanos e de outros estrangeiros que buscam refúgio em nosso país, ficamos estupefados diante do descaso e da exploração a que estão sujeitos. Muitos, valendo-se da condição de vulnerabilidade social deles, escravizam-nos em vez de oferecer-lhes dignidade.

Ante esse quadro caótico, só nos resta, a exemplo do salmista, clamar a Deus e pedir socorro. Só Ele pode livrar-nos. Ainda que pareça tardio, vai levantar-se para julgar essa geração perversa, pervertida, maligna e corrupta: “O SENHOR cortará todos os lábios lisonjeiros e a língua que fala soberbamente” (v.3). Vai erguer-se para defender o oprimido: “Pela opressão dos pobres, pelo gemido dos necessitados me levantarei agora, diz o SENHOR; porei a salvo aquele para quem eles assopram” (v.5). Vai preservar os que O temem: “Tu os guardarás, SENHOR, desta geração os preservarás para sempre” (v.7).

Enquanto aguardamos o SENHOR intervir, devemos cuidar de nós mesmos. Como conseguir manter a pureza e a santidade em meio a tanta devassidão moral? Só existe uma saída: apegar-nos à Palavra de Deus. Ela, e somente ela, tem poder para purificar nossas almas: “As palavras do SENHOR são palavras puras, como prata refinada em fornalha de barro, purificada sete vezes” (v.6).  Maranata! Vem, Senhor Jesus!

*Professor e revisor de textos. E-mail [email protected]

Chifre em cabeça de cavalo – Walber Aguiar

“O que é a verdade?” (Pilatos)

Estavam tristes, cabisbaixos, sem nenhuma perspectiva de luz e esperança diante da terrível morte na cruz. Durante o percurso de 11 quilômetros, distância que separa Jerusalém da aldeia de Emaús, os dois discípulos conversavam. Qual seria o diálogo, o que os preocupava durante a longa jornada?

Ora, Talvez discorressem sobre a filosofia dos gregos; a maiêutica de Sócrates, o idealismo sublime de Platão, a análise científica e sistematizada de Aristóteles. Sei apenas que buscavam a verdade. Poderiam ter falado dos quatro elementos de criação do universo, segundo os mitos ou a especulação filosófica dos pré-socráticos. Talvez abordassem os argumentos de Epicuro e sua busca pelo prazer, ou dos estóicos, que perseguiam uma perfeição inexistente e obsessiva. 

Especulações à parte, discorriam sobre os últimos acontecimentos de uma sexta feira fatídica. Da esperança perdida, de uma redenção que não mais se daria dali por diante. No entanto, um terceiro viajante se aproximou e ia com eles. Um estranho andava bem perto, ouvindo com atenção os argumentos lamuriosos. A grande ironia foi a pergunta do desconhecido: quais? , em relação aos últimos eventos. 

Ao chegarem à aldeia de Emaús, o Jesus histórico se deu a conhecer aos viajantes. Espargiu luz na cara e na ignorância dos mesmos. Fez com que eles desejassem viver de novo, através de sua graça e grandeza. Aqueceu a frieza e a desolação de corações que outrora retumbavam no peito e energizavam a alma.

Ora, “as mentiras do cristianismo”, conforme escrito por um colaborador da “Folha de Boa Vista”, entristece a alma daqueles que buscam algo maior que um simples e carcomido sistema. O cristianismo já não interessa, o que vale é a proximidade com Cristo, a comunhão que aquece o peito, a sublevação de valores que dão sentido à vida, numa autêntica contracultura cristã. 

À semelhança dos dois de Emaús, atravessamos um deserto existencial, numa jornada sem nenhum encanto. Apesar das picuinhas doutrinárias e daquilo que pode ter sido relevante, o mundo não mudou muito. O que faz diferença é a Graça de Deus, e o único dogma que permanece é o amor. O que passar disso é inútil, é procurar “chifre em cabeça de cavalo”…

*Advogado, Poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de Letras. [email protected]   

Politicamente correto – Marlene de Andrade

“O que furtava não furte mais; antes trabalhe, fazendo algo de útil com as mãos, para que tenha o que repartir com quem estiver em necessidade.” (Efésios 4:28)

Politicamente correto é fazer o que Sérgio Meneguelle, Prefeito de Colatina, faz. Sérgio é um político nota dez, o qual não brinca em serviço e foi tomar posse de bicicleta. Eu só tinha visto falar de um prefeito igual a ele no meu tempo de criança, o qual se chamava Joaquim Lavoura. Ele ia às ruas ajudar calçá-las quando ainda se usava paralelepípedos. Seu instrumento de trabalho era uma picareta. Joaquim Lavoura saiu da Prefeitura de São Gonçalo pobre, mas cheio de dignidade.

O Prefeito de Colatina muito me faz lembrar Joaquim Lavoura, devido à simplicidade de ambos e a responsabilidade com o dinheiro do contribuinte. Esses dois políticos com P maiúsculo também me fazem lembrar um presidente da Finlândia, que mesmo sendo a maior autoridade de seu país, ia ao mercado fazer suas compras de sandália de dedo. Que bom seria se todos os políticos do Brasil se espelhassem em pessoas que ganham as eleições para contribuir com o bem estar de todos os cidadãos e não para enriquecerem à custa do dinheiro do contribuinte.

O Prefeito de Colatina fez algo recentemente que me deixa crer que ainda existem pessoas honradas no mundo da política. Ele inaugurou uma Escola Rural, construída com a verba que seria destinada aos desfiles das Escolas de Samba de Colatina, no carnaval de 2019.

Não gosto d
e carnaval desde pequena, pois vi um homem ser esfaqueado bem perto de mim e ainda era dia claro. Aquela cena muito me traumatizou e desde aquele tempo, passei a correlacionar carnaval com violência e essa história só vem piorando.

Entendo que todos têm direito de escolher seus entretenimentos, mas vamos falar sério, tirar dos cofres público dinheiro para investir em carnaval, quando os hospitais estão despreparados para receber os acidentados de trânsito e os feridos em brigas durante os festejos de Momo, é algo impensável.

Daqui de Roraima torço para que o Prefeito de Colatina venha ser imitado, não somente por outros prefeitos, mas também por qualquer político brasileiro, a fim de que assim possamos viver num país onde a dignidade venha sobrepor-se acima da avareza de alguns políticos, que sem pudor nenhum, enriquecem enquanto a população geme e chora devido às precariedades em todos os campos de nossos estados, inclusive no Distrito Federal, o qual deveria estar dando bons exemplos e não aula de bandidagem como se tem visto há muitos anos e sem sinais concretos de mudanças em nosso país.

*Médica Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT – CRM-RR 339 RQE-431

É o que merecemos – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Democracia é o regime que garante: não seremos governados nada melhor do que merecemos.” (Bernard Shaw)

E porque merecemos o que temos, continuamos desperdiçando o melhor de nós mesmos, com o que temos. E por isso não melhoramos. Ficar protestando contra políticos que nós mesmos elegemos, não é mais do que tolice nada política. O que desperdiçamos de tempo na nossa política com protestos vazios não tá no gibi. Sinceramente, não tenho muito tempo para ficar abrindo mensagens no computador. E quando roubo um tempinho, sento-me aqui e fico procurando alguma coisa que me valha a pena. As boboquices que lemos como protestos vãos, arrepiam. Que devemos protestar, devemos. Mas não podemos adentrar em campos minados sem saber realmente onde devemos pisar.

O primeiro caminho para se protestar contra a política é conhecer realmente, a política. Como vamos discutir um assunto que não conhecemos? E o que vemos e ouvimos nas discussões políticas entre políticos, é uma lição óbvia do que devemos aprender sobre a política. Vamos ser mais sensatos e observar mais, os caminhos que nos levam aos engodos apresentados como política. A democracia é uma política. E não a viveremos enquanto não nos tornarmos políticos. E só assim elegeremos candidatos realmente preparados para a política. Já sabemos que nem todos os que estão na política são políticos. Mas os que não conhecem essa verdade continuam elegendo candidatos despreparados, para cargos que exigem preparo.

O redemoinho que vimos vivendo na nossa política há décadas e décadas, envergonha. Mas não nos preparamos e vamos continuar sofrendo uma doença que nós mesmos criamos e alimentamos: o cabresto que nos prende à ignorância política. Quando será que nosso Ministério da Educação vai entender que a política deve fazer parte de educação do povo? Talvez nunca, porque alguém já nos alertou para o perigo de vivermos encabrestados: “Todo povo é uma besta presa pelo cabresto.” E enquanto não nos atentarmos para isso continuaremos elegendo corruptos.

Vamos amadurecer civilizadamente para que possamos ser realmente cidadãos respeitados pelos políticos que elegemos. Porque até agora eles não nos respeitam porque não merecemos respeito. E por incrível que pareça isso faz parte da política rasteira que vivemos. Vamos reclamar, sim, mas dentro da civilidade. A culpa pelos desmandos na política não é dos políticos, mas nossa. Se os elegemos somos responsáveis por eles. Se erramos, tudo bem, mas vamos aprender com os erros. Vamos nos educar para que mereçamos uma política digna da nossa dignidade. Vamos nos educar para merecer. Pense nisso. 

*Articulista [email protected] 99121-1460