Opinião

Opiniao 17 12 2018 7396

E num súbito… já era!

Tom Zé Albuquerque*

Sem nenhuma réstia de dúvida o tema que mais incomoda o homem na Terra é sobre a morte. Esta inquietação ganha exagerados contornos quando há uma perda precoce ou mesmo inesperada. Mas a reflexão remonta os primórdios e tende a perdurar na eternidade.

Primeiramente, sequer sabemos o que isto significa “morte”, como dizia o Filósofo Epicuro: “quando estamos aqui em vida, a morte não existe; quando passamos para outra esfera, ela também não existe”. Afinal, o que seria morrer? Porventura corresponde à passagem de um estágio para outro? Se for somente isso, a morte não passa de uma nomenclatura que uma vez substantivada corresponde à ida de uma essência fluídica, a energia cósmica, para outra dimensão.

Enquanto isso, o corpo físico perece degradante e carcomido até virar pó, a sete palmos superfície a baixo, embora culturas e religiões diversas insistam em se curvar e decantar um túmulo com fragmentos ósseos. De qualquer sorte, a principal diligência que nós, humanos, fazemos em relação à temida morte é exatamente não termos a certeza de para onde vamos, seja a porta de transição para um plácido lar, seja para um sombrio umbral. Essa interrogação faz com que nossos comportamentos oscilem, se privem ou se liberem de acordo com aquilo que vislumbramos no estrato incógnito.

Um dos mais belos manifestos sobre este tema foi exposto pelo insigne Filósofo e Teólogo Santo Agostinho (354-430 d.C.)… “A morte não é nada, eu somente passei para o outro lado do caminho; a vida significa tudo o que ela sempre significou: o fio não foi cortado. Por que eu estaria fora de seus pensamentos, agora que estou apenas fora de suas vistas? Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do caminho”. Consideremos dois fatores momentosos nessa bela e inteligente explanação. Um, por ele ser, nada obstante, um dogmático, mas ter a racionalidade em defender o óbvio; dois, pela época na qual fora proferido tão ousado entendimento.

O muito relevante nessa questão toda paira sobre a nossa forma de viver, os modelos de vida e o modo comportamental aplicado no cotidiano para que o fim não seja funesto nem toado como algo penitente. Quando a hora da passagem (ou morte, como queiram) chega, cabe-nos um olhar para trás e exercitarmos mais que nunca a autocrítica sobre como devemos estar na transposição terrena… Com aquele sentimento de dever cumprido, pelo qual fizemos tudo que foi possível com os recursos e conhecimentos dispostos? Ou numa mudança de âmbito atormentada pelas falsas praticadas, desvios de conduta, injustiças feitas, desonestidades aplicadas, iniquidades, rancores e tudo mais que se tire a paz?

Decifremos o que realmente vale a pena no curso terreno, os valores, as prioridades, as singelezas, o simples. A saída deste mundo de provas e ajustes deve ocorrer da forma mais sutil possível. É um sopro, apenas.

*Administrador

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A Arca de Noé do século XXI

*Rachel Biderman

A falsa polêmica sobre existir ou não mudança do clima no planeta é assunto que já aborrece os especialistas da área. Afinal, se a grande maioria dos cientistas diz que sim, e essa maioria estuda e pesquisa nos institutos de maior reputação no mundo todo, por que ir atrás daquela meia dúzia que continua negando o fenômeno? Parece que se há polêmica, então há matéria jornalística, e vale o esforço da cobertura. Aí reside o problema. Dar atenção ao que não é substantivo é apenas uma opção. Portanto, não cobrir os negacionistas que refutam a existência da mudança do clima deveria ser uma alternativa mais relevante para os meios de comunicação – assim como não dar ouvidos aos extremistas na política e na guerra poderia ser uma opção para impulsionar democracias e economias mais saudáveis. Abrir as principais vitrines do mundo na mídia impressa ou virtual é um ato de grande responsabilidade. Quem guarda essa chave poderia pensar mais a sério antes de dar o palco para notícias cujas consequências são destrutivas. Uso esse exemplo para chamar atenção do que considero que deveria ser bem mais exposto na mídia do que a negação do aquecimento global ou sensacionalistas em busca de mídia para sua projeção e busca por poder.

Se você entende que o cenário das mudanças climáticas é para valer, seja porque leu os estudos publicados aos milhares, seja por ter observado os exemplos recentes de eventos climáticos extremos, como as secas e incêndios na Grécia, Califórnia ou Portugal, certamente vai ficar curioso para entender quais as consequências desse fenômeno. As perdas globais por incêndios atingiram níveis recorde no ano passado – e isso pode piorar à medida que a ameaça da mudança climática cresce. Somos novamente atingidos por uma grande seca no sudeste do país e a escassez hídrica começa a bater em nossa porta, sem que tenhamos agido suficientemente para combater o problema no curto e longo prazo. A quebra de safras agrícolas vem batendo recordes por questão climática, sinais a que também precisamos ficar muito atentos.

Vale a pena ir um pouco além e investigar as consequências disso para as diferentes formas de vida no planeta. Há cientistas que alegam que estamos vivendo a 6ª maior extinção de espécies da história, numa fase chamada de Antropoceno – a época geológica em que humanos se tornam a principal causa de alterações do planeta. Estamos perdendo espécies de plantas e animais em grande escala, muitos dos quais sequer chegamos a conhecer. Com esse processo acelerado, tornam-se ainda mais urgentes as ações de conservação ambiental, principalmente aquelas em terras públicas (áreas protegidas) e privadas (reservas legais ou áreas de preservação permanente obrigatórias nas propriedades). Além de conservar, é fundamental também restaurar áreas degradadas, a fim de resgatar a capacidade de produção de alimentos, promover segurança hídrica, reter carbono no solo e estocá-lo nas plantas.

O lado bom da história é que vivemos um grande despertar de atores que têm se dedicado à restauração florestal (ou de outros tipos de vegetação) e à produção agropecuária sustentável, convencidos que ainda temos oportunidade de salvarmos algumas regiões e espécies no planeta de uma devastação ainda maior. Do lado da conservação, sofremos também com a falta de investimento em parques e áreas de conservação, pois o que é considerado bem público não tem recebido a devida atenção, muito menos investimento. E o mais irônico disso tudo é que é justamente nessas áreas que reside a nossa esperança: milhões de espécies de fauna e flora que podem nos salvar das situações extremas em que o aquecimento global está nos colocando. De onde virão as sementes para o reflorestamento de áreas degradadas, se nossas áreas preservadas pegarem fogo ou sucumbirem às secas? De onde virá a água para abastecimento e produção, se comprometermos as áreas protegidas?

Para sairmos da ação de alguns poucos voluntaristas, o ideal seria que, além dos governos, houvesse um forte engajamento do setor privado, para que pudéssemos dar escala às ações para salvar espécies relevantes de fauna e flora para as futuras gerações. Muitas das ações necessárias podem ac
ontecer na forma de negócios, de micro a grande porte, gerando economia relevante. Os negócios de impacto social e ambiental, neste momento da história, tornam-se peça chave para os desafios planetários.

Estaríamos vivendo um momento “Arca de Nóe”? O que falta para a sociedade despertar? Além da oportunidade de uma nova economia, como aqui descrito, temos opção ímpar a cada eleição. Nosso voto na urna pode ser a diferença entre ter políticas que negam os problemas aqui relatados ou ter gestores responsáveis e comprometidos com as atuais e futuras gerações e com soluções para esses desafios que afetam a todos nós.

*Diretora-executiva do WRI Brasil e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.

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Seguindo na caminhada

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“De manhã cedo Canta a jandaia Vem a morena Sacudindo a saia”.

A Catarina Ribeiro poderia me ajudar, me dizendo em que evento ouvimos essa pérola, exposta aí em cima. Mas ela está aí porque acordei, antes de ontem, abri a janela e me lembrei de coisas boas e agradáveis. E já que falei de São Paulo e Rio de Janeiro, resolvi continuar no assunto que sempre me fez bem. E vamos começar por Sampa. Porque quem conheceu ou conhece a São Paulo de hoje, não pode imaginar como ela era setenta anos atrás. Quando, por exemplo, o Fórum João Mendes tinha apenas quatro andares. Quando ainda nem se sabia o que era um metrô. Quando o trecho, hoje conhecido com Praça da Sé, era um trio composto por três praças: Praça da Sé, Praça Clóvis Beviláqua e Praça João Mendes. Onde as temperaturas matutinas, muitas vezes chegavam a zero grau centígrado.

Época da migração nordestina. Um rebuliço adorável. As coisas foram mudando em ritmo acelerado. Edifícios foram implodidos, a Catedral da Sé “reformada”, os sinos novos instalados, e no metrô, iniciava-se a construção do hoje famoso Metrô Sé. Foram mudanças a que assisti observando-as com curiosidade, o que me fez muito bem. Quando chego a Sampa, hoje, caminho pelos trechos modificados e sinto saudade dos velhos tempos.

Vai daqui uma sugestão para quem se interessar realmente pela maior e mais importante cidade do Brasil: caminhe pelo centrão de São Paulo, mas sem se impressionar pelos maus tratos que a cidade tem sofrido durante esse meio século de avanços. Porque tudo está relacionado ao descaso da administração pública com o público. Mas deixa isso pra lá e vamos, com o pouco espaço que temos, caminhar pelos bens feitos. E como se trata de uma caminhada pelo centro da cidade, não deixemos de visitar os monumentos que nem sempre são monumentos, mas que refletem a grandeza paulistana. Vá até o mercado municipal. Mesmo na simplicidade de um mercado municipal, vale observá-lo. E foi ali que assisti à simplicidade cativante dos anos cinquentas, do século passado. A beleza da rua Galvão Bueno, na Praça da Liberdade. Coisas que fazem a gente ficar com a lembrança arquivada na memória. Mas há muitas outras grandezas que devem ser vistas, e que são tantas que não temos como citá-las. E pra encerrar esse assunto cansativo: preste atenção ao sotaque da garota paulistana. É encantador quando se observa nele, a influência do linguajar nordestino. Observe as atividades artísticas nas ruas centrais da cidade mais movimentada do Brasil. Tenho muito do que me lembrar daquele ambiente. Não deixe de entrar na Catedral da Sé. Pense nisso.

*Articulista

[email protected]

99121-1460

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