Opinião

Opiniao 21 09 2019 8976

Sonhador do Absoluto – Sebastião Pereira do Nascimento*

Os poemas abaixo, assim como outros que foram publicados neste espaço nos últimos meses, fazem parte de minha lavra poética e têm a intenção de celebrar o primeiro ano de lançamento do livro“Sonhador do Absoluto” (Editora CRV), além de gratular com a ampla aceitação da obra em diversos cantos do Brasil. Na oportunidade, estendo meus agradecimentos a todos os meus leitores e, por extensão,ao jornal Folha de Boa Vista pela cessão deste espaço e pela divulgação quando do lançamento do livro em 2018. Abaixo, somam-se três poemas que compõem a citada obra literária:

SONHADOR DO ABSOLUTO

Alguém expressou um dia Que o preço da liberdade É a eterna vigilância? Então, busco a liberdade… 

Do meu sonho, não utópico Mas que seja um sonho real, Onde eu possa lutar E tornar guapo, o brio vital.

Quero fazer revolução! Armado ou não, lutarei…  E, não morrerei em vão, E sim livre, mortal!

Quero o risco inteiro Da luta travada… Porém, que seja triunfal O ato da vitória.

Quero clamar (bem alto) Junto com todos… O grito de um país liberto, Não frágil, mas árdego.

Quero abdicar da glória Para que outros lutem Do outro lado, na frente Conquistando a liberdade

Que é tão real quanto

Todos os meus sonhos E tão vital quanto A minha expressividade.

FACETA DO MUNDO

Vivemos num mundo Melancólico Daquele que revela os Instintos mais patéticos…

Um mundo mórbido e Enfermo Que manifesta pouco Momento de satisfação…

Principalmente na fase da ilusão Vivida por um palhaço Que finge ser cômico… 

Quando no ato da graça disfarça sua dor, sua tristeza…e causa no outro, o melhor riso… 

Mas tarde, fora do proscênio, Deixa de viver seu instante profícuo de fantasia…

Para viver o mundo real (de agonia)  De efêmeros risos… E profunda melancolia.

SENTIMENTO OCULTO

O povo vive arredio…  A bordo da ilusão.  E quando busca o saber,  Encontra o nada Contenta-se com o que ver.  Pobre povo, tolo! Que passa a vida sem a Essência do saber.

Assim, é o povo, ainda que Dotado de aspirações Não sabe usufruir dos seus ideais… saber! O vício brioso da mente A face inteira da gente A lápide dos fatos reais.

Sem isso vive o povo,  Oculto nas multidões, Fugindo das bravas lutas E das grandes Transformações.

Pobre povo, Bobo! Se tivesse o saber, Conheceria seu rumo… E não seguiria em vão.

*Poeta e Filósofo [email protected]

Cortinas de fumaça – Malu Nunes*   A Amazônia está atraindo a atenção do mundo para o país com a mais rica biodiversidade do planeta. O Brasil torna-se palco de onde animais, plantas e ecossistemas ardem com o fogo. Dados e informações são divulgados diariamente, apontando que novos focos de incêndio surgem na região, alastrando-se e multiplicando-se com maior facilidade devido ao período de seca.

Para muitos, essa realidade parecia distante, sem impactar o dia a dia, até que, de uma hora para outra, cidades do Centro-Oeste e Sudeste escurecem em plena tarde. Partículas de fumaça produzidas na Amazônia percorreram quilômetros e cobriram o sol em grandes metrópoles. Esse foi o sinal de alerta, mostrando que – sim – vivemos em um mesmo planeta e o que ocorre lá longe também pode ter impacto nas nossas vidas, sobretudo quando falamos de meio ambiente. 

Entre boatos e constatações sem fundamentos, podemos destacar alguns fatos: o fogo pode ser um acontecimento natural, mas também uma atividade criminosa, que coloca em risco a biodiversidade, a saúde humana e o desenvolvimento econômico do país. A presença de focos de incêndio em áreas naturais é, infelizmente, algo recorrente. Contudo, a situação vem se agravando, considerando que o histórico de queimadas demonstra que esse tipo de episódio aumenta a cada ano.

O desmatamento é o principal fator para o aumento das queimadas na Amazônia. A derrubada de árvores torna as terras mais secas e vulneráveis e o fogo acaba sendo usado para destruir restos vegetais em áreas já desmatadas com o intuito de preparar o solo para a agricultura e a pastagem – e isso acontece até com a floresta ainda em pé. A justificativa é a “limpeza” da região, além da fertilização a partir das cinzas.

Porém, essa prática também traz muitos prejuízos. O fogo e a fumaça agravam problemas respiratórios – especialmente em crianças e idosos –, prejudicam a qualidade do solo, intensificam a emissão de gases do efeito estufa e colocam em risco a biodiversidade. Um exemplo é o impacto do potássio, presente nas cinzas. Com a chuva, a substância é carregada para os rios, intoxicando e provocando a morte de muitos peixes.

É necessário o monitoramento terrestre e aéreo para identificar focos de queimada, degradação florestal, exploração madeireira e outras formas de pressão humana. Outro meio é a fiscalização efetiva e a aplicação das penas previstas em leis para que atos criminosos contra o meio ambiente não se repitam.

Na contramão deste cenário extremamente preocupante para a saúde do planeta, é discutida a Lei do Licenciamento Ambiental, que garante autonomia a estados e municípios para que criem as próprias regras de licenciamento, sem diretrizes do Ibama. Isso abre espaço para a dispensa de licenças ambientais com o intuito de atrair investidores.

À medida que nossas áreas verdes são destruídas – seja na Amazônia, no Cerrado, na Mata Atlântica –, o processo de aquecimento global é intensificado. As árvores desempenham um papel importante ao armazenar parte do gás carbônico emitido por fontes naturais e pela atividade humana e ao renovar o oxigênio da atmosfera a partir do processo de fotossíntese. Sem esse patrimônio natural e sem esse serviço ecossistêmico, o ar deixa de ser purificado pelas árvores, que ainda liberam a matéria de carbono anteriormente armazenada. E isso intensifica a crise climática pela qual vivemos.

Junto com o fogo na Amazônia, ardem patrimônios inestimáveis para a humanidade global. Com isso, perdemos parte da nossa biodiversidade. A floresta abriga 20% de toda a fauna do planeta, além de 40 mil espécies vegetais. As queimadas podem desequilibrar ecossistemas, extinguindo algumas espécies e acelerando o desenvolvimento de outras. A Amazônia ainda influencia o regime de chuvas em toda a América do Sul e contribui com a estabilização do clima global. Quando as árvores transpiram, cerca de 20 bilhões de toneladas de vapor são lançadas diariamente no ar, o que produz chuvas na região e ainda exporta umidade para outras localidades do país e do continente.

Sem o diálogo entre o poder público e a sociedade civil para a promoção de ações efetivas por parte do Estado e sem a conscientização da po
pulação, vamos continuar queimando florestas e, consequentemente, a imagem do Brasil ao redor do mundo, deixando de cumprir compromissos assumidos internacionalmente e degradando a natureza. Cabe a cada um de nós buscar informações confiáveis – sem nos perder em cortinas de fumaça – e escolher quais atitudes podemos ter hoje para garantir o futuro das próximas gerações.   *Engenheira florestal, mestre em Conservação e diretora-executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza

Problema verso solução – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo estado de consciência que o criou. É preciso ir mais longe. Eu penso 99 vezes e nada descubro. Deixo de pensar, mergulho num grande silêncio e a verdade me é revelada.” (Einstein)

Você nunca vai encontrar a solução concentrado no problema. O que é lógico. Enquanto você ficar pensando no problema, não tem como pensar na solução. E se não pensa nela, não vai encontrá-la. Se a cabeça está quente, esfrie-a. Você nunca vai se sentir à vontade enquanto seus pensamentos estiverem caminhando por veredas ínvias. Simples pra dedéu. Pare de se aborrecer. Valorize-se para poder ser valorizado, ou valorizada. E você só vai se valorizar quando parar de ficar dando trela a coisas sem valor. E o amor é o metrô que leva você à estação da alegria. Então embarque. A passagem é gratuita. O valor dela está no que você lhe der.

No início deste século, um dia saí para assistir ao desfile de Sete de Setembro. Passei pela casa de um dos meus irmãos e quando minha cunhada soube que eu ia para o desfile, olhou-me e falou: 

– Nossa, Afonso… Perder seu dia com festa de índio? Eu… hen?

Sorri e saí. Ainda há quem ache que as comemorações históricas são uma tolice ultrapassada. Já tivemos uma campanha ridícula, iniciada na televisão, nos anos dos sessentas, para mudar a letra do Hino Nacional Brasileiro. E o argumento do autor da proposta era que a letra do hino é clássica e os jovens não entendiam. Estávamos no Governo Militar e acho que por isso o assunto saiu do ar e nunca mais ouvimos falar dele. Ainda bem. E a mudança de assunto, aqui, foi porque me lembrei que estamos vivendo uma crise de despreparo, intelectual, artístico, cultural e muito mais. E sabemos o quanto isso nos leva ao descontrole emocional, espiritual e tudo mais. Observem a vulgaridade em que a nossa música está dançando.

Acordei, hoje, com vontade de acender o fogo no cadinho do dia a dia. E é nele que observamos as misturas na nossa cultura. Misturar culturas é, para mim, um processo evolutivo. Mas não nos esqueçamos de que para a espada ser de qualidade, o ferreiro tem que ser artista. E estamos excluindo do nosso cadinho artístico ferreiros e rendeiras. Estão sendo jogados no balaio do anacronismo. Não estamos sentindo falta dos Pontos de Cultura. Mas eu estou. Eles nos trouxeram, de volta, a lembrança da importância da nossa cultura, como nossa. 

Até quando vamos continuar escondidos detrás da porta, esperando que os outros, lá fora, nos digam o que devemos fazer pela, e para, a nossa cultura? Em quarenta anos a população do Brasil triplicou. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460