Opinião

Opiniao 07 04 2020 10029

QUARESMAS & QUARENTENAS – TÉDIO Nº 01

Hudson Romério

Se não queres assistir, desliga, pronto!  Nunca fui muito de ver televisão, acompanhar novelas, jornais, programas de entretenimento, programas matinais de dicas, gastronomia, fofocas, desenhos animados…até futebol quase não assisto mais – sou botafoguense e nunca passa mesmo o jogo do glorioso. Eu tinha uma televisão antiga, dessas que tive que comprar um adaptador e uma antena nova para pegar os canais abertos, só ligava para dormir e de manhã ouvir algum noticiário enquanto me vestia para trabalhar.  Um pouco antes disso tudo acontecer, dessa pestilência que nos assola e ao mundo todo, comprei uma TV nova! (Essas que chamam de smart) digital, som estéreo digital, que pega internet, tela plana e tudo mais que se tem direito dessa caixinha de sonhos e utopias. Eu até me esforcei para me entreter deitado na minha cama, fiz até mais! Contratei internet que eu não tinha, contratei a NETFLIX, SKY e tudo mais que essas novas tecnologias e redes sociais digitais oferecem e nos seduzem para nos deixa ociosos, manipulados e gordos.  Não teve jeito, eu não consigo passar muito tempo vendo a tevê (algumas vezes tive a impressão que ele que me observava!), tão logo, durmo…  (Meu negócio [como dizem!], é ler!) Sou um leitor voraz! Mas confesso que, já tem um tempo que ando sem paciência para leituras – meu amigo Chiquinho Santos me disse que é da idade – estou ficando velho mesmo, isso é fato.  Mas os livros sempre foram meus preferidos, leio de tudo um pouco, ou um pouco de tudo! Quem gosta de literatura sabe de que estou falando, ou melhor desse mundo encantado, onde as quimeras se encontram com o real e tudo pode acontecer nessas folhas arrebatadoras de papel.  Nada melhor que um tempo assim, mesmo forçado e fora de lógica para voltar ao bom e velho habito de ler! Então tudo se encaixou, renasceu em mim a vontade da leitura novamente, de ter aquilo tudo de novo, todas essas experiências de vida…um livro pode salvar uma vida…os livros salvarão o mundo!  E assim eu fiz, Comprei um livro que há muito tempo queria ler: Kafka à Beira-Mar do grande escritor nipônico Haruki Murakami – até o título é belo! Suas narrativas, seus diálogos, suas invenções e interações linguísticas perfeitas! O livro é isso, nossa alma gêmea de papel. As séries e filmes são conduzidos por nós mesmo quando lemos, ele é democrático é sensível, nos ensina, que o melhor da vida é vive-la sempre, a cada dia, degusta-la a todo o instante e quando se chega a última página, sabe-se que não é o fim! E sim uma nova vida, uma experiência a mais!  Me salvou dessa quarentena…então eu ligo a TV e durmo.

* Escritor e Cronista ([email protected])

Crônica: Minha Lixeira de Plástico

  Por Rodrigo Alves de Carvalho   Sempre tive uma admiração por todo tipo de lixeira. Em minha cidade vários tipos foram instaladas nas ruas para que moradores e turistas depositassem seus dejetos em locais apropriados e não nas ruas e calçadas. O grande problema de lixeiras públicas é o fato que vândalos sempre tem o prazer de destruí-las por nada. Lembro-me que, certa vez foram colocadas lixeiras de concreto em vários pontos das ruas principais. Era inevitável a cidade acordar com os pedaços dos concretos ao chão, devido a marteladas, pauladas e até tiros. Isso foi me causando revolta. Sempre defendi a boa higiene e a limpeza em locais públicos. Não suporto ver tocos de cigarros jogados no meio da rua que tenho o impulso de catá-los e depositá-los em locais apropriados. Até mesmo chego a guardá-los no bolso para depositá-los na cesta de lixo de minha casa se for preciso. Com esse intuito, decidi salvaguardar as lixeiras de minha cidade. Ninguém mais se atreveria a danificar o objeto crucial da limpeza em minha urbe. Toda noite saia para as ruas no ímpeto vivaz de defender a todo custo as lixeiras de meliantes causadores do caos sujo e pestilento que é o vandalismo. Uma lixeira localizada próxima a um clube da cidade, que em tempos de outrora havia sido a mais danificada por delinqüentes embriagados que saiam do clube em noites fervorosas de muito álcool e imbecilidades, era a mais protegida de todas as outras lixeiras. Sentia por essa lixeira de plástico certo apreço, talvez pelo motivo de ser a mais usada pela juventude com suas latinhas de cerveja e refrigerantes, por seus papéis picados e até mesmo por vômitos acidentais. Estava motivado a defendê-la, a lutar por ela, a dar minha vida se fosse preciso para que nada acontecesse a essa lixeira. Lembro-me que travei várias lutas com adolescentes transviados e cheguei a condenar uma turma de jovens a trabalhos comunitários por estarem tentando danificar a lixeira em questão. Como toda aproximação gera paixão. Exagerei em minha apegação à lixeira. E já com sentidos combalidos, passei de protetor a vingador. Para mim, a lixeira não mais existia como guardiã do lixo alheio e sim como objeto de minha própria limpeza. Dessa forma, não mais permitiria que pessoa alguma depositasse seu lixo em minha estimada e protegida amiga. Sem alternativas, os causadores da sujeira urbana passaram a jogar seus dejetos em vias públicas, principalmente em frente ao clube da cidade. Para mim nada importava, a não ser a limpeza de minha lixeira, bonitinha como ela só. E foi assim que hoje vivo aqui nesse hospício. Limpinho, diga-se de passagem, mesmo que meus companheiros sejam uns porcos imundos. Mas isso não me abala. Estou contente, tenho minha lixeira de plástico a meu lado. Deixaram trazer comigo.   Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.

Capitalismo ou socialismo? 

Afonso Rodrigues de Oliveira

“O vício inerente ao capitalismo é a distribuição desigual da abundância; a virtude inerente ao socialismo é a distribuição igual da miséria.” (Winston Churchill)

Discutir política exige conhecimento de política. E quem entende de política não tem porque discutir política. Porque política é política. E ela não existe sem o respeito à visão política de cada um. Senão não seria política. Infelizmente ainda consideramos um bom político pela sua maneira de expressar seus pensamentos nem sempre políticos. Acho que foi pensando nisso que a dona Vitalina Rodrigues de Oliveira nos reprovava sempre que estávamos falando demais, nas nossas discussões infantis. Ela dizia: “Quem muito fala, muito erra.”  Tive um irmão que faleceu num acidente que sempre considerei um assassinato disfarçado. Ele era candidato à Prefeitura de um Município de São Paulo. João Rodrigues de Oliveira era o nome dele. Era um cara que falava pouco. Talvez por isso tenha irritado os tagarelas. Mas deixa isso pra lá. O que importa mesmo é que comecemos a prestar mais atenção ao andamento da nossa política que entrou no século XXI com o pé esquerdo. Ainda assistimos a discussões políticas que não têm nada de política.   Eu adoro a política. Nasci dentro dela sem pertencer a ela. Toda minha família, desde sua origem, tem vários políticos em ação. E talvez por isso, não me envolvo nela. Mesmo estando metido no seu mais profundo sistema. Talvez isso faça parte da política. Não podemos melhor o mundo, o País, o Estado ou o Município, sem uma política sadia, e competente. O que está cada vez mais difícil de construir no nosso querido e amado Brasil. Vamos nos educar politicamente para podermos ter um País verdadeiramente democrático. Mas não fiquemos esperando que façam por nós o que nós mesmos devemos fazer. Vamos parar de ficar gritando e espernea
ndo, porque isso não é política. Busquemos o conhecimento onde ele está e não onde dizem que ele está. Só quando nos conhecemos como cidadãos é que sabemos o que queremos na cidadania. E tudo que queremos é o que merecemos. E se merecemos então vamos buscar o que queremos. Vamos à luta pela cidadania. E esta não existe, com a obrigatoriedade no voto. Mas só mereceremos o voto facultativo quando formos politicamente civilizados. Então vamos buscar o nosso direito dentro de nós mesmos. Respeitando-nos no que somos e ainda não sabemos que somos. Só os tolos caem no lamaçal do linguajar aparentemente político de políticos que não são políticos. Mas não nos esqueçamos de que eles são frutos do nosso voto como eleitores despreparados. Pense nisso.

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