Opinião

Opiniao 07 05 2019 8144

Genial? – Roberta D’Albuquerque

Estou lendo com grande atraso – eu sei! –A Amiga Genial de Elena Ferrante. O livro é parte da Série Napolitana da escritora que assina com pseudônimo e que, até hoje, tem identidade desconhecida. A história real de alguém que não precisa ter a autoria de sua obra, festejadíssima, revelada já é por si só brilhante. Mas a história que se conta nas 336 páginas da sua edição brasileira é tão fascinante quanto. 

Elena Greco, a personagem principal, narra sua infância e juventude ao lado da inteligente, rebelde e, talvez por isso mesmo, encantadora Raffaella Cerullo. Uma amiga que embora seja companhia constante de suas descobertas, que embora exerça um magnetismo sem tamanho sobre a menina, é também motivo de alguma perturbação. Uma amizade que dá trabalho, que custa.

Do livro, que ainda estou na metade, posso dizer pouco. Leiam. De amizades assim custosas, digo que vivi algumas. Talvez também pela metade. Presenciei outras tantas sendo vividas por perto. Naturalmente que ter e manter amigos tem seu custo. E é importante que tenha. Qualquer relação que envolva a troca, envolve também um investimento. Há de investir tempo, energia, afeto. Há de estar disponível para o outro. Mas essa disponibilidade, como tudo na vida, deve encontrar limite.

O limite do saudável. Amizades que desafiam essa fronteira, precisam sim ser postas em cheque. Ouvi, na semana que passou, uma jovem que me contava sobre como a melhor amiga não tomava nenhuma decisão sem consultá-la, como era importante para ela que as duas estivessem fechadas nesse lugar de exclusividade de Bffs, como ela, para preservar a menina que chorava a sua falta, preferia não estar na companhia das outras crianças no intervalo da escola, como as duas com a passar do tempo, estavam ficando cada vez mais parecidas. Um relato cheio de sorrisos e doçura, que me preocupou. 

Na dúvida, gosto de pensar a amizade como possibilidade de expansão. Possibilidade de experimentar a vida (em toda a sua complexidade) para além do nosso umbigo. Se reduzir seu espaço de atuação, de percepção do mundo, repense. Não há genialidade capaz de compensar um encolhimento de ser.

*Psicanalista

Dias estranhos – Walber Aguiar

“No meio da normalidade um vento gelado no rosto, uma cor que jamais foi vista, algo entre o rosa e o amarelo, entre o azul e a imensidão, no meio da rotina um traço, um desenho estranho, um abraço do desconhecido, um sorriso de menino, uma flor no coração…”

Pinguins no deserto e camelos no Ártico. Foi completamente estranho o que aconteceu naquele dia. Naquele mês em que o óbvio pululava, em que a vida seguia seu curso normal, em que as contas tinham que ser pagas a qualquer custo, embora a palhaçada oficial brincasse de esconde-esconde com suas dores cotidianas.

Uma borboleta azul cruzou o céu do meu quarto enquanto o sol dava uma trégua, contribuindo para que a estranheza fosse ainda mais completa. Os cachorros pararam de latir, os pombos pararam de arrulhar, a buzina dos carros cessou por um momento. Até as crianças deixaram de lado o choro e a birra. Sei que o silêncio tomou conta daquela tarde esquisita, daquelas nuvens escuras paradas no firmamento. 

Uma mensagem de celular, um número jamais visto, algarismos espalhados pela confusão de meus pensamentos. Até ali nada acontecera de novo; o inusitado não se fez presente, os carros passavam, a poeira se escondia nos cantos, as máquinas e homens cavavam o chão das ruas e deixavam de presente a buraqueira para os carros e motos. Muitos passavam de ônibus, como que a contemplar o velho percurso, a antiga rotina, o mesmo fastio cotidiano de sempre. 

Meu coração de poeta passeou pelas partículas da estranheza, pelo espaço do fascínio, pelas rosas sem espinho, pelas cobras sem veneno, pelos dias lentos, pelos quintais e suas frutas maduras. Voltei aos dias em que comíamos manga verde com sal na velha rua Coronel Mota , em que pintávamos os pés com o vermelho do barro que servia de tapete aos olhos do romantismo e da ludicidade.

Era um número como outro qualquer. No entanto, por trás daquele número conheci uma pessoa doce, culta e cheia de sensibilidade. Ah! Foi tudo um engano; mas um engano bom, um equívoco acertado, uma flecha que errou o alvo, mas penetrou profundamente na imensidão da rotina, da monotonia, do cotidiano sem aventura. Uma lâmpada foi esfregada e de lá saiu uma fumacinha branca disposta a atender os desejos do novo e do inusitado. 

Para completar aqueles dias de estranheza, a morte invadiu o espaço da alegria, o luto cobriu de tristeza a vibração gostosa daquele dia. Depois daquela cota de dor e perda, a vida seguiu seu curso, os postes e as ruas continuaram no mesmo lugar. Felizmente, a partir daquele dia, os dias insossos ganhariam mais doce e mais sal. Teriam mais sabor e graça. 

E pensar que tudo começou com uma borboleta que sobrevoou o céu do meu quarto. E com um simples engano…

*Advogado, poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de Letras. [email protected]

Vacina não mata – Marlene de Andrade

Nenhuma palavra torpe saia da boca de vocês, mas apenas a que for útil para edificar os outros, conforme a necessidade, para que conceda graça aos que a ouvem. (Efésios 4:29)

De onde tiraram a ideia que vacina mata? Se vacina matasse, por que a longevidade tem aumentado tanto no mundo inteiro e por que não ouvimos dizer que alguém morreu devido ter sido vacinado? Sendo assim, não consigo entender o porquê das pessoas inventarem boatos calcados em cima de afirmações falsas e muito perigosas. Já tiveram até coragem de afirmar que a vacina da gripe pode provocar autismo em crianças.

Que isso? Que insensatez é essa? Ai de nós, se as poucas vacinas disponíveis, no mundo, não tivessem sido descobertas? A OMS não iria se manifestar contra as vacinas se elas prejudicassem a saúde das pessoas e até as matassem? Claro que iria!

Infelizmente, não existem vacinas para todas as doenças infecto contagiosas. Que bom seria se existissem vacinas para todo e qualquer tipo de doenças infecciosas, mas como não existem, temos que nos contentar e não ficarmos inventando boatos acerca das mesmas.

E tem mais, ai dos bebês se não existisse vacina contra a rubéola para as mulheres que querem engravidar, uma vez que se uma mulher contrair rubéola durante a gravidez, a criança pode nascer com graves doenças, pois esse vírus causa danos físicos grandiosos, tanto no embrião quanto no feto que estão sendo gerados, visto que ele é um vírus teratogênico, ou seja, capaz de produzir más formações ao embrião, ou ao feto e, como exemplo, cito o retardo mental.

Há também que ficar muito claro que as gestantes não podem tomar a vacina contra rubéola durante a gravidez e sim bem antes de se engravidar. A vacina contra a rubéola, geralmente imuniza as pessoas para o resto da vida, mas pode ocorrer de alguém mesmo tendo sido vacinado contra a rubéola, venha contrair essa doença e se a mulher que foi vacinada contrair rubéola estando grávida, não há o que temer, pois o bebê não terá nenhum problema, mas para isso, volto a repetir, a mãe deve estar vaci
nada, antes de engravidar.

Estamos em plena campanha contra a gripe, vamos ficar espertos e antenados, pois gripe que nada tem a ver com resfriado, quase sempre mata. Vá ao posto mais próximo de sua residência e veja se você está dentro do perfil de prioridades para receber a vacina da gripe, senão estiver, aguarde o final da campanha, quando então, ela será disponibilizada a toda população.

*Médica Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT – CRM-RR 339 RQE-431

Saindo para o ativo – Afonso Rodrigues de Oliveira

“Bendita crise que me tirou do marasmo.” (Mirna Grzich)

O sossego às vezes cansa. O ser humano necessita de movimentos para se manter ativo. Lembrei-me disso ainda há pouco, olhando uma criança brincando, no escorregador, ali na praça. Ela devia ter nada mais de três aninhos. Subiu, e escorregou, caiu bem, levantou-se e subiu novamente. Só que dessa vez ela não caiu tão bem quanto da primeira vez. Mas também não se incomodou. Levantou-se e correu para a escadinha, subiu e não teve tempo de escorregar, porque a mãe dele correu e o segurou pela mão e não permitiu mais que ele descesse sem a ajuda. O garotinho acabou se irritando e saindo para outro brinquedo. A mãe postou-se bem por perto dele, como se estivesse, e estava, tentando protegê-lo.

Fiquei mais alguns minutos observando o comportamento da mamãe. Ela estava agindo certo ou errado? Cabe a cada um de nós, analisar. Mas enquanto pensava, pensei no que alguém já disse: “A criança que nunca caiu nunca vai aprender a se levantar.” A queda daquele garotinho estava muito longe de ser uma queda. Ele apenas se desequilibrou um pouco e tombou, num tombo que estava longe de ser um tombo. Às vezes exageramos nos cuidados que temos e tomamos com nossos filhos. E até poderemos estar prejudicando-os com cuidados exagerados. Devemos deixar que nossos filhos enfrentem as suas vidas já nos seus primeiros meses de vida. Mas sob nossa observação rigorosa. Rigorosa, mas não exagerada. É muito mais edificante ajudá-lo a levantar-se, quando for necessário. Quando aprendemos com a queda, aprendemos a não cair.

Durante a vida toda aprendemos mais com os erros do que com os acertos. O Thomas Edson já disse que quando errava, não errava, aprendia como não fazer. Quando não nos prendemos muito aos erros estamos aprendendo a corrigi-los em nossas mentes. Então não fique preso a pensamentos negativos. Eles vêm de erros, muito embora não saibamos quais, nem quais as origens deles. E isso não importa. O que interessa mesmo é que saiamos do marasmo mental e caminhemos pelas veredas da vida. E o entusiasmo e a alegria são os instrumentos mais fortes para que vençamos as batalhas que não devem nos incomodar. Mantenha seus pensamentos sempre ativos nas coisas e momentos mais agradáveis de sua vida. Quando a lágrimas escorrerem pelos olhos talvez elas estejam lhe trazendo saudades. E só sentimos saudades quando fomos felizes. E se fomos, por que não continuarmos sendo?

Não se esqueça de que você é um astronauta da vida. Que no dia do seu aniversário você estará completando mais uma volta em volta do sol. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460