Opinião

Opiniao 07 09 2018 6879

O lado positivo e negativo da mudança

Flavio Melo Ribeiro*

Quando alguém procura um psicólogo queixando-se de um comportamento que está lhe prejudicando, não se dá conta que ao mudar passará a ter novas características que afetarão sua vida como um todo. As mudanças são positivas, pois inicialmente irão suprir alguma deficiência que a pessoa possui em determinada atividade ou relacionamento.

Além disso, se sentirá satisfeita com o resultado e provavelmente irá receber elogios. No entanto, ao mudar poderá criar diversos problemas. Nem todos aceitarão sua mudança, visto que precisarão aprender a se relacionar com ela. Muitos acharão estranho seu novo comportamento e tentarão fazer com que volte a ser como antes, mesmo que já tenham criticado seus hábitos antigos. É contraditório, mas é comum ocorrer. As pessoas criticam o comportamento do outro, porém quando este muda, não aceitam facilmente, isso gera um grande conflito. 

Imagine alguém que era criticado por ser muito disperso no trabalho e que com seu comportamento desconcentrava os colegas. Por não gostar de ser assim, promove uma mudança e passa a ser atento. Com isso, consegue focar no trabalho, aumenta sua produção e recebe uma aprovação do grupo. Entretanto, também passa a prestar atenção no comportamento e rendimento dos colegas e começa a perceber coisas que não via, mas que agora lhe incomodam. Iniciará conflitos que anteriormente não existiam e vai precisar lutar para não voltar ao que era antes, pois pessoas próximas lhe influenciarão a voltar ao seu antigo comportamento, já que para elas é melhor continuar desatenta do que confrontá-las. 

Essa transição, da distração para atenção, aparecerá em outras relações da vida e aí é que as mudanças precisam ser acompanhadas pelo psicólogo, visto que as possibilidades de conflito são enormes. A paciente ao se incomodar por perceber coisas que antes não via tende ao conflito e é nesse momento pode desistir. 

Para facilitar a manutenção da mudança, pense nos ganhos que terá sendo essa nova pessoa. Descreva possíveis ações que fará sendo mais atenta e, através do seu conhecimento, procure antecipar possíveis problemas e como reagir a eles isso lhe ajudará muito. Mas não se ache que terá respostas para tudo, pois boa parte do aprendizado virá com a prática. Sem dúvida, a luta se torna mais fácil quando se sabe o sabor da vitória. Não tenha medo da mudança e a encare de forma positiva!

*Psicólogo – CRP12/00449 E-mail: [email protected], Contatos: (48) 9921-8811 (48) 3223-4386

É PRECISO APRENDER A PESCAR

Vera Sábio*

Em vários relatos bíblicos, Jesus se refere sobre a importância do trabalho, na transformação do ser humano.

“Todos irão colher, o que plantou; é preciso ensinar a pescar e não dar o peixe pronto; que recebamos de acordo com o suor de nossos esforços; não é possível uma fonte de água doce, brotar água salgada; o trabalho edifica o homem; devemos comer do suor de nosso rosto; mente vazia, oficina do diabo; etc.”

Dependendo da interpretação e maneiras que estas frases foram ditas, retiradas da Bíblia ou de outro pensador que se baseou nas mesmas escrituras. Entrelinhas, todas elas querem dizer que a honestidade, a honradez e a dignidade, são provenientes do trabalho humano.

Ao falarmos de trabalho humano, entendemos o direito do trabalhador e não nos referimos à escravidão, tão abominável e desprezível. Mas sim a educação que ensina a pescar e não dar o peixe pronto.

A falta de trabalho, camuflada por bolsas famílias e benefícios, poucos, porém que mata a fome imediatamente e escraviza a mente daqueles que acomodados às migalhas que recebem e com medo de vir a perdê-las, se quer se esforçam para receber o dinheiro produzido pelo suor do seu rosto, se tornando escravos do sistema “pão e circo”.

Observamos a Venezuela com sua miséria imensa e sua emigração constante. Lá onde tudo era fácil e gratuito, onde as pessoas foram acostumadas a receberem do governo o que precisavam para uma vida tranquila e farta. Lá a população pensa que o leite deve ser em pó ou vindo embalado nos mercados, que as vacas não produzem leite que possam lhes alimentar e sequer aprenderam a retirar leite da vaca. Lá as populações mesmo tendo quintais grandes nunca aprenderam a preparar a terra para o cultivo de hortaliças, legumes e tantos alimentos saudáveis que podemos ter no próprio quintal. Enfim, ganharam o peixe pronto e agora não sabem pescar.

É muito complicado modificar uma cultura, a mesma que já está impregnada naqueles que acreditam que não importa se o político é ladrão, contanto que ele faça alguma coisa para aumentar os benefícios que este cidadão recebe sem trabalhar. Acreditam que o remendo feito pelas cotas destinadas às classes inferiores, como bolsas e benefícios, algo que deveria ser temporariamente, só enquanto o cidadão conquistasse seu próprio trabalho com dignidade.

Acabam sendo constante e este cidadão, passa mês e entra mês só esperando os benefícios do mês seguinte, sem sequer estudar, se profissionalizar e ter coragem de correr atrás de uma qualificação, pois assim poderá perder a bolsa que ganhava para não fazer nada.

Há tempos está sendo impregnado na população a condição de vítimas sociais, vítimas da pobreza, da deficiência, do preconceito, da discriminação. Sem perceber o enorme valor de filhos de Deus, de guerreiros, de sobreviventes e de capazes, onde diante qualquer problema, conseguem encontrar uma solução do tamanho da vontade de enfrentá-los.

Esta autoestima não é ensinada nas escolas, nasce de uma vontade intrínseca, pois não é divulgado o quanto cada pessoa é capaz. Não é interesse dos governantes educarem para que a população seja inteligente e suficiente para retirar os políticos que não prestam, na certeza de que não dependemos deles. Que nós cidadãos dignos somos construtores da nossa história, onde a força, a mudança e a renovação estão em cada um de nós.

Abram vossas mentes e o vosso coração e lutem pelos vossos sonhos, aprendam a pescar, pois só assim o peixe que conquistarem terá o melhor sabor que já provaram, capaz de modificar o futuro.

*Psicóloga, palestrante, servidora pública, escritora, esposa, mãe e cega com grande visão interna. CRP: 20/04509 www.enxergandocomosdedos.blogspot.com.br

Convivência equilibrada

Oscar D’Ambrosio*

Lançado em 2015, o documentário ‘Unity’ é a segunda parte de uma trilogia, que começou, em 2005, com ‘Terráqueos’. A próxima será lançada com o nome ‘Beings’. O projeto como um todo, intitulado ‘Earthlings’, tem como objetivo questionar por que os seres humanos não conseguem se entender entre si mesmos e com o meio ambiente.

‘Unity’ enfoca diversos temas polêmicos, como a morte de animais para alimentação humana, por exemplo, mas consegue expor com clareza e seriedade alguns tópicos que, de fato, parecem inexplicáveis num primeiro momento, principalmente no que diz respeito às divergências entre os seres humanos que levam à guerra.

O principal argumento do filme está justamente em frisar que a origem humana é a mesma, associada ao começo do universo e de uma galáxia. Se todos têm como ponto de partida a Via Láctea, por que religiões ou visões políticas resultaram em violências e mortes de todos os tipos?

A direção de Shaun Monson, a bela música de Yuko Sonada e a narração de aproximadamente cem artistas de diversos países auxiliam a criar uma atmosfera em que somos levados a pensar que seres humanos, animais e natureza poderiam conviver de maneira harmoniosa e equilibrada. A possibilidade existe… Cada um poder
ia ajudar um pouquinho… Assista aos dois filmes da série e pense nessa possibilidade.

*Mestre em Artes Visuais e doutor em Educação, Arte e História da Cultura, é Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Nem o mal é mau

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Eu sempre me preparo para o fracasso e acabo sendo surpreendido pelo sucesso.” (Steven Spielberg)

Para quem está preparado, o mau é sempre bom e o mal pode trazer o bem. Tudo depende de como você está pronto para vê-los, enfrentá-los e aprender com eles. Conhecemos tanta gente que já fez o mal a si mesmo e se recuperou fazendo o bem. E por aí afora. Ontem me levantei com vontade de ver Boa Vista como sempre a vi, linda de ver. Foi aí que resolvi ir comprar uma peruca nova. Por que você está rindo? Viu como enganei você? Comprar uma peruca nova, pra mim significa cortar o cabelo. Porque sempre que o corto e chego a casa, a dona Salete fala: ihhhh… Comprou uma peruca nova! Resolvi e saí, pelas ruas procurando a beleza, pela cidade. Que decepção! Ruas sujas, calçadas ocupadas por carros e tanta negligência exposta.

Mas não me aborreci. Saí imaginando o que estaria faltando para mudar o cenário. Aí sorri me lembrando daquela matéria, da qual já falei várias vezes. Ela foi publicada na revista “Manchete,” quando esta publicou uma reportagem sobre o casamento do Príncipe Charles. A matéria falava sobre Boa Vista, chamando-a de Paraíso Terrestre. No final da matéria, o articulista disse: ainda não temos os famigerados guardadores de carros, mas até quando”? saí sorrindo quando olhei para a rua e havia um número considerável de venezuelanos com papelões nas mãos, e guardando os carros sobre as calçadas. E agora sou eu quem pergunta: até quando vamos suportar isso? 

Novamente sorri me lembrando que a culpa pela bagunça não é dos venezuelanos. Carros sobre as calçadas já é uma cultura boa-vistense. E enquanto pensava nisso, tentei me desviar de um carro estacionado na calçada, e pisei na poça d`água, na rua. E finalmente cheguei ao salão, para a peruca. Aguardava minha vez e observava a rua, pelo vidro da porta. De repente chegou um carro, buzinou e manobrou. Sem nenhum constrangimento, a motorista subiu, estacionou sobre a calçada, desceu do carro e entrou no salão. Sorri pra mim mesmo, porque ela nem mesmo nos cumprimentou. Aí pensei: agora sei realmente, porque eles estacionam sobre as calçadas. Deu pra sacar? 

Cheguei a casa pensando: será que há algum órgão responsável, que pudesse corrigir esse absurdo que encortina a cultura da nossa cidade que tanto amo e respeito? E se há, por que ele não faz nada a respeito? Afinal, nós que caminhamos pelas calçadas pagamos os custos dos órgãos que deveriam ser responsáveis. O Miguel Couto já nos alertou há muito tempo: “No Brasil só há um problema nacional: a educação do povo.” Tenha e viva um bom feriado. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460