Opinião

Opiniao 08 01 2020 9582

Vou matar você!

Fábio Almeida*

Retórica que dilacera pensamentos, acaba com famílias, gera conflitos. A história é marcada por homicídios, os quais podem ser por motivos fúteis ou orquestrados pelo aparelho estatal. Mas o fundo da afirmação apresenta à sociedade o descontentamento e o aniquilamento do outro como solução para problemas.

Vimos recentemente, os EUA arvorarem mais uma vez sua política belicista. Também vemos policiais se acharem no direito de matarem civis, além de civis se acharem no direito de matar para auferir renda, o fim súbito do “sopro da vida” chega por interesses externos. Aos americanos sobrou a defesa do motivo, onde as ações realizadas fora do Irã por Qassem Soleimani feriam seus interesses e eram “terroristas”. Os que sofrem com as ações da CIA possuem direito de matar seu comandante?

O Aparelho do Estado pode matar? Em minha opinião não. O Estado burguês democrático, em seus fundamentos teóricos, possui o papel de proteger seus cidadãos, premissa solidificada após a segunda guerra com a criação de organismos multilaterais que possuíam o objetivo de: a) democratizar o debate geopolítico em 15 nações (Conselho de Segurança da ONU); b) planificar intervenções militares quando necessárias; c) humanizar a sanha de acumulação do capitalista.

Essas estradas estão deterioradas com o descrédito do multilateralismo. A nação belicista, imperialista na orquestração da divisão internacional do trabalho e colonialista na garantia de matérias-primas ressurge levando os países a conformarem-se em blocos regionais, ampliando desta forma as disputas belicistas, pois se há Estado imperialista no ocidente, também há no oriente.

No último dia 03/01/2020, os EUA mataram um general iraniano, em território iraquiano. Dois graves crimes internacionais. A ONU pede parcimônia ao Irã e Iraque. Por quê? Os dois foram agredidos, as explicações devem ser dadas pelos EUA, não podemos inverter a lógica das coisas, caso contrário perderemos a capacidade do diálogo como ferramenta de convergência, permitindo que o Irã se proclame no direito de retaliação.

Os EUA devem ser punidos por este crime internacional contra Estados membro da ONU. As nações devem deflagrar um embargo econômico contra as empresas americanas (podendo ser restrita a comercialização de produtos bélicos), em virtude de o país insuflar o fim das instâncias democráticas no mundo, através de sua política de agressão unilateral, seja na esfera bélica ou econômica.

Por fim, não podemos como humanidade, permitir que pessoas ou Estados assumam o direito de tirar vidas. A barbárie deve ser aniquilada. Nos sujeitaremos novamente a ver nossos jovens morrendo para empresas lucrarem depois dos conflitos? A guerra é um negócio. Quem perde é o povo. Bom dia.

*Historiador. Candidato ao Governo de Roraima em 2018

Deixar de ser amado(a) dói muito; e como dói

Wender de Souza Ciricio*

É possível amar alguém, querer e lutar por esse alguém e depois de conquistar deixar de amar e desistir do que foi sentimentalmente construído com esse alguém? Pode acontecer de você investir uma enorme gama de paixão, calor e sentimento sobre uma pessoa e posteriormente romper, acabar e não querer mais essa figura nem por alguns centímetros próximo a você? Obviamente que sim. Somos humanos, somos instáveis, dependemos de ações que sirvam para nutrir e favorecer relações, sentimentos e alianças. Nem sempre temos grandes doses de determinação e renúncia para sustentar uma relação de cumplicidade e companheirismo.

O estoicismo grego aponta um filósofo que pensava e escrevia constantemente sobre a relação a dois. Trata-se de Caio Musônio Rufo. Esse filósofo defendia que uma relação a dois, para dar certo, tem que ser enquadrada na prática da devoção, ou melhor, cada qual deveria ser devoto ao outro, se entregar ao outro, viver pelo outro e ter o outro como a razão principal e fundamental de sua vida. Rufo traz nesse conjunto de pensamento a ideia que amor é renúncia, é entrega. Ama-se “apesar de” e não meramente “por causa de”. Muito salutar essa visão e muito difícil de vivenciar num contexto de egos inchados e gulosos por demais. Não deixa de ser verdade a palavra do filósofo e mais verdade é que muitas relações a dois estão indo para o ralo exatamente pela ausência desse paladar chamado entrega, renúncia e devoção ao outro.

Começamos bem, nos empolgamos, nos apaixonamos, entregamos rosas, queremos estar perto constantemente, sentimos prazer em tocar pele a pele, andar de mãos dadas e abraçados e se curtir por longas horas. Bom demais tudo isso. Alguns conseguem preservar esse jeito de estar juntos e de amar até mesmo pelo resto da vida. Entretanto, outros não. E quando isso ocorre, via de regra é um dos dois que está desistindo e que manifesta um “não querer mais”. De repente, a parte que desiste era egoísta e não viu seu ego ser plenamente satisfeito, ou se rendeu demais e não recebeu a devolutiva, e aí tudo vai se esfriando e definhado e a razão de estar junto deixa de ser razão e passa a ser decepção, tristeza para um, alívio para outro e desalento para alma.

Caramba! Acabou, ruiu, foi-se a parte que era amada, que acariciava, que se fazia presente, mas que agora, sob qualquer hipótese, não quer mais, não deseja mais e não sonha mais. Essa parte se foi. Deixa a dor no peito de quem fica e o que fica sofre, chora, grita e às vezes faz até pior do que tudo isso. Que sufoco. Como transpor essa gigante barreira? Em linhas gerais: Somente o tempo. Somente o tempo (duas vezes para ficar bem claro). O que existe além disso são remédios que comparados aos analgésicos fazem efeito rápido, mas que ajudam. E que remédios são esses?

 – Reflita onde você errou. Não se culpe para sempre e se tiver a chance peça perdão, mas não com a esperança de uma volta e sim pelo cumprir de uma responsabilidade, pois quando há ofensa, há dívida. E dívida tem que ser quitada.

– Estabeleça novas metas em sua vida, novos propósitos e novas possibilidades como, por exemplo, ler, malhar, ir à igreja que você aprecia e planejar a vida como alguém que está só.

– Saia do esconderijo. Restabeleça amizades, saia com eles e se divirta. Pratique esporte. Vá visitar parentes. Enfim, esteja no meio de pessoas, principalmente pessoas positivas, alto astral.

– Não fique olhando fotos, presentes,
imagens que lhe façam remoer o que perdeu.

– Não queira saber onde essa pessoa está, onde foi no sábado, no domingo ou em qualquer dia.

– Tenha caráter e hombridade e não se descaracterize, mantenha sua dignidade, lute e lute contra essa dor inoportuna e insistente. Seja valente e muito valente. Essa dor não é assassina tá? Ela se renderá.

*Psicopedagogo, historiador e teólogo

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Enfeite o jardim

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“O segredo não é correr atrás das borboletas; é cuidar do jardim para que elas venham até você.” (Mário Quintana)

Refleti sobre o pensamento do Mário Quintana enquanto caminhava pelo calçadão da praia. Sorri quando tentei juntar os porquês da caminhada. O dia foi chuvoso pela manhã. À tarde, o tempo começou a melhorar e aproveitei para ir até a farmácia, e adivinhem por quê: fui comprar uns remédios, e adivinhem pra quem. Mas deixe isso pra lá. O que importa é que a farmácia é uma das que ficam na Avenida Beira Mar, bem em frente para o mar. Mesmo de calça e tênis resolvi dar uma olhadinha no mar. Logo percebi que muita gente olhava pra mim. Um ventinho friinho soprava enquanto um número imenso de pessoas tomava banho no mar. E enquanto isso, um cara esquisitinho passeava, de tênis, pela areia compacta da praia. Me toquei e passei para o calçadão.

Enquanto caminhava refletia sobre o contraste de sair para comprar remédios e ir passear na praia. Decidi caminhar até o Boqueirão. Mas a caminhada seria um tanto longa. Mesmo assim continuei pensando nas borboletas, enquanto me divertia com os quero-queros caminhando entre os banhistas. Mas não tinha borboletas, só quero-queros e garças. Sorri e continuei. De repente olhei para o horizonte e lá, bem longe, muito além do Boqueirão, vinha uma nuvem comprida e bem cinzentinha. Era neblina. Dei meia vota e voltei em passos, não largos porque em mim é impossível, mas bem rápidos. Cheguei à casa e não demorou a chuvinha chegou. Remédio e praia se casaram. Deu tudo certo.

Enquanto chuviscava diverti-me observando as crianças brincando nos escorregadores, sem darem a mínima atenção à neblina. Tudo concorrendo para uma reflexão de como é a vida humana. As coisas boas e ruins se misturam quando não damos importância à ruim. Por que me preocupar com remédios quando a praia é uma borboleta que circula, rodeia e se senta na minha mente lembrando-me e mostrando-me o que há de bom e bonito à minha volta? Por que perder tempo com pensamentos e coisas negativas? Viva cada momento de sua vida como ele deve ser vivido. Sua felicidade está em você mesmo, ou mesma.

Estamos iniciando mais uma caminha na nossa existência. É mais uma tarefa que deve ser cumprida, independentemente de ser curta ou comprida. O que importa mesmo é como vivemos o dia de hoje. Nosso dia amanhã vai depender do dia que vivemos hoje, do que plantamos em nossa mente, para viver o futuro que desejamos e queremos. Não precisamos correr atrás das borboletas. Elas vêm até nós quando lhes damos atenção. E elas nos fazem bem. Depende de como as vemos. Pense nisso.

*Articulista

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99121-1460