Opinião

Opiniao 08 11 2019 9261

Vamos falar sobre o orçamento 2020 Fábio Almeida*

O orçamento está em disputa! Vemos o governo e a ALE promoverem um intenso combate em torno de quem morderá a fatia do bolo que se encontra à disposição da gestão pública. É bom lembrar que estes recursos são oriundos dos impostos – altos impostos que pagamos. Onde está o povo no orçamento? Em 2019 temos um orçamento de R$ 4,3 bilhões. Para 2020 é orçado R$ 4,5 bilhões. Um crescimento de R$ 200 milhões. Muita grana! A disputa entre governo e os setores públicos e privados é em torno da divisão deste recurso. Porém, por que não priorizar políticas de geração de emprego? Em Roraima, 45% da população vive na pobreza. Qual programa de geração de emprego é proposto?

A composição destes valores é estabelecida por fontes próprias arrecadadas pelo governo (ICMS, ITCD, IPVA, Taxas, Tarifas e Preços públicos), as transferências da União e as receitas financeiras. Importa aqui olharmos para as receitas próprias: em 2019 tivemos orçado uma arrecadação própria de R$ 1,17 bilhão, em 2020 é 1,19 bilhão. Enfim, a arrecadação própria representa 26,82% da composição de nosso orçamento. 

Algumas instituições possuem seu orçamento com base em duodécimos: ALE, TJ, TCE, MPE. MPC, DPE. Essas instituições consomem em 2019, 61,84% da arrecadação própria, em 2020 no orçamento proposto este percentual é de 60,96%. Um recuo de 0,88%. A questão é onde será aplicada a economia? Em benefício de quem?

Quando olhamos o orçamento de Roraima vemos que ao contrário do que apresenta o líder do governo na Assembleia, o Estado trabalha com recursos extras, seja na arrecadação própria ou nos repasses constitucionais. Em 2019, a arrecadação a mais computada até o dia 04/11/2019 é de R$ 328,8 milhões. Onde estão sendo aplicados estes recursos? Já que a execução orçamentária do Governo é pífia, os diversos programas possuem execução nula até outubro de 2019.

A sociedade roraimense deve claramente apontar pela continuidade do congelamento das despesas dos órgãos autônomos. Porém, queremos a aplicação dos recursos em políticas de geração de emprego, qualificação de pessoas, amparo às pessoas em vulnerabilidade social, imigrante ou não, apoio através de crédito a agricultura familiar e a empreendimentos de economia solidária, bem como as MEI, pequenas e micro empresas. Enfim, queremos que os recursos sejam revertidos socialmente, bem como na melhoria de nossos estabelecimentos de ensino e na saúde pública. 

Precisamos nos apropriar do orçamento. Essa peça é essencial na definição da vida ou morte de pessoas. Se continuarmos com um orçamento que preconize privilégios a determinados setores públicos e privados continuaremos a sofrer, vendo a cada dia crescer o número de pessoas que adentram os índices sociais de pobreza ou aparecem decapitadas, em Roraima. Os movimentos sociais propuseram sugestões. Os deputados abrirão ao povo o debate sobre a aplicação dos recursos públicos ou continuarão a negociar no escuro dos corredores do palácio do Governo. Com a palavra os Deputados. Bom dia.

*Historiador. Candidato ao Governo em 2018 pelo PSOL

Oculto Racional

Daniel Severino Chaves*

Para entendermos o título, é mister recordar a frase de Paulo sobre “o culto racional”, fazendo referência a você ter uma esperança capaz de produzir realizações pela fé. Já o “oculto racional” é a forma de expressar que sai do inconsciente, mas que tem muito significado. Para isso, deve ser estudado essas “gafes” pelo critério da racionalidade.

Biblicamente vemos o evento da morte de Cristo em três histórias; a de Balaão que não conseguia amaldiçoar o povo de Israel, e por fim profetizou ele pessoalmente assistindo. Outro exemplo é o de Jó, que profetizou o mesmo evento e também sua ressurreição. A terceira é descrita em Daniel “neste tempo se levantará Miguel…”, descrevendo a ressurreição de dois grupos de pessoas durante a morte de Cristo.

Jesus explicou que essa “levantada” seria sua morte presenciada por muitos na tumba. João 12:31 a 33 “Chegou a hora de este mundo ser julgado, e agora o príncipe deste mundo será expulso. Mas Eu, quando for LEVANTADO da terra, atrairei todas as pessoas para mim. Ele disse isso para expressar o tipo de morte que haveria de sofrer”.

Em nossa política brasileira esses fenômenos acontecem. Dilma, quando fala de “estocar vento”, retrata a visão de Apocalipse 7, de que ventos significam poder destruidor. Temer, em seu primeiro discurso à ONU, diz que confiava na força do “diabo”, referente ao demônio socrático, a dialética. Renan Calheiros, em discurso antes da votação, chama Davi Alcolumbre de “presidente”. Nestas mensagens parecendo desconexas e sem sentido é que o prospetivista deve fixar seus estudos. Minha experiência acadêmica em Relações Internacionais me auxiliam também no comparativo histórico do capitalismo e comunismo.

No “Fórum Sentença”, uma rede social que participo, esse tema é abordado e é comum as discussões relacionadas às ideologias esquerda e direita, e eu sempre relembro que ao final da frase sempre será: “ordinário marche!”. E foi numa destas discussões que um membro do grupo disse: “Quando a esquerda e a direita derem um passo juntas, será um salto”. Frase prospetivista que me levou a analisar por vários dias, até que entendi o propósito real do pensamento de Rui Lúcio, descrito na frase histórica de Neil Armstrong: “Um pequeno passo para o homem, um grande salto para a humanidade”.

A frase do presidente em exercício, general Mourão, nos tráz a realidade: “A democracia é fundamental, são pilares da civilização ocidental. Vou repetir: pacto de gerações, democracia, capitalismo e sociedade civil forte. Sem isso a civilização ocidental não existe”. A visão prospetivista de dois centros de poder, Oriente e Ocidente. Do Oriente vem o poder do Dragão Vermelho e sua influência cultural que em tempos passados foi o centro tecnológico das grandes conquistas. Com a ascensão do poder no Ocidente o conhecimento foi voltado para “eixos norteadores”.

Nesta versão de poder que a mediúnica Ellen Hitita, uma das fundadoras da Igreja Adventista do Sétimo Dia que vem o exemplo mais perfeito do oculto racional ao eixo norteador: “A maior necessidade do mundo é a de homens; homens que se não comprem nem se vendam; homens que, no íntimo de seu coração, sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao polo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus. No entanto, um caráter assim não é obra do acaso, nem se deve a favores e concessões especiais da providência. Um caráter nobre é resultado da disciplina própria, da sujeição da natureza inferior pela superior, a renúncia do eu para o serviço de amor a Deus e à humanidade”.

*Prospetivista, professor EBTT e escreve nesta coluna desde 1994.

BRUTAS HISTÓRIAS DE UMA PERIFERIA ESQUECIDA (Cena 8)

Lugar de fé! Gente de fé… rezas, orações, promessas! 

Velas, oratórios, vigílias…

Tudo é fé, mas às vezes é um templo vazio.

As velas derretem, as preces se esvaem…

Do nada surgiu! Foi assim desde Canudos… aquele arraial dos desenganados pela vida, dos que tinham tanta fé, dos que não tinham fé nenhuma… a própria fé os destruiu.

(Primeira favela… derradeira periferia, Canudos). 

Periferia é lugar de doido, de tudo que não presta…

Gente pobre… gente feia, casas feias…

Às vezes somos invisíveis, outras vezes somos visíveis, tudo depende das circunstâncias, dos fatos: a quem vamos favorecer com nossas tragédias, nossa multidão de gente pobre, nossos votos… serão aqueles ou aqueles outros… 

(Canudos! Favelas! Periferias!).

Na periferia tudo é tão lisérgico, intenso.

Tudo passa rápido, a vida passa ligeira – o que era agora de manhã, não é mais à tarde… mudou o tempo, a noite, desespera-se! Nossa pouca esperança, nossa muita fé…

Os dias passam, cruzamos todos os dias as mesmas ruas, ouvimos atrás dos muros as mesmas promessas – rezamos escondidos, é o medo que o milagre aconteça: seria o fim da fé, da espera…

Não se pode mais sonhar, cuspir, desligar-se disso tudo!

A periferia não para! É a máquina perpétua dessa nossa loucura

Ela é insensível a tudo, até se esquece de nós!

Ela vive das digressões que há tempo deixou um rastro de rancor

(Das aflições que deterioram a ferragem do tempo, do futuro…)

Tudo ali se corrói: os ossos, a fé, um possível nada… e quem sabe até o amor.

(Toda lembrança é um riso esquecido do beijo roubado que ela gostou…)

Ela é cheia de ruas, de espaços vazios… é o mesmo céu! O da periferia e o do centro…

As crianças correm nas quentes e iluminadas tardes, os velhos cochilam nos breves intervalos de suas finitudes tão medíocres.

Nem sabemos do amanhã, de nossas dúvidas de hoje… quando dobrarmos a esquina, o que virá depois?

Lá vêm elas, as crianças de hoje, de ontem… qual delas eu foi e me perdi nesse urbeperiferia?

*Hudson Romério Escritor e Cronista  Tel: +55 (95) 99138.1484 [email protected]

Tempo depurante

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Os homens são como os vinhos: a idade azeda os maus e depura os bons”. (Cícero)

Conhece a parábola do profeta que levava um saco de ideias nas costas? É legal pra dedéu! Um profeta ia passando com um saco nas costas, cheio de ideias. Mas o saco estava furado e as ideias iam caindo pela estrada. Um cara vinha atrás do profeta e, às escondidas, ia apanhando as ideias que caiam e as colocando numa sacola. O profeta fingia que não via. Lá na frente, outro cara que via, chamou a atenção do profeta:

– Ei… Aquele cara vem apanhando as ideias que caem e jogando-as na sacola dele.

O profeta abriu um sorriso maroto e respondeu:

– Fique frio. Com certeza ele está pensando em criar uma nova religião.

Estou achando que há pessoas por aí pensando que sou profeta. Sou não, cara. Minha única religião é a de dizer o que penso, quando quero e quando posso. E sempre devo, e por isso sempre digo. Na época de minha juventude, discutir com os pais era uma heresia. E heresia era sempre castigada. E por isso nunca briguei com meu pai, muito embora discordasse dele em muitos momentos. E sempre que não concordava com ele, procurava ver até onde eu tinha razão para fortalecer meu pensamento. Ele era dos pais modernos de sua época. Mas ainda nos obrigava a até tomar a bênção aos mais velhos só porque eles eram mais velhos. Eu odiava aquilo. Mas só depois que me tornei pai foi que minha ficha caiu, me dizendo que os canalhas também envelhecem. 

Tive que dizer isso pros meus filhos, mas não antes de ensiná-los a respeitar as pessoas, independentemente de elas serem canalhas. Respeitá-las por elas eram pessoas e não por serem mais velhas. Mesmo sem citar o Cícero, lhes ensinei que as pessoas, quando amadurecem, ou tornam-se purificadas ou deterioradas. E é aí que devemos estar maduros para saber com quem estamos nos defrontando. Aprendi isso muito cedo, ainda quando criança, no ensino primário, quando li no rodapé do meu caderno, na escola, a frase: “A educação é como a plaina; aperfeiçoa a obra, mas não melhora a madeira”. E a obra, nós mesmos devemos, pelo menos, tentar aperfeiçoá-la. E só conseguiremos isso na depuração do nosso interior. Às vezes pensamos que somos depurados, quando na verdade, não somos mais do que títeres dos que nos modificam em benefício próprio. É quando limitam nossos pensamentos e somos forçados a pensar como os outros pensam. Marionete é no que nos tornamos. Na velhice é que nos mostramos o que realmente somos do que fomos: vinho puro ou vinagre. Pense nisso. 

*Articulista [email protected] 9121-1460