Opinião

Opiniao 09 09 2019 8899

Boa Vista que a vista não vê – Linoberg Almeida

No último sábado de agosto, sete minutos após 18 horas, caiu mais uma casa no Caetano Filho, o Beiral. Uma ordem de despejo na calada da noite demoliu mais uma história que ainda estava sendo decidida judicialmente. Tratores, capacetes brancos, homens fardados, gente escondida nas suas picapes geladas esperando a hora de botar o milionário Parque do Rio Branco pra frente, como se fosse a única solução possível. 

Se alguém me mostrar o Estudo de Impacto de Vizinhança dessa obra, como pede a lei n.º 10.257/ 2001, o Estatuto da Cidade, posso até mudar de ideia, senão ali é tudo ilegal. A lei que manda derrubar é a mesma que deixa construir de jeito irregular chamando de invasor quem lá esteve por décadas. E olha que quem deixou por tantos anos fazendo vista grossa é a mesma pessoa que hoje manda pôr no chão apagando histórias. Que tal fazer dentro da lei?

Incentivar o uso da bicicleta está entre as principais soluções sustentáveis para desafogar o trânsito é alternativa útil à mobilidade urbana. Mas, a vazia ciclovia que corta ruas e bairros com qualidade duvidosa não tem estudos que mostrem os efeitos da obra quanto à qualidade de vida da população, como manda o art. 37 da lei citada. Então, é ilegal. E se me perguntar os critérios para este estudo de impacto, os mesmos deveriam estar no Plano Diretor, que nosse caso está vencido faz é tempo. Ilegal e irregular por omissão é o que há.

Para a prefeitura, a Zona Azul é passo para melhorar a mobilidade, o que não é verdade. Mesmo não sendo membro, participei dias atrás como cidadão da reunião do Conselho Municipal da Cidade que tratou do Estudo de Impacto de Vizinhança feito por uma empresa do Paraná num contrato de R$ 549,6 mil, que não atende minimamente a realidade da gente e nem tem precisão tecnicamente adequada. E as falhas são tratadas como questões menores.

Moradores sem garagem pagar para estacionar não é problema menor; não ter áreas de cargas e descarga para lojas não é problema menor; seguir tratando tudo como se fossem 10 ruas sendo que são 20 não é problema menor. Afetar patrimônio histórico não é questão menor; desrespeitar pessoas com deficiência não é questão menor; jogar 65 milhões de reais em uma mobilidade capenga não é questão menor; dar 111 milhões de reais sem garantias e no estudo dizer que não terá lucro sendo que na lei são de 14,21% o retorno para a prefeitura, não ter Plano Diretor, de Mobilidade não são questões menores.

Trabalhadores, comerciários e outros tantos ainda pagar para estacionar ao trabalhar quando transporte público não tem qualidade e nem é atraente não é questão menor; não mostrar por A + B que mais rotatividade é igual mais vendas ao comércio (sem sensibilizar pessoa de não passar o dia nas vagas hoje existentes) não é questão menor. 

O estudo feito é falho, não tem metodologia clara. O respeito aos conhecimentos da população sobre a região é imprescindível para que se democratize da gestão urbana. Aqui demolimos a praça de alimentação da Praça das Águas, sendo possível reformar. Constroem centro comercial popular no canteiro central da avenida Sílvio Botelho destruindo a praça Daicy Figueiredo Pereira, mesmo sendo possível revitalizar aquele corredor de ventilação. Durante um carnaval, demoliram o prédio histórico do primeiro hospital de Boa Vista, o Nossa Senhora de Fátima, dando lugar a nada. Silêncio.

O passado dá pistas de futuro e faz do presente mais racional quando estamos atentos à cidade que queremos. O certo é ouvir com critérios de controle social que garantam a participação da sociedade civil antes de sair fazendo e acontecendo. Isso não é impedir desenvolvimento ou crescimento. É fazer para durar com responsabilidade. Sobre o estacionamento rotativo, sigo discordando da forma e das medidas mitigadoras propostas. É da democracia. E não vou parar por aí. Devagar vamos aprendendo a ver as entrelinhas, as letras miúdas. Mesmo que a luta pareça contra moinhos de vento, é com ela que vamos devolver a cidade para as pessoas. 

*Professor e vereador da Capital Professor e Vereador de Boa Vista

A COMPETIÇÃO E A FRUSTRAÇÃO – Roberto Barbieri*

A natureza, através de suas leis “naturais”, ensina que no sistema de vida, prevalece o mais forte, o mais dotado, o melhor qualificado. Isto em todas as formas de vida, como os vegetais, os animais ditos irracionais até ao “super” homem. Criam-se formas de competição acirrada, não só entre espécies diferentes, mas principalmente dentro da mesma espécie, onde em todas as formas ocorrem digladios para se sobressair e suplantar o próximo.

Alguns ganham, a maioria perde e, com certeza, neste sistema natural, ocorrem friamente mais perdas e frustrações do que os poucos sentimentos de ganhadores e vitoriosos. Evidentemente, ou melhor, provavelmente, não sobram estes sentimentos no mundo vegetal, onde um pé de alface mais bem-sucedido, maior e mais bonito, não causa transtornos às sementes que não vingaram ou mesmo aos pés de alface ao lado sem tantos atributos.

Já nos animais, o “bicho começa a pegar”. Em grande maioria das aglutinações animais aparecem a figura da liderança, dos dominadores, muitas vezes conseguida com o uso da sua maior força, envergadura e capacidade de se impor sobre os demais.

Assim vemos nas matilhas, manadas, rebanhos, bandos, alcateias, onde os competidores dominantes exercem amplo poder sobre os demais, com direito ao melhor pedaço da comida ou à preferência no acasalamento. Os que perderam a competição ou não chegaram nem a ter a oportunidade de competir dentro do agrupamento, se mantêm submissos, com os rabos entre as pernas, e por que não, remoendo sua frustração diante da sua impossibilidade de estar no patamar de cima, se submetendo aos mandos e desmandos, babando silenciosos ao ver as benesses conseguidas pelos ganhadores dos “troféus”.

As leis naturais são frias, impessoais, amorais e sem senso de justiça, apenas buscando a seleção que esteja mais apta a manter a sequência da vida.

Esperava-se que o homem inteligente que é, racional e com uso do sistema de consciência, portador do conhecimento, que já modificou tantas vezes a natureza e continua domando boa parte das leis naturais conhecidas, pudesse quebrar este paradigma. Entretanto, o que vemos é justamente o contrário. Vemos a busca maior da competição entre si, o estímulo à busca da superação do indivíduo em relação aos demais da sociedade. Vemos isto nos vestibulares escolares, nas escolas, nas entrevistas de empregos, nas empresas, na valorização até por escala de notas, nos sistemas de eleição da malfadada e ainda insubstituível democracia, nos inúmeros jogos criados no mundo todo para competir e bater recordes, nos concursos (até de beleza), sem falar nas guerras e disputas mais diretas. O caráter predatório entre a espécie é na realidade potencializado pelo sistema criado em todos os setores, muitas vezes de forma mais destrutiva do que construtiva. Poucos na sociedade humana continuam ganhando e maioria perdedora, tal como numa alcateia, é sobrepujada e tem que se contentar a colocar o rabo entre as pernas e curtir a sua frustração, pois não cabem dois corpos no mesmo espaço, também lei natural.

Tudo isto talvez seja um prenúncio que este tipo de sociedade ani
mal, apesar de todos os recursos e domínios tecnológicos, poderá provocar de fato sua auto extinção. Isto se as leis naturais novamente não derem um jeito antes.   *Administrador de Empresas – Ciências Sociais  [email protected]

A crise da arte – Oscar D’Ambrosio*

O mundo da arte pode ser visto como um universo em que o produzir arte, vendê-la e consumi-la forma uma tríade de complexos relacionamentos. Alguns dados são muito curiosos nesses elos como, por exemplo, o fato de nem sempre a pessoa que tem dinheiro para comprar ter uma formação adequada para discernir, por exemplo, entre o trabalho de qualidade e aquele que apenas repete modas estrangeiras.

Ao tratar dessas relações no Capítulo 7 de seu livro Arte moderna, Giulio Carlo Argan aponta, inicialmente, que, após a Segunda Guerra, o novo centro do mundo da arte passa a ser Nova York. Os EUA passam a ter então uma posição de hegemonia mundial e de produção de uma arte “autônoma”, no sentido de não louvar as produções do passado europeu, convivendo com a action painting e a pop art como se fossem, de certo modo, os marcos iniciais da arte.

Enquanto a primeira defende a força do gesto, a segunda se volta para a apropriação da cultura pop como mecanismo de expressão. A arte chamada conceitual, logo em seguida, com sua raiz metalinguística, seria o extremo desse raciocínio, em que se faz arte apenas para refletir sobre o que ela é, num processo que conduz paulatinamente a um grande vazio.

Argan considera que os EUA, com sua hegemonia no mundo artístico do pós-guerra, teriam levado a três problemáticas igualmente graves e interligadas: a eliminação da ideia de arte como algo sublime; o entendimento dela como a simples existência de um objeto, sem a discussão de sua finalidade; e a louvação do emprego de qualquer técnica, desde que permita que essa arte se insira no mundo da comunicação de massa.

A crise da arte estaria então vinculada a uma desvalorização do próprio pensamento sobre o que significa a arte e, acima de tudo, aos elos estabelecidos, de uma forma cada vez mais profunda entre a imagem, a cultura de massa e a sociedade industrial. O que passa a ter valor não é o objeto de arte em si mesmo, mas o valor financeiro que cada objeto tem.

*Jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Somos o que pensamos – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“O que fazemos na vida é determinado pelo que comunicamos a nós mesmos.” (Anthony Robbins)

Tome cuidado com o que você pensa. Por que ficar perdendo tempo com pensamentos negativos? Mesmo os acontecimentos mais monstruosos não têm porque ficarem martirizando você. Tudo que acontece na vida é parte da vida, faz parte dela. Faz parte do nosso desenvolvimento. Crescemos racionalmente quando aprendemos a aprender com os erros. Tanto os nossos quanto os dos outros. E se é assim, por que ficar se torturando por ter cometido um erro? Aprenda com ele. Veja onde você errou e procure nunca mais fazer a mesma coisa. Thomas Edson já disse que não errava, aprendia como não fazer da próxima vez. É assim que os inteligentes agem. 

A vida é um aprendizado constante, permanente. É com o que aprendemos nesta vida que vivemos a próxima. É assim que evoluímos. Afinal de contas, estamos aqui, sobre esta Terra, num período de evolução. E cada um de nós é responsável pelo seu próprio desenvolvimento. Valorize-se no que você é hoje, para ser melhor no que você será amanhã. Simples pra dedéu. E você sempre pode ser melhor a cada dia. E isso não é milagre; é evolução racional. E você, como todos nós, é da mesma origem. Chegou aqui, sobre a Terra, porque quis chegar. E só sairá quando quiser sair. Mas só quererá quando se conscientizar disso e acreditar no poder que você tem para dirigir a sua vida como um ser de origem racional, com o poder de ser racional. Mas ninguém, além de você mesmo, ou mesma, tem o poder de fazer isso por você. O poder é seu e de mais ninguém.

Comece suas mudanças no seu dia a dia. Procure ser uma pessoa melhor a cada instante. E você não vai ser uma pessoa melhor enquanto não acreditar nisso. E quem tem valor não se desvaloriza. Quando erramos não perdemos nosso valor, apenas mostramos que não o tínhamos. E é aí que aprendemos a buscá-lo, não cometendo o mesmo erro que cometemos. E é assim, também, que aprendemos a não errar. Mas não devemos nos esquecer de que errar é humano, só não devemos nos apoiar nesse pensamento fútil. Vamos amadurecer racionalmente. E só conseguiremos isso caminhando pelas veredas da racionalidade.

Sorria sempre. Preste mais atenção às coisas simples, porque elas nos mostram e indicam o valor da simplicidade. A arrogância é um sintoma do despreparo racional. O que é irracionalidade. Nunca permita que alguém dirija sua vida. Ela pertence somente a você. E é você quem deve dirigi-la pelos caminhos da sua evolução racional. Nunca se esqueça de que você é um ser de origem racional, vivendo aqui, como animal de origem racional. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460