Opinião

Opiniao 09 11 2019 9265

Aos pés grandes do Pé-grande  Rodrigo Alves de Carvalho*

 Embrenhado no meio da floresta, o valente aventureiro fica atento a cada movimento em sua volta. Sabe que todo cuidado é pouco num ambiente tão perigoso e hostil.

A cada passo que adentra em meio às árvores e vegetação espinhenta, tomando cuidado com os obstáculos criados pela natureza, o aventureiro solitário tem apenas uma meta em sua mente: “encontrar o lendário e tenebroso Pé-grande.

Muitas histórias são contadas sobre essa criatura que parece ser meio homem, meio macaco ou coisa parecida.

Testemunhas afirmam ter visto o famigerado Pé-grande, mas nunca de fato essa bizarra criatura foi apresentada em público.

Contudo, nosso desbravador e valente aventureiro decidiu de uma vez por todas acabar com essa dúvida histórica e agora está no encalço desse desconhecido monstro.

Seguindo algumas pegadas enormes deixadas sob a relva da floresta, o aventureiro com seu pesado equipamento numa grande mochila em suas costas caminha lentamente, sempre alerta para qualquer movimento estranho.

Um barulho estranho vindo de um ponto próximo a uma caverna que aos poucos foi se descortinando atrás da densa vegetação deixa nosso herói apreensivo. Era como um ronco ou um rugir alto e assustador. O aventureiro chega lentamente e quando se aproxima da entrada da caverna avista aquela criatura fantástica.

Com quase dois metros e meio de altura e o corpo coberto de pelos castanhos, com longos braços e pernas musculosas e o rosto que lembrava uma mistura de gorila com homem barbado, o Pé-grande finalmente havia sido encontrado.

O aventureiro se aproxima devagar e quando estava frente a frente com o Pé-grande, ambos olham um para o outro, imóveis.

O homem enfim tenta contato e é bastante sucinto em sua abordagem:

– Boa tarde senhor Pé-grande, tudo bem? O senhor não me conhece, mas estava lhe procurando há vários dias para lhe oferecer isso aqui.

E ao abrir a mochila, o Pé-grande fica com os olhos arregalados e com um sorriso no rosto peludo. O aventureiro continua:

– São vários sapatos números grandes. Tenho do número 50 ao 98. Como não sabia o número de seu pé grande, trouxe vários pares para o senhor experimentar…

Foi assim que nosso aventureiro vendedor de sapatos conseguiu um bom lucro naquele dia.   *Nascido em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos”, pela editora Clube de Autores.

Pedido de socorro que vem dos mares Janaína Bumbeer*

Um novo desastre ambiental coloca o Brasil mais uma vez em sinal de alerta. As manchas de óleo que chegam às praias mostram que a vítima da vez é uma das principais fontes de renda e de alimento dos brasileiros: o oceano. São inegáveis os prejuízos ambientais, sociais e econômicos inestimáveis para toda a população. Diante do problema sem precedentes, sem hesitar brasileiros deixaram suas atividades cotidianas para depois. Salvar o mar tornou-se a ação prioritária do dia. Essa é a realidade das últimas semanas.

Pescadores madrugam para soar o sinal de alerta de que o óleo se aproxima. Marisqueiros resgatam animais. Surfistas aposentaram temporariamente as pranchas para procurar ondas com manchas pretas. Professores e estudantes trouxeram a sala de aula para a areia e passaram a aprender na prática a importância dos recursos naturais e o protagonismo do ser humano na preservação ou destruição do meio ambiente. Turismólogos deixaram de apenas apresentar belas paisagens e também arregaçaram as mangas para salvá-las.

O trabalho de cada voluntário e cada profissional deve ser reconhecido e valorizado. São pessoas que estão fazendo a diferença para a minha vida e para a sua. Estão socorrendo o habitat das algas marinhas, responsáveis pela produção de 54% do oxigênio do mundo. O oceano é o principal regulador do clima, viabilizando a vida no planeta. Além disso, é do oceano que vêm aproximadamente 19% do Produto Interno Bruto do País, a partir de atividades como pesca, lazer, turismo e transporte.

O cenário atual soma milhares de toneladas de óleo já recolhidas, representando uma parcela pequena da quantidade de manchas ainda presentes em centenas de praias no Nordeste brasileiro – tanto na água, quanto na areia. O número de animais afetados e mortos aumenta e o total vai deixar de contabilizar todos aqueles que não foram trazidos pelo mar até a costa. Além disso, o rastro que manchou o litoral nordestino também atingiu mangues e corais, demandando um processo de limpeza mais complexo e pouco acessível. Pesquisadores estimam que, apesar de visualmente “limpo”, o ambiente marinho carregará substâncias químicas por décadas, com prejuízos para os ecossistemas e para a cadeia alimentar, afetando inclusive peixes e frutos do mar que servimos à mesa.

Ou seja, somos todos impactados! Mesmo vivendo a quilômetros das praias do Nordeste, dependemos do mesmo oceano e compartilhamos a mesma nação. Portanto, também devemos agir e cuidar dos nossos recursos. Precisamos nos informar a partir de fontes confiáveis, apoiar as ações dos profissionais e voluntários e exercer o papel de cidadãos, cobrando ações rápidas e efetivas.

Há dois meses, o evento Conexão Oceano, realizado no Rio de Janeiro, trouxe à tona o debate sobre o passado, o presente e o futuro da biodiversidade marinha, dos serviços ecossistêmicos e dos mares. O oceano conecta continentes e está presente – direta e indiretamente – na vida de toda a população global. O tema é tão relevante que levou as Nações Unidas a declararem o período de 2021 a 2030 como a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável.

Reverter o quadro que lamentavelmente vemos hoje no Brasil e considerar os impactos desse cenário são pautas urgentes. É hora de deixar as atividades rotineiras de lado, ouvir o pedido de socorro e fazer a nossa parte para salvar recursos tão preciosos que não conseguimos viver sem.

*Bióloga, doutora em Ecologia e Conservação com foco em ambientes marinhos e analista de Ciência e Conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.

Liga pra ele não

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Habitualmente as pessoas usam apenas uma pequena parte dos poderes que possuem e que poderiam usar em circunstâncias adequadas”. (William James)

Fica difícil para dedéu você calcular quantos eram, quem eram e em que época. E como vamos falar de brasileiros, dá para se ter uma noção de quem fomos, e quem somos. Durante a Copa do Mundo de mil novecentos e setenta, éramos noventa milhões de habitantes no Brasil. Atualmente somos, praticamente, o triplo disso. Só o IBGE deve fazer tais cálculos. Mas me arrisco. O número de pessoas envolvidas com o medíocre está cada vez maior, respeitadas as proporções. E na mesma proporção estão os que se desenvolvem, crescem, progridem e alcançam o sucesso. O que
nos indica que o mundo está melhorando. Que as coisas estão ficando mais fáceis para os que querem realmente progredir. As oportunidades nunca, em época nenhuma, estiveram mais disponíveis e ao alcance de todos. Mas continuamos perdendo tempo com coisas que não nos levam a lugar nenhum e, consequentemente, deixando de lado as coisas que poderiam nos tirar do atraso. E não se iludam que o atraso está rondando até mesmo os que poderiam estar mais adiantados se não fosse ele. Nunca reparou nisso? 

Mesmo que você seja uma pessoa de sucesso, atente-se para pequenas coisas que podem estar, e certamente estão cerceando seu sucesso. Coisas banais que poderiam ser evitadas sem prejuízo, ao contrário, com bons lucros. Quantos dias, mês passado, você perdeu seu tempo, seu humor, e sua tranquilidade, diante da televisão, ouvindo as aberrações sobre os assassinatos já cotidianos pelas ruas? Você imagina o quanto de prejuízo isso lhe trouxe com seu envolvimento num assunto que não lhe dizia respeito? Com seu envolvimento emocional, mesmo que tenha lhe parecido insignificante? Nunca dê atenção a assuntos que lhe tragam aborrecimentos, mesmo que estes sejam passageiros. A tranquilidade emocional é o carro chefe para o desenvolvimento mental. E sem desenvolvimento mental nunca alcançaremos o que queremos. Use seu tempo precioso, e nunca perca seu tempo valoroso. 

Use seus poderes. E você nunca vai usá-los se não os conhecer, e nunca vai conhecê-los se não acreditar neles. Imagine-se como você quer ser e não como gostaria de ser. Busque aquilo que você quer e não o que você deseja. “Dize-me com quem andas e te direi quem és”. E isso é válido para a companhia dos pensamentos que é o que somos. Quando pensamos negativo, somos negativo; se pensarmos grande, seremos grandes. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460