Opinião

Opiniao 11 11 2019 9272

Muros que nos separam

Talvez os 30 anos da queda do Muro de Berlim (e sua insistente existência até os dias de hoje), o muro do Trump, as duas Coreias, Espanha e Marrocos estejam rondando em minha mente bem quando Boa Vista vai tratar de murar a experiência da cidade a partir de uma lei.

A prefeitura enviou para a Câmara o projeto n.º 023/ 2019, que trata sobre o parcelamento do solo urbano na modalidade de condomínios horizontais de lotes. Mais uma iniciativa que dialoga com a especulação imobiliária, disfarçada de modernidade e avanço, que no fundo quer copiar o que sem perceber dá errado a longo prazo para a condição humana em outras cidades.

Se cercar de muros como solução elitista e resposta perversa para fugir da problemática urbana não é a solução para a Boa Vista dos próximos anos. A separação social de pessoas através de uma cartografia urbana de zonas mal divididas não pode dar lugar a microespaços, “castelos feudais” do século XXI, sem corrigir ou democratizar a cidade para todos.

Calma. Não venha com a polarização nervosa que nos jogou nessa crise civilizatória. O medo, ódio e ressentimento social são subprodutos de quem permitiu a privatização do espaço público diante de impossibilidade de oferecer soluções para problemas sociais, como a segurança pública de qualidade e a diminuição da desigualdade. Pode ter condomínio, mas que tal evitar os problemas previsíveis e negligenciados do Vila Jardim antes de sonhar com o Alphaville do lavrado?

Temos que fugir da impressão enganosa de se tratar de unidades sociais estáveis e harmônicas, nas quais os membros de uma classe média, que parece sempre compartilhar de objetivos comuns, que motivam sua ação conjunta e racional, com fins definidos. Mas, isso não existe. O muro, a cerca, o arame, a guarita não nos protegem de nós mesmos. Ainda dá tempo de reverter o rumo individualista.

E olha que a lei já vem pronta. Tenho certeza que você está lendo e não foi perguntado sobre isso. Não atualizamos nada da legislação que trata de regras, orientações e princípios que visam orientar gestores e nós mesmos na ordem e na ocupação da cidade; nem de como pagamos IPTU ou Iluminação Pública. É Plano Diretor “Estratégico e Participativo” desatualizado. É parcelamento de uso de solo ultrapassado. É uso e ocupação de solo favorecendo meia dúzia de burocratas.

Lá no miolo da lei, tudo se justifica com a função social da cidade, pela cidadania, a organização dos espaços vazios e de um milagre que vai se acabar com invasão de terras e reduzir exclusão social. Oi? Pena que papel aceita tudo. Quando a chuva vier num inverno denso, nessa terra de pouca árvore e somente 2% da área do condomínio for verde (art. 13), como sugere a prefeitura, a cidade plana e concretada vai receber em seus dutos de drenagem a água colhida que poderia ter sido melhor gerida por quem pôs muros sem pensar em todos.

Veja a região do Caxambu, alagada quando chove. Se antes de “Zona Azul” tivéssemos outro plano urbanístico para a já adensada, sem impermeabilização e acessibilidade adequada na região central da cidade, a ocupação daquele espaço já seria outra. O indivíduo virou metáfora viva da própria sociedade, quando devemos buscar o coletivo como peça-chave. Somos reféns de uma arquitetura do medo, onde ao escurecer saem as pessoas, entram os cadeados, e logo, logo um mirante para olhar ao longe vai nascer, sem nos darmos conta dos nossos umbigos.

Newton já dizia que construímos muros demais e pontes de menos. Para além dos condomínios fechados de ideias, é preciso estar disposto a entender a cidade que vivemos e os símbolos de status que nos vendem. Ainda dá tempo de derrubar esse muro.

Linoberg Almeida

Professor e Vereador de Boa Vista

SINTOMAS DE ANSIEDADE   Wender de Souza Ciricio*

A ansiedade é definida como um estado psíquico emocional de apreensão ou medo provocado e causado pela antecipação de algo que possa ser desagradável ou perigoso. É o medo de que uma situação que não esteja sob o controle ou domínio de uma pessoa venha gerar desconforto e profunda insegurança. De modo prático, ansiedade é, também, querer ardentemente antecipar o amanhã para hoje ou um local distante para perto de si, com intuito de, assim, poder controlar e domesticar a situação que seja, aparentemente, nociva, prejudicial e destrutiva. Envolve muitas vezes a angústia por não poder exercer um domínio efetivo sobre outros que não estão ajustadas aos passos que uma pessoa concorda lhes serem os mais convenientes.

Enfim, ansiedade é péssima, indigesta e pesada. Estar envolvido com esse mal-estar é como tentar carregar um peso acima do que se pode suportar. São traços da ansiedade a síndrome do pânico, fobias, perturbação obsessivo-compulsivo. Se não for bem tratada e remediada pode acarretar um mal maior, como estresse e depressão. Por isso, profissionais ligados à área de saúde costumam diagnosticar e tratar esse mal antes que se torne um mal maior.

O assunto é amplo e envolve vários focos e nuances. Pode-se, inclusive, dizer que a ansiedade muitas vezes esbarra e se assenta em valores. Nossos valores podem determinar a causa da ansiedade. Se um casal tem como meta e sonho de vida construir um grande volume de bens materiais pode, assim, ter o dinheiro como principal valor de suas vidas e como consequência buscar para os filhos profissões que gerem, aparentemente, dinheiro em grande quantidade.

Alguns anos atrás, em um dos cursinhos que leciono, na véspera do vestibular, vi uma garota que ia tentar aprovação em medicina chorando copiosamente. Perguntei o motivo, ao que me respondeu: “meus pais vão me matar se não for aprovada no vestibular. Eles não param de contar os dias para me ver aprovada e o pior é que não quero ser médica”. Toda essa perplexidade tirou a leveza do coração dessa moça levando-a a uma fenomenal crise de ansiedade. Os valores dos pais, agora depositados no colo e ombro da filha. Aquilo que acreditamos serem as melhores coisas para nossas vidas e que estão fora de nosso alcance, podem gerar ansiedade.

Um rapaz que namora exercendo doses absurdas de ciúmes torna-se ansioso quando não pode controlar o celular de sua namorada, saber onde ela foi em sua ausência e ter certeza com quem ela conversou. Uma mãe grita como louca porque não tem o marido e filhos fazendo o que ela acha que tem que ser feito, pois o seu valor de vida é ter a casa sob seu controle. Uma “patricinha” sofre de ansiedade porque muitas vezes seu valor de beleza, de roupas de grife e de luxo não são contemplados à altura por falta de dinheiro. Valores distorcidos e imensuráveis são também causas de ansiedade.

Se você carrega uma carga maior do que pode suportar isso também se chama ansiedade. Então, veja a causa e se seus valores estão distorcidos, fora de alcance e inapropriados. Pode ser que você esteja focando algo que não é de seu direito, de sua posse e de seu domínio. Descanse. O mundo não é se. Nem todas as vidas humanas e situações podem ser dominadas por você. Se continuar insistindo em ter o que você não pode ter vai adoecer e vai adoecer quem está ao seu lado. Seja ético e tenha valores justos, mensuráveis e dê tempo ao tempo.

*Psicopedagogo, historiador e teólogo [email protected]
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Pensar, sentir e agir

Paulo Eduardo de Barros Fonseca*

Penso, logo existo! O filósofo francês René Descartes – 1596/1650 –, em suas “Meditações”, questiona o conhecimento tido como correto e, após duvidar de sua própria existência, emitiu a opinião de que em sendo um ser pensante, existia. Para ele, “a essência do homem é pensar.”

No mesmo sentido, o espírito de André Luiz afirmou que “a ideia é um ser organizado por nosso espírito, que o pensamento da forma e ao qual a vontade imprime movimento e direção”. “O mundo é criado pelos pensamentos”, exortou Buda.

O pensamento, que goza de plena liberdade porque a ele não podem ser impostas quaisquer barreiras ou limites, desmaterializa o mundo exterior para torná-lo numa imagem interior, de modo que o homem pode se aprofundar em si mesmo.

Kardec, no Livro dos Espíritos, destaca que “quando o pensamento está em alguma parte, a alma também aí está, pois é a alma quem pensa. O pensamento é um atributo” (perg. 89-a).

Esse atributo tem relevância nos processos de mudança porque, ao trocarmos com o mundo exterior e o interior, estabelecemos a ponte entre o pensar e o agir por meio do sentir, que fertiliza o terreno das emoções.

Sentir, etimologicamente, significa ter sensação, receber impressão, perceber, conceber.

Os pensamentos determinam o estado de nossa consciência e exercem forte influência em nossos sentimentos e nas ações que são praticadas ao tornar a imagem interior em realidade.

Quando a ideia fomenta as emoções, nasce a fonte motivadora da ação, porque se pensar é criar, o pensamento e a ação marcham unidos. O pensamento gera sentimento que, por sua vez, provoca a ação.

Daí a importância do cultivo dos bons pensamentos, que fortalecem o corpo e o espírito, mesmo porque, se nossas ações são resultado das ideias que geramos, nosso sofrimento ou nossa felicidade está diretamente ligada à forma de como pensamos, sentimos e agimos.

*Vice-presidente do Conselho Curador da Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho, mantenedora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Acredito, mas não acredito

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Somos o que fazemos repetidamente, por isso o mérito não está na ação, e sim no hábito”. (Aristóteles)

Todo mundo tem uma religião. Até mesmo os ingênuos ateus. Todo mundo crê, acredita, confia e desconfia. O problema de quem crê, em alguma coisa está em estar na linha limítrofe da crença. A quantas anda sua crença? Sobre sua crença, se é em Deus, nos anjos, nos fantasmas, em você mesmo, ou no que mais? O importante é que você creia. Mas não cegamente. Você tem que saber no que crê e por que crê. Quando você acredita firmemente numa coisa, ela se realiza. Seja ela qual for. Até mesmo quando você sai de casa com aquele medo doentio de ser assaltado, seu medo é sua crença. Na medida em que você vai alimentando o medo, ele vai se tornando uma crença. Você, inconscientemente, passa a acreditar que vai ser assaltado. E, claro, não vai dar outra. Mais cedo ou mais tarde você será assaltado. E isso lhe dá a medida exata do poder de sua mente. E por que motivo você não aproveita esse poder que tem, para pensar positivamente?

O pensamento negativo é muito mais acessível. É fácil de adquirir e absorver. Por isso você deve fazer do pensamento positivo sua religião. E pra isso é só aprender a crer. E comece por crer em Deus. Já viu que todo mundo crê em Deus? Todo mundo, até os ingênuos ateus. É que é uma coisa lógica. Como é que você pode dizer que não acredita numa determinada coisa se está admitindo a existência dela? Simples pra dedéu.

Mas quando crer, não creia como aquele cara que acreditava em Deus, pra dedéu. Já tinha dado provas suficientes, até que um dia, ele estava escalando uma montanha quando, de repente, escorregou despenhadeiro a baixo. Na queda, agarrou-se com uma das mãos a um galho preso nas pedras. O galho começou a ceder e ele entrou em pânico. Mas logo se lembrou de Deus. E, claro, começou a pedir socorro ao Senhor. De repente ele ouviu uma voz tonitruante:

– Eu estou aqui em cima.

– Eu quem? Quem é você?

– Ora, quem sou eu, cara? Você não me chamou? Eu sou Deus!

– Tudo bem, então me tire daqui antes que eu caia e morra…

– Vamos lá… Solte a mão.

– O quêêê?!! Soltar a mão?!!

– Sim! Solte a mão para eu poder segurar e salvar você.

O Cara fez cara de choro, desesperou-se, olhou para cima, e gritou apavorado:

– Tem alguém aí em cima que possa me salvar?

Crer não é tão fácil como se imagina. Crença e dúvida são opostas e não se combinam. Você ou crê ou duvida. Daí a dificuldade de as pessoas crerem nelas mesmas. Mesmo quando acreditam que o Reino de Deus está dentro de nós. O milagre que você mesmo, ou mesma, pode fazer é acreditar em você. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460