Opinião

Opiniao 13 07 2019 8549

Afinador de almas – Francisco Habermann

As notas dó, mi, sol e outras sonoras anunciadas pelas mãos do afinador do piano lá na sala fizeram-me recordar sua história. Um belo relato que me foi contado naquele mesmo dia convenceu-me que histórias de vida se sobrepõem às experiências profissionais. Foi o que senti.

O excelente técnico afinador referiu ter passado a noite cuidando da sua mãe que fora conduzida ao pronto socorro de sua cidade e muito bem atendida e cuidada. Felizmente ela estava melhor, o que permitiu a volta dele ao trabalho profissional especialíssimo e já raro entre nós: afinador de pianos. Acompanhei-o na tarefa.

A execução dessa atividade é auxiliada atualmente por equipamento eletrônico moderno, mas nunca foi assim. Afinadores sempre – até hoje – usam o ouvido treinado e sensível para a execução de suas tarefas junto ao instrumento. Trata-se de esmerada capacidade pessoal treinável e os equipamentos eletrônicos apenas certificam o tom básico (nota lá), auxiliando. A afinação de cada nota, entretanto, é do profissional. Foi o que vi naquela manhã.

Pacienciosamente, o afinador confere e ajusta o som de cada uma das cordas das oitenta e oito notas, sendo que parte delas compõe-se de três ou duas cordas para cada nota ou tecla do instrumento. Os bordões (sons graves) são de cordas especiais e únicas. É um trabalho de especialista, exige muita experiência profissional, sensibilidade auditiva e percepção na harmonia sonora. Isso me alertou para outro aspecto da sensibilidade humana.

De nada adiantaria tais habilidades profissionais se não conseguisse desempenhar a brilhante tarefa de manter seu equilíbrio emocional, atenuar a angústia alheia e ajudar a encontrar a harmonia tão necessária diante de sofrimentos humanos. Foi isso que acontecera na madrugada anterior, segundo o relato daquele afinador. Ele mantivera a calma e o bom ânimo diante das angústias de sua querida mãe, enferma, carente de cuidados hospitalares de urgência. Ele exercera sua parte mais nobre. Socorreu com o equipamento mais completo do ser humano: seu coração. Este, sim, afinado pela sua natureza superior. Fiquei admirado com esta constatação tão humana e tão rara.

Até parece que o piano lá de casa sabia que o competente profissional era, sim, um querido afinador de almas. Pronto, o instrumento respondeu imediatamente com as notas afinadas da sinfonia brilhante dos sons harmônicos e claros. Tocado, devolveu melodias inebriantes da vida. Todos nós agradecemos. Em sol maior!

*Professor da Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu. Contato: [email protected] 

Violência contra professores não pode ser vista como algo normal – David Marcelo P. Bert   A violência contra professores no Brasil é chocante. Recentemente a mídia noticiou que só no estado de São Paulo os casos de agressão a docentes aumentaram 189%. Infelizmente, essa é a realidade em todo o país, em escolas públicas e privadas. É uma prova cabal de que o país está muito abaixo do nível civilizatório que deveria estar. Dados mais recentes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que o Brasil tem o pior índice no mundo quando o assunto é violência contra professores. Se fizermos uma pesquisa boca a boca nas escolas, constataremos que a grande maioria dos docentes já sofreu algum tipo de agressão, seja ela verbal ou física. Tal fato já é tratado como algo tão banal que a grande maioria dos profissionais agredidos não presta queixa, preferindo relevar o desrespeito. E, para piorar a situação, a direção pedagógica de muitas escolas também não toma as providências cabíveis. Assombroso, não é mesmo? Em razão desta e de outras questões, não é de se espantar que mais de 49% dos professores entrevistados em pesquisa recente não recomendam sua própria profissão. 

Parece óbvio dizer que é responsabilidade da família transmitir valores éticos e morais a uma criança. Mas, atualmente, esse dever está sendo um tanto descuidado. Muitos pais não apenas se eximem de dar limites aos seus filhos como também consideram inadmissível que um educador repreenda um aluno por algum comportamento condenável. Esses pais também não admitem que seus filhos sejam mal avaliados quando o desempenho deles deixa a desejar. Essa condescendência dos pais com a indisciplina dos filhos é um dos fatores que contribuem para o aumento da falta de respeito para com o professor em sala de aula, o que muitas vezes redunda em agressões. 

Essa violência contra os professores não pode ser vista como algo normal. Um professor levar uma cadeirada na cabeça porque chamou a atenção de um aluno por ele ter chegado atrasado; uma professora ser ‘pega na saída’ por dois alunos que foram repreendidos por estarem brincando no celular em sala de aula; um professor ser chamado à direção para mudar a nota de um aluno desinteressado porque o pai dele reclamou da nota baixa. Esses episódios não podem ser considerados normais. O educador merece ser respeitado.

E porque essas atitudes acontecem com tanta frequência? Faltam limites às nossas crianças, jovens e mesmo adultos. Faltam noções de respeito e hierarquia. Falta desenvolvimento emocional e social. Focar nas causas da violência e a perspectiva na qual a mesma deve ser enquadrada são a chave para alcançarmos uma solução. Prevenir, e não apenas remediar, passa pela capacidade dos professores de provocar em seus alunos as tais habilidades socioemocionais. A família tem um papel primordial na construção dessas habilidades, mas a escola também se vê diante da necessidade de reforçar as atitudes de respeito, gentileza e sociabilidade – atitudes indispensáveis para o pleno desenvolvimento do ser humano. Porém, falta metodologia para transformar as intenções em ações práticas. Sem isso, pouco se pode esperar em termos de transformação da realidade. É preciso que haja métodos eficazes, que garantam uma adoção suave dos processos, a fim de assegurar a práxis educativa de bons resultados. Um processo adequado, aliado a conteúdos de qualidade, facilita a preparação dos professores para enfrentar os desafios que hoje se impõem no ambiente escolar.

Objeto de estudo e desenvolvimento de metodologias para enfrentar tais questões, os centros internacionais de excelência em Formação de Professores têm disseminado técnicas para o desenvolvimento das habilidades socioemocionais entre os docentes.   *Coordenador do Programa Línguas Estrangeiras da Planneta Educação, empresa do grupo Vitae Brasil. Graduado em Letras pela Faculdade Anhanguera de Taubaté/SP; tradutor-intérprete de Libras pela IMOESC – Caçapava/SP; professor de língua inglesa; formador internacional do método Kagan Cooperative Learning (San Diego University – California/USA); palestrante da plataforma YouTube Edu sobre habilidades socioemocionais na educação; além de especialista em construção de identidade da sala de aula, identidade do grupo e aprendizagem baseada no cérebro.

Eu não tinha pensado nisso… – Afonso Rodrigues de Oliveira

“Nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo estado de consciência que o criou. É preciso ir mais longe. Eu penso 99 vezes e nada descubro. Deixo de pensar, mergulho num grande silêncio e a verdade me é revelada.” (Albert Einstein)

Já conversamos várias vezes sobre o fato de você nunca resolver um problema concentrado nele. Só quando você se desliga do problema e pro
cura a solução é que ela chega. Os problemas são criados para serem resolvidos. Então não vamos nos apoquentar com eles. Vamos buscar a solução. É só você se dar conta e buscá-la. Só você pode cuidar do seu crescimento. Então não fique esperando que os outros façam por você o que você mesmo, ou mesma, deve fazer. 

Ontem, num papo de família, aqui à mesa, falávamos sobre a Ilha. De repente a conversa se estendeu sobre a família espalhada, à distância que não é distância, e sim ausência física. E nesses casos os problemas se fazem presentes mesmo quando não são problemas. E é legal. Por que criar problemas quando estamos vivendo um mundo onde os problemas fazem parte da evolução? 

A Louise Hey tem um pensamento legal que nos leva a reflexões sobre como e no que pensar: “Meu novo mundo é um reflexo do meu novo modo de pensar.” Você nunca vai construir, satisfatoriamente, seu novo mundo com os pensamentos presos ao velho mundo. Então mude sua maneira de pensar, caso as coisas não estejam indo bem, pela vereda que você escolheu na encruzilhada da vida. Mude de rumo. Você é seu timoneiro. Se o rumo não estiver certo, veja quem está errado, se o rumo ou você. Lembra-se do Cabo Sivirino? É aquela história do navio que navegava em alto mar e às escuras da noite. De repente surgiu uma luzinha muito longe. Avisado, o comandante do navio mandou uma mensagem: 

– Você está na minha rota. Afaste-se. 

Não houve resposta e o comandante, já irritado depois da terceira mensagem, gritou:

– Aqui quem fala é o comandante. Se você não se retirar em cinco minutos eu mando abrir fogo. 

Só aí veio a resposta calma e tranquila: 

– Aqui quem fala é o cabo Sivirino. Se o senhor não se desviar a quarenta e cinco graus noroeste, vai colidir com o farol!

Não importa se você é o Comandante ou o Cabo. O acerto está em quem está com a razão. E ninguém, além de você mesmo, tem razão sobre você. Não desperdice seu tempo nem sua vida com problemas. Eles estão aí esperando uma solução. E cabe a você atendê-los. E não se esqueça de que a tarefa não é tão fácil assim. Que nosso crescimento como sociedade e povo está na educação. Cuide da educação para que sejamos conscientes do nosso poder no desenvolvimento humano. Pense nisso.

[email protected] 99121-1460