Opinião

Opiniao 13 12 2019 9467

Oportunidade Paulo Nicholas*

Existem, na vida de cada um, momentos ou pessoas especiais que aparecem a certa altura e nos dão uma coisa muito preciosa: oportunidade. O problema é que não as enxergamos, na maioria das vezes nem percebemos, não conseguimos ver mesmo passando embaixo dos nossos narizes. 

Por vezes elas são claras, evidentes ao ponto de nos serem apontadas por aqueles mais próximos que literalmente falam: “vai lá, aproveita essa oportunidade”!

Por vezes elas se travestem de dificuldades, de crise ou mesmo de uma derrota. Pode também surgir de uma decepção, de uma raiva ou frustração. Por que não?

Conheço pessoas que transformaram um divórcio numa nova oportunidade para ser feliz. Outras que aproveitaram a traição de um sócio para começar um novo negócio do seu jeito. Ainda tenho conhecidos que faliram e aproveitaram a oportunidade para refazer a vida trabalhando com o que realmente seu coração mandava. Tem gente que transforma uma doença numa oportunidade de reavaliar valores, escrever um livro ou mesmo fazer as pazes com desafetos.

É assim. Elas aparecem, cruzam nosso caminho mais cedo ou mais tarde e normalmente só nos damos conta quando já passou. Pense consigo quantas vezes você olha para trás e diz: “como fui burra (o)!”. E, mais uma vez lembramos o ditado popular que diz que a oportunidade é um cavalo selado que passa rápido. O ruim é que normalmente só o vemos quando ele já passou. Este “cavalo selado” é muito difícil de se ver de perto. Eita cavalinho danado!

De pronto se conclui que o problema pode não ser a falta de oportunidades, mas nossa incapacidade. Não nos preparamos para enxergá-las nem para montarmos neste cavalo galopante quando ele aparece. E aí cabe o mea culpa. Seria o mundo cruel comigo ou sou eu que não enxergo as oportunidades? Nossa tendência natural é pôr a culpa no mundo, quando na verdade é a gente que não viu a coisa como um todo.

É preciso ter a mente aberta, enxergar a hora certa, ter consciência de cada ocorrência de sua vida. Boa ou ruim, esperada ou repentina. Anunciada ou na surdina. Cada fato pode ser uma oportunidade.

*Advogado e escritor @pnicholas

A minha individualidade não te pertence

Guilherme Costa do Nascimento*

– Preciso do seu amor, mas não quero seus problemas.

Soa estranho alguém falar assim, mas por pior que você não acredite, isso acontece constantemente em muitos relacionamentos, muitas vezes maquiados com outras frases, mas o sentido é o mesmo. E por mais que muita gente pense que não vai ouvir essa frase de ninguém, acredite: você pode estar nesse barco, navegando a mar aberto faz tempo.

O ser humano nasce dependente, mas ao se levantar e andar, cria sua “independência”. Daí em diante, um sentimento começa a brotar lá dentro do seu cérebro, no hemisfério esquerdo, responsável pelos pensamentos, geram todas as atividades que nos dão o poder de pensar antes de agir. Já o lado direito é o responsável pelas seguintes habilidades: cálculos, canto, música, criatividade, as emoções e sentimentos, tudo isso para que nós possamos decidir, fazer, analisar e ter o discernimento sobre as nossas atitudes. Vejamos se cada parte do nosso cérebro, em seu córtex cerebral, nos faz tomar atitudes positivas e negativas, por que então fazemos coisas erradas? Por que somos tão egoístas e muitas vezes fazemos mal aos demais?

Para o neurocientista Adrian Raine, professor da Universidade da Pensilvânia que por quatro anos trabalhou em prisões de segurança máxima fazendo entrevistas e análises por meio de exames de imagens do cérebro de 41 assassinos e serial killers. Seus estudos confirmaram que alterações e lesões em estruturas cerebrais, como lobo frontal, córtex pré-frontal e amígdala, afetam as emoções e mudam o comportamento.

Alguns neurocientistas enfatizam que só os fatores genéticos ou as alterações cerebrais não determinam atos antissociais. Mas que é preciso um conjunto de fatores que forma o quebra-cabeça da violência. Além de outras mais, como condições sociais, complicações no parto, rejeição materna, abuso na infância e maus tratos são algumas das peças que levam o ser humano a fazer maldade.

Já para o médico neurologista Sigmund Freud (1856-1939), considerado o pai da psicanálise, acreditava em algo que constitui o ser humano e que lhe fora dado naturalmente e que, devido a isto, há um fator generalizante presente em todos os indivíduos. Conforme Freud, o ser humano é estruturalmente constituído de Id, ego e superego, e sua natureza está ligada ao Id.

O Id seria zona inconsciente constituída por instintos e desejos, regidas então pelo princípio do prazer, motivo este de ser egoísta e tentar, a todo custo, satisfazer-se a si mesmo. Seria o sistema original da personalidade, matriz da qual se originam o ego e o superego. O ego seria a zona consciente, regida pelo princípio da realidade, auxiliando no alcance dos objetivos do id, através de princípios lógicos. O superego seria a zona do psiquismo, correspondente à interiorização das normas, dos valores sociais e morais.

Já em nossa realidade, saindo da complexidade da mentes humanas, a vida foge de apenas deduções, o que vemos é que o indivíduo está com medo de se relacionar com os demais, foge das responsabilidades a dois, procura viver isolado porque em conjunto pode ser duro de mais, quer prazer, comer, namorar, sair e curtir e depois amanhecer no conforto de seu lar, no seu habitat, sem ter que dar informação pra ninguém da sua vida, e cada vez mais fugindo do contato físico e emocional. Nas redes sociais quer ser o centro das atenções, quer estar em todos os eventos, nas mídias, mas na vida real foge dos holofotes quando o assunto é compromisso. O nome disso é fácil de reconhecer em nosso cotidiano: “facilidade”. A pessoas estão disponíveis a toda hora, seja pra uma balada, pra um lanche, pra uma saidinha sem compromisso em um motel, “ficar”, seja pra onde for, tem sempre alguém afim.

E essas atitudes voam lá no texto acima. A individualidade do ser humano, cada um com o seu problema, tantos os homens são subjugados em seus comportamentos, como as mulheres, que se influenciam por esse modismo, seus egos e valores são analisados. Uma mulher que observa um homem que sai com várias mulheres sem compromisso, com certeza não serve pra relacionamento a dois, de forma que se possa levá-lo a sério. Desta forma, idem as mulheres, e assim vamos criando uma sociedade fria, onde ninguém pertence a ninguém (com certeza), onde todos são julgados segundo os seus valores morais.

As relações vão cada vez ficando mais distantes. O ser humano se tornando cada vez mais individualista, sem amor, sem respeito ao seu próximo. Um ser frio, sexo confundido com amor, carência com carinho, amizade com relacionamento e Deus com religião. É sabido que somos falhos. Esse texto não cabe a você, porque ele é falho. Somos imperfeitos, erramos constantemente, é uma opinião e pode estar errada, mas embasada em DEUS, que falha há?

Enquanto criamos uma bolha sobre nós, acreditando que somos melhores e que o problema dos outros não nos incomoda, estamos sendo justo com quem? Quando vemos que ao nosso lado algué
m sofre, chora e precisa da tua ajuda, onde está o erro? Julgamos tantos as pessoas que só observamos os erros neles, e em nós a capacidade de ser juiz do nosso próprio juízo. Estamos certos?

“Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” (1 João 4:20)

*Acadêmico – Faculdade Cathedral [email protected] (095) 98104- 8797

Realista esperançoso

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Os otimistas são ingênuos; os pessimistas são amargos. Eu me considero um realista esperançoso.” (Ariano Suassuna) 

Eu também, Suassuna. Os sentimentos chegam, saem, vão e voltam e tornam os dias dignos de serem vividos. Ainda há pouco senti um arrufo, se é que era isso. O dia nos pareceu corrido nas nossas corridas. O Alexandre saiu pela manhã, para Iguape; o Tácio chegou para fazer o almoço. O cara é o cara. Sempre que ele está livre dos afazeres, vem ajudar a dona Salete, nos afazeres da casa. É legal pra dedéu. Aí eu fico na minha. Aí venho para o computador, bater papo com você. Foi o que fiz, até a dona Salete entrar e perguntar:  – Não vai me ajudar, não?  Fingi que não ouvi e ela saiu resmungando. O Alexandre chegou e perguntou: – Pai… Tá com sua identidade aí?  – Tô, sim, por quê? – Porque eu vou à Prefeitura, agendar sua ida ao hospital, na quinta-feira.

Passei o documento pra ele, e ele saiu quase correndo. A Prefeitura só agenda até às 14 horas. Não percebi o porquê, mas me senti emocionado. O Alexandre, para quem ainda não o conhece, tem uma deficiência física que o mantém em tratamento há vinte anos. Mas é um dos caras mais ativos que já tive o prazer de conhecer. E por ser meu filho, sempre me emociona quando age assim. Aí fui até a varanda e contemplei o ambiente que adoro, ali na Praça. Aí fiquei pensando em que, “Todas as flores de amanhã estão nas sementes de hoje.” 

Senti saudade de minha família que é o tesouro mais importante para minha felicidade. Olhei para o Espaço Cultural Plínio Marcos e me lembrei dos amigos que tenho em Boa Vista, dos quais sinto saudade. Gostaria de mencioná-los aqui, mas não há espaço suficiente. Mas cada um deles sabe de quem estou falando. A eles e elas, um abraço-quebra-costelas. Fiquei mirando o firmamento e vi o Bob Marley: “Saudade é um sentimento que quando não cabe no coração escorrega pelos olhos.” Olhei para o outro lado e lá estava o Laudo Natel: “Saudade é a presença da ausência.” Senti isso. Abracei cada um dos meus queridos filhos, em Boa Vista e Rio de Janeiro. Dei um abraço apertado em cada amigo e amiga pelos brasis afora. 

Contemplei o dia, quando ele já iniciava sua caminhada na queda silenciosa. Senti-me feliz por ter a felicidade de viver a saudade sadia. Amei a vida como amo a todos os que fazem parte dela. Um abração do tamanho do mundo para todos os amigos e familiares. O amor é eterno para quem sabe amar. E saber amar é sentir no peito a ausências dos que deveriam estar presentes. Mas podemos mantê-los presentes em nossas lembranças, sem sentimentalismo. Apenas com amor. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460