Opinião

Opiniao 15 01 2020 9621

Um calvo apaixonado

Rodrigo Alves de Carvalho*

 

Dois amigos conversam.

– Que cara é essa Alfredo? Tá pensativo e triste?

– Estou apaixonado, meu amigo. Aquelas paixões fulminantes que degradam o coração da gente.

– Mas isso é motivo para alegria, e não essa cara de velório.

– Mas é que esse amor está muito distante de mim.

– Por quê? Não vai me dizer que se apaixonou por outra participante do BBB?

– Não! É a Prisciliana. Irma do Wagnão…

– Conheço a Prisciliana. É muito gata. Mas ainda não entendi por que não chega e declara seu amor.

– É que sou calvo

– O que tem haver você ser calvo?

– Ela gosta de rock and roll. Está sempre junto de metaleiros cabeludos. Jamais daria atenção a um cara com essas entradas na testa e o desmatamento total no centro da cabeça.

– Olha Alfredo, você precisa ter mais autoestima e não ligar pra isso, afinal ser calvo não é nenhuma doença contagiosa.

– Diz isso porque você é cabeludo! Mas eu sei o que vou fazer para ganhar o coração da Prisciliana daqueles adoradores de Black Sabbath.

– Vai começar a ouvir rock também?

– Não! Vou pesquisar na Internet alguns remédios para crescer cabelo.

– Você está louco Alfredo? Acreditar nas coisas da Internet pode ser perigoso. Procure um especialista então.

– É muito caro e o resultado, se aparecer, demora uma eternidade. Já nos fóruns da Internet vou saber como ficar cabeludo rapidinho.

Passaram-se dois meses e os dois amigos se encontram novamente. Dessa vez Alfredo estava com uma vasta cabeleira comprida e esvoaçante.

– Alfredo, quase não te reconheci! Que cabelão é esse?

– Pois é amigo. Não disse que pesquisando na Internet iria tomar remédios e o cabelo cresceria.

– Mas que remédio você tomou?

– Nem lembro. Tomei um monte e tudo misturado.

– Pô Alfredo então você deve estar muito contente agora. Já que vai poder conquistar o coração da Prisciliana.

– Não é bem assim. Na verdade, desisti desse amor platônico.

– Por quê?

– Primeiro é que de tanto tomar remédio fiquei com impotência sexual.

– Não me diga, Alfredo. Isso é horrível!

– Sim, mas o pior é que a Prisciliana acabou ficando noiva.

– De quem?

– Não o conheço. Só sei que ele é careca.

 

*Nascido em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.

A magia da arte de Agnès Varda

Oscar D’Ambrosio*

Quem não conhece as fotografias, instalações artísticas ou filmes da artista belga Agnès Varda (1928 – 2019) nem imagina o que está perdendo. Parece ser uma frase retórica, mas é séria. Ela é uma personalidade marcante, com trabalhos diversificados e uma poética própria, que se expressa de diversas maneiras, que incluem da observação do cotidiano a questões existenciais.

O documentário “Varda por Agnès”, dirigido por ela mesma, constitui uma excelente introdução ao seu trabalho, porque o viés que a artista adota é o de mergulhar em seu processo de desenvolvimento de uma linguagem diferenciada. Ela explica, nesse sentido, que se apoia, na construção de seu mundo visual, em três pilares: a inspiração, a criação e o ato de compartilhar com o público as suas obras.

Primeira mulher a receber, em 2017, um Oscar pelo conjunto da obra, a diretora, que foi membro do júri do Festival de Veneza, em 1983, e do Festival de Cannes, em 2005, além de ter sido homenageada em 2017 pela 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, desenvolveu um experimentalismo no qual se permite fundir propostas e linguagens.

Talvez uma das obras mais importantes, que rende documentários e instalações, seja a que ela filma e conversa com pessoas que se alimentam de restos de feiras urbanas de alimentos e que recolhem sobras de plantações daquelas batatas que, por serem muito grandes ou muito pequenas, não são encaminhadas para os mercados.

Trata-se de um de seus passos numa pesquisa na área de reciclagem, que inclui, por exemplo, o uso das antigas latas que guardavam filmes de rolo e dos próprios filmes para construir pequenas casas em que mostra suas instalações, algumas vezes em forma de trípticos, numa explícita referência ao modo de representação visual medieval.

Em fotografias plenas de humanidade, nos filmes experimentais e nas instalações em que se vale de recursos digitais e da proximidade com as pessoas que documenta, como ao captar o discurso de viúvas de uma região da França, ela consegue mostrar a densidade do universal no particular, como realiza em seu projeto sobre as praias que frequentou na vida, que inclui a fictícia “construção” de uma delas perto de sua casa na cidade.

O grande ensinamento do documentário está na coragem de Agn
ès Varda dar vazão às suas ideias. Isso impressiona muito, porque, de uma maneira ou de outra, com muito, pouco ou nenhum apoio, os seus projetos foram sendo realizados, o que inclui desde uma primeira realização cinematográfica praticamente sem experiência a este documentário, que constitui uma autêntica aula de como transformar intuições em criações que possam ser compartilhadas com todos.

*Jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Expiam-se, mas não aprendem

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Na vida, os erros e a ignorância expiam-se como se fossem crimes.” (Armando Palacio Valdés)

Claro que eles se expiam, mas quem paga o pato são os que os aceitaram. Acho que é precisamente por isso que devemos ser mais cuidadosos com os erros, eliminando a ignorância. O que indica que deixemos que erros e ignorância se expiem enquanto nós continuarmos na batalha infindável para eliminar a ignorância. Porque, quer saber de uma coisa? Enquanto formos seres humanos, aqui na Terra, nessa caminhada eterna na busca da imunização racional, seremos vítimas, tanto da ignorância quanto dos erros. Então vamos deixar que os dois martirizantes continuem se debatendo enquanto nós fazemos nossa parte.

E o segredo está em não darmos trela tanto para os erros quando para a ignorância. E o mais racional é cuidarmos na eliminação da ignorância. Mas tome cuidado. A tarefa não é fácil. Enquanto formos apenas animais de origem racional, seremos animais. E isso não nos torna inferiores, claro. Apenas nos mostra que ainda temos muito a fazer para que eliminemos os dois monstros que, mesmo se auto-amofinando, ainda vão nos torturar por eternidades. Mas vamos maneirar o assunto. Vamos cuidar do nosso desenvolvimento humano. E todo o poder de que necessitamos para desenvolver nossa mente, está em nós mesmos. “O reino de Deus está dentro de nós.” Cabe a cada um de nós acreditar nisso e fazer com que isso nos seja benéfico. E o benefício só virá quando acreditarmos em nós mesmo. No valor que temos na responsabilidade de fazer pelo desenvolvimento da humanidade, o que devemos fazer melhor. E o mais racional é que cada um de nós faça o melhor que puder fazer no que faz. Porque a perfeição não é uma insignificância. Temos muito caminho a percorrer para alcançarmos um nível em que os erros e a ignorância não nos atinjam.

A cada dia em todos os dias, estamos nos deparando com caminhadas aparentemente invencíveis. Mas a invencibilidade depende única e exclusivamente da nossa capacidade de pensar. Todo nosso poder está no nosso consciente, transmitido pelos nossos pensamentos. O que ratifica que só dizemos e fazemos o pensamos. O que significa que devemos aprimorar nossos pensamentos. A maior força que temos em nossa mente é o nosso subconsciente. E enquanto não prestarmos atenção ao valor e poder que ele tem, não teremos poder sobre nós mesmos. Nunca perca seu tempo com pensamentos negativos. Porque é nos seus pensamentos, positivos ou negativos, que você transmite ao seu subconsciente o que você realmente quer. E é exatamente o que ele vai providenciar pra você. Pense nisso.

*Articulista

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