Opinião

Opiniao 15 08 2019 8754

O caminho de volta – Flamarion Portela*

A internet está cheia de conteúdos que, muitas vezes, nos levam a refletir sobre a forma como vivemos e o que realmente seria o ideal para vivermos.

Por esses dias, me deparei com um texto da jornalista e publicitária pernambucana Teta Barbosa, que fala exatamente sobre os caminhos que percorremos na vida, da correria do dia a dia, que não nos deixa perceber que o tempo passa rápido e quando nos damos conta já estamos fazendo o caminho de volta.

Reproduzo aqui um trecho do texto para que o amigo leitor, assim como eu, possa refletir sobre que tipo de vida está levando e se isso vale realmente a pena. 

“Já estou voltando. Só tenho 50 anos e já estou fazendo o caminho de volta. Até o ano passado eu ainda estava indo… Indo morar no apartamento mais alto, do prédio mais alto, do bairro mais nobre. Indo comprar o carro do ano, a bolsa de marca, a roupa da moda. Claro que para isso, durante o caminho de ida, eu fazia hora extra, fazia serão, fazia dos fins de semana eternas segundas-feiras. Até que um dia, meu filho quase chamou a babá de mãe!

Mas, com quase cinquenta, eu estava chegando lá. Onde mesmo? No que ninguém conseguiu responder. Eu imaginei que quando chegasse lá, ia ter uma placa com a palavra fim. 

Antes dela, avistei a placa de retorno e, nela mesma, dei meia volta. Comprei uma casa no campo (maneira chique de falar, mas ela é no meio do mato mesmo). É longe que só a gota serena! Longe do prédio mais alto, do bairro mais chique, do carro mais novo, da hora extra, da babá quase mãe. 

Agora tenho menos dinheiro e mais filho. Menos marca e mais tempo. E não é que meus pais (que quando eu morava no bairro nobre me visitaram quatro vezes em quatro anos), agora vêm pra cá todo fim de semana? E meu filho anda de bicicleta, eu rego as plantas e meu marido descobriu que gosta de cozinhar (principalmente quando os ingredientes vêm da horta que ele mesmo plantou). 

Por aqui, quando chove, a Internet não chega. Fico torcendo que chova, porque é quando meu filho, espontaneamente (por falta do que fazer mesmo), abre um livro e, pasmem, lê. E no que alguém diz: “a internet voltou!”, já é tarde demais, porque o livro já está melhor que o Facebook, o Instagram e o Snapchat juntos (…)”.

É preciso que valorizemos as coisas simples que a vida nos proporciona, valorizemos mais nossa família, nossos amigos, tudo que realmente faz sentido em nossa vida.

O mundo está cada vez mais nos forçando a ter uma vida bitolada, com hora pra tudo, com regras pra tudo, consumindo enlatados… Precisamos acordar e enxergar que podemos ser e ter muito mais que isso, antes que estejamos fadados a não fazer o caminho de volta.

*Ex-governador de Roraima

DENARIUM: GOVERNO QUE SE CALA, FALHA! – Luis Cláudio de Jesus Silva*

Outro dia, numa conversa em mesa de bar, a política local tomou conta do debate. Ouvindo atentamente os argumentos da maioria, quase unanime, o foco eram as críticas à atual situação do Estado de Roraima e, naturalmente à capacidade de governança do governo/governador. Algumas expressões: esse cara não tem a mínima condição; ele deixou os amigos empresários mandarem no governo; ele é fraco e não tem gestão; ele pensa que é a empresa dele; até agora ele não mostrou nada, é um incapaz… e por aí foi se desenrolando o falatório. Num dado momento, até para ‘jogar gasolina na fogueira’, eu pedi a palavra e, para surpresa da maioria, afirmei minha discordância com alguns argumentos apresentados. Mesmo não tendo votado nesse governo, eu acredito que está no caminho certo e que vai dar certo, pelo menos vai ser melhor que o último, o insuperavelmente desastroso governo de Suely Campos. Por um minuto consegui a atenção de todos, que mesmo contrariados, me deixaram continuar.

Na minha percepção, tanto esse como qualquer outro governo, tem falhas, o que é natural da atuação humana. No entanto, não se pode esquecer que nos últimos meses de 2018, nem os salários dos funcionários o governo conseguia pagar, vivíamos o caos da crise financeira, que ainda não se findou, o que culminou na inédita decisão da intervenção federal. Quem aqui vive e acompanha atentamente as várias nuances da crise que se abateu sobre o estado, deve ter percebido que os problemas estão em todos os cantos: a saúde e a educação continuam na penúria eterna, muito por conta da corrupção – que, muitas vezes conta com a complacência do governo; o Sistema Penitenciário, ainda sob intervenção federal, tem mitigado o descontrole estatal; a máquina administrativa é pesada, ineficiente e cara, com estrutura física e de pessoal que precisa ser urgentemente revista e esse governo, até agora, não apresentou a tal reforma administrativa; e por aí vai… devo reconhecer que na secretaria de agricultura as coisas estão funcionando mais pela liderança da gestão e pela competência e esforço dos servidores, o mesmo posso dizer dos bons projetos da secretaria de administração. Infelizmente, as boas notícias são limitadas, assim como os bons projetos que não aparecem e não avançam. 

O PRINCIPAL PROBLEMA DESSE GOVERNO É A FALTA DE COMUNICAÇÃO. Nos momentos de crise, onde se exige sacrifícios da sociedade, é preciso que o gestor se apresente, que mostre capacidade de liderança, que aponte o horizonte onde pretende nos levar, que justifique seus atos mostrando que resultados devemos esperar e quando. O que temos é um governador mudo, aparentemente apático e perdido, levando a crença de que é um governo sem rumo, sem norte, sem projeto de futuro. A última notícia boa foi o recorde de arrecadação dos impostos estaduais – novamente, mais pelo esforço e competência dos servidores da SEFAZ do que pelo crescimento da economia – e o governo some e nada fala sobre que destinação dará a esse reforço no caixa. Onde será investindo? Que dívidas pagará? Pouco mais de sete meses, é pouco para que se avalie um governo como todo, ainda temos tempo para corrigir as falhas e redirecionar os caminhos. Porém, é preciso inteligência para reconhecer os erros e coragem para corrigi-los. Sou otimista por natureza e formação e continuo acreditando que esse governo vai dar certo. Tem que dar certo. Mas, tem momentos em que esse silêncio faz um barulho estrondoso. 

*Professor universitário, Doutor em Administração.  [email protected]

Presente de ser pai – Vera Sábio*

Certa vez a pessoa ansiosa por receber um presente, ao verificar o pacote colorido com laço grande e formato bem embrulhado, deduziu que ali estaria guardado o presente desejado, aquele lindo presente que merecia ganhar.

Todavia, acontece que nem sempre os embrulhos determinam com precisão o que de fato existe em seu interior. Às vezes embrulham bem bonito, algo bem feio e às vezes algo lindo surge desembrulhado ou com um formato nem sempre agradável, tal como remédio amargo que faz muito bem.

Este pai a que me refiro é meu marido, alguém que em seus 60 anos nem pensava mais em ter realmente um filho que fosse seu, só seu, ou melhor dizendo uma filha só dele.

No entanto aconteceu, uma gestação de três anos na fila da adoção e depois uma primeira e única visita de meia hora, o
pedido de que a menininha pudesse passar uns dias conosco, a aceitação depois de 5 dias e a permanência de uma filha para todo o sempre, amém.

Tivemos uma adoção rápida de uma indiazinha de quatro anos que se tornou nossa filha na maior boa vontade, com o maior amor, como se sempre estivesse ali dentro de nós, sendo nossa e nós dela.

Vá entender os desígnios de Deus, tão rápida esta adoção que nem deu tempo de ser embrulhada para presente. Fez-se presente como era e foi se transformando por amor, de patinha feia a linda princesinha.

Retirou as fraldas aqui, aprendeu as palavras aqui, teve e distribuiu amor aqui. Quatro meses fizeram toda a diferença em sua vida, tendo saúde aqui e crescendo, neste curto período, exatos sete centímetros, para a surpresa geral.

Presente não se escolhe, presente é dádiva de Deus, principalmente quando o presente é uma filha. E aqui estamos simplesmente para agradecer.

Afinal, amamos nossa filha como ela é, e aproveitamos para elogiar e agradecer por cada evolução ocorrida bem mais em quatro meses do que em quatro anos. Bênçãos do amor divino.

* Escritora, palestrante, psicóloga, servidora pública, esposa e com muito orgulho mãe pela segunda vez.

Passando pelo passado – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“O passado somente serve para se evitar cometer os mesmos erros.” (Waldo Vieira)

Mas é gostoso pra dedéu a gente se lembrar de coisas gostosas do passado, mesmo quando elas não têm gosto nenhum. Porque mesmo sem gosto elas fazem a gente se sentir feliz. Porque ser feliz é estar de bem com a vida. E até mesmo as coisas aparentemente desagradáveis podem nos trazer felicidade. A dona Salete começou o dia, hoje, tentando ficar mal humorada. E não sei por que, eu fiz exatamente o contrário. Segurei a barra e acabei cometendo uma besteira. Falei o que não deveria falar numa resposta a uma pergunta dela. Ainda bem que meu bom humor não era fingido. Saí bem. Aí saí, desci a escada do prédio, sorrindo, me lembrando do dia, em que, aí em Boa Vista, ela me fez dar um pulo para traz. 

Naquele dia ela estava um pouco mal humorada e fazendo limpeza na casa. Atividade que sempre a deixou de mal com o humor. Ela estava fazendo limpeza no nosso quarto quando cheguei da rua, entrei em casa e quando ia me aproximando do quarto ela gritou:

– Não venha pra cá, não! Eu estou pegando tudo quanto é porcaria velha e jogando no lixo!

Cara… Eu dei um pulo para traz e saí quase correndo. Saí pelo portão e me mandei para a rua. Sei lá o que ela quis dizer quando disse que estava pegando porcaria velha e jogando no lixo? Eu, hein? Não sei como você lida com o mau humor de seu parceiro conjugal. Mas posso lhe adiantar uma experiência: conte os anos de união. Porque se você já conviveu mais de cinquenta anos sabe o que é sofrer. Mas não analise nem julgue seu sofrimento, mas o da sua parceira. Quando sua mulher lhe gritar para você cair fora que ela está juntando lixo, é bom você cair fora. Mas nunca faça isso com ela. Sempre que fizer uma grosseria com ela, desculpe-se. Não se esqueça de que, mesmo não se prestando atenção a isso, ela ainda é a Amazona de todos os tempos. E só os tolos não percebem, nem respeitam isso.

Nunca dê uma de tolo com sua companheira. Mesmo que ela considere você como um tolo, lembre-se do Jaime Costa: “Não há bobo mais bobo do que o bobo que pensa que eu sou bobo.” Essa frase foi usada na peça teatral, “Compra-se um marido”, a que assisti no Teatro Carlos Gomes, em Natal, no início dos anos cinquenta. Mas, apesar de aparentemente cômica, ela, a frase, é muito sensata. Cuidado com o que fala quando falar com alguém que você ama. Você pode estar correndo o risco de ser grosseiro por conta de uma má interpretação. Vamos brincar, mas com seriedade. Parece contraditório, mas não é. Brincadeira é coisa séria. Os bons humoristas sabem disso. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460