Opinião

Opiniao 16 03 2019 7840

Você já se viu como realmente está?- Flávio Melo Ribeiro*

Já é de muito tempo o conhecimento, por parte dos psicólogos, da importância da técnica do espelho, quando o paciente consegue se ver através de uma cena protagonizada pelos outros. Dessa forma ele consegue avaliar a si mesmo, utilizando a crítica que usualmente faz aos outros. Assim consegue enxergar com tal clareza que fica difícil continuar se enganando. Quando essa técnica é utilizada em relacionamentos amorosos, ela adquire uma importância bastante significativa; visto que, em geral, o casal tem o desejo de continuar o relacionamento por muito tempo e, diante de tal técnica, algumas pessoas não teriam sequer começado o relacionamento se conseguissem prever o futuro. Claro que esse procedimento técnico não é utilizado com intuito de separar o casal, mas sim para apontar o que eles estão construindo no presente e no futuro.

Numa determinada utilização da técnica do espelho eu, como psicólogo, protagonizei o problema relatado por um casal. Ela reclamava que o marido lhe era grosseiro e a pressionava por meio de uma postura severa. Ela, por sua vez, relatava que diante dessas situações utilizava a birra para se defender, chegando a ficar três dias sem falar com ele, e o ignorava o máximo possível para que ele se sentisse mal. Diante dessas informações eu os dramatizei fazendo um pedido de casamento: 

– Você aceita casar comigo? Prometo que serei grosseiro e agressivo quando você não fizer o que eu quero, fazendo você se sentir pressionada a agir como desejo – falou o marido. 

– Sim, aceito. É meu sonho viver todos os dias de casada convivendo com alguém grosseiro e ríspido comigo, fazendo eu me sentir culpada quando não agir como esperado. E você aceita casar comigo? Prometo que serei birrenta, e farei você se sentir mal ao te ignorar por três dias seguidos, sempre que eu não aceitar uma situação imposta por você – respondeu a esposa

– Sim, aceito. É o que mais desejo, ser ignorado e, se possível, humilhado até que a morte nos separe – respondeu o marido.

Então perguntei para eles se aceitariam um pedido de casamento nesses termos, ambos foram honestos em responder que não.

Diante dessa situação foi possível trabalhar o que eles estavam construindo e o que eles esperavam viver nos próximos anos. Mas essas reflexões só têm efeito terapêutico se eles conseguirem se reconhecer diante de um sofrimento e o quanto eles próprios são responsáveis pelo que estão oferecendo ao outro e, consequentemente, a si próprio. Dessa forma, a técnica do espelho se mostra muito eficiente, pois rapidamente se explicita um problema muitas vezes vivido, no entanto, não conversado e, por conseguinte, não resolvido. As técnicas psicológicas têm a função de servir de catalizador, quer dizer, tem o objetivo de apressar o processo de superação dos problemas. Seja ela por meio de uma investigação, explicitação de um problema, ou mesmo para apontar soluções.

*Psicólogo- CRP12/00449

Situações Emocionais – Paulo Eduardo de Barros Fonseca*

Estudos estatísticos mostram que 80% (oitenta por cento) das pessoas sofrem, se martirizam, pensando em questões ou fatos passados; 15% (quinze por cento) com eventos futuros e somente 5% (cinco por cento) vivem com vigor o momento presente. A maioria das pessoas, portanto, fica remoendo o passado ou tentando imaginar o futuro e se esquecem de que somente no hoje é possível operar alguma mudança.

Dessa constatação talvez seja possível afirmar que o homem moderno demonstra que seu ponto fraco é a ansiedade, a inquietude, seu desejo de ter ou ser.

Ocorre que essa situação emocional, além de gerar impaciência, insegurança e insatisfação, acaba por desequilibrar os processos internos e externos da natureza que existem em nós.

A persistência desse quadro, num processo lento que vai se alojando, acaba por desarmonizar a pessoa que passa a apresentar um conjunto de sinais e sintomas que a ciência chama de depressão.

A depressão, para alguns estudiosos, é o mal da vida moderna e afeta pessoas de qualquer idade. É preciso notar que seja no aspecto médico, humanístico ou espiritual, a prevenção está no autoconhecimento, no amor a si mesmo e ao próximo. O tratamento desse mal, em sendo aceito pelo indivíduo, deve associar os três aspectos referidos – médico, humanista e espiritual -, pois que juntos trazem um melhor resultado.

Na área da saúde, a terapêutica para suprir a falta de neurotransmissores no cérebro a ser adotada será prescrita pelo profissional médico e, eventualmente, pelo psicoterapeuta. Nas relações humanas, principalmente a família e os amigos terão papel importante prestando apoio, estímulo e incentivo constante na busca dos recursos para a melhora do doente. No campo espiritual, devem ser investigadas as diversas causas da doença, devendo ser propiciado à pessoa uma recepção fraterna, de modo que a mesma se sinta apoiada e reconfortada, bem como que lhe seja ministrado o passe, descongestionando determinados centros de força do nosso corpo, e a água fluidificada, para ajudá-la na sua recuperação, e o estimular para o estudo que consola e traz esperança.

Há de se cuidar para que não seja acrescentado ao estado de depressão o fator agravante e mantenedor do processo chamado de obsessão, pelo qual há interferência negativa de um ser desencarnado sobre o encarnado. Lembre-se que a ação dos espíritos é secundária, pois que eles nada mais fazem do que aproveitar uma disposição natural, a abertura dada pela pessoa, para exercer sua influência. Em qualquer situação do dia-a-dia é preciso cultivar o bom ânimo, os pensamentos saudáveis, as ações produtivas, acreditando naquilo que estamos realizando, colaborando, dessa forma, para o equilíbrio, reequilíbrio e bem estar do corpo e do espírito, pois energias otimistas e de fé estarão sendo geradas, trazendo

equilíbrio psicológico e espiritual e, como consequência, sensação de paz.

“Orai e Vigiai” porque “o coração alegre é como um bom remédio, mas o espírito abatido seca até os ossos” (Provérbios 17-22)!

*Vice-presidente do Conselho Curador da Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho, mantenedora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.

Mães solo: a imposição e julgamento nosso de cada dia – Tamille Cunha*

Atualmente, grande maioria dos lares brasileiros são providos por mulheres, dos quais muitas são mães solo e/ou avós. Dados do IBGE, apontados pela última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), em 2015 mostram que quase 40% das famílias brasileiras são chefiadas por mulheres. Posto isso deveria haver uma maior compreensão do papel desta mulher, e não destaco apenas a provedora da casa, mas também as demais que todos os dias sentem-se oprimidas por toda uma sociedade, que tem no imaginário a mulher-mãe como um ser santificado, totalmente diferenciado de todas as demais. As mães solo vivenciam todo tipo de julgamento e imposições há anos, até mesmo por outras mulheres. A família, amigos, colegas de trabalho cobram e exaltam destas uma postura e conduta celibatária. Esquecem que além de mães, são mulheres, seres humanos como qualquer outro, que possuem necessid
ades e sentimentos. Algumas por encontrar-se em baixas condições financeiras ou sem apoio familiar acabam praticamente se vendo obrigadas a abrir mão da vida pessoal e social. Essa situação impacta consideravelmente o psicológico dessa mulher, a autoestima fica fragilizada. Há algumas destas mães solo que por causa da pressão social, acabam inconscientemente por se auto sabotar tanto nas áreas afetivas como profissional, pois carregam um tipo de culpa em relação ao tempo que estão divertindo-se, estudando ou trabalhando, pois acreditam que deveriam estar dedicado-o somente aos filhos. Tendem a pensar que por já terem “desperdiçado” parte desse tempo com essas atividades, o que estiver disponível dele, precisa ser obrigatoriamente empregado a cuidar da prole. Não bastam as obrigações que conscientemente a maioria possui com os filhos, também arcam com o ideal de mãe que nossa sociedade exige. O mais triste é pensar que entre nós próprias, mulheres, não haja, na maioria dos casos, empatia, apoio e sororidade, quando não nos enxergamos dentro desse contexto que infelizmente é tão comum em nosso país. Mães solo precisam ter boa saúde emocional, para lidar com os grandes desafios da maternidade, para isso necessitam viver como qualquer pessoa, que deseja viajar, passear, trabalhar, estar com os amigos, estudar, namorar, ou seja, viver.

*Mãe, historiadora e servidora pública

A solução ignorada – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“No Brasil só há um problema nacional: a educação do povo.” (Miguel Couto)

Na verdade, se levarmos em consideração o comportamento do brasileiro, no âmbito nacional, social e cultural, aceitamos o pensamento do Miguel Couto. Ainda não nos achamos no chão da democracia, por exemplo. Ainda, na maioria da população, pensamos que liberdade é o direito de sermos mal educados. E isso no cotidiano. Porque dentro do mundo social e político ainda navegamos em pirogas furadas. Ainda nos orgulhamos por sermos cidadãos, quando saímos de casa, num domingo ensolarado, para votar. E nem imaginamos que estamos indo eleger nossos representantes porque somos obrigados a ir, e não porque queremos ir. Então somos uma democracia alimentada pela obrigatoriedade.    

E o mais periclitante é que continuamos sem educar nossos filhos e netos para a verdade da nossa liberdade ainda na peia. E assim continuamos matutos. Vire o espelho. Agora, olhe-se do outro lado. Deixemos o passado de lado e vamos trabalhar o futuro. Já votamos, obrigados ou não, e vamos cuidar do que fizemos, com o nosso voto. Ainda temos muito que trabalhar para alcançarmos o nível em que já deveríamos estar. Mas vamos em frente. Nada de pessimismo. Apenas procuremos ver onde falhamos, se é que falhamos. Porque se falhamos é porque fomos incompetentes. Então vamos nos corrigir e nos educarmos politicamente, durante o período votado. Nunca iremos corrigir nossos erros pensando e nos preocupando com eles. É com os erros que aprendemos a acertar. Alguém já disse que todo povo tem o governo que merece. E nada mais claro do que isso. Afinal fomos nós que escolhemos os mandatários que continuam se vendo como tais. 

Vamos maneirar. Vamos fazer nossa parte na tarefa de nos tornarmos realmente cidadãos, para que possamos ser respeitados como tais. Vamos nos educar para que mereçamos a liberdade no voto. E nunca a mereceremos enquanto não formos politicamente educados para a cidadania. Ainda estamos caminhando por vias ínvias. E correndo o perigo na tentação de seguirmos exemplos de vizinhos nada exemplares. Mas o mais importante é que somos capazes, para fazer o que devemos fazer como cidadãos, para que tenhamos um País realmente respeitado politicamente. Nada de bico. Os bicudos aguçam os bicos porque não sabem o que fazer. Não entre nesse grupo. Não iremos resolver os problemas, com gritarias nem vandalismo. Mas com uma Educação à altura do nosso País. Não podemos continuar negligenciando com o mais valioso para nosso desenvolvimento, que é a educação do povo. Comente isso com seu amigo político. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460    

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