Opinião

Opiniao 16 08 2019 8761

Polifarmácia: grande desafio médico – Antônio Monteiro*

Com o acelerado processo de envelhecimento populacional, as doenças crônicas degenerativas também vêm sofrendo um rápido crescimento e com elas o uso de diversos medicamentos por um mesmo indivíduo para tratar diversos problemas.

Esse novo desafio da medicina foi designado por POLIFARMÁCIA, para a qual não existe uma definição de consenso, mas que de modo geral é considerada como o uso prolongado ou contínuo de cinco ou mais medicamentos por uma mesma pessoa.

Se conhecer todos os efeitos colaterais de todos os medicamentos existentes no mercado já é uma tarefa praticamente impossível por parte de nós, médicos, imaginem saber se o uso concomitante de cinco ou mais pode causar problemas de interações prejudiciais ao nosso organismo?

Diversos estudos nacionais e internacionais têm alertado os médicos e a população sobre o risco crescente de que o uso de medicamentos múltiplos possa estar tendo um efeito contrário, principalmente em idosos, de agravar, ao invés de melhorar seus problemas de saúde.

A solução para problema é complexa e vai desde o conhecimento preciso de todos os medicamentos que estão sendo usados pelo paciente até programas de computador que possam cruzar os diversos medicamentos em uso e alertar o médico sobre interações perigosas.

Enquanto não temos uma solução mais moderna e eficiente, cabe a nós, cada um dos médicos, alertarmos nossos pacientes sobre o uso indiscriminado de medicamentos, bem como o uso sem prescrição médica dos mesmos, além de orientar de forma muito detalhada e precisa como usar os medicamentos que estão sendo prescritos.

Melhoramos o controle do uso abusivo e sem prescrição de alguns remédios, mas ainda estamos longe de encontrar uma forma mais ampla de resolver o problema. Um exemplo é o uso de anti-inflamatórios não hormonais (AINEs) que continuam sendo vendidos sem qualquer receita nas farmácias e que, como sabemos, o uso prolongado dessas drogas pode levar à insuficiência renal crônica, apenas citando um dos prejuízos ao paciente.

Para lembrar que na medicina moderna a relação médico-paciente é uma via de duas mãos, em que profissional e cliente devem trocar informações na decisão sobre tratamentos e prevenção de riscos, recomendo que os nossos pacientes nos ajudem nessa difícil tarefa adotando algumas práticas simples, mas que podem fazer muita diferença nesse desafio.

Entre essas práticas, destaco: ler cuidadosamente a bula do paciente, que hoje é fornecida para a maioria dos remédios; levar nas consultas médicas o nome e as doses utilizadas de todos medicamentos em uso no momento e as bulas dos remédios prescritos por outros colegas.

Para concluir, nunca é demais lembrar que não existe solução química para todos os nossos problemas e que a saúde depende muito mais do que estamos fazendo de nossas vidas do que de medicamentos.

*Médico preventivista e clínico geral, é formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.  Contato: [email protected]

SOLIDARIEDADE! – Selma Mulinari*

Tenho pensado muito na questão da solidariedade, de como ser solidário, na importância de ser solidário para com o próximo. Essa palavra tem muitos aspectos, designações, definições e um peso enorme. Solidariedade é muito importante se partirmos de um aspecto também importante em se tratando de organização e coesão social. Se pensarmos que a solidariedade é o que torna possível a convivência harmônica dos diferentes grupos sociais, então, vale uma reflexão mais acurada ainda.

Após esses anos convivendo com a avalanche venezuelana que vem passando por aqui, não há um cidadão em Roraima que não tenha uma história para contar sobre essa questão, muitas positivas e outras nem tanto, mas tudo muito normal para quem convive em área de fronteiras. Assim como temos também as nossas histórias para contar de quando íamos muito para a Venezuela, principalmente à Margarita, e convivíamos com a solidariedade dos nossos hermanos.

Penso que desde o início da questão da vinda dos venezuelanos para Roraima, em alguns pontos o Estado foi negligente, principalmente na questão da fronteira. A nossa fronteira parece piada. O controle é ínfimo e no auge do comércio entre Venezuela e Brasil a grande preocupação das instituições que trabalham lá sempre foi a de policiar número de fraldas e material de limpeza que entrava no país.     

Desde sempre a fronteira devia ter tido um controle mais efetivo, com preocupações em relação à documentação, a prevenção nas questões de saúde, nas questões do tráfico. Sempre devemos nos preocupar com quem entra na nossa casa. Precisávamos saber por que está vindo, se está de passagem ou pretendendo ficar por aqui. Esse procedimento é realizado em todas as fronteiras do mundo, somente a nossa é tão bagunçada, largada ao léu. 

A prova de que as coisas não são fáceis para adentrar Brasil afora é o processo de interiorização dos venezuelanos. Nenhum estado da federação está interessado em receber pessoas sem rumo, que não tenham uma direção a dar para sua vida. O perfil escolhido para a interiorização são pessoas com formação acadêmica, com nível superior, pessoas que tenham como comprovar uma profissão, famílias equilibradas e que realmente conseguem seguir seu rumo sem causar grandes problemas.

Nesse turbilhão de pessoas que entram todos os dias no estado, tem as que realmente precisam e querem refazer as suas vidas, precisam apenas ter uma oportunidade. Porém tem também as más intencionadas que estão aproveitando a onda para se safar. Muitos oportunistas, charlatões, criminosos, pessoas somente com a explícita intenção de se dar bem e tirar proveito dessa situação crítica.

Acredito realmente que muitas pessoas precisam de ajuda para recomeçar, estruturar suas famílias e estão realmente aproveitando a chance e refazendo a vida, trabalhando, cuidando de suas famílias. Encontramos espalhados por toda a cidade salões de beleza, restaurantes, barbearias, entre outros estabelecimentos, abertos por venezuelanos, tocados por venezuelanos.

Estamos pagando um preço muito alto. Em meio a esse desequilíbrio estamos ficando com a violência urbana que a cada dia cresce e que nos expõe a conflitos que não vivíamos. Pessoas são abordadas na rua, a qualquer hora do dia e são assaltadas. Não há mais sossego em lugar nenhum. A prostituição vem assolando a cidade à luz do dia. A violência tem se viralizado junto com as doenças e, o sarampo, que era coisa do passado, agora é real; temos que lidar com essa questão novamente. O sistema de saúde, que há muito tempo funcionava precariamente, agora está caótico. 

Como cidadã eu tenho plena consciência que temos que ser solidários e acolher, mas é necessário uma relação de respeito. Estamos criando uma relação de dependência que não sabemos onde vai dar, por não sabermos quanto tempo vai durar esse processo. Ao mesmo tempo em que devemos ter em mente que ser solidário não é ser idiota e nem otário. Devemos deixar claro que esse processo deve ser uma via de mão dupla. Estendemos a mão e a pessoa que está sendo beneficiada deve demonstrar que é mere
cedora, devendo perceber que ela não está sozinha nesse processo e que, assim como precisa de ajuda, outros também precisam.

Não podemos simplesmente organizar abrigos, comida, agasalho, sem nos preocuparmos sobre como vai se proceder a rotina dessas pessoas. Como elas vão ganhar dinheiro, ter emprego, o ócio é o pai de todos os vícios. Nesse passo podemos estar desenvolvendo uma dependência crônica que será muito maléfica para todos, tanto para quem dá quanto para quem recebe, queremos ajudar, mas não queremos criar monstros que não vamos poder conter.

Afinal, não temos recursos nem para atender a nossa pobreza, não temos emprego para os nossos desempregados. Em todos os municípios temos áreas de concentração da pobreza, famílias inteiras que passam necessidades, vivendo em áreas inapropriadas, imaginem em longo prazo como vamos cuidar de todo esse imbróglio. 

*Mestra em História Social; Conselheira do CEERR [email protected]

Soluços silenciosos – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Os soluços longos dos violinos de outono ferem-me o coração com monótono langor.” (Voltaire)

Há dias em que você viaja pelos tempos vividos. E os meus já se estendem pelas estradas que continuam livres e vividas. Você conhece o Fernando Quintella? Um amigo que tenho no coração, e o manterei sempre aqui do lado esquerdo do peito. Lembrei-me dele agora porque senti vontade de viajar no tempo. E a vontade chegou quando olhei para os montes lá no Município de Iguape. Aí senti vontade de falar amorosamente. E foi o Quintella que me pôs o apelido de “Lair Ribeiro do Lavrado, quando comecei a falar de sentimentos. Legal pra dedéu. Um abração, Quintella. E Se encontrar o Plínio Vicente dê-lhe o meu abração quebra-costelas. Você e ele são duas joias que me enriquecem. 

Mas voltemos aos soluços longos. Desde criança que sou ligado ao Voltaire. Sempre usei essa frase maravilhosa dele, quando sinto saudade. E os montes cobertos pela neblina friinha, trouxeram-me saudade. E a dona Salete é mais sentimentalista do que eu. Aliás, eu sou mais saudosista do que sentimentalista. Ela sempre nos surpreende. Estávamos à mesa, tomando o café da manhã, quando ela chegou, sentou-se e colocou o celular sobre a mesa. Quase me surpreendi. Quase, porque nada nela me surpreende. Mas não comentei. Fiquei na minha. Estávamos os três: ela o Alexandre e eu. O Alexandre me olhou como quem dizia: lá vem bomba! Aí ela falou: 

– Hoje é o aniversário da Helena, sabiam não? 

É caro que sabíamos. Só não sabíamos era que iríamos festejar ali, e naquele momento. Mas o Alexandre é o rei da euforia e tomou conta do recado. Filmamos, cantamos parabéns e fizemos a festa a três, numa mesa singela e sem preparo. Mas foi legal pra dedéu. Enviamos as fotos e nos divertimos. 

Alexandre saiu, ainda há pouco, pra visitar sua obra em construção, lá no Balneário Lusitano, e eu vim bater esse papo vazio, com você. A neblinazinha passou e o cenário lá para Iguape está fantástico. E como não podemos sentir saudade de amigos, parentes e aderentes num momento desses? E já que estamos falando de saudade, um abração para todas as grandes amizades que tenho aí em Boa Vista. E não são poucas. O que me faz muito feliz e agradecido por ter vivido num meio tão gratificante. Vamos aproveitar cada dia nos dias que ainda viveremos como amigos, parentes e aderentes. Somos todos iguais nas diferenças. O mundo é um pandeiro sem fundo. Cabe a cada um de nós saber batucar dentro da cadência e do ritmo da felicidade. O que não é difícil quando sabemos amar. O amor é o esteio da vida. Só vivemos quando amamos. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460