Opinião

Opiniao 16 09 2019 8942

Sinal Amarelo

Chegamos à metade de setembro. E fico com a sensação de que mais uma vez os responsáveis não se enxergam responsáveis o suficiente para tratarem de modo adequado da saúde mental e emocional de nossa gente. No ‘Setembro Amarelo’ são comuns sorrisos amarelos, envergonhados de quem não prioriza a atenção psicossocial, a assistência social, a educação plena na luta contra tabus e preconceitos na questão do suicídio.

Falar do assunto, a fita no peito, os balões, a sensibilização é ferramenta fundamental para a mudança comportamental relativa ao assunto. Sensibilizar é atingir uma inclinação das pessoas para uma mudança de atitudes que requer compreensão, apresentando meios que conduzam a uma outra prática, a outro comportamento. 

Mas, e depois disso? Não podemos esquecer que em Boa Vista os recursos para termos um Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil foram devolvidos a Brasília. Faltam psicólogos, terapeutas ocupacionais, educadores físicos no contato direto com a população. Ainda tratamos de depressão e ansiedade como assuntos menores, ou frescura. A insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração tomam conta daqueles que prestam serviços públicos, como enfermeiros, médicos, professores, bombeiros, guardas… É hora de quem tem o poder da caneta e do planejamento botar a mão na consciência, sendo sensível às dores alheias. 

Já passou da hora da promoção da saúde ter uma visão ampliada do conceito de saúde com dimensões sociais na sua construção. Até agora não fomos bem sucedidos em influenciar a implementação de práticas que mudem o sentido do processo saúde doença para os sujeitos envolvidos e quebrarmos com a medicalização social generalizada.

Os espaços de sociabilidade e de participação numa cidade devem ser remédio para nossos males coletivos e assim construirmos juntos as melhores condições para políticas públicas mais eficientes, com novas estratégias de intervenção. O sofrimento psíquico, discriminação, isolamento social, falta de emprego e baixa escolaridade, abuso de álcool e drogas, suicídios, homicídios, autoflagelo e aumento da mortalidade são exemplos daqui e de que há necessidade urgente de ações mais eficazes e eficientes que venham a atender estas demandas, impedindo prejuízos individuais e sociais.

Sem um Serviço Social integralizado, dialogando com Estratégias de Saúde da Família, já na atenção primária com orientação familiar e comunitária, vamos seguir enxugando lágrimas e gelo. A intervenção não é só com o doente em si; é num modelo-sistema de intervenção com atenção especial aos familiares. Em terra de diabetes e hipertensão mórbidas, um sem número de gravidezes de adolescentes, baixa qualidade e baixo acesso ao pré-natal, dificuldades mil para realizar exames e ter acompanhamento correto, as doenças do silêncio não se sobressaem, mas impulsionam estatísticas. 

A articulação entre política, gestão, assistência e controle social na consolidação das ações de promoção da saúde da nossa gente passa por formuladores de políticas capazes de se unir, em vez de uma luta e um ou outro legislador, por leis e orçamentos específicos que promovam saúde emocional, sem depender da vontade única de uma gestão; ampliação de concurso público para estratégias de trabalho combinadas, não em secretarias isoladas; prioridade de campanhas permanentes, eventuais ou temáticas de caráter educativo e preventivo; além da luta incansável por psicólogos na rede municipal de ensino. Os nãos ditos para cada emenda e cada lei têm consequências.

Talvez todo o ruído nesse assunto complexo esteja no crônico não saber ouvir. Somos sociedade de apontar dedos, criticar e mesmo quando se tem uma solução plausível, abafa-se. A difícil arte de aprender a dialogar é passo essencial para romper barreiras. E para salvar uma vida que seja, já vale todo o esforço de recalcular rotas e redefinir nosso destino. O sinal amarelo é para isso mesmo: atenção, que rima com ação.

Linoberg Almeida Professor e vereador de Boa Vista

O ASSÉDIO MORAL ENTRE DOCENTES NAS ESCOLAS DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DE ENSINO DE BOA VISTA, RORAIMA, ANO 2018. – Carlos Alberto da Silva Oliveira*

Ao contrário do que se pode pensar, o assédio moral é um problema universal que atinge milhares de pessoas, em grande número de vezes de forma silenciosa e dissimulada. Acomete ambos os sexos e não costuma obedecer a nenhum nível social, econômico, religioso ou cultural específico. Sua importância é relevante sob dois aspectos: devido ao sofrimento indescritível que imputa às suas vítimas e porque pode impedir um bom desenvolvimento físico e mental da vítima

O assédio moral é uma situação indesejável, agressiva e que acontece no mundo contemporâneo. Segundo Hirigoyen (2009, p.65) ele pode ser entendido como:

“[…] toda e qualquer conduta abusiva manifestando-se sobretudo por comportamentos, palavras, atos gestos, escritos que possam trazer dano à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho.”

A presente investigação teve como objetivo identificar a existência de tal fenômeno entre os docentes nas escolas da rede pública estadual de ensino de Boa Vista, Roraima, no ano 2018.

O assédio moral não é um fenômeno novo, contudo, seu estudo como tal vem sendo efetuado há poucas décadas. Os dados encontrados nesta amostra ratificaram a importância e a necessidade de estudar este tema, especialmente em função da confirmação de que dos 160 professores pesquisados, sendo 92 % do gênero feminino e 8 % do gênero masculino, constatou-se que 65 % deles afirmam que o assédio moral é prática comum nas escolas da rede pública estadual de Boa Vista, e que 47 % dos docentes têm vivenciado sentimentos de humilhação e ou constrangimento por parte dos colegas de trabalho que caracteriza o assédio moral horizontal, que ocorre principalmente devido a fatores como o sentimento de superioridade, a busca de uma promoção, intolerância religiosa, ética, política, discriminação sexual, dentre outros.

O assédio moral constitui “ato predatório” (Hirigoyen, 2002), onde o agressor utiliza instrumentos perversos para dominar a vítima, através de ações que ridicularizam, desvalorizam, humilham, isolam e provocam constrangimentos. É possível que aquela agressão isolada não cause tanta gravidade, porém, as repetições de pequenas agressões, insinuações malévolas, comentários depreciativos causem sérios danos à vítima, em especial por sua frequência.

Entre as possíveis causas para a ocorrência do assédio moral entre docentes podemos destacar: o clima organizacional, a frustração com o trabalho, ambiente onde não existem regras claras, sistemas de recompensa e benefícios não claros, baixo controle do trabalho, possibilidade insuficiente de influenciar a tarefa, falta de objetivos e expectativas claras, o aumento de contratos temporários de trabalho e a precariedade de emprego, o que vivenciamos muito fortemente hoje em dia, entre outros.

Segundo Caran (2007 apud Nascimento 2003), os danos provocados pelo assédio moral, de acordo com as vítimas, são reações psicopatológicas (como
ansiedade, apatia, depressão, insegurança, insônia, etc.), reações psicossomáticas (como hipertensão arterial, dispneia, crise de asma, palpitações cardíacas, taquicardia, perda de cabelo, dores generalizadas no corpo, problemas cardíacos, enxaquecas, disfunções sexuais, etc.) e também reações do comportamento (como isolamento social, o aumento de consumo de drogas como fumo, álcool, remédios ou outras, atitudes agressivas, disfunções alimentares, etc.). “Todas as desordens emocionais descritas alteram crenças e valores que podem levar à morte.” (Caran, 2007, apud Nascimento, 2003.)

O assédio moral é, pois, um fenômeno devastador na vida de um indivíduo, de uma empresa (escola), e de uma sociedade; portanto, diz respeito a todos. Se profissionais e organizações fecharem os olhos diante dessa questão, estarão reforçando um comportamento que fere o direito que todos têm de serem tratados e respeitados como seres humanos. Assim, o assédio moral vai além de uma questão moral, constituindo uma questão econômica e criminal, que deve ser punido exemplarmente (Freitas, Heloani e Barreto, 2008)

Por fim, cabe considerar que devemos estar atentos ao nível da agressão moral nas instituições de ensino, uma vez que essas agressões podem causar problemas às vítimas e pode impedir o melhor aproveitamento e desenvolvimento das habilidades dos professores tanto em sala de aula com seus alunos, bem como no próprio convívio com seus familiares, com outros docentes.

*Tese de Mestrado em Ciências da Educação para a obtenção do título de Mestre em Educação na Universidade Politécnica e Artística do Paraguai – 2019. Orientador : Mag. José Daniel Linares Pastore

Depende de sua atuação – Afonso Rodrigues de Oliveira

“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaio. Por isso cante, chore ,dance, ria e viva a vida intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos.” (Charles Chaplin)

Às vezes assistimos a programas, pela televisão, que nos deixam preocupados. Assuntos discutidos por pessoas que se julgam entendidas e deixam muito a desejar. Estamos no século XXI da era cristã. E ainda nos comportamos como se o mundo tivesse apenas vinte e um séculos de idade. E o assunto em discussão era exatamente como deveria ser o comportamento dos pais em relação aos filhos já adultos. Como, por exemplo, um pai se comporta, emocionalmente, quando um filho adulto decide morar sozinho. Os argumentos apresentados nos mostraram quanto ainda estamos despreparados para preparar nossos filhos para o futuro. O mundo está se desenvolvendo no que já deveria estar desenvolvido e nós não nos desenvolvemos para um mundo desenvolvido.

No início do século passado, Gibran Khalil Gibran no seu livro “O profeta” escreveu essa pérola que nos orienta: “Vossos filhos não são vossos filhos. São filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma. Eles vêm através de vós, e não de vós. E embora vivam convosco, não vos pertencem.” E é calcado nesse pensamento que dizemos que você deve orientar seu filho, mas não dirigi-lo. Se queremos preparar nossos filhos para o futuro deles, devemos orientá-los no dia a dia. E orientar e dirigir são coisas distintas. E no nosso desenvolvimento racional, a passos de tartarugas, ainda não aprendemos a distinguir a diferença entre a orientação e a direção, para a educação dos filhos.

Alguém também já nos disse que: “Se você se preocupa quando sua filha sai, à noite com as amigas dela, é porque você não confia na educação que lhe deu.” Quando educamos nossos filhos os estamos preparando para a vida deles. E se é assim, porque querer continuar dirigindo-os se eles foram preparados? Recentemente, tenho observado comportamentos de pais com seus filhos no parque, aqui em frente ao nosso apartamento. Há diferenças de comportamentos que por serem simples não são observados nem levados em consideração. Ontem, admirei-me com uma senhora que acompanhava seu filhinho que pedalava numa bicicletazinha. Era um garotinho que não devia ter mais de cinco aninhos de idade. Ele pedalava com dificuldade, numa bicicleta sem as duas rodinhas de segurança. Pedalava com bastante dificuldade, mas não demonstrava preocupação. A senhora apenas o observava, mas não procurava ajudá-lo. Em momento nenhum ela deixou de lhe prestar atenção. Exemplo de orientação. Pense nisso.

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