Opinião

Opiniao 17 02 2020 9793

Babado Novo

Falando sério, é bem melhor você parar com essas coisas de acreditar em olhos de promessas. Se bem que, ao pousar uma das aeronaves presidenciais em solo roraimense, renovam-se as esperanças de que ela, como recentemente ocorreu, traga respostas. Não se engane. José, Fernandos, Luiz, Vana, Jair, vice nos veem como território. Essa é a mais pura verdade. A Constituição nos fez Estado-membro da Federação, mas infelizmente seguimos sendo uma autarquia territorial. 

É de pirar cabeça e coração saber que o sumiço articulado de migrantes das esquinas, ruas e avenidas por onde comitiva e imprensa de fora iriam passar é parte de uma estratégia para mostrar que está tudo bem. Tá na cara que não tá tudo bem. Vidas não cabem debaixo do tapete. Nós temos cicatrizes que a vida fez. E quando brincam com elas feito bola de sabão, só nos resta repactuar a relação entre nós e os que nos representam. 

E isso é um alerta em especial para quem desdenha da política e trata todo político como safado, cachorro, sem-vergonha, ou que só dá as caras na eleição. É missão cidadã cobrar de quem decide em Brasília a presença de médicos e equipes multidisciplinares, militares ou civis federais, dando suporte a nossa situação limítrofe. Só quem usa e frequenta HGR, Santo Antônio e UBSs sabe da superlotação, exames que demoram, filas de espera gigantescas, médicos que estão na escala, mas que não aparecem, mães e bebês que morrem no parto, tudo isso na capital da primeira infância. A falta de planejamento e correta execução orçamentária com o essencial à vida é gritante.

E não é que antes do alto fluxo migratório não tivéssemos problemas. Pense na segurança pública. O ministro Moro disse que a sensação de insegurança não está refletida nos indicadores. Quais? Também disse ser preciso adotar medidas compensatórias ao Estado e municípios, que foram impactados com a migração. Mas, quais se nem os 22 “Mais Médicos” nos devolveram? Quais indicadores usam em Brasília para tratar de nossas vidas aqui? Tenho certeza que a combinação crimes patrimoniais, ocorrências letais e atentados à dignidade sexual fazem de Roraima um estado que precisa de mais atenção e ação, menos esconde-esconde.

Quer saber? Tá no jeito de olhar, tá no gosto de querer fazer sua parte nesse nó atado que estamos vivendo. Esse ir e vir engravatado que pouco resolve parece a busca pela paternidade do ‘Novo Canarinho’. A quem de fato cabe o DNA de obras públicas? Se o dinheiro vem da gente, de impostos pagos, e não sai nenhum centavo de político A ou B, por que insistem em disputar a paternidade numa vontade que lembra Ratinho e seus convidados na troca de vídeos por quem fez ou deu mais de si na obra? É nossa e ponto. E ainda bem que o projeto inicial, de 250 milhões de reais, foi vetado, senão hoje seria chorar pelo leitte derramado.

Meu doce desejo é de janeiro a janeiro sermos inteiros um pro outro, política e cidadão. Se tivéssemos olhado para a fronteira de modo adequado, lá atrás, se tivéssemos feito dever de casa e não caído em conversa fiada, não estaríamos com nossa saúde, segurança e migração na dança do caranguejo. Não é pra frente que se anda? Então, como dizia meu pai, tomemos tenência. Se nem o Babado Novo é novo e muito menos de graça (como querem nos fazer acreditar), imagina o resto. 

Linoberg Almeida Professor e Vereador de Boa Vista

PROJECT FINANCE: riscos e oportunidades para os que ousam

Leonardo Costa*

O Project Finance é uma forma de engenharia financeira utilizada em projetos de complexidade elevada, seja pelo tempo e/ou, ainda, pelo custo, que usa como base de sustentação o fluxo de caixa do próprio projeto, cujos ativos futuros desse projeto e os recebíveis ao longo da operação servem como garantia contratual. Em outras palavras, é um instrumento de financiamento de projeto, direcionado pelo contrato, com certeza de fluxo de caixa e clara alocação dos riscos com maior eficiência do que a estrutura do financiamento convencional, oferecendo os ativos do projeto e nenhum outro ativo, para garantir empréstimos ao mesmo.

Então, os patrocinadores fornecem, na maioria dos casos, direitos de regresso limitados aos fluxos de caixa de seus demais ativos que não fazem parte do projeto, ou seja, saímos do esquema tradicional de crédito (corporate financing), com garantias hipotecárias reais, chegando ao limited recourse Project financing, com garantias presumidas pelo fluxo de caixa e com minimização e proteção aos riscos. No Project Finance o risco é o próprio projeto. Logo, essa é a “arte de distribuir riscos em projetos” e requer uma cuidadosa engenharia financeira para alocar as temeridades e os retornos entre as partes envolvidas, de forma que sejam mutuamente aceitáveis.

Em um Project Finance o que determina que o investidor verá lucro nessa operação é certeza de sucesso do projeto, pois é o fluxo de caixa do projeto e seus resultados que devolvem a imissão de forma satisfatória ao investidor, dessa forma, o que mais se deve afastar nesses projetos são os riscos na operação, em geral, na análise de um Project Finance, nunca deve faltar a análise de alguns riscos, sendo: 

RISCO DE CONSTRUÇÃO E IMPLANTAÇÃO: é considerado como a possibilidade da implantação do projeto não ser concluída;

RISCO TECNOLÓGICO: esse risco surge quando a tecnologia utilizada/proposta no projeto não está de acordo com as especificações, ou caso a tecnologia venha a se tornar obsoleta com o tempo;

RISCO DE FORNECIMENTO DE MATÉRIA PRIMA: risco de que matéria prima ou outros fatores de produção venham a ficar indisponíveis durante a vida do projeto;

RISCO ECONÔMICO: engloba a possibilidade da demanda pelo produto ou serviço do projeto não ser suficiente para cobrir os custos operacionais e o serviço da dívida;

RISCO FINANCEIRO: envolve a dívida do projeto exposta a juros flutuantes. Caso as taxas de juros se elevem repentinamente, o projeto pode se desestruturar e o fluxo de caixa não ser mais suficiente para cobrir o serviço da dívida, nem os dividendos dos acionistas;

RISCO CAMBIAL: surge se o fluxo de receita do projeto ou os seus custos forem denominados em mais de uma moeda e qualquer mudança na taxa de câmbio pode prejudicar a disponibilidade do fluxo de caixa em cobrir o serviço da dívida;

RISCO POLÍTICO: envolve a possibilidade das autoridades do país, onde o projeto será instalado, interferir no desenvolvimento ou na viabilidade de médio e longo prazo;

RISCO AMBIENTAL: ocorre quando um projeto é afetado por um problema ambiental causando um atraso no desenvolvimento do projeto ou a necessidade de um novo planejamento;

RISCO DE FORÇA MAIOR: essa categoria diz respeito à ocorrência de algum evento que atrapalhe ou prejudique o projeto no um período durante ou após a total implantação e início da operação do mesmo.

Esse evento ocorre devido a uma força externa, fora do controle.

À medida que os ambientes político, legal e econômico são estabilizados, o custo com a alocação de riscos é ainda mais reduzido entre os participantes, tornando os projetos
atrativos para a iniciativa privada.  Apesar de envolver, sempre, algum risco calculado pelo próprio sucesso do projeto é uma excelente modalidade de financiamento, pois a natureza não recursiva da operação torna possível o isolamento financeiro em relação aos outros projetos dos participantes e protege os bens do financiador da maior parte de imprevistos no empreendimento feito, requer uma excelente análise técnica e de oportunidade e um bom conhecimento sobre partição de riscos e entendê-los muito bem, mas, a coisa boa no mundo dos negócios, é saber que a sorte só favorece ousados. 

*Professor especialista em planejamento estratégico e análise de ambientes e negócios digitais. E-mail: [email protected]

Educar para não punir

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Educação não é uma questão de falar e ouvir, mas um processo ativo e construtivo.” (John D Wey)

Napoleão Bonaparte também disse que: “Devemos construir mais escolas para não termos que construir mais presídios.” Fala de quem sabe falar. E isso foi dito há séculos passados. Imagino se o Napoleão estivesse assistindo ao desastre na nossa educação de hoje. Ele já teria se suicidado. Mas vamos ao assunto que nos interessa. Estou enrolando, porque não gosto de ficar repetindo, mesmo sendo obrigado. Mas lhe prometi que falaria, hoje, sobre aquele operário que nos deu um exemplo notável de como a educação nasce do lar. E do quanto não importa o nível social do lar. O que importa é que a educação saia dele. 

Eu era responsável pelo Controle de Qualidade, na Coldex, em São Paulo, na década de 1960. E minha função era observar o comportamento dos operários, na qualidade do material produzido pela fábrica. Comecei a observar aquele garotão, que estava começando a negligenciar no trabalho. Comecei a me aproximar dele, durante o trabalho. Mas antes de ser necessário tomar providências, percebi que ele estava voltando à ativa. Isto é, voltando à qualidade no trabalho. Continuei cumprimentando-o com respeito e sem observá-lo. Apenas cumprimentando-o. Até que naquele dia, quando eu passava, ele falou: – Seu Afonso… Eu preciso mostrar uma coisa pro senhor.

Aproximei-me e ele tirou do bolso do macacão, uma carta sem envelope, e passou-a pra mim. Era uma carta do seu pai, que a enviara lá do sertão do Ceará. Antes de eu ler a carta mal escrita, o garotão me explicou o porquê da carta. Era que ele, o garotão, estava negligenciando no trabalho, para que a empresa o demitisse, para com a indenização, ele voltar para a família, no sertão. E quando ele comunicou isso ao seu pai, este lhe mandou aquela carta, na qual dizia: “Filho, não faça isso. Não foi essa a educação que lhe dei. Se você estiver querendo voltar pra casa, peça demissão da empresa e venha embora. Se não tiver dinheiro para a passagem, nós o ajudaremos. Mas nunca faça isso na empresa.” 

Dias depois relatei o caso à Gerência Industrial e a empresa começou a facilitar a vida do garotão. A carta era mal escrita, mas era o que menos importava. Ela indicava que a educação é um processo ativo e, sobretudo, construtivo. Podemos educar nossos filhos com moral, na convivência durante a criação, ou depois dela. Procure seguir os bons exemplos que estão à nossa volta, onde nós estamos. Porque aprendemos tanto com os bons quanto com os maus exemplos. Cuide você mesmo, ou mesma, da educação do seu filho. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460