Opinião

Opiniao 17 09 2019 8950

Não dei tchau – Marlene de Andrade*

“O mundo jaz (está) no maligno” (1ª João 5:19)

No final dos anos 1980 comecei a frequentar as reuniões do PT, no RJ, mais precisamente na Convergência Socialista/CS. O PT era um partido bastante segmentado por alas que, na verdade, eram tendências políticas diferentes entre si. Logo de início, comecei a estranhar o discurso deles, visto que uma ala se achava melhor do que a outra e dentro da própria CS os líderes, em nível nacional, não se entendiam.

A ala do Lula era denominada de ala da articulação, palavra bem apropriada, pois o homem sabia articular desde aquela época. O pessoal da CS dizia para nós, idiotas úteis, que Lula comia arroz, feijão com farinha com os trabalhadores do ABC paulista, porém com os empresários comia caviar e tomava uísque de rico e que devido ao fato, não poderíamos votar nele, candidato a Presidente do Brasil e, diga-se de passagem, foi a única coisa boa que aprendi com esses militantes da CS.

Eu era muito mais ignorante, politicamente, do que sou hoje, mas achava aquilo tudo muito estranho, pois como umas alas dentro de um partido se achincalhavam uns com os outros e, principalmente com a ala do Lula, que era o líder do PT?

Os líderes da CS falavam que o Brasil, para tomar o rumo certo, nós da CS teríamos que votar nulo em Lula e pegar em armas para matar todos os burgueses. Eles nos diziam que Lula era pelego, ou seja, bajulador, falso e para quem não sabe, pelego no meio político da CS era uma pessoa que ficava dos dois lados, fazendo média com todos, mas no fundo só querendo mesmo, se dar bem.

Nunca votei no Lula, pois nesse ponto a CS tinha razão, visto que além do homem ser pelego, ou seja, bajulador, ficava sempre em cima do muro. Fiquei nesse partido por volta de um ano e meio, mas cada vez mais estranhando a liderança da CS espalhada por todo Brasil, uma vez que, seus correligionários brigavam entre si como cão e gato.

Durante nossas reuniões eles tinham um discurso tentando nos levar a crer que éramos explorados pelos burgueses e que os matando, teríamos uma sociedade saudável onde todos teriam direitos iguais.

Eu lhes perguntava se queriam que a gente se tornasse comunistas e eles diziam que não, e sim socialistas. Minha cabeça dava um nó, porque eu não sabia fazer a diferença e, até hoje não sei, entre ser socialista e comunista.

Saí daquele antro sem me despedir e me senti muito aliviada, mas qual não foi a minha surpresa em 1992? A CS rachou e virou PSTU, e hoje esse partido luta pelo “Lula Livre”. Que comportamento incongruente! Conclusão: “tudo farinha do mesmo saco”.

*Médica Especialista em Medicina do Trabalho – CRM-339 RQE-431

Memórias de um amor lusitano – Walber Aguiar*              

“Chega um tempo em que não se diz mais meu amor, porque o amor resultou inútil” (Vinicius de Moraes)

Embora Vinicius diga que o amor resultou inútil e que o coração está seco, escrevo lembrando da primeira carta que te escrevi, e que Nádia te entregou. Depois relembrando aquela carta que escreveste de volta, respondendo e externando todos os pensamentos duvidosos, angustiantes e saudosos da nossa relação adolescente. Isso foi em 1983-1984, quando houve o primeiro desencontro, por mim promovido. Grande arrependimento de ter ido para a capital do Amazonas. E eu te amava, e você me amava.

Logo depois nos vimos nos bancos do Hospital Coronel Mota, momento em que tive enorme vontade de fugir contigo, nem que fosse pra algum interior do Estado de Roraima. Infelizmente, o que chamamos de responsabilidade, medusa de longos cabelos que nos empedra e nos torna omissos e acomodados diante da aventura do existir, fez com que nos paralisássemos diante do amanhã incerto, mas feliz. E eu te amava, e você me amava.

Depois de 33 anos sonhei contigo a noite inteira, te busquei e te encontrei nas redes sociais. Antes já havia te encontrado e sabia que você estava em Mossoró – RN. No sonho estávamos namorando nos corredores do magistério. E eu te amava e você me amava.

Assim, depois de um longo tempo nos falamos. Emoções, suspiros e lágrimas. Passagem comprada. Cidade do Porto, Portugal, onde me esperava a criatura mais linda que meus olhos já viram, e viram aos 16 anos, em 1982, ao lado da Escola São José. A moça do Monte Cristo era agora o amor da minha vida, amor à primeira vista, amor ao primeiro olhar. No aeroporto perguntaram-me o que faria em Portugal; eu disse, minha esposa está lá fora, ela faz doutorado em Braga, e estou indo pra lá. A moça disse: que sejam felizes. E eu te amava. E você me amava.

Vivemos uma lua de mel, e você enfeitou o quarto com pétalas de rosa e frutas e flores e velas aromáticas e uvas na boca, e vinho e confissões de amor. Fizemos amor e nos deliciamos com beijos na boca, passeios de mãos dadas e tudo que um casal tinha direito. Ajudei você com seus trabalhos acadêmicos, visitamos a Igreja do Bom Jardim e fiz dezenas de poemas, a fim de conquistar ou reconquistar minha linda portuguesa. E eu te amava. E você me amava.

Viajamos juntos, abraçados, chegamos a Natal, depois Mossoró. Fui apresentado a sua filha, neta, genro, filhos. Depois você mudou drasticamente, mas continuei te amando, mesmo em silêncio. Depois você disse que começaríamos do zero e tudo zerou mesmo.

Sei que a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida. Contra toda a lógica de um amor de extrema raridade, contra toda esperança e assertiva do poetinha de que o amor resultou inútil e de que apenas as mãos tecem o rude trabalho e o coração está seco, sigo na contramão do absurdo amor contemporâneo, onde falta ternura, transparência e aquilo que é tão contrário a si mesmo: o amor…

*Poeta, professor de filosofia, historiador, membro do Conselho de Cultura e membro da Academia Roraimense de Letras.

O jogo das palavras – Vera Sábio*

Muitos falam, poucos escutam, e, pior ainda, muitos somente repetem o que ouviram sem raciocinar e sem saber a veracidade ou o porquê do que foi dito.

Palavras ao vento, nunca retorna sem alguma transformação e o jogo das palavras fazem toda a diferença em qualquer contexto.

Com o texto, ou seja, contexto, é algo que como diz a própria palavra precisa de um texto para ser completo, todavia, não basta apenas um texto perdido em muitas palavras, para que seja justificado o que na verdade não foi dito, ou não teve a intenção do que o texto mal colocado foi direcionado para a justificativa do que queria que fosse dito, mesmo se não tenha sido.

Quando digo obrigada, manifesto uma gratidão por algo recebido, porém, a palavra obrigada vem de obrigação, ou seja, não é propriamente uma manifestação gratuita de um desejo adquirido e, sendo assim, um gesto de gratidão. Isso tudo se a palavra for interpretada ao pé da letra, o que não é devido a nossa cultura em sempre dizer obrigado e ser interpretado como gratidão.

Vou tomar uma cerveja é outro exemplo da colocação errada, a menos que eu pegue esta cerveja erradamente de alguém que não quis que eu assim fizesse, o mesmo que furtá-la. Ou somente tomá-la, talvez até à força. Porém, muitos falam tomar ao invés de beber e a interpretação não é feita, pois não está no propósito de quem escuta.

Atualmente temos muito disso, ouvir o que queremos ouvir, mesmo se o que o que queremos ouvir não seja o que realmente foi dito.

Outro exemplo muito constante são pessoas contrárias ao governo. Querer que o governo dê errado, sem entender que se ele der certo, independente de quem votou ou não, todos seremos atingidos. Da mesma forma acontece se ele der errado.

Enfim, exemplos não faltam, nem nas palavras contidas na Bíblia, nas leis e em todo lugar. O que precisamos é ter pensamentos positivos e transformar nossas ações em boas ações, sendo isso bem mais válido do que muitas palavras.

*Escritora, servidora pública, psicologa, mãe, esposa, e cega com grande visão interna.

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Desburocratizar – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Há uma só máquina gigantesca operada por pigmeus: é a burocracia.” (Shopenhauer)

Nem todos sabem, mas já tivemos um ministério da desburocratização. E, claro, não deu certo. Nem daria se tentássemos novamente. Politicamente somos pigmeus. O que nos reflete aos anos em que éramos considerados o país dos macacos. Sempre ficamos detrás da porta, esperando que os outros países fizessem, para que o imitássemos. Conseguimos. A burocracia continua dominando o mundo. É como se fosse uma venda nos olhos dos que deveriam ver. Já observou que a imagem da justiça tem os olhos vendados? E como tem políticos, Brasil afora, batendo palmas para a venda nos olhos da justiça. O Ministro Joaquim Barbosa já disse: “Somos o único caso de democracia onde os condenados por corrupção legislam contra os juízes que os condenaram.”

Mas não vamos fugir do assunto. O que realmente nos preocupa, hoje, é a burocracia. Há duas semanas venho correndo, na tentativa de receber a fortuna que tenho pra receber do FGTS. Se eu for tão grosseiro, a ponto de roubar seu tempo explicando a correria, você vai parar de ler. Fui à Caixa e esta me mandou para o INSS. Eles me mandaram para o 135. Este me mandou de volta à Caixa, e esta me mandou de volta ao INSS. Parei e fiquei analisando se a importância a receber daria para pagar os táxis. Até que dá. Aí resolvi continuar na correria. Nos mesmos trajetos anteriores, resolveram me mandar para Boa Vista, que é onde tenho os dados que a Caixa exige.

Tudo bem. Descansei um poço. Vamos continuar. Acabei pedindo ajuda ao Alexandre. Ele é muito mais ligado ao vai e vem da burocracia. Finalmente, no 135 me garantiram que dentro de uma semana eles me enviarão uma cópia do documento. E pra não me precipitar, resolvi não ir fundo, até que o documento chegue. E espero que ele chegue antes que o trocado se evapore e eu fique sem o dinheiro dos táxis.

O Alexandre está construindo sua casa no Balneário Lusitano, bem em frente ao mar. Mas está com um problema, causado pela burocracia. A área da residência dele é de dois terrenos. Mas ele tem que limitar a construção a um só terreno, porque se ocupar o outro, isso passa a ser invasão, ao terreno dele. E mesmo com a relação amigável entre ele e a Prefeitura da Ilha, ele teria que demorar um pouco mais com a construção até que a ocupação dos dois terrenos se normalize judicialmente. E olha que ele não deve nada a ninguém. Então, viva à burocracia. Sem ela eu não teria esse assunto pra chatear você. E eu adoro chatear meus amigos, burocraticamente. Não fosse assim e eu não seria brasileiro legítimo. Pense nisso.

*Articulista

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