Opinião

Opiniao 18 02 2020 9801

Hanseníase tem cura

Marlene de Andrade*

A hanseníase é uma doença muito antiga e era conhecida como lepra. Trata-se de uma infecção contagiosa muito grave e sua evolução é crônica. A manifestação clínica se dá principalmente por lesões cutâneas, a qual cursa com diminuição da sensibilidade térmica, dolorosa e tátil. O agente causador é o Mycobacterium leprae, o qual acomete células cutâneas e nervosas periféricas.

Quem descobriu essa doença em 1873 foi dr. Gerhard Armauer Hansen, médico norueguês muito estudioso e profundo pesquisador desse assunto. Trocaram o nome de lepra para hanseníase em homenagem a esse seu descobridor e porque lepra passou a ser uma doença que estigmatizava.

Como o M. leprae ataca não só a pele, mas também o sistema nervoso, ela se torna uma doença muito grave, pois acaba lesando terminações nervosas levando o paciente a ter uma perda importante da sensibilidade. Não fosse só isso, ocorrem ainda atrofias, paralisias musculares e paresias, que é a interrupção dos movimentos dos membros. Essa doença, não tratada, pode incapacitar a pessoa de forma permanente.

Por causa da hanseníase na Europa, no século XIII, tinha quase 20 MIL leprosários, ou lazaretos. Porém, no século XVII foi ocorrendo uma desativação gradual desses asilos, pois lá essa doença foi acabando. No século XIX esses leprosários já quase deixaram de existir naquele continente.

A hanseníase hoje tem cura, porém se o paciente procurar o médico já apresentando deformidades no seu corpo é bem provável que as deformações não regridam. A transmissão se dá por meio de uma pessoa doente que apresenta a forma infectante da doença e que, estando sem tratamento, elimina o bacilo por meio das vias respiratórias, ou seja, através de secreções nasais, tosses, espirros. 

A vida de uma pessoa com hanseníase era muito triste, pois ela era chamada pejorativamente de leprosa e obrigada pelo estado, ficar isolada da sociedade. Além dos agravantes peculiares dessa doença, já pensou, caro leitor, a repercussão psicológica ocasionada pelas sequelas físicas desse terrível mal? Claro que a autoestima da pessoa ia lá para baixo. Outro agravante era a segregação que eles sofriam. Interessante que na Europa a hanseníase tende ser erradicada de vez, mas no Brasil esses números são muito altos. Há quem afirme que só perdemos para a Índia.

Que país é esse? Temos tudo para sermos um país de 1º mundo e, no entanto, estamos fazendo história como sendo um dos países mais corruptos do planeta Terra, onde inúmeras doenças infectocontagiosas acometem a população em grande escala. É uma verdadeira barbárie o que também está acontecendo com a zika.

Meu povo é destruído por falta de conhecimento. (Oseias 4:6).

*Médica Especialista em Medicina do Trabalho/Anamt/AMB/CFM

O anjo das pernas tortas

Walber Aguiar*

‘Quero trazer à memória o que me pode dar esperança’ Lamentações 3:23

De repente lembrei o velho e insubstituível Arão, o anjo das pernas tortas, o homem com cara de moleque, o motorista número um de Josué da Rocha Araújo. Uma lembrança boa, fruto de um surto nostálgico de uma vontade incontrolável de estar lá, na geografia santa de um lugar inesquecível.

“Cadê o porco, Zé?”, era a senha da molecagem, dos pés descalços no barro do velho campinho, da devocionalidade simples e cheia de um desejo de que aqueles dias nunca mais acabassem. De que o culto da fogueira nos reaquecesse a alma, sempre.

Eram dias de banho no igarapé de águas profundas, de afundar panelão no poção das cobras, de procurar a dentadura do Manel, de enfrentar os medos com saltos loucos e intrepidamente desafiadores. Carioca estava lá, cheio de marra e marcas da queda, Agostinho também trazia no rosto as marcas da inocência que só os índios podem ter. Jessé, Júnior e Emerson ainda eram projetos de gente, com seus corpos “sarados”, na expectativa de que os músculos surgissem.

O velho Arão, embora vivesse brincando, armava-se de enorme reverência no momento em que fazíamos fila para nos alimentarmos da palavra de Deus. Sério, sóbrio, circunspecto era o anjo das pernas tortas. Menos quando estava debaixo da “xambeca”, o carro que fez de Josué Araújo um mecânico teimoso e autêntico. Ali Arão era um mestre, um santo sujo de graxa, como no episódio em que tentou ligar um motor a noite inteira, quase sem sucesso. Isso porque contou com a ajuda de seu Hélio e Josué, na escuridão do Maranata.

Sempre lembro o grande e insubstituível Arão, com suas pernas de Garrincha, suas molecagens, seus improvisos, sua vontade de viver. Isso porque, mergulho de madrugada, sozinho, nas águas geladas do igarapé mais encantador e misterioso de que se tem notícia. Isso porque, salto na direção de Deus e da amizade, da fé simples e do desejo de me embrenhar na mata, naqueles dias de amizade e contemplação da verdadeira vida.

Irmão João concordando com tudo, até em vender a igreja presbiteriana e mudar o culto para depois do fantástico, era uma das principais diversões do velho Arão. Depois a gozação com Fernando, o hino a Lameque, a teimosia com Zé “bichin”, a construção das grandes fogueiras na última noite de retiro.

De repente lembrei o anjo das pernas tortas. De uma das pessoas mais lindas em autenticidade que já conheci. Chorei de madrugada, pois acordei do sonho mais fascinante que já tive. O de mergulhar no peito de Deus e sentir a cruviana gostosa da sua bondade, de um prazer que não pensei estar disponível aos mortais… ainda assim, ri com o velho Arão, Moisés, Samuel, Dadá, velho Eugênio e chamei o “Hilário”…

*Advogado

Quem me valoriza?

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Enquanto a cor da pele for mais importante do que o brilho dos olhos, haverá guerra.” (Bob Marley)

Costumo dizer sempre que quando você luta pela igualdade é por que se sente inferior. E não há como contradizer isso. Quando você se aborrece porque alguém o considerou inferior, você está concordando com ele. Porque se você se souber superior mostre seu sentimento no brilho dos seus olhos. Quando nos aborrecemos com um idiota estamos nos igualando a ele. Se ele é um idiota, é inferior a você. Então não tem porque você se preocupar com as idiotices dele. Dê mais atenção à fala do Emerson: “Você é tão rico ou tão pobre quanto o seu vizinho, senão não seria vizinho dele.” E quando você se deixa levar pela idiotice do cara, você está construindo uma vizinhança com ele. Vizinhe-se aos que você os vê no patamar superior. A subida na escada depende de sua capacidade em se valorizar. 

Vamos parar com essas discussões fajutas, na luta pela igualdade social. Afinal de contas, somos todos iguais. E quem discrimina ainda não está no patamar do desenvolvimento humano, embora seja igual aos que estão no patamar superior. O problema é que o de baixo ainda não se educou para ser o que ainda não sabe que é. Nunca se aborreça com a inferioridade dos outros, senão você estará se igualando a eles. E só os inferiores discr
iminam. Então não embarque nessa piroga furada. 

Não é a cor da sua pele nem o formato do seu cabelo que vão dizer quem você é. A responsabilidade é sua, e de mais ninguém. Então mostre quem você é sendo você mesmo ou mesma. Seja superior espelhando-se nos superiores. E não é pequeno o número de exemplos de superioridade nos que nunca se preocuparam com a cor de sua pele. E por isso chegaram ao topo do desenvolvimento humano, e que nos servem de exemplo na imunização racional. Ame-se e você só mostrará amor, em você. E quem se ama não perde tempo com o inferior. Viva sua vida como se você estivesse no palco da vida. E a vida é uma peça de teatro. Então desempenhe seu papel, no qual você mostrará seu valor real.

Nunca se desvalorize aborrecendo-se com os idiotas que consideram você inferior pela cor de sua pele; senão você estará se igualando a ele, lhe dando razão. Vá em frente e faça o que você deve fazer como a coisa deve ser feita. Este é o princípio da valorização. Encerremos esse papo com o Swami Vivecananda: “Não se mede o valor de um homem pela tarefa que ele executa; e sim pela maneira de ele executá-la.” E o homem, aqui no caso, é você, independentemente do seu sexo. Pare de valorizar a inferioridade nos outros e seja superior. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460