Opinião

Opiniao 19 03 2020 9947

Brasil, um país de desigualdades! Flamarion Portela*

Vivemos num país que tem a maior concentração de renda do mundo. Quase 30% da renda do Brasil está nas mãos de apenas 1% dos seus habitantes, sendo considerada a maior concentração do tipo no mundo.

Esse é apenas um dos fatores que contribuem para que o Brasil esteja entre as piores posições de quaisquer comparativos internacionais de desigualdade. Mas o conceito de desigualdade não se restringe apenas à questão econômica. Temos um enorme leque que compreende diversos tipos de desigualdades, desde desigualdade de oportunidade, de resultados, de escolaridade, de renda, de gênero, e por ai vai.

Um exemplo claro dessa desigualdade no Brasil é a enorme fila que existe no INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social). Atualmente, são quase 2 milhões de pessoas esperando para efetivar sua aposentadoria ou benefício. Desse total, cerca de 1,3 milhão espera há mais de 45 dias, que seria o prazo máximo para que o beneficiário fosse atendido pelo INSS.

Some-se a isso o fato de que as regras de aposentadorias e pensões no Brasil são um estímulo à desigualdade, muito embora nossa Previdência seja vista como um instrumento de redistribuição de renda.

Entretanto, mais de dois terços dos beneficiários do INSS recebe o pagamento mínimo, que equivale a um salário mínimo, enquanto poucos privilegiados ainda contam com o benefício máximo, de cerca de 5,5 salários mínimos, acrescidos de outras benesses decorrentes das aposentadorias especiais. Só esse panorama torna o nosso sistema previdenciário irracional e insustentável, com um alto grau de desigualdade.

Para piorar o quadro, somente no início deste mês foi aprovada a Medida Provisória que autoriza a contratação temporária de aposentados, que vai ajudar a reduzir essa fila de pessoas esperando para requerer sua aposentadoria. Porém, esse pessoal ainda vai iniciar um treinamento em abril e só deve começar a trabalhar em maio.

Essa lentidão do Governo Federal em agilizar o pagamento das aposentadorias e benefícios da população não se aplica quando é para cobrar seus tributos devidos ao erário.

O combalido INSS nunca teve nem terá tão cedo a agilidade e tecnologia que tem a Receita Federal para cobrar os tributos da população. 

Prova disso é o fato de que o programa da Receita Federal para declaração do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) está cada vez mais avançado e preciso, evitando qualquer tipo de sonegação por parte dos contribuintes. Sem falar que os prazos são sempre rígidos e, se não forem cumpridos, penalizam quem não declara no tempo e na forma corretos.

No país das desigualdades, o próprio Governo Federal nos prova que trata seu povo de forma desigual: rápido da hora de cobrar, mas lento na hora de dar o retorno em benefícios para a população.

E seguimos sendo um país desigual, infelizmente!   *Ex-governador de Roraima

Nosso coronavírus pegou corona na histeria social

Nosso corona chegou! O mundo está em polvorosa, pessoas estão histéricas, perplexas, em isolamento ou em quarentena sanitária. Cada um escolhe com qual desses grupos se identifica. Tem também aqueles que estão completamente incrédulos e nada preocupados, condição que perdurará até que sejam contaminados e comecem a agonizar com dores, febre, tosse, insuficiência respiratória e outras consequências. Não me perguntem com qual grupo eu me identifico, não costumo sofrer por antecipação e nem fugir do inevitável. Assim como todos, alguma vez na vida, já foram contaminados pelo vírus da influenza, seja qual for sua variação, é certo que todos seremos contaminados pelo novo coronavírus, só temos que tomar as precauções necessárias para que nem todos se contaminem ao mesmo tempo. Se pudéssemos, deveríamos fazer uma escala e organizar a fila. 

Já sabemos que todo esse alvoroço e a propagação do medo teve origem na China e tudo indica que um pequeno mamífero conhecido como Pandolim – uma mistura de tamanduá e tatu, com corpo coberto de escamas, que apesar da esquisita aparência não escapou da quase extinção por conta da exótica culinária asiática – seja o hospedeiro intermediário do novo vírus e tenha inaugurado a pandemia do Covid-19. Pois bem, enquanto a contaminação se alastra pelo mundo, a China anuncia que já domou o seu vírus, conteve a proliferação da doença e já desmontou hospitais e partiu tão avassaladora quanto seu corona para o mercado financeiro onde tem se beneficiado comprando commodities e empresas a preço de banana em fim de feira.

Não obstante todas as consequências da contaminação, a mídia tem feito a cobertura das notícias da disseminação do vírus, como se estivéssemos diante da Terceira Guerra Mundial e que as bombas atômicas já estivessem sido disparadas e nossa civilização fosse eliminada em poucos minutos. Junte a esse cenário o maior acesso as redes sociais e aos vírus das fake news. Está criado o mundo do medo, do pânico, do terror social, da corrida às farmácias e supermercados para estoque de produtos… 

No Brasil, o nosso corona se deparou com um sistema de saúde já doente e com um presidente da república vocacionado a criar crises, e num ato de infantil irresponsabilidade afirmou que se contrair a Covid-19, será problema seu “e ninguém tem nada a ver com isso”. O nosso corona, verde e amarelo tem demonstrado a incapacidade de nossas autoridades de se anteciparem aos problemas, sobrevivemos assistindo a completa ausência de estratégias e planejamentos, nunca somos preventivos mas, sempre, reativos. Foi só nosso corona desembarcar no Brasil que o prenúncio do desastre fez brotar leitos alugados das unidades particulares a preço de ouro e inaugurarem hospitais públicos que, se não fosse o corona, passariamos mais 30 anos contemplando as obras paradas. Só não se inaugura o anexo do Hospital Geral de Roraima, não se reforma e equipa a maternidade Nossa Senhora de Nazaré, não se conclui a CPI da Saúde, a SESAU-RR está entregue a um interino, após defenestrarem quatro secretários nos últimos treze meses. Há muito que o vírus da corrupção mata nossas esperanças.

Diante de todo esse cenário de terra arrasada, me sinto no dever de chamar a atenção para aquelas categorias de servidores públicos que quando todos correm apavorados em uma direção eles correm em sentido oposto, aqueles que não obstante os problemas do sistema de saúde e os riscos de serem contaminados e contaminarem seus familiares, tiveram suas férias e folgas suspensas e estão nos hospitais prontos para receberem os ‘coronados’ em desespero. Nossos profissionais de saúde têm agido como verdadeiros guerreiros para minimizar as consequências da pandemia. Vejo profissionais que estão morando nos hospitais, para evitar que sejam propagadores da contaminação. O enfrentamento a essa batalha, muitas vezes, é feito sem os equipamentos e medicamentos necessários. Se não fossem esses abnegados servidores públicos, podem ter certeza, o caos provocado pela pandemia seria muito maior.

Por fim, quem já viu o mundo passar pelos vírus do ebola, Aids, cólera, Sars, gripes H1N1, espanhola, suína e aviária, peste negra, varíola, febre negra de Lábrea, sabe que estamos diante do vírus menos letal e, neste caso, corremos mais risco de morrer de medo do que de Covid-19.   Luis Cl
áudio de Jesus Silva, professor universitário, Doutor em Administração. [email protected]

Pairando pela vida

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Os soluços longos dos violinos de outono ferem-me o coração com monótono langor.” (Voltaire)

Não há como viajar nos tempos quando você viveu velhos tempos. E mais importante é quando você soube viver cada dia do tempo vivido. Não há como não recordá-los. O barulhinho sussurrante, vindo lá do mar calmo, me jogou na gangorra dos tempos. Afinal, nasci próximo a uma praia e vivi infância e adolescência caminhando pelas areias brancas. Coincidentemente, quando abri minha agenda, ainda há pouco, deparei-me com essa joia do Voltaire, citada aí em cima. Mantenho essa frase em todas as minhas agendas desde minha adolescência. E só quem viveu o período da Segunda Guerra Mundial vai entender meu comportamento em relação à frase. Eu já a tinha anotada no meu caderno escolar quando a guerra terminou. E, à época, fiquei, como adolescente, chocado quando soube que os aliados usavam-na como senha para o ataque à Normandia.

Aquele tempo foi um dos tempos mais importantes na minha vida. Minha ligação com o movimento, mesmo eu sendo apenas um adolescente, foi imensa. Tenho muito história pra contar. E elas são tão estranhas que quando falo delas há os que me chamam de mentiroso. Mas não sou. A verdade é que nem todos os garotos que viveram junto comigo aqueles dias, e ainda vivem, lembram-se deles. É uma história lindíssima. Mas muito longa e não vou roubar seu tempo com ela, hoje. Mas é linda pra dedéu. Os norte-americanos já tinham voltado para os Estados Unidos quando a Base Aérea de Natal criou a Escola de Base. E foi ali que estudei três anos, revivendo toda aquela história fantástica do período mais agitado do Brasil.

Fiquei um tampão aqui, com a agenda aberta e olhando para a escrita. Aí me lembrei de coisas e episódios importantes que vi e vivi naqueles anos. Coisas simples que aprendi e que as uso ainda hoje, aqui nos meus papos com você, diariamente, do dia em que terminou a Segunda Guerra. A comemoração, na minha cidade, foi na noite em que eu estava no cinema assistindo ao filme “Fugitivos do inferno”. Era um filme sobre a guerra. Foi o maior rebu da paróquia, na saída do cinema. Já falei disso pra você. E antes que alguém me chame de mentiroso, deixe-me explicar: à época eu tinha apenas onze anos de idade. Naquela época não era proibido crianças entrarem no cinema à noite, sem acompanhante. Os cinemas mantinham um espaço reservado às crianças. 

Viu como meu dia, hoje, foi todo de lembranças vindas da frase do Voltaire? Vale a pena lembrar momentos felizes do passado. Quase sempre ela, a lembrança, nos torna os dias bons de serem vividos. Pense nisso.

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