Opinião

Opiniao 19 07 2019 8587

O que é desapego e como alcançá-lo – Flávio Melo Ribeiro

Desapego é um sentimento que mexe com a personalidade humana, pois traz elementos de posse aprendidos desde a infância que ajudaram a constituir o seu EU. A primeira relação interpessoal da criança é a dialética do EU e do TU, também considerada uma relação de corredor, porque embora possa se relacionar com várias pessoas, ela só o faz uma por vez. Com o passar do tempo, a criança começa a entender que essas relações podem ocorrer no mesmo momento, então ela passa a viver a estrutura do NÓS. No entanto, o ponto de união é ela, ou seja, o ponto de vista sobre o mundo é sempre o dela, por isso que se diz que o ego está centrado nela. Tendo isso em mente, pode-se dizer que a posse sempre vai ser dela. 

Entretanto, no momento em que se dá conta que as demais pessoas com que se relaciona também podem se relacionar entre si sem sua presença, ela constitui a vivência do ELES e se percebe fora da relação. Essa cisão a faz sentir uma perda e consequentemente surge o sentimento de ciúme. É nessa época que a criança quer se meter entre o pai e a mãe, faz birra quando se vê de lado e passa a exigir que o mundo continue a existir para ela. Surge o egocentrismo. Por isso que o desapego é tão difícil para algumas pessoas, pois de alguma forma elas não conseguiram ultrapassar as perdas e apresentam dificuldade para superar as frustrações. 

Antes de aprofundar o tema é preciso deixar claro que desapego não significa deixar de lutar pelas coisas importantes da vida. Lute com unhas e dentes, se for necessário, pelos projetos que lhe são fundamentais. Mas por que o desapego é importante? Porque para iniciar um novo ciclo de vida é fundamental deixar para trás o que não lhe serve mais. Pare e perceba o quanto você ainda arrasta consigo: coisas, lembranças, sentimentos e pessoas. 

Primeiro é preciso aprender a lidar com a frustração. Frustração é perda, é perceber que o outro existe no mesmo mundo que o seu, que não existe um mundo teu. Entender que no mundo todos existem e buscam seus respectivos projetos e que nesse ambiente dinâmico às vezes se ganha, mas também se perde. Superar as frustrações é identificar os limites e saber ultrapassá-los com ética e estratégias adequadas. Psicologicamente, desapegar é crescer. 

O mundo adulto é de responsabilidades para cumprir os compromissos; de ética para fazer o que é certo; de empatia para se colocar no ponto de vista do outro; de segurança psicológica para construir seus projetos; de serenidade para saber que, apesar de perder uma batalha não significa que a guerra está perdida; e, principalmente, de conhecimento para saber que não se faz um bom omelete sem quebrar os ovos. Desapegue para evoluir.

*Psicólogo; CRP12/00449 E-mail:[email protected], Contato:(48) 9921-8811 (48) 3223-4386

Empreendedores também choram – Rodrigo Mancini

Para alcançar o desejado sucesso nos negócios e ganhar dinheiro, de acordo com a recente “euforia motivacional” das redes sociais, você deve cultivar a positividade, o otimismo e o pensamento de que existimos apenas para o sucesso. A aversão ao fracasso e suas respectivas emoções “negativas” tornou-se pré-requisito para quem deseja empreender e ser bem-sucedido.  

Mas, se você é um empreendedor, mesmo praticando a filosofia da positividade, com certeza já vivenciou algumas experiências não muito boas, como várias “portas na cara” ao tentar apresentar uma proposta; inúmeros e-mails elaborados com todo cuidado e que tiveram respostas extremamente mal educadas (ou nenhuma resposta); projetos que não tiveram êxito; os períodos sem remuneração; os inúmeros conflitos com clientes, colaboradores ou fornecedores; parceiros ou sócios que traíram a sua confiança e por aí vai.

Situações que, inevitavelmente, provocam raiva, tristeza, insegurança, medo e outros sentimentos considerados ruins. E, muito possivelmente, você se questionou: “Mas, por que estes acontecimentos e sentimentos, se eu pratiquei a positividade? O universo não deveria me devolver coisas boas? Onde foi que eu errei?” Bom, que o pensamento positivo e as boas vibrações são importantes, é indiscutível! Mas, “romantismos” à parte, é preciso colocar os “pés no chão”, principalmente quando o assunto é empreendedorismo.

No livro “Fama, fortuna e ambição”, Osho, com o seu radicalismo de sempre, traz um exemplo pertinente. Ele diz que Henry Ford apareceu no lançamento do livro de Napoleon Hill, “Quem pensa enriquece”, olhou para a capa e perguntou para Hill como ele havia chegado até ali.  E Hill respondeu: “ônibus”. Neste momento, Ford devolveu o livro e disse para ele: “Quando você tiver pensado bastante em um belo carro e ele aparecer na sua garagem, traga este livro pra mim”.  E a história não para por aí. Parece que Ford telefonava para Hill, de vez em quando, e dizia que se o carro não havia aparecido, ele deveria tirar o livro do mercado.

Se este encontro realmente aconteceu, eu não sei dizer, mas a provocação do autor faz todo o sentido. Então, você deve ignorar totalmente a filosofia positiva? Claro que não, o importante é não fantasiar e ter plena consciência de que a vida vai bater, e forte! E com a prática da positividade não estaremos imunes aos problemas, não seremos sempre corajosos e não estaremos livres de emoções negativas!

Reconhecer as experiências ruins e suas consequentes emoções é o primeiro passo para uma experiência positiva. Monja Coen, famosa pelos ensinamentos para autoconsciência e melhoria da qualidade de vida, faz reflexões bastante interessantes neste sentido, quando diz que devemos aceitar e observar os sentimentos de medo, ansiedade, raiva e tristeza que existem em nós. Pois, somente assim, conseguiremos transmutá-los. E ainda alerta: “Quando você esconde e finge que eles não existem, é que é problemático! Reconheça que são aspectos da mente humana. É através do lodo, da lama, do lixo que surge o lírio, que surgem as flores, que surgem as árvores. Eles são necessários.”

Em outras palavras, os milhares de problemas e fracassos, acompanhados de suas respectivas emoções negativas que vivenciamos diariamente em nossos negócios, integram o processo para a conquista do sucesso. E ter esta consciência é fundamental para saber lidar com as dificuldades e não criar frustrações e problemas emocionais sérios no futuro. Por isso, se ficar triste e sentir vontade de chorar, chore! E sem vitimizações, utilize as lágrimas para regar o lírio e a positividade para levantar a cabeça e recomeçar.

*Economista, Mestre e Doutor em geografia econômica, empreendedor e empresário.

O bom e o mau – Afonso Rodrigues de Oliveira

“Todos caem, mas apenas os fracos continuam no chão.” (Bob Marley)

Os bons e os maus exemplos podem ser vistos em todo momento, onde quer que estejamos. Recentemente falei do garotinho que brincava num escorregador, ali na praia. De repente ele caiu, na descida, e a mãe dele correu para socorrê-lo. Dali para frente ela não permitiu mais que o garoto descesse sem ser protegido por ela, segurando-o pelo braço. Até aí, todo bem. O que me chamou atenção foi que a queda do garotinho não foi realmente uma queda. Ele apenas tombou e caiu levemente. Só não teve tempo de se erguer porque a
mãe o socorreu. 

Ontem eu estava na esquina da Avenida São Paulo, aqui na Ilha, e duas senhoras esperavam o ônibus para Iguape. Três crianças brincavam na calçada enquanto as mães conversavam. De repente a criancinha menor tropeçou e caiu. A mãe, ainda bem jovem, foi de mansinho até ela, pôs-se de pé e falou delicadamente. 

– Levante-se. 

O garotinho continuou no chão, mas sem apresentar nenhum risco. A mãe continuou calmamente:

– Vai… levante-se. Vamos, levante-se.

A criança sorriu pra ela, levantou-se e saiu correndo ao encontro dos dois parceiros. Um exemplo de comportamento exemplar. Alguém já disse também: “A criança que nunca caiu nunca vai aprender a se levantar.” Socorrer a criança é mais do que uma obrigação, um dever na educação. Mas socorrer quando há necessidade de socorro. Ensinar a criança a se defender é um dever dos pais que educam. O carinho é necessário na criação, mas não deve ser confundido com exageros no cuidado. 

Dois exemplos que mostram o quanto devemos levar a sério o aprendizado na criança. Aquela senhora socorrendo o filhinho no escorregador demonstrou ser uma mãe zelosa. Só não entendeu que aquela pequena queda do seu filho não era mais do que uma lição de vida para ele. Enquanto aquela mãe, no ponto de ônibus, demonstrou ser uma boa mãe e uma excelente educadora. Dois exemplos que devem ser notados e observados para que possamos analisar o nível de comportamento de pais e mães, na educação plena dos filhos. Afinal de contas a educação começa no lar. 

Tenha muito cuidado com a segurança do seu filho. Mas não exagere nos socorros. Ele precisa crescer conhecendo os ricos e as saídas. E só quando aprendemos a encarar os obstáculos, é que amadurecemos para eles. Ainda há pouco assisti a outro excelente exemplo de um pai que ensinava o filhinho a jogar tênis, ali na praça. Fiquei um tempão aqui na varanda observando-os e me deleitando com o comportamento dos dois. Depois lhe falarei sobre isso. Tenha um bom fim de semana. Divirta-se, descanse, e ria. Pense nisso.

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