Opinião

Opiniao 20 03 2020 9956

A constante da vida Paulo Nicholas*

No começo do Século passado, o gênio Albert Einstein estudava o tempo. Será o tempo único, imutável e constante? Ele se perguntava. Afinal, nunca percebemos, mas estamos sempre nos movendo, pois mesmo quando parados no espaço estamos nos movendo em relação ao tempo. Perceba: Se você ficar meia hora onde está, sem se mexer, terá se movido meia hora no tempo. Afinal, nada na vida é constante.

Algum tempo depois ele conseguiu comprovar que nem o tempo é uma coisa constante. Isso mesmo, o tempo é relativo e muda de acordo com a gravidade. E aqui vai uma curiosidade: O tempo passa mais rápido no espaço do que na terra. Literalmente!

Mas se nada na vida é constante, nem o tempo, o que pode ser a constante da vida?

Desde que comecei a perceber o mundo em minha volta aprendi que tudo muda, tudo se transforma e este exemplo está sempre na nossa cara. As plantas crescem, coisas ficam velhas, usadas ou ultrapassadas, governos mudam, pessoas crescem e às vezes amadurecem. Tudo muda o tempo todo. Aprendi a não me apegar a nada, salvo à mudança.

A maioria de nós não gosta de mudar. Se tudo está razoavelmente bem na nossa vida, não há razão para nenhuma mudança, né? Mas e se isso não depende de ti? E se de uma hora para a outra o seu estilo de vida tem que mudar, se você for demitido ou promovido, se você resolve se casar ou divorciar, ter filhos ou adotar, se transferir para outro lugar?

Mudar exige que se saia de uma zona de conforto, é verdade, mas é uma premissa necessária para a nossa sobrevivência e felicidade. Aceitar as mudanças do dia a dia é nada mais do que seguir o rumo da natureza. Isso nos faz amadurecer, ganhar novas aptidões, encontrar novas soluções e encher o coração de novas emoções.

Abrace as mudanças da sua vida, encare cada uma como uma moeda a mais no cofrinho das histórias de vida que tens para contar. Enxerge cada “alteração de rumo” como um capital de vida e alcance a velhice com uma vida rica, plena e cheia de experiências que te preencham a alma para que possa dizer para si mesmo que valeu a pena. Afinal, no final, é isso que importa: Chegar lá na frente e dizer: “Vivi!”

A única constante da vida que eu conheço é a mudança. Encarar a vida desta forma te livrará de sofrimento muitas angústias. Isso, também, vai passar!

*Advogado e escritor @pnicholas

O paradigma da cultura superior nos assombra

Wender de Souza Ciricio*

Uma pergunta recorrente: “É o ser humano produto da cultura na qual está inserido?”. No maior volume da formação de seu jeito de ser, de seu comportamento e de seus hábitos não tem como negar que seja. Cultura é de uma abrangência quase que sem limite, pois envolve tudo que é elaborado e criado pela humanidade, como valores, ideias, conhecimentos científicos, instrumentos de trabalhos, manifestações religiosas e artísticas, formas de se vestir e falar, hábitos alimentares, tipos de construções e outros vários elementos. Fugir de toda essa dimensão e de seus impactos é praticamente impossível. O que pode ocorrer é rejeitar alguns traços culturais, o que, obviamente, não impedirá de se ajustar a outros traços. 

Por ser a cultura construída e compartilhada pelos membros de uma determinada coletividade, homens e mulheres com a mesma idade e mesmo tendo sentimentos, racionalidade e vontade serão sempre moldados conforme o lugar onde vivem. Se um brasileiro criado dentro de toda estrutura brasileira estivesse no Paquistão, consequentemente não agiria como brasileiro, pois a influência recebida seria de uma cultura oposta e diferente. 

A cultura se manifesta através de vários sistemas como normas, valores e ideologias sendo isso determinante na forma de pensar e agir do ser humano.  Por isso, como disse o antropólogo Franz Boas, não existe cultura superior e nem cultura inferior, existe cultura peculiar. 

O ocidente europeu, com discursos religiosos do período colonialista que justificava a escravidão africana com a doutrina positivista de Augusto Comte – que defendia que o melhor estágio da humanidade estava em regiões onde havia chegado o progresso científico e tecnológico, por isso as mais capazes – e o darwinismo social, alimentados pelos europeus no final do século XIX dizendo existir cultura superior sendo eles, os europeus, a bendita cultura superior, contribuindo, portanto, para que dominassem o restante do mundo usando, inclusive, a força através da potência do militarismo e assim explorar mão-de-obra, mercado consumidor e matéria-prima. A isso chamamos de eurocentrismo ou etnocentrismo. 

A influência eurocêntrica atrelada ao poder norte americano impactou o resto do mundo e podemos dizer até nosso estado de Roraima. Uma das evidências claras disso é a forma como tratamos os índios locais. Caboclos, preguiçosos e o motivo do atraso do desenvolvimento de nosso estado. Tema sensível e polêmico. O grande entrave é que com essa postura de nos vermos melhor do que o índio é a quem beneficiamos ou que vantagem vamos ter? Não foi índio denominado preguiçoso alvo de apresamento e escravização quando essa região foi colonizada? Não tiveram suas terras tomadas por fazendeiros desde o século XIX? Não foram os índios quem construíram o forte São Joaquim e aqui estabeleceram a defesa contra invasões estrangeiras? Não foram os índios que garantiram boa parte da mão-de-obra local até a chegada de nordestinos, especialmente no governo de Dilermano Neves Galvão, em 1950? As reservas para seu uso não estão respaldadas pela constituição brasileira, artigo 231? As correntes na BR-174 não foram colocadas pelos militares exatamente por não terem feito o projeto ecologicamente correto para preservação da fauna? É sabido por nós – conforme relata ministério público federal em consonância com estudos e pesquisas de historiadores como, por exemplo, Eduardo Gomes da Silva Filho em seu livro “No Rastro da Tragédia: Projetos Desenvolvimentistas NA Terra Waimiri-atroari” – que na construção da BR-174 quase três mil waimiri-atroari foram mortos por balas e doenças? Enfim, antes de construir um bode expiatório, como reflexo de uma postura etnocêntrica vale a pena ler e pesquisar e com humildade construir conceitos justos e coerentes. Sem ler simplesmente estaremos reproduzindo preconceitos e prepotências. 

*Historiador, psicopedagogo e teólogo [email protected]

Estou certo ou errado?

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Uma condição necessária ao pensar certo é não estarmos demasiado certos de nossas certezas.“ (Paulo Freire)

Ontem, casualmente, assisti a uma reunião, sem convite, de mulheres do Posto de Saúde no Balneário Adriana, aqui, na Ilha Comprida. Foi casual. Mesmo com tempo corrido, não pude resistir à curiosidade. Tentado, assisti à reunião até o final. Comemorava-se o dia internacional da mulher, e como não poderia ser diferente, o assunto era a mulher na sua luta pelo seu posto como um ser independente. Adorei a batalha feminina exposta por pessoas preparadas no assunto. Mas uma coisa continuou me chamando a atenção, sempre que o assunto é a desigualdade social, entre a mulher e o homem. Preconceito que se arrasta há milên
ios e milênios. E continuará se arrastando e prejudicando o crescimento racional do ser humano. 

Está na hora de mudarmos o rumo do barco, para não continuarmos navegando em pirogas. Não podemos criticar o arrufo dos defensores da mulher, mas podemos aconselhar a dirigirmos mais o assunto à igualdade do que ao preconceito. Lutar pela igualdade é ir contra a direção do crescimento. Quando você luta pela igualdade é porque está se sentindo inferior. O que indica que você, mulher, não precisa lutar, basta fazer o que deve; e tem que fazer como deve ser feito. Afinal, somos todos iguais nas diferenças.

Ficar perdendo tempo com a inferioridade dos que discriminam a mulher é se igualar a eles. Você, mulher, é a superioridade em pessoa. Se não existissem as mulheres, os homens não seríamos homens. E para você, mulher, permanecer no degrau superior, só precisa ser superior, sendo o que você é. E só. Só quando sabemos nos respeitar é que somos respeitados. Nunca permita que alguém trate você como algo inferior. Mas vai depender só de você, e não do boboca que a discrimina. Nunca se aborreça com a inferioridade dos que pensam serem superiores a você. Porque se você se aborrecer, vai se igualar. A Cantora Joelma, num programa de televisão, recentemente, disse algo que falo sempre, por aqui: “Eu vivo o dia de hoje e não o de amanhã. Por isso vivo minha vida, hoje, como se fosse o meu último dia.” 

Viva cada minuto de sua vida como se ele fosse o último. É assim que você se aperfeiçoa e mostra a Amazona do século vinte e um que você realmente é. Quando somos não precisamos dizer que somos, basta que sejamos. É com sua presença e suas atitudes, que você mostra quem realmente você é. Nunca se sinta inferior, e você sempre será superior. Mas basta ser. Faça sempre o melhor em você, e você será sempre a melhor, respeitando-se no que você é. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460