Opinião

Opiniao 20 09 2019 8973

O Homem do Saco – Rodrigo Alves de Carvalho*

– Fica aí na rua que o Homem do Saco vai te pegar!

Era assim que minha mãe fazia um certo terrorismo para que eu entrasse logo em casa para tomar banho e jantar.

Nunca tive medo do Homem do Saco, e sim muita curiosidade em saber como ele era, como é que as crianças ficavam dentro do saco, onde ele as levava. O Homem do Saco poderia nos submeter a cruéis castigos insanos, como, por exemplo, nos forçar a comer quiabo, ou então algo mais tenebroso nos cozinhando num caldeirão fervendo como faziam as bruxas.

Para as outras crianças, o medo do Homem do Saco imperava naquele mundo infantil cheio de mistérios e fantasias. E o melhor a fazer era obedecer aos pais, não teimar em ficar brincando por muito tempo na rua depois que éramos chamados, até porque se o Homem do Saco não aparecesse, com certeza o chinelo da mãe apareceria.

Certa tarde eu estava brincando sozinho na calçada, aproveitando a água que descia junto ao meio fio, construía uma represa com paus e tijolos velhos. Quando olhei para baixo, subia um homem alto, com chapéu engraçado, andar lento, que não tirava os olhos de mim. Meu desespero começou quando observei que segurava um saco enorme nas costas que sacolejava para lá e para cá.

Em pânico, minhas perninhas tremiam e com muita dificuldade consegui ficar em pé. O Homem do Saco se aproximou, sempre me olhando sem parar, consegui dar uns passos para trás e fiquei próximo ao portão de casa. Porém, mesmo com as pernas bambas, não queria gritar chamando minha mãe, pelo contrário, havia curiosidade em saber o que ele faria e como eu iria caber naquele saco que devia estar repleto de crianças.

– Sua mãe está aí?

Ao perguntar isso, tive certeza que minha hora havia chegado, mas decidi juntar forças e lutar, principalmente porque um instinto heroico tomou conta de mim e iria acabar com aquela história de Homem do Saco. Então xinguei da maneira mais vil e ofensiva já existente para uma criança:

– Bobão! Feio! Cara de mamão! Boboooo!

Minha mãe ao ouvir tais ofensas saiu de casa e se deparou com o filho se preparando para o fatal pontapé na canela do tenebroso vilão que carregava um saco nas costas…

À tarde, quando meu pai chegou, vieram conversar comigo e explicar que não podia xingar as pessoas simplesmente por estarem carregando um saco nas costas e que o Homem do Saco não existia de verdade.

E minha mãe não ficou chateada por eu ter me assustado com o Homem do Saco e sim porque teve que pedir desculpas ao humilde pedinte que só queria um copo d’água.

*Nascido em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.

O APELO A HUMILDADE – Wender de Souza Ciricio*

Poucas civilizações na história foram tão imponentes e gigantes como a Grécia antiga. O legado é tão extraordinário que não há um povo sequer que exclua essa civilização como referência e como modelo de conhecimento. De uma forma ou outra, seja em pequenas doses ou em doses cavalares, todos beliscam da Grécia e de lá extraem algo de sua enorme academia da intelectualidade. Quando o mundo, por exemplo, debate sobre origem do universo recorre a Tales de Mileto, quando discute ética e política lembram dos sofistas, de Platão, Aristóteles e os demais. Enquanto parte da fama do Brasil se restringe ao carnaval, morenas sensuais, o preguiçoso zé carioca, a corrupção e à violência a Grécia antiga leva o mundo à caverna do conhecimento. O mundo, sem essa herança grega seria muito pobre de pensamento.

É nesse ambiente histórico que aparece um sujeito impertinente e audacioso chamado Sócrates, sem dúvida, dentre todos os filósofos grego, o mais fenomenal, instigante e profundo em sua forma de pensar, debater e desafiar. Foi ele que usou dois métodos que aplicados levavam os demais a uma percepção de que nada sabiam e de que tinham muito a percorrer em suas estruturas intelectuais e cognitivas. 

Sócrates usava a “ironia” como forma de perguntar e perguntar várias vezes até o momento em que o sujeito emparedado percebia que não tinha conteúdo, que era raso e pobre em conhecimento. Em seguida o filósofo apontava a “maiêutica” em que o ser, agora destituído de sua prepotência, “dá a luz” ao conhecimento. Em linhas reais, o homem abordado pelo filósofo, ao perceber que não tinha o conhecimento suficiente, descia ao subsolo da vida para depois percorrer a estrada do conhecimento. Esse método socrático é o apelo à humildade.

Humildade é a capacidade de reconhecer que tudo começa lá de baixo, que a vida exige uma espécie de que sempre temos a aprender, de que não nascemos prontos e que o que temos não dá o direito de pisar ou machucar pessoas. Nesse campo não é aceitável, em hipótese alguma, usar bens, diplomas, títulos, dinheiro e qualquer outro elemento para levitar, andar de nariz empinado e se achar invulnerável. Pessoas ricas já ficaram pobres, intelectuais morreram de câncer cerebral e homens fortes já ficaram doentes e raquíticos.

Tem muitas pessoas desafiando a humildade. Algumas mulheres vão para academias, fazem lipoaspiração, usam silicone não somente com o objetivo de se cuidar, mas de esnobar, pisar e rir das outras que não estão no mesmo patamar. Rapazes nas academias não sabem se malham e se ficam diante dos espelhos com seus corpos talhados se achando os magnatas da beleza. No facebook o que se percebe é um “tsunami” de pseudosintelectuais debatendo ideias sem jamais ter lido duas páginas de algum livro. Cantam de galo falando coisas ocas e evasivas. O vizinho compra um carrão, e mesmo sem ter pago a quinta prestação passa por vizinhos no ponto de ônibus sem oferecer carona e olhar quem ali está. Se antes os quintais eram separados por cercas e se trocava xícara de açúcar por outra de café, agora sobram muros altos, cerca elétrica, um pitbull do outro lado e um poço de indiferença sendo cada um na sua. A sociedade tem sido muito arrogante, vaidosa e petulante. 

Se com Sócrates muitos descobriram que “só sei que nada sei” o ser humano de hoje precisa entender que “que nada é”. Um texto na Bíblia diz que Deus resiste aos soberbos, mas se agrada do humilde. Na humildade se busca Deus e a seus pés se ajoelha. Isso é verdade e uma verdade que não faz bem somente para Deus, mas para todos que vivem próximos de seres humildes. Quando alguém abraça esse sublime valor quem está próximo ganha, e ganha muito, pois vai ter ao lado alguém que cumprimenta, que abraça e que chama as pessoas pelo nome. No ambiente da humildade não se faz necessário leis contra o racismo, porque o humilde respeita o negro, a diversidade e não destila veneno sobre o pobre. O humilde ajuda empurrar o carro do estranho quebrado na avenida movimentada, reconhece a dificuldade alheia e faz alguma coisa. O “caboclo” diante de gente humilde não precisa ficar escondido no cantinho da vida e com vergonha de sorrir e ser original. Para pessoas humildes, o nordestino e tão respeitável quanto o gaúcho e o paulista. A humildade coloca todos
no mesmo patamar e faz reconhecer que todos são iguais, ninguém melhor e ninguém pior.

*Psicopedagogo, teólogo e historiador [email protected]

Vamos entender – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Perdoe, seja grande para os aborrecimentos, pobre para a raiva, forte para vencer o medo e feliz para permitir a presença de momentos infelizes.” (Aristóteles Onassis)

Estamos vencendo mais uma batalha de uma semana de labuta. E os felizes estão felizes por terem chegado à linha de chegada. E só chegaram os que não se deixaram abater nem se amedrontar com os trancos enfrentados. Afinal de contas, estamos num palco onde só vencem os grandes. E se as coisas não estão dando certo pra você, veja onde você está errando. Porque é você o timoneiro de sua vida. E por isso não permita que ninguém faça por você o que você mesmo, ou mesma, deve fazer, e fazer bem feito. 

Respire fundo quando algo estiver tentando cruzar seu caminho. Nunca se aborreça. É seu bom humor que vai fazer você se sentir feliz. Não há felicidade no mau humor. Então o evite. Não devemos imitar os vencedores, mas segui-los pelas veredas em que eles caminharam, pisando sempre sobre as pegadas deles, na travessia do campo minado pela derrota. Espelhe-se no espelho da vitória. Nada de ficar se espelhando nas derrotas dos fracassados. Eles fracassam porque não são capazes para vencer. E se é assim, porque segui-los? Mire-se sempre no seu espelho interior. Porque é nele que você se vê no que você é, e como é. E se a imagem for negativa, não culpe alguém pela pintura. Lembre-se de que a escultura que você é nada mais é do que obra da sua capacidade em esculpir o que você quer ser. Todo o poder está em você. Mas não se iluda com a fantasia do poder. Porque ele está em você para o seu engrandecimento. É a matéria-prima de que você necessita para vencer. E só vence quem é feliz. E só é feliz quem vence. Simples pra dedéu.

Estou batendo esse papo com você enquanto, pelo menos, seis máquinas estão fazendo um barulho gostoso enquanto cortam a grama ali na praça, para as comemorações da República. A festança vai ser com as crianças do “Espaço Cultural Plínio Marcos.” Elas, as crianças, já estão chegando para brincar nos balanços, enquanto veem as máquinas cortando a grama. Parece algo fútil, mas não é. Significa que a felicidade está onde a pomos. E a pomos dentro de nós mesmos. Só somos felizes quando sabemos qual o valor da felicidade. E comece por não julgar esse papo vazio. Nada de filosofia de botequim. 

Mas tudo bem. Vamos encerrar nossa semana com alegria e muita felicidade. Não percamos tempo com notícias negativas que nos faz muito mal. Converse com seu subconsciente e lhe diga o que você realmente quer, e não o que não lhe interessa. Olhe para o horizonte na imensidão do Universo. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460