Opinião

Opiniao 21 05 2019 8232

Qual desenvolvimento queremos? –  (Parte 4) – Fábio Almeida

Um passo essencial ao debatermos o tema, no Estado de Roraima, exige a necessidade de formularmos um conceito de desenvolvimento que extrapole a lógica econômica que cerca o atual modelo organizativo das iniciativas que surgem a cada Governo que assume o palácio Senador Hélio Campos.

Necessitamos fundamentar, diante dos dados que nos impõe mais de 60% da nossa população na pobreza, concepções e significados sociológicos e filosóficos ao tema do desenvolvimento. O caráter fiscal e econômico das políticas públicas desenvolvimentistas é essencial e prioritário, porém, não possui mais relevância do que os conceitos de distribuição de renda, proteção ambiental, inclusão social e produção coletiva que devem fundamentar esse novo conceito de desenvolvimento no Estado.

Ampliarmos e melhorarmos dados econômicos sem distribuir renda, consiste na atuação governamental para ampliar a concentração de renda e a miséria, processo que restringe a capacidade laborativa do nosso povo. Assim, distender a lógica dos programas produtivos da área econômica à sociológica é primordial para que em curto prazo possamos mudar a dramática realidade de fome e desemprego que enfrentamos em Roraima.

Algumas questões precisam ser pensadas de forma que possamos idealizar programas de Estado que permitam visualizar em curto, médio e longo prazo a geração de empregos. Mas, a lógica de organização dos setores produtivos deve enveredar pela produção coletiva, sendo as estruturas cooperativadas os espaços mais adequados ao processo de inserção econômica de diversas camadas sociais, excluídas organicamente do Trabalho.

O Estado, ao contrário do que bradam os liberais modernos, possui um papel importantíssimo no desenvolvimento destas iniciativas, seja através de suas empresas públicas ou agências financiadoras, bem como na formulação de uma política de proteção da produção local. Assim, não compreendo a premissa do atual governo de trabalhar pelo enfraquecimento da Codesaima, essa empresa pública possui um papel estratégico ao desenvolvimento de processos produtivos, basta termos seriedade na gestão.

Outra questão é garantirmos no orçamento público a perspectiva da existência de um arcabouço financeiro que solidifique as propostas de desenvolvimento, sejam estas formuladas pelo Estado ou por iniciativas do próprio povo, a exemplo das experiências de economia solidária que se estruturam por todo o Estado. Enquanto tivermos um orçamento público em que o Ministério Público de Contas (MPC) possua mais recursos orçamentários que a agência de fomento, a qual tem 27 vezes menos recursos que o poder legislativo.

Assim, a formulação de um programa de desenvolvimento que inclua as diversas representações sociais existentes em Roraima perpassa por uma construção coletiva que deve obrigatoriamente incluir representações dos trabalhadores, da academia, do setor produtivo e do governo. Este encontro deve ter como resultado um Programa de Estado que seja pactuado pela sociedade e perpasse os diversos governos que virão. Bom dia.

*Historiador. Especialista em Gestão Ambiental. Candidato ao Governo em 2018 pelo Psol.

O caboclo, o padre e o estudante – Walber Aguiar*

“Quem tiver o sonho mais bonito que coma o queijo”

Estamos em Roraima. Terra dos Macuxi. Lugar generoso, geograficamente viável. Chamado de “terra do já teve”, já virou, no discurso político, uma “terra de oportunidades”. Atualmente, segundo o velho discurso do tempo mais a casualidade, desembocou em “Roraima da sorte”, que dá sorte aos que enchem o bolso com o dinheiro da maioria azarada.

Roraima é terra de caboclos, bem como Amazonas e Pará. São macuxi, barezinhos e comedores de maniçoba, que, sem a caboclisação maldosa, conseguem viver tranquilamente. Em que pese asurbs cheias de violência e neurose, ainda comemos de arremesso e dormimos de balanço. Que o diga os paraenses, peritos na arte de se balançar numa rede e comer farinha com a mão.

Ora, no meio da sadia regionalidade, os três elementos são imprescindíveis ao meio em que vivemos. Se não vejamos: o caboclo chegou primeiro, tangeu o gado, foi apadrinhado e, às vezes maltratado pelos fazendeiros. Não por todos, claro. Até hoje, segundo a música “tudo índio”, as índias sobrevivem como desempregadas domésticas e tem pedreiro taurepang que vive de biscate. No treze moram ianomami, bem como wapixana. Daí a caboclisação da cidade, o preconceito de muitos que vem de fora matar a fome aqui no reduto dos macuxis.

O padre veio depois do índio, sob o pretexto de abençoar os coitadinhos que moram no meio do mato. Desde o advento das entradas e bandeiras, aliás, do “descobrimento”, é que os “selvagens sem Deus” são “abençoados” pela santa e amada igreja, que sempre carrega consigo os santos do pau oco. Claro, que a presença dos religiosos também ajudou no processo histórico, pois o nome de Deus tinha que ser carregado pelo menos como referencial. E os santos sempre estiveram presentes nesse processo; os que realmente mudaram o mundo pra melhor.

Até hoje a figura do padre é reverenciada por muitos e satirizada por outros, mas ela continua muito forte.

Por último chegou o estudante. Em tese, cheio de conhecimento ou desejo de apreendê-lo. Teoricamente mais esperto, o estudante aprendeu. Virou aluno, engenheiro, advogado, professor, juiz e outras figuras que buscam a profissionalização através de livros, cadernos, canetas e concursos.

Agora, a grande sacada dos estudantes é entrar na faculdade sem vestibular. Mas, como não se pode agradar a gregos e troianos, teve gente que discordou. O que seria para ajudar os pobrezinhos do ensino público transformou-se em “bicho de sete cabeças” para uma elite que consegue pagar cursinho pra estudar, zoar e se “preparar” para o vestibular. 

Ora, quem vai “comer o queijo” da gratuidade? Quem tem boas notas no boletim escolar ou os que fazem cursinho? Penso que os mais espertos, aqueles que se esforçam, estudam bastante, tem mente crítica, são os que vão comer com vontade o grande queijo da vida. Sem a caboclisação, o preconceito, a submissão ingênua às religiões e aos fabricantes de deuses… 

E olha que estamos em Roraima… 

*Advogado, poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de Letras.   [email protected]

Trânsito tresloucado – Marlene de Andrade

“Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado. Porque o que faço não o aprovo, pois o que quero isso não faço, mas o que aborreço isso faço.” (Romanos 7:14,15)

Os policiais da prefeitura estão multando os motoristas de Boa Vista, mas se não for assim, a partir de mim, continuaremos dando os nossos nós cegos no trânsito. Já cometi muitas ilicitudes ao volante. Mas espera aí, perguntaria alguém, cristão também comete esses erros? Temos que entender que cristão não é santinho, pois somos todos feitos da mesma massa: barro.

Eu já cometi várias infrações no trânsito como estacionar em esquina, avançar sinal, dirig
ir falando ao telefone e por aí afora. Melhorei? Estou melhorando sim, primeiro porque tenho tido cada vez mais temor de Deus, segundo porque devemos buscar o equilíbrio nas nossas atitudes, afinal de contas vivemos em sociedade e terceiro porque uma multa dói muito no bolso, fora os pontos que a gente perde na CNH.

Mas e o que dizer dos guardas de trânsito? Nossa, é pavoroso vê-los caminhando ao derredor dos carros estacionados à beira das calçadas anotando o número das nossas placas, mas sejamos sinceros, quer dizer que a gente faz nossas peruadas no trânsito e tem que ficar tudo por isso mesmo? Não, não é assim que a banda toca, errou tem que levar uma canetada sim e ser vistoriado através de câmeras e radares e não podemos nos esquecer da enorme utilidade dos bafômetros.

E tem mais: errou ao volante tem que ser multado e a mim não me interessa se os Poderes executivos do Brasil, como um todo, estão roubando esse dinheiro, pois quem tem que tratar desse assunto é a polícia, Ministério Público e principalmente, o Poder Legislativo.

E sabe de uma coisa: quero mais é aprender respeitar cada vez mais a Lei de Deus e a dos homens, e ponto final. Se eu transgredi a lei de trânsito, devo baixar a cabeça e aceitar a multa com espírito humilde, visto que, se não quero aprender pelo amor, vou ter que aprender pela dor.

Calvino afirmou que o ser humano é depravado o que também pode ser entendido como desregrado e inconveniente e mesmo a gente tendo sido alcançado por Jesus Cristo, ainda assim, não deixamos de ser pecadores.

Depois dessa reflexão sei que muitos vão me questionar, contudo se colocarmos a mão na nossa consciência vamos ter é que colocá-la à disposição da palmatória. Não podemos nos esquecer de que o trânsito de Boa Vista é muito violento e cada um de nós deve fazer de tudo para dirigir com educação, humildade e amor ao próximo.

*Médica Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT – CRM-339/RQE-431

Aprenda a mente – Afonso Rodrigues de Oliveira

“As palestras de autoajuda pouco ajudam quando as pessoas não compreendem o funcionamento da mente.” (Augusto Cury)

Entender o funcionamento da mente não indica que você deva ser filósofo. Basta você se conhecer. Mas deixemos isso pra lá e vamos pensar na nossa situação no que somos, misturados a eles. Eu tenho um filho treinador de cães. Ele tem um montão de cachorros no quintal e que me deram trabalho. Mas o maior trabalho estava em eu não ter tido competência para prestar atenção aos cachorros. Eu é que estava fazendo cachorrada. Depois que cheguei aqui, na Ilha Comprida, tudo mudou. Passo os dia admirando o comportamento dos cachorros caminhando pela praia, atravessando as ruas com o movimento intenso e carros, e coisas assim.

Já falei pra você do dia em que fiquei encantado com o comportamento de um cachorro tomando banho, nas ondas do mar, na Ponta Norte da Ilha. Foi um comportamento incrivelmente humano. Chamei a atenção da minha família para o comportamento do cachorro e todos ficaram boquiabertos. 

Também já falei de dois cachorros que todos os dias atravessavam a rua, aqui em frente à nossa varanda. Eles atravessavam, entravam pelo gramado da Praça e caminhavam pela ciclovia. Iam até ao Pronto Socorro, depois ao Espaço Cultural, voltam e saíam, como se aquilo fosse sua caminhada diária. E o mais importante, na observação é que eles caminhavam por entre os quero-queros sem incomodá-los. O que é muito raro. Tão raro quanto o comportamento de muitos outros cachorros que vemos, todos os dias, por aqui. O mesmo que observamos com as gaivotas, urubus e outras aves. 

Mas o que me chamou a atenção para esse papo, ontem, foi a esquisitice para a qual a Salete me chamou atenção, pela manhã. Há dois dias, a dupla de cachorros que atravessava a Praça afastou-se. Observamos e descobrimos o provável. A vizinha nos disse que certa noite ouviu um barulho de gritos de cachorro, como se estivesse sendo atropelado. Passamos a observar e verificamos que o cachorro menor não apareceu mais. E que o outro não saiu mais de casa. Passamos a observar que ele fica o dia todo deitado na grama do quintal da casa, na rua paralela. Ficamos preocupados e refletindo se os animais também não têm mente, e se não a vivem.

Vamos observar mais o comportamento dos animais em nossos meios. Será que não estamos sendo mais animalescos, em não entendê-los e respeitá-los no que eles são? Talvez não estejamos considerando que eles são da mesma origem, e estão no mesmo processo evolutivo em que nós humanos estamos. Seria bom que refletíssemos sobre isso, mas com racionalidade. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460