Opinião

Opiniao 21 11 2019 9334

Fake News, não! Flamarion Portela *

Em tempos em que o mundo está cada vez mais conectado através da internet, o fenômeno das Fake News (notícias falsas, no termo em inglês) tem se proliferado pelas mídias e redes sociais, influenciando a vida das pessoas e até causado impacto em eleições, tanto no Brasil quanto em outros países do mundo.

O termo Fake News começou a ser usado em 2017, pelo dicionário da editora britânica Collins, para designar notícias fabricadas para enganar pessoas. 

Mas, a grande preocupação da vez é o que o fenômeno das fake news pode causar no rumo das eleições do ano que vem nos 5.570 municípios brasileiros. 

Especialistas no assunto afirmam que é dada como certa a influência das fake news sobre o voto nas eleições de 2020. Preocupado com a situação, pela primeira vez um mecanismo contra o compartilhamento de notícias falsas foi incluído em uma minuta de resolução do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

A iniciativa do TSE dá-se ao fato de no pleito de 2018 ter sido grande o compartilhamento de fake news por diversas candidaturas, sobretudo por meio de redes sociais, sendo que muitos desses casos ainda continuam sob investigação naquela corte.

O objetivo da inclusão de um artigo específico sobre fake news nas resoluções do TSE é servir de parâmetro para juízes eleitorais de primeira instância, que serão os responsáveis por decidir casos concretos por todo o Brasil. Desta forma, o candidato que espalhar fake news em suas redes sociais sofrerá penalidades eleitorais. 

A medida do TSE ainda deve passar por audiência pública antes de ser votada em plenário, ainda este ano, mas, por si só, já pode trazer efeitos benéficos para o eleitor, pois, de certa forma, já inibirá candidatos de proliferar notícias falsas, seja a seu favor ou em desfavor de algum concorrente. 

Mas, antes de qualquer medida, é preciso que os pretensos candidatos a prefeitos e vereadores em todos os municípios do país tenham a consciência de que espalhar inverdades para ludibriar seus eleitores pode até ajudá-los a vencer as eleições, mas certamente manchará sua biografia e sua credibilidade enquanto representante da sociedade.

Não custa lembrar que já tivemos diversos casos em que as fake news praticamente acabaram com a reputação de pessoas, mas depois foram reconhecidas como inocentes e vítimas da maldade dos que espalharam informações falsas a respeito de suas vidas.

O alerta maior fica para você, leitor, para que fique atento às informações que recebe no dia a dia, tendo sempre o cuidado de checar a veracidade do conteúdo e não se deixando influenciar por falsas notícias.   *Ex-governador de Roraima

OPERAÇÃO LAVA-JATO CONTRA A CORRUPÇÃO NO VAREJO

Luis Cláudio de Jesus Silva*

A operação Lava-Jato, iniciada em 17/03/2014, trouxe novas esperanças aos brasileiros de bem. Renovou nossa confiança na justiça e mudou nossos conceitos de que a justiça só punia os pobres e miseráveis. Nos cinco anos de existência e combate sistemático à corrupção, investigou, julgou e condenou mais de 160 pessoas, a maioria empresários milionários, e quase duas dezenas de políticos ladrões do dinheiro público. Foram 68 fases de investigação com mais de 240 condenações. Sentenciou cerca de 50 processos com crimes que formam um verdadeiro vade mecum da corrupção: lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, fraude em licitações, organização criminosa, evasão de divisas, crimes contra a ordem econômica, embaraço à investigação de organização criminosa e falsidade ideológica. Já retornaram 2,5 bilhões à Petrobras, outros 11,5 bilhões estão sentenciados e aguardam a devolução, 13 bilhões ainda serão devolvidos por acordos de leniência. A expectativa do MPF é que a devolução dos recursos desviados chegue a 40 bilhões de reais. A Lava-Jato transformou-se na maior operação contra a corrupção do mundo. Os números são superlativos e impressionam os desavisados. Infelizmente, o Brasil pode mais. Esses números são só a ponta do iceberg, só uma pequena parte do câncer da corrupção que ataca os cofres públicos e corrói nossas esperanças.

A operação Lava-Jato, pela estrutura diminuta que dispunha, concentrou-se na corrupção no nível federal, mesmo que indiretamente as investigações tenham envolvido alguns governadores de estados do Sudeste. Ou seja, até agora a Lava-Jato concentrou suas artilharias na corrupção no atacado. A operação precisa combater também a corrupção no varejo. Imaginemos uma Lava-Jato em cada estado e municípios do país. Todos os crimes trazidos a tona até agora são reproduzidos em menor proporção, mas em larga escala, em todos os órgãos dos poderes estaduais e municipais. Além das empresas, a operação focou nos 513 deputados federais e nos 81 senadores. Imaginem quando chegar nos 26 Estados, mais o Distrito Federal, com seus 27 governadores, nos 5.570 municípios e igual número de prefeitos, prefeituras e câmaras municipais, nas 27 assembleias legislativas, nos 1059 deputados estaduais e nos 59.951 vereadores. Essa é a Lava-Jato que eu quero e que o Brasil precisa. 

Tento ser otimista, mas a razão me obriga a ser mais pragmático e reconhecer que esse meu desejo é uma utopia. Para que se operacionalize essa proposta, só com alteração das leis e permissão para que os órgãos da União comandem as investigações, criando equipes de profissionais isentos e comprometidos com o combate à corrupção. Seria uma verdadeira intervenção nos estados e municípios, do contrário, não acredito na força e independência do Ministério Público e das polícias estaduais e, menos ainda, no Poder Judiciário. Trazendo para nossa realidade, em Roraima, quem acredita na independência dos nossos órgãos de fiscalização ou de julgamento? Nossa corrupção, no varejo, inicia nas amizades, na proximidade, na cumplicidade, no conluio entre as autoridades de todos os poderes e órgão, e isso minou a independência, a autonomia e a coragem para fazer o que precisa ser feito. Infelizmente, também minou nossa confiança nas instituições comandadas por essas autoridades e a nossa esperança de uma Lava-Jato que limpe a corrupção em todos os níveis e esferas de poder do país.  

*Professor universitário, Doutor em Administração. [email protected]

Em que direção progredimos?

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Através dos milênios, chegamos até aqui na condição de meros espectadores positivos de nossa história pessoal.” (Waldo Vieira) 

Estávamos nos preparando para a saída de Natal, de volta a São Paulo. Fomos tomar o café da manhã num restaurante muito legal. Já conhecíamos o local e nos cumprimentávamos com o pessoal. Estávamos sentados, aguardando o café. Em nossa frente estava um casal, com um filhinho de mais ou menos uns cinco aninhos de idade. Sempre gostei de brincar com crianças. E aquele garoto tinha um comportamento de adultos, à mesa. De repente entrou outro casal com uma garotinha com a mesma idade do garoto. A garotinha usava óculos escuros e lindamente vestida ela comportava-se como uma mulher adulta e elegante. Quando eles iam passando, o garotinho empinou-se e ficou olhando firme para a garotinha. 

Eles passaram e se sentaram à mesa por trás do garoto. A garotinha ficou exatamente de costas para o garoto. Como se estivessem conectados. Eles se viravam ao mesmo tempo e ficavam se olhando como se já se conhecessem. Ficaram assim por algum tempo até que o garotinho começou a pôr a mão na boca e mandar um beijinho para a garotinha. Ela sorria e voltava à posição normal. Fiquei admirado com o comportamento deles, fiquei olhando-os e disfarçadamente sorrindo. De repente os pais da garotinha começaram a olhar pra mim com as caras amarradas. Tiraram-me de uma observação importante quanto ao comportamento das crianças atuais. 

Parei de olhar para as crianças e fiquei imaginando como o Barão de Itararé tinha razão. A sociedade está, de certa forma, imbecilizando-se com a escandalosa carga de más notícias divulgadas exageradamente pelos meios de comunicação. Infelizmente ainda somos seres humanos. Ainda não aprendemos a viver no caminho da nossa evolução racional. Minha admiração pelo comportamento daquelas duas crianças acabou incomodando os pais das crianças, que certamente me consideraram um anormal. Infelizmente não podemos mais ser o que somos diante dos que não sabem ser o que deveriam ser. O que indica que estamos caminhando para trás, em termos de evolução de raça. Ainda não conseguimos evoluir para que possamos ser realmente considerados civilizados. Aprendemos que não devemos deixar de elogiar, sempre, alguma coisa numa pessoa. Eu sempre elogiei com sinceridade. Mas estou receoso de elogiar uma garota desconhecida, mesmo que ela seja a atendente no supermercado. Precisamos ser mais moderados em nossas comunicações, sobretudo, aliando-a à educação e ao respeito, como seres de origem racional. Porque é o que somos, querendo ou não. Pense nisso. 

*Articulista [email protected] 99121-1460