Opinião

Opiniao 23 03 2020 9962

Água

Fiz vídeo dias atrás sobre a importância de lavar as mãos que acabou se espalhando na net. E olha que imaginei em 2020 ver carros voando e teletransporte, mas a onda agora é higiene básica correta que faz toda a diferença na saúde e qualidade de vida de todo mundo. Ora, sem água nas torneiras, lavar as mãos para combater coronavírus pode ser utopia em Boa Vista.

No meu gabinete, adotamos o trabalho remoto por prevenção aos idosos e crianças que cohabitam nossas casas, reforçando a ação pelas redes sociais e aplicativos na informação e esclarecimento ao cidadão. E tem chamado a atenção como falta água por essas bandas. Palma, costas, punhos, dedos… Como é que eu vou lavar tanto as mãos desse jeito se não tem água todo dia? E, quando tem, preciso gastar com prudência para não ficar sem no outro dia, já que não há certeza de que a água chegará.

Pérola, União, Satélite, com as mesmas respostas de sempre, ficam até 22 horas esperando água chegar. Ouvem barulho, saem correndo, enchem vasilhas, tomam banho, lavam louças e à meia-noite torneiras secam. São Bento, Liberdade, Buritis, Paraviana, a falta d´água não escolhe lado na cidade mas pesa nas costas de quem vive sem planejamento urbano. Seja no 13, Senador, Murilo Teixeira, ou agimos na garantia de abastecimento e a certeza de que haverá água nas torneiras como premissa para o enfrentamento da pandemia ou a guerra contra o novo vírus será perdida onde álcool gel não chega. Não podemos estar alheios à gravidade da situação.

E de quem é a culpa? Não é hora disso. É hora de mostrar serviço. A Companhia de Águas e Esgotos de Roraima, concessionária do serviço na nossa cidade, mesmo sendo parte da administração pública estadual, é só uma das partes no Termo de Contrato de Concessão, assinado com a Prefeitura de Boa Vista em 19 de dezembro de 2000, com vigência até este ano. Todos tem responsabilidades no planejamento, regulação, prestação dos serviços e a cláusula 10ª, referente aos direitos da concedente, é bem clara. Assim, faltou água? A prefeitura precisa cobrar solução.

Em dezembro de 2019, a Câmara Federal aprovou texto-base do novo marco legal do saneamento e nele se trata de licitação para contratação de serviços de saneamento, privatização de estatais e empurra com a barriga o fim dos lixões. Atacar empresas públicas, desvalorizar nosso patrimônio, apadrinhamento político e pouco investimento estratégico cria o ambiente ideal de ‘vende tudo’ na opinião pública. Isso pode ser tiro no pé pela viabilidade de abastecimento de locais com pouca atratividade para a iniciativa privada. Lembre-se da internet, da telefonia, da energia, que muda de nome, mãos, e nada muda. Precarizar é parte do jogo em que uns ganham e nós seguimos perdendo.

Aqui os loteamentos brotam na BR 174 perto do famigerado lixão; governos pactuam construção de milhares de unidades habitacionais onde não tem rede de água e esgoto; matam igarapés; nasce caixa d´água entre a RR 205 e Equatorial mas tudo sem Plano Diretor, com puxadinhos legais em tempos de especulação imobiliária, e segue o bate-boca virtual num jogo de empurra que sobra aos do Centenário, Cinturão e Caranã paciência a conta-gotas.

A culpa não é da China. Lembre-se da gripe espanhola, que matou milhões lá fora, milhares de brasileiros, inclusive o presidente Rodrigues Alves, e nos deixou um novo padrão de organização sanitária. Só há higiene e saúde na democracia com acesso à água potável como direito fundamental, como parte da garantia do direito à vida urbana, que não pode existir sem água nas torneiras. 

Linoberg Almeida Professor e Vereador de Boa Vista

A CRISE DO CORONATRÓLEO E A FATURA DA HOMENTROPIA

Leonardo Costa*

O homem chegou a este planeta como uma das muitas espécies gestadas ao longo de bilhões de anos de lenta e sábia evolução, mas logo se destacou dos demais entes deste ecossistema e passou a agir sobre ele de forma inconsequente e predatória.

Eu nunca me canso de dizer que a história humana sobre a terra, embora não tão breve, é muito significativa do ponto do impacto causado ao planeta. Ainda que hoje a humanidade desaparecesse completamente, suas marcas seriam identificadas na terra, ainda que se passassem séculos e milênios, na forma de lixo não biodegradáveis produzidos na proporção de milhares de toneladas produzidas a cada dia. Hoje, além dos diversos polímeros que empestam a vida cotidiana – Marca indelével do homem sobre a terra – podemos dizer, sem sombra de dúvida alguma, que o impacto que causamos no planeta veio cobrar a conta e a fatura é alta. 

A essa perturbação causada pelo homem na natureza, eu chamo de “Homentropia”, pois é causada pela ação humana sobre o meio-ambiente, naturalmente equilibrado por seus próprios mecanismos de regulação interna, pois sem a interferência humana, a natureza se incumbe de auto ordenar a si mesma, mantendo em equilíbrios as diversas populações de produtores e consumidores, predadores e presas. 

Desde o surgimento de nossa espécie neste planeta, o homem viveu naquilo que podemos rotular como “estado de cegueira”, condição na qual o homem não tem consciência dos efeitos de suas ações sobre o ecossistema em que vive.

Esta existência inconsciente quanto ao resultado de seu comportamento em relação ao nosso planeta deriva, a princípio, da autoimagem que faz de si o homem como um ser apartado da natureza, fruto de uma criação divina relatada em uma diversidade de versões, tantos quantos forem os mitos da criação elaborados em cada cultura.

O mesmo Deus que o criou, é também o provedor e controlador da natureza. Assim, o homem não precisa pensar no que sua ação significa para o ecossistema, pois este lhe foi dado por Deus para seu usufruto, ficando a manutenção à cargo da ação divina. Desta feita, o homem tem irrestrita liberdade para realizar o seu mister sem preocupações com a finitude dos recursos que extrai.

Esta visão de mundo limitada foi praticamente inofensiva na maior parte da história humana, já que as populações humanas eram diminutas e nossa espécie se limitava a um extrativismo de baixo impacto. A ação de dezenas de pequenos barcos de pesca com rede, por exemplo, era irrelevante frente ao gigantismo dos mares prenhes de vida. A melhor das pescas, nem arranhava a gigantesca população de sardinhas nos oceanos, e o fruto deste lanço se destinava à uma pequena comunidade restrita às poucas famílias que viviam na pequena cidade de onde zarpara a nau.

Atualmente, a população humana supera o sétimo bilhão indivíduos ávidos pelo consumo. Nunca antes em nossa história tivemos tantas bocas a alimentar e investimos com tamanha sanha contra os recursos naturais. A pesca de subsistência deu lugar à pesca profissional e, hoje dia, à pesca predatória das redes de arrasto. A proporção com que exploramos os recursos naturais do planeta nunca foi tão exacerbada, e tal implica em consequências que o homem somente agora começa a perceber.

O advento da revolução industrial marca o ponto chave em que a humanidade passa a utilizar os recursos da natureza em grande escala, de forma sistemática e irrefletida. A lógica da produção em massa se espalhou por todas as atividades econômicas, transformando todo recurso na
tural em matéria-prima a ser transformada em bem de consumo.

Hoje, a fatura dessa quase irretratável conta é um estado de entropia global de proporções quase que bíblicas, pois culminou em um colapso do modelo econômico conhecido – já nas últimas semanas; Infecção viral com a morte prematura de milhares de vidas humanas em pouquíssimos dias, e um estado de pânico e histeria nas pessoas e nos Mercados de Valores.

Nunca uma espécie teve tanto impacto sobre o meio ambiente em que vive a ponto de causar alterações no clima em escala planetária. Da mesma forma, a destruição dos habitats naturais ameaça a sobrevivência de centenas de espécies diferentes da fauna e da flora. É claro que populações de animais vão migrar de ambiente nesse cenário e, obviamente, as diversas mudanças de habitats e os demais fatores estressógenos desse impacto impulsionaram mutações e a contaminação humana, não só desse Corona vírus, mas de outras centenas de infecções.

Não obstante dessa realidade, encontramos o homem ainda promovendo a regulação irracional dos bens de capital pelo nexo do “princípio da escassez”, para forçar uma lógica de consumo e de preços totalmente desequilibrada, à revelia dos mais prejudicados, empurrando o mundo e os mercados para a barbárie em busca por fontes de energia e alternativas que, como todos sabemos, só refletirão em mais impacto direto na já castigada mãe natureza.     

A ação da espécie humana sobre a terra alcançou proporções inimagináveis e isso nos obriga a uma reflexão: é certa a forma como nos relacionamos com o meio ambiente de nosso planeta? Que direito temos de decidir sobre a vida de todas as outras formas que conosco dividem esse mesmo lar? Hoje pagamos, mesmo que ao custo altíssimo de várias vidas, a fatura do Homentropia, a crise do “Coronatróleo” é só mais uma prova de que falhamos enquanto gestores do nosso planeta. 

*Professor especialista em planejamento estratégico e análise de ambientes e negócios digitais. E-mail: [email protected]

Desvio de atenção

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Nos bancos do Parlamento, é difícil estabelecer a diferença entre os homens capazes e os homens capazes de tudo.” (Henri Béraud) 

Como você analisa essa situação? O Ulisses Guimarães focou o assunto à sua maneira: “Na Câmara não há bobos. O menos esperto ficou na suplência.” Não sei se ele pensou nas diferenças entre os espertos e os expertos. Porque pelo que vejo, ambos estão nas Câmaras. Talvez o Afonso Arinos tenha pensado nisso quando disse: “Os partidos nacionais são arapucas eleitorais e balcões de vendas.” Mas não vamos ficar aqui machucando os políticos, porque sabemos que entre os maus existem os bons. Então vamos passear pelos barrancos dos acontecimentos. Que a coisa está feia está. Mas nem tudo está perdido quando há uma esperança. 

A esperança pode estar no pensamento do Gandhi: “Todos devemos ser a mudança que desejamos no mundo.” Porque é por aí. Todos nós, eleitores candidatos a cidadãos, temos o poder de fazer as mudanças que desejamos e queremos para o Brasil. Então vamos acordar e fazer nossa parte como ela deve ser feita. E, mesmo não querendo usar pensamentos alheios, não posso deixar de citar os que estiveram, ou estão, tentando sair do balaio de caranguejos, em que nos encontramos politicamente. Vamos refletir sobre o assunto que nos preocupa com a aproximação das próximas eleições. 

Quais os critérios que você está adotando para a escolha do seu candidato? Qual o seu grau de conhecimento sobre você mesmo, ou mesma? Parei, mas não pude evitar citar mais um pensador, dentro da nossa situação. Porque o Einstein também nos mandou: “Todos somos muito ignorantes. O que acontece é que nem todos ignoramos as mesmas coisas.” E é por isso que cada um de nós deve ser dono dos seus pensamentos, para poder ser dono do seu destino. E o futuro do destino depende da nossa capacidade de pensar. Então vamos parar de espernear, e refletir sobre como será nosso destino se não houver equilíbrio entre o nosso e o das outras pessoas. 

Vamos nos educar politicamente. E não se preocupe, se você não se der bem com a política. Porque no voto você não está votando só pra você, mas para o país. E o país somos todos nós. E todos nós estamos pagando um preço muito alto, pelo nosso desconhecimento. E o desconhecimento e a ignorâncias são casados. E vimos há séculos, alimentando um casamento que não nos oferece a compensação que deveríamos merecer se não ignorássemos o que deveríamos conhecer. Vá refletindo sobre isso e tomando consciência do poder que você tem para mudar o rumo da nossa história. Não ignore o valor que tem o seu voto, numa eleição. Pense nisso. 

*Articulista [email protected] 99121-1460