Opinião

Opiniao 23 08 2019 8803

BRUTAS HISTÓRIAS DE UMA PERIFERIA ESQUECIDA- (Cena 1) – Hudson Romério*

Cinco da manhã! Pior de tudo! Chove…

Era o mesmo cara da semana retrasada, estava aqui, em pé ao meu lado, pegando chuva… na semana passada, no sábado, eu o vi, ali no boteco do beco, estava só, parecia triste, me falaram que foi despedido… agora a pouco fui assaltado por ele… são os dois lados da mesma moeda sem lado nenhum – nem cara, nem coroa! 

Tenho a impressão que se morre mais vezes do que se vive – é o inverso da pluralidade da existência: somos tantos, mas poucos sabem que existem! Todos perdidos nesse mundo de tantos desconhecidos, de centenas e milhares desses (nós!), sem rostos, sem sangue nas veias, sem um pingo de amor… (mas o que adianta amor se nem coração temos mais!)… um bando de sonâmbulos perdidos nessas periferias esquecidas. 

Vivemos do lado de fora dessa caixa vazia… sempre estivemos nesse expurgo! Desde cedo somos ensinados que o lado de dentro não é o nosso lugar – lá é só para “eles”! Não temos o direito de questionar quem são eles – eles lá e nós aqui! Se estamos do lado de cá (entre a margem desse real e imaginário), nós somos o quê? Os apátridas com pátria! Nesse espaço-lugar indefinido, insituável, onde só somos números, estatísticas, títulos de eleitores, CPFs… passageiros desses baús-negreiros que nos levam e nos trazem para o medíocre trabalho assalariado – não servimos mais a Casa-Grande, servimos o Big Brother! As grandes corporações que nem sabemos o nome. O mais estranho é que os impostos nós pagamos! Pagamos caro para viver aqui do lado de fora – olho para o lado e vejo outros tantos iguais a mim, ali, parados, inertes já sem vida (ou quase sem vida), sentados, alguns empoleirados, outros em pé, alguns dormindo… nessa parada de ônibus toda moderna não nos serve para nada – sabemos  que é o curral onde o rebanho espera o caminhão que nos levará ao matadouro.

Somos insensíveis às intempéries do tempo, já não incomoda mais a roupa encharcada, os calçados molhados, o frio… a chuva cai indiferente a tudo isso. A chuva aumenta, é intermitente, áspera! Já nem sei se é madrugada ou o começo da manhã. Nada mais me incomoda: a chuva, o frio, todas essas caras e corpos feios, sujos… “quase-é-vida” (e-quase-vivemos!) nisso que chamamos de vida…

Lá vem o ônibus, sempre cheio… cheio de outros tantos semelhantes a mim… a nós! A chuva teima em nos molhar, mas nem ligamos mais… sempre cabe mais um! Queria entrar nesse ônibus e nunca mais voltar. Mas, no final do dia, faremos tudo de novo, a mesma rotina já tão conhecida por todos! Hoje, acreditamos num pouco de tudo, ou num pouco do nada – do que sobrou de todas elas, de todas as velhas promessas que nos contam: dias melhores virão!

*Escritor e Cronista  Tel: +55 (95) 99138.1484 [email protected]

ECLESIASTES, A VAIDADE QUE NOS TORNA REFÉNS DOS DESEJOS MATERIAS E OS DEZ CONHECIMENTOS DE SALOMÃO. – Guilherme Costa do Nascimento*

1.    A vaidade da sabedoria: “No futuro, todos nós seremos esquecidos. Todos morreremos, tantos os sábios como os tolos” (2:15 e 16).

2.    Do que adiante todo o nosso conhecimento, se não podemos utilizá-lo em benefício de outros? O ser humano é individualista, por mais que muita gente não queira aceitar, mas somos. Tantas pessoas precisando de ajuda, de uma palavra, de apoio, e vivemos cegos, em nosso mundinho de selfies e da venda da nossa imagem de apresentação ao mundo, como propagandas de tvs, em meios a sorrisos fakes, poses glamorosas, pra alegrarmos os telespectadores , as curtidas e seus vários likes das grandes mídias, tudo isso em troca de uma vaidade, que os levam a crer que a normalidade de ser humano seja isso.

3.    A vaidade do trabalho: “A gente trabalha… para conseguir alguma coisa e depois tem que deixar tudo para alguém que não fez nada para merecer aquilo” (2:19-21)

Esse é o conformismo daqueles que muito se dedicam ao seu trabalho, aquelas pessoas que buscam alcançar riqueza e bens materiais, querem ter tudo, obter as vantagens desta vida, acham que quanto mais se têm mais terão tranquilidade de uma vida perfeita, vendem seus esforços e grades momentos em troca de obter tudo aquilo que sonham em ter ou ser, e no final quando olham pra trás, observam que não irão usufruir de tanto esforço, ninguém aceita o tempo certo de alcançar tudo de forma cautelosa, a riqueza é boa, prazerosa, mas tanta batalha pra alguns é a insônia de uma vida sem paz.

4.    A vaidade dos objetivos humanos: “Deus faz que os maus trabalhem, economizem e ajuntem a fim de que a riqueza deles seja dada às pessoas de que Ele gosta mais” (2:26).

Sempre foi assim e continuará desta forma, e muita gente ainda não entendeu.

5.    Vaidade do sucesso: “Também descobri por que as pessoas se esforçam tanto para ter sucesso no trabalho: é porque elas querem ser mais do que os outros” (4:4).

Muita gente vê na riqueza a sua fonte de necessidades para alcançar seus objetivos pessoais, e quanto mais se tem, mais deseja-se ter, porque o dinheiro na mão de um soberbo, avarento, se torna pouco, e nem pense em querer obter vantagem de pessoas assim que você não terá, o triste disso tudo é que tanto o rico quanto o pobre, da mesma forma que veio nu, ao solo não levará nada do que conquistou.

6.    A vaidade da avareza: “Descobri que na vida existe mais uma coisa que não vale a pena: é o homem viver sozinho, sem amigos, sem filhos, sem irmãos, sempre trabalhando e nunca satisfeito com a riqueza que tem” (4:7 e 8).

Imagine ter todo o dinheiro suficiente pra viver sem trabalhar, fortunas e bens materiais e não possuir nenhum tipo de amor ao próximo, não dividir nada com ninguém, não poder ajudar quem precisa de ajuda, e quanto mais se ganha mais acredita que nada possui, na doença pode ter certeza que todo teu tesouro não será capaz de lhe tirar do momento da morte, a tua riqueza só te servirá para lhe aproximar pra mais perto do inconformismo post mortem.

7.    A vaidade da fama: “O número de pessoas que um rei governa é muito grande; no entanto, quando deixa de ser rei, ninguém é agradecido pelo que ele fez” (4:16).

Muita gente quer obter o sucesso, mas tudo é passageiro, as pessoas querem ter vantagens até de quem não tem nada, fazem caridades voltada à satisfação pessoal a troco de serem notadas, vistas pelo seu público nas redes sociais, tudo que fazem é para puro estrelismo, mas esquecem daqueles que lhe servem, acreditam que é melhor ter do que dar.

Assim são os governantes fazem mais por si do que bem ao povo que o escolheu, no final quando pensam em ajudar alguém por gesto de caridade, seu reconhecimento é inútil, pois ninguém mais acredita que suas atitudes não sejam pra proveito pessoal.

8.    A vaidade das riquezas: “Quem ama o dinheiro nunca ficará satisfeito; quem tem a ambição de ficar rico nunca terá tudo o que quer”. (5:10).

Por mais difícil que seja acreditar realmente, o número de pessoas insatisfeitas com o que tem é grande, pensam tanto no dinheiro em ser ricas que algumas pessoas fazem qualquer coisa pra obter muito dinheiro. Criam um mal a si
mesmas, vantagens que tem um preço muito caro no final.

9.    A vaidade da cobiça: “É muito melhor ficar satisfeito com o que se tem do que estar sempre querendo mais.” (6:9).

Pouquíssimos seres humanos se satisfazem com a vida e os bens que possuem, mas grande maioria sente a necessidade de se tronar muito ricos, e terem vantagens na vida sobre tudo e todos. Pura ilusão.

10.    A vaidade da frivolidade: “A risada dos tolos é como os estalos de espinhos no fogo – não quer dizer nada” (7:6).

A frivolidade é uma atitude característica de uma parte importante da população que por pertencer às classes sociais mais despreocupadas ou pelo acesso às difíceis realidades da vida e, ao mesmo tempo, a frivolidade se encontra diretamente relacionada ao individualismo a partir do momento em que a pessoa passa a importar-se mais consigo do que com o sofrimento dos outros, de não ajudar e sim desconfiar. 

11.    A vaidade dos elogios: “Eu vi o enterro de pessoas más. Na volta do cemitério, notei que eram elogiadas, e isso na mesma cidade onde haviam feito mal” (8: 10).

Acontece constantemente àqueles que destruíram nações. Para alguns são vistos como mártires, são cobertos com chuvas de rosas, exaltados como príncipes com honrarias, muita gente faz isso, por ter visto o mal que alguém causou a muitos, mas como foram beneficiados com a ajuda sempre fazem gratidões, mas esquecem daqueles que perderam tudo, ou foram prejudicados por estes, a vantagem de ganhar, lucrar, corrompe os seres humanos, tirando seus valores morais em troca de bens e riquezas  

“APRESSA-TE E RECONHEÇAS O MAL ANTES QUE PRECISES. PAGA TUDO QUE TENS PRA CURAR-TE”. – 

*Acadêmico De Direito – Faculdades Cathedral RR [email protected] / 95 981048797

Quem somos nós? – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Milhões de pessoas ainda compõem a massa humana impensante: escravas das opiniões dos outros, não pensam por si mesmas.” (Waldo Vieira)

Ainda não consegui me conformar com essa luta, de certa forma inconcebível, na desigualdade racial. Certo dia eu estava à janela quando ouvi um barulho forte, lá na Praça da Sé. Desci e fui até lá. Era uma manifestação de negros contra as cotas nas universidades. Admirei-me e permaneci ali até o final da manifestação. Ouvi vários discursos de pessoas negras altamente preparadas, contra as cotas. A Praça da Sé estava totalmente tomada por pessoas negras em protesto. Só que os protestos não conseguiram ir além dali. O que realmente me preocupa. Se somos todos iguais nas diferenças, devemos nos concentrar e centrar na igualdade, e não nas diferenças consideradas como desigualdade. Foi aí que criei a frase: “Quando você luta pela igualdade é porque se sente inferior.” 

As cotas nas Universidades, as vejo como um desrespeito. E quando as aceitamos é porque nos sentimos realmente inferiores. Essa alegação de que as crianças negras estudam em escolas despreparadas, ou coisa assim, parece-me uma balela. E como ficam as crianças brancas que estudam nas mesmas escolas? Vamos lhes dar cotas? Nem pensar, cara. Isso seria reforçar o absurdo. Então vamos nos respeitar e procurar mostrar, com nossa competência, o que somos, independentemente da cor da nossa pele ou qualquer coisa assim. O Bob Marley disse: “Enquanto a cor da pele for mais importante do que o brilho dos olhos, haverá guerra.” Vamos mostrar nosso valor no que somos e não no que os outros dizem que somos ou o que deveríamos, ou devemos ser.

Vamos parar com arrufo em gritar pelo que queremos ser, pelo que os outros dizem que somos. Faça sua parte no desenvolvimento da sociedade, como você deve fazer. Não somos inferiores a ninguém. Somos todos iguais. Só os que sabem viver a vida que têm sabem o que realmente são. Nunca baixe sua cabeça para ninguém, independentemente da cor da pele de cada um. Mas mostre isso com capacidade e não com exigências e reclamações vazias. Essa distinção em relação à cor da pele é uma tolice desmedida. Não é seu arrufo nem o formato do seu cabelo que vai chamar a atenção para o que você é. Você é o que está nos seus pensamentos e na forma de usá-los. Viva sua vida como ela deve ser vivida, e pronto. Nunca permita que alguém dirija sua vida. E podem estar dirigindo quando você se deixa influenciar pelos que não sabem se dirigir. Você pode estar dando uma de marionete. Seu valor está no valor que você se dá, e não na cor de sua pele. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460