Opinião

Opiniao 24 06 2019 8438

A Carapuça 

Essa coisa de ficar vendo indireta em tudo é culpa dos tempos líquidos que vivemos. É tanta conectividade que os dedos polegares nervosos acabam por fazer vítimas sem que nos demos conta de quem realmente somos. Eu sei que no fundo não somos xenófobos, mas como Narciso acha feio o que não é espelho, devagar com o andor, que essa é só minha opinião.

Tivemos instabilidades em Mucajaí e Pacaraima; a reforma milionária da Praça Simón Bolívar para esconder o problema em Boa Vista; poder público na justiça pelo “pão e café com leite” para famintos; o jeito relutante de tratar a migração; a reviravolta no caso do empresário morto; os milhares de índios dizimados; situações de discriminação com maranhenses… Nossa história deixa vestígios de que a repercussão da cena da novela não pede nota de repúdio e sim uma reflexão sobre quem somos e como somos vistos.

E antes que apontem, aviso: Me chamam de petista sem ser, maconheiro por ser das Humanas, adjetivos e substantivos que leio e ignoro. A carapuça não me serve. Na real, para tempos tão doentes, gestão de crise pede ação antecipada, tipo prevenção aos preconceitos. Acho que podemos unir nossas indignações e cobrar resultado de quem o prometeu. Já que os cubanos da saúde se foram, as organizações militares bem que podiam alocar seus médicos, dentistas, enfermeiros nos nossos postos e hospitais, suprindo nossas necessidades, para além da Acolhida.

Acabei de ver a chilena Bachelet buscando diálogo na Venezuela. Diplomacia com vizinhos seria uma boa saída para recuperar o protagonismo brasileiro. A animosidade não cai bem. Ser humilde e dialogar para dividir responsabilidades, além de iniciar paradiplomacia com estados e cidades que vivem a mesma situação na Colômbia, Peru, Equador, é um rumo. Outro é ensinar espanhol para professores, comunidade escolar, profissionais da saúde daqui, afinal, conversando a gente se entende. 

Ah, não esqueça jamais que a saúde capengava antes da migração. Educação sofria abandonos. Sistema prisional dilacerado com dinheiro sumido e devolvido. Polícias sem estrutura. Somos terra de gente acolhedora, sempre ludibriada com discursos em processo eleitoral de poucos projetos, que vinha dando as costas para sua condição de fronteira e a crescente deterioração do vizinho. Até hoje, não temos Política de Estado para a questão migratória, nem local nem nacional.

Trocamos a Justiça pelo justiçamento rápido dos rastilhos de pólvora das redes sociais, que querem um culpado para tudo, a todo custo. A violência institucional corrói brasileiros, venezuelanos, haitianos, guianenses… A desconfiança do outro, do diferente, é parte da gente, só não podemos naturalizar. 

Com tantos ‘Órfãos da Terra’ por aí, lembremos da novela ‘Império’ que nos botou no horário nobre global por quase um ano e não aproveitamos o cavalo selado, como fez o Ceará com sua ‘Tropicaliente’, valorizando-se como destino turístico. Estratégia. Se temos muito amor envolvido mesmo, esse tal amor precisa sair das placas e nos reposicionar no cenário nacional. Respeito é bom e todo mundo gosta, mas sem vontade política, aí complica.

Obs.: Não deixe que 30 segundos de uma obra de ficção artística sem compromisso com a realidade seja mais do que realmente é. Qualquer semelhança pode não ser mera coincidência. 

Linoberg Almeida Professor e Vereador de Boa Vista

AS ESQUISITICES DO AMOR E OUTRAS TRAGÉDIAS Nº 07 – Hudson Romério

19h48 De longe eu a reconheci… Quando se ama…  no meio da multidão você encontra fácil a bem-amada. (Ela veio… e nada mais importa!)… elas sempre atrasam! Rsrsrsrs…  (Será que a espera acabou? Ou vou me decepcionar de novo…) Foi no improviso que eu a conheci… tinha que ser ela… eu a convidei para nos encontrarmos nessa praça – assim não me sentiria tão só, no meio dessa gente toda me sinto mais seguro… (“Onde um lugar é todos, e todos juntos lugar nenhum!”) Me perdi naquele olhar! Não sei mais o que faço? (Lá vem ela, linda!)… ela não passa despercebida, todos olham! Não sei se me levanto desse banco ou finjo que não a vi… finjo surpresa! (Sou um idiota mesmo!)… ela está me procurando… o que eu faço? (Ela é linda!)… não tenho forças para me levantar… (ela me viu!)… olá!  (O amor é um paradoxo: se aprisiona quando se acha e liberta quando se perde). 21h04 (A praça, mesmo lotada, só enxergava ela!) Não sei como fui capaz de gerá-la, de gestá-la? Nunca pensei que fosse ser capaz de um ato desse! É como se tudo de repente ficasse pequeno, diminuto! É uma coisa muito louca, esquecemos de nós… lembrando do outro – é como se tudo dependesse desse outro ser, que de alguma forma faz parte de uma parte que não é sua. (Toda essa gente passa, passa…), mas nada mais importa, é como se tudo se reduzisse a nada. A presença dela é única, singular, mesmo parada, ela ocupa todos os lugares, é onipresente e aflige todo meu ser. Não consigo parar de falar… falo numa língua que nem eu mesmo entendo (dizem que os que amam falam coisas estranhas de línguas estranhas).  Ela veio… 22h20 Criei essa dimensão estética e atemporal para conceber essa personagem… esse ser ideal, onde o amor caberia em toda sua plenitude, onde não haveria mais nada além de nós dois – que é ao mesmo tempo real e imaginário. Me esforcei ao máximo para que ela não notasse meu nervosismo (fui tão natural quanto uma árvore frente a um vendaval). A praça toda estava em alvoroço! Não tinha notado o quanto de gente havia ali – crianças, mulheres, meninos, homens velhos… parei de falar…(O silêncio é o idioma secreto dos amantes). Assim ficamos por um longo tempo… não lembro de nenhuma palavra que disse, nada faz sentido… sem nexo e contexto… (Agora que ela está aqui, não sei o que fazer).  23h06 Já não tenho ideia de quanto tempo passou desde que ela chegou. Agora consigo observar melhor ao meu redor, vejo com mais clareza a praça e os frequentadores… parece que todos combinaram para ir embora ao mesmo tempo – me sinto solitário mesmo na presença dela. É como se algo me faltasse, como se a presença dela me consumisse a cada instante. Eu a olho, procuro em cada centímetro de sua estrutura alguma coisa que posso usar como refúgio ou álibi – tudo isso me perturba, sua beleza, seu silêncio proposital, ela me devora mesmo calada! Sua inércia estremece toda a praça – não quero isso… não quero amá-la, será mais um fracasso! (Por que ela não vai embora?) Me sinto uma Cinderela às avessas e contemporânea: o encanto não se desfaz à meia-noite. Ele se alonga por um tempo indeterminado – no baile sou a garota que o príncipe nem nota… o baile é a praça! (Todos estão indo embora!) Não busco um príncipe encantado, sou o príncipe! (Me sinto só) ela permanece imóvel, me olha (por que ela faz isso?). Vou fugir desse lugar… sair correndo… sou eu ou ela… vou deixar meus rastros por aí… um lado do meu tênis velho e furado na calçada… um pouco do que ainda resta de mim naquela esquina… nem lembro, às vezes, quem sou… não tenho carruagem, boleeiro, pajem, fada-madrinha, porra nenhuma! (Ela continua lá, imperceptível diante de mim).  00h12 Eu – …você não vai f… minha vida não, né? Ela – Você quer que eu vá embora? Eu – Nem sei por que veio… Ela – Você falou que gosta de mim! Eu – Achava que você não vinha… Ela – Seu fdp! Por que me convidou? (Pausa) Eu – Você vai f… minha vida, né! Ela – Coloquei minha melhor roupa… Eu – Va
i f… minha vida… (Pausa longa) Ela – Você não sabe o que é amar! Nunca vai saber o que é amor. (Ela foi embora) Esse momento foi a ruptura e o desencantamento de tudo – o sorriso não era o meu (resto de um riso que se perdeu)… mais uma vez acreditei… (Não consegui mais olhar pra ela!) Estendemos as mãos… mas nunca nos tocamos.  E a praça ficou em silêncio.  …

*Escritor e Cronista Tel: +55 (95) 99138.1484 [email protected]

De que você necessita? – Afonso Rodrigues de Oliveira

“A águia voa sozinha, os corvos voam em bando, o tolo tem necessidade de companhia, e o sábio necessidade de solidão.” (FriedricRückert)

Lembrei-me disso ainda há pouco, mirando o pôr do Sol. Os desenhos que se formam com as nuvens são encantadores. E num momento raro, uma estrela solitária brilhava por cima do volume de nuvens escuras. Nesses momentos, reflito sobre os comportamentos dos seres humanos, em relação à Natureza. Os encantos que vivemos aqui na Ilha Comprida, só atraem os que necessitam de solidão, sem solidão. Estou me sentindo uma pessoa feliz com a beleza movimentada do ambiente. O pôr do Sol é como se a Terra estivesse caindo sobre o travesseiro da noite, para descansar.

Habitantes de metrópoles não têm a felicidade de viver momentos simples, mas encantadores, com a beleza natural, vinda da Natureza incomensurável e rica.

E não vá pensar que estou embriagado com a leveza na beleza de um pôr de sol, não tão observado pelos que não têm tempo para viver a vida. Ser tranquilo não significa ser parado. É nos pensamentos que viajamos através das nuvens, no espaço sideral, numa viagem enriquecedora. Estou apenas encantado com o encanto do dia a dia, quando sabemos viver cada dia de nossas vidas. E só conseguiremos isso com paz e tranquilidade. Que é o que estou vivendo neste momento. E por que você também não faz isso? Simples pra dedéu.

Estamos apenas iniciando mais uma semana de atividades. Momentos que exigem de cada um de nós, muita ação, porque vivemos num universo em transformação. E toda transformação exige ação. Mas temos que treinar nossas mentes para que possamos agir dentro da racionalidade. Porque só assim seremos atuantes num procedimento racional. E comece não se preocupando com esse aparente blá-blá-blá. Porque na verdade não é isso que isso é. Não conseguiremos desenvolver nossas mentes enquanto ficarmos ocupando-as com coisas e assuntos que não nos levam a lugar nenhum. Admire mais o pôr do Sol. Procure vê-lo nascer, pela manhã, na caminhada que ele irá dar até o repouso à tardinha. 

Não é à toa que decidi morar numa Ilha paradisíaca, com características de um mundo em que já estamos acostumados a viver. Onde a diferença está na tranquilidade, na paz e no encantamento natural. E você não precisa vir para a Ilha, pode viver os momentos mais tranquilos e de paz, usando a paz que existe dentro de você. Procure o que você realmente quer em você mesmo, ou mesma. Tudo de que você necessita para ser feliz está em você. É só você saber ser. Não perca seu tempo procurando a felicidade nos outros. Ela está em você. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460