Opinião

Opiniao 24 08 2019 8808

A importância dos limites na educação – Flávio Melo Ribeiro*

Lendo um texto sobre como desvirtuar a educação de uma criança, dois pontos me chamaram bastante atenção. O primeiro “comece na infância a dar ao seu filho tudo o que ele quiser. Assim, quando crescer, ele acreditará que o mundo tem a obrigação de lhe dar tudo o que deseja.” O apelo comercial dos dias de hoje fazem com que os pais sem firmeza e esclarecimento cedam aos desejos dos filhos, passem a comprar tudo, mesmo que para isso se sacrifiquem. O fazem para agradar, para evitar birra, ou mesmo para não escutá-lo chorar, sem darem-se conta do futuro do filho e da armadilha que estão montando para si próprios. Muitos entendem que os filhos assim agem porque são crianças e com o simples passar do tempo se tornarão adolescentes maduros e compreenderão os pais. Ledo engano, ninguém amadurece sem limites, sem compreender a consequência dos seus atos, sem vivenciar que o mundo não gira ao seu redor.

Segundo ponto, “apanhe tudo o que ele deixar jogado: livros, sapatos, roupas. Faça tudo para ele, para que aprenda a jogar aos outros toda a responsabilidade.” Me chamou atenção não o comportamento dos pais, mas a antecipação que fiz ao procurar visualizar quem seria esse adolescente e passei a reconhecer diversos clientes, conhecidos, filhos de amigos e companheiros de esportes. Todos lidam muito bem quando todo o ambiente está equilibrado, mas na primeira dificuldade, vejo o quanto é fácil acharem culpados. A ênfase com que fazem as críticas aos demais e a facilidade de salvarem a própria imagem é algo visível, despercebido apenas a quem o faz. Muitos pais acham bonita a bagunça que os filhos fazem porque avaliam a esperteza da criança, esquecendo-se de ensinar que a bagunça também pode ser arrumada e é responsabilidade de quem fez. Porém esses mesmos pais ficam horrorizados quando aos 18 anos o filho continua fazendo bagunça e não cuidando dos bens familiares. 

Nos dias de hoje, há pais que ainda seguem teorias sem consistência que afirmava absurdo como a necessidade de um “jardim do Éden” a todas as crianças, como se cada um tivesse o seu próprio mundo. Mas, na realidade, vivemos todos num único mundo, porém de forma diferente, com significados diferentes para as mesmas situações, pois temos histórias e educações diferentes. Isto contribui para ocorrerem as adversidades e atritos entre as pessoas e a falta de limite vai dificultar ainda mais a resolução destes, pois a primeira reação é a mágoa, a raiva, o embate; raramente a compreensão, a conquista de espaço levando em consideração as consequências de seus atos e a ética.

*Psicólogo- CRP12/00449 E-mail: [email protected], Contatos:(48) 9921-8811 (48) 3223-4386

Oportunidades para o saneamento – Luiz Pladevall*

O saneamento precisa avançar a passos largos para atender às demandas da população. Uma recente revisão do Plansab (Plano Nacional de Saneamento Básico) traz o cenário para a universalização dos serviços – traçado para o período entre 2019 e 2033 – com a necessidade de investimentos na ordem de R$ 600 bilhões no setor.

Esta é uma tarefa árdua do atual e dos próximos governos. Para alcançar esses objetivos, é necessário traçar um planejamento rigoroso, capaz de atingir as metas estabelecidas, começando pela organização do atendimento das necessidades do setor. Hoje, o acompanhamento federal das demandas dos municípios está pulverizado em diversos órgãos. Enquanto nas cidades acima de 50 mil habitantes (12% dos municípios do país) o saneamento é gerido pela Secretaria de Saneamento do Ministério do Desenvolvimento Regional, as demais localidades (88% do total) são atendidas pela Funasa (Fundação Nacional de Saúde), ligada ao Ministério da Saúde.

A ausência de políticas públicas centralizadas compromete o adequado planejamento e contribui para retardar medidas estruturais e medidas estruturantes. As primeiras estão diretamente ligadas aos investimentos em empreendimentos físicos. Mas elas só podem avançar a partir das medidas estruturantes. Elas são essenciais para o suporte político e gerencial para a sustentabilidade da prestação dos serviços. Essas medidas norteiam o aperfeiçoamento da gestão nas mais diversas dimensões e também da melhoria cotidiana e rotineira da infraestrutura física. As medidas estruturantes são de responsabilidade governamental e deveriam ser as primeiras ações a serem iniciadas. A revisão do Plansab prevê R$ 132 bilhões para as ações estruturantes. Elas vão orientar o avanço da infraestrutura do saneamento, fornecendo, por exemplo, orientação técnica aos municípios para a elaboração do plano municipal. Precisamos ainda inverter a perversa lógica de fazer planejamento de governo e passar a adotar um planejamento de Estado, transformando o saneamento em uma política pública permanente.

Um próximo passo é organizar as informações. A base do planejamento deve estar alicerçada em dados confiáveis e, apesar de oferecer um panorama do setor, os levantamentos do SNIS (Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento) são elaborados a partir das declarações dos próprios representantes dos 5.570 municípios brasileiros. A maioria dessas localidades sequer conta com especialistas para conduzir a elaboração de um plano municipal de saneamento e, provavelmente, fornecem informações sujeitas a muitos erros. A solução passa pela adoção de auditorias para alcançar um diagnóstico preciso do setor, assim como para traçar um panorama real das necessidades de investimentos no complexo universo do saneamento brasileiro.

A partir de um panorama minucioso, podemos ainda avançar importantes etapas para a universalização, elaborando um planejamento capaz de estruturar operações regionalizadas – por bacia hidrográfica ou região administrativa – permitindo o subsídio cruzado, onde os municípios maiores contribuem para o atendimento das demandas das localidades menores. A modelagem favorece ampliar a escala da prestação de serviço e implementação de obras. A adoção dessa medida aumenta a produtividade das prestadoras de serviço, abrindo a possibilidade de que operadores ineficientes, como empresas estaduais deficitárias e municípios de pequeno porte economicamente inviáveis, conquistem padrões dos operadores eficientes.

Vale ressaltar que o avanço do saneamento depende de investimentos da iniciativa privada. Atualmente, as três esferas de governo não dispõem de capacidade para fazer frente aos investimentos necessários para a universalização do setor. Essa é uma realidade que pode ser atendida de forma equilibrada e justa, com regulação forte, estudos de engenharia e financeiros detalhados e confiáveis, culminando em tarifas justas para o consumidor.

O planejamento também vai ajudar as empresas a enfrentar os desafios como a preparação de mão de obra especializada para dar conta dos estudos de viabilidade dos projetos, obras e serviços operacionais. A área de saneamento tem sua própria complexidade e demandas profissionais especialmente preparadas.

Precisamos avançar os empreendimentos de forma equilibrada e que atendam às demandas tão necessárias para uma grande parcela da população brasileira.

*Engenheiro, presidente da Apecs (Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente) e vice-presidente da ABES-SP (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental).

“Liberdade ainda que tardia” – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“A condição mais substancial do voto é a sua liberdade. Sem liberdade não há voto.” (Rui Barbosa)

Não há como fugir do assunto. Ele é sempre uma preocupação para quem respeita a liberdade. E nunca a respeitaremos enquanto formos obrigados a fazer por obrigação o que deveríamos fazer por dever. Você nunca percebeu que você não tem liberdade no seu voto? Quando você vota não está votando. Está obedecendo e elegendo quem dizem para você eleger. Sem liberdade não há voto e sem voto livre não há democracia. E democracia é tudo de que necessitamos para que nos respeitem como cidadãos. Vamos começar a batalha silenciosa para que possamos nos orgulhar da nossa democracia. 

Como você está analisando o seu próximo candidato para a próxima eleição? Será que ele está consciente do dever dele como seu representante no poder público? Será que ele, seu candidato, está consciente do seu dever para o nascimento da democracia? Vá pensando nisso enquanto as eleições se preparam. Porque você vai ser um elemento muito importante para o crescimento da nossa política. O que exige de você a responsabilidade no crescimento da democracia. Porque sem ela nunca seremos cidadãos. É uma batalha simples, é só você pensar no poder que tem no crescimento do País. 

Cuidado com o que você vai fazer, usando o seu voto. Porque enquanto você não tiver um voto livre, você o estará apenas transferindo. Lute pela liberdade do voto. Mas faça isso sem arrufos nem passeatas fúteis. Faça-o nas urnas. Mas primeiro você precisa medir o valor do seu voto. O quanto ele é interessante para o desenvolvimento do País. E ele só terá valor quando for dado a alguém que o mereça. E você nunca fará isso enquanto for obrigado a votar. A obrigatoriedade cerceia sua liberdade. 

Converse com seu candidato e procure perceber se ele está realmente preparado para o cargo que irá ocupar. Veja se ele está preparado para a construção da democracia de que necessitamos. Porque nunca seremos um país desenvolvido, nem civilizado, enquanto formos obrigados a votar em candidatos incompetentes que não são capazes de fazer por nós o que realmente merecemos. Mas não se esqueça de que precisamos nos preparar para o voto facultativo. E ainda não estamos preparados. Então vamos fazer por nós o que os que deveriam fazer não fazem: educar-nos politicamente. Política é coisa séria e não deve permanecer como um meio de enriquecimento fornecido por nós, a pessoas que não merecem nosso respeito. Batalhe pela liberdade do voto. Quando estivermos conscientes disso, nos respeitaremos e seremos respeitados como cidadãos. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460