Opinião

Opiniao 27 01 2020 9678

Meu Coração era Vermelho

Daniel Severino Chaves*

A cor do meu batuque tem o toque e tem o som que faz calar a minha voz, Vermelho, amarelaço, verde fosco, vermelhante, bem verdão. O velho comunista se aliançou ao rubro do rubor do meu clamor, o brilho do desencanto tem o tom e a expressão da minha dor. Vermelho. A cor do meu cutuque tem o toque e tem o som que faz calar a minha voz, Vermelho, amarelaço, verde fosco, vermelhante, bem verdão. O novo capitalista nos afiançou ao rubro do rubor do meu clamor, o whatsapp desencanto tem o tom e a expressão da minha dor.

Meu coração, meu coração é vermelho, hei, hei, hei, de vermelho vive o sem noção, ê, ô, ê, ô. Tudo é garantido após o rojo amarelar, tudo é garantido se o por do sol enverdecer. Vermelhou o CURRAL, a ideologia do folclore amarelou, vermelhou sem noção, era fogo de artifício da vitória avermelhou. Verdejou o CURRAL, a ideologia do folclore verdejou. Vermelhou capachão, o fogo de artifício sem memória alaranjou.

A voz do meu batuque tem o toque e tem a cor que faz brilhar o meu algoz, Vermelho, amarelaço, verde fosco, verdejante, bem verdão. O velho sindicalista se locupletou ao rubro do rubor do meu clamor, o brilho do desencanto tem o som e a expressão da minha dor. Vermelho. A dor do meu batuque tem Cristina Kirchner que faz calar a minha voz, Vermelho, amarelaço, verde fosco, verdejante, bem verdão. O novo capitalista nos afiançou, ao rubro do rubor do meu clamor, a morte de Soleimami tem o tom e a expressão da minha dor.

Meu coração, meu coração era vermelho, hei, hei, hei, de vermelho vivi sem noção, ê, ô, ê, ô. Nada é garantido após o rojo amarelar, nada é garantido se o por do sol enverdecer. Verdejou o CURRAL, a ideologia do folclore amarelou, verdejei sem noção, era só fogo de artifício da vitória vermelhou. Verdejou o CURRAL, a ideologia do folclore verdejou. Verdejei capachão, o fogo de artifício vem agora com explosão. Vermelhou, alaranjou! Verdejou, amarelou! Agora vou me embora pra ficar aonde estou!

*Prospetivista

Morîîpe Ereepantî

Linoberg Almeida*

E mais uma vez me senti super bem-vindo na Comunidade Darôra, como diz a saudação em Macuxi, no caibro do telhado da Escola vovó Tereza. E mais uma vez fui ver de perto quase 2 milhões de reais da obra lenta de uma escola nova, cheia de promessas, que já duram 2 anos e, antes de ser entregue, já está em situação precária.

Dá um aperto no peito saber que parede rachada; teto de zinco quente; material de péssima qualidade; mictórios mal instalados, fora da altura das crianças; portas empenadas; piso desnivelado, feito e refeito e ainda com defeito; fossa séptica onde água do igarapé avança no inverno, poderiam ser evitados se nos ouvissem. ‘Nos’ aqui é comunidade, tuxaua, lideranças, população… No entanto, ouvido de mercador reina.

O ambiente escolar é quase um professor e deve dialogar com o espaço no qual ele está inserido, estimulando aprendizagem, facilitando a perspectiva do ensino em si e da transmissão sociocultural, tão importante para uma escola em comunidade indígena. Valorizar aquilo que brota do chão que se pisa cria uma questão de pertencimento.

Se falta cerca, se calor grita e incomoda, se há dificuldade para urinar, a escola perde conceitos básicos como segurança, saúde e conforto adequados à realidade de onde ela está inserida. O ambiente precisa ser parte da reflexão antes de 1,6 milhão de reais e aditivos no meio do lavrado. Pedagogia e metodologia contextualizadas têm resultado mais eficiente.

É como se quiséssemos fidelizar o espaço tornando ele a imagem do que representa. Pense em pé direito alto, varanda parte de áreas importantes de circulação, vento correndo e sombra acolhendo, capazes de fazer da escola alojamento de saberes tradicionais, ora praça, ora jardim, ora parque, numa ponte que liga o passado a outras visões de futuro. Vi janelas de vidro temperado, material escolar pasteurizado e importado, PVC e tudo mais para apagar o passado e o presente roraimense.

A arquitetura tem um poder transformador e, numa comunidade como esta, pode ser o elo entre natureza e espaços públicos num processo experimental de sinalizar outros nortes aos da cidade. Socializar com menos impacto ambiental pode ser o eixo motivador a se integrar ao ecossistema. Não é só a batata doce, a pimenta, o melão e a melancia que brotam nos campos que alimentam; ajustar a sintonia de quem somos e onde vivemos pode ser o próximo florescer. Imagine o Forte São Joaquim restaurado sendo destino turístico didático sobre nós…

Como a escola nova de jeito velho não está entregue, a volta às aulas deve ser na velha escola que resiste. De chão furado, escura, madeiras tortas, meio sala de aula, meio depósito de esperanças… Sobrevivem pouco mais de 40 crianças em salas multisseriadas. Eu sei, você vai dizer que eu critico. E no fundo você sabe que é a atitude correta da missão para a qual me escolheu.

A educação avançou e é uma das áreas destaque da atual gestão municipal, o que não a faz imune a erros. Eles não aparecem na propaganda e como a região do baixo São Marcos está longe dos olhos, cabe ao olho do legislador, como fiscal, trazer à luz e ser ponte às soluções. Empresas falham, eu falho, mas o projeto com dinheiro público poderia ser concurso público capaz de ouvir a comunidade, para falhar menos. Agora, correr atrás para prejuízo não ser maior.

E olha que lá até o inovador projeto de energia solar, que deu na Folha de São Paulo, com investimento milionário, hoje está abandonado e não tem nem três anos. É preciso aprender com erros e usar ciência capaz de revolucionar o nosso senso de comunidade a partir de nossas e outras experiências, prioridades e arquiteturas.

*Professor e Vereador de Boa Vista

Por que igualar?

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“O problema do século XX é o problema da segregação racial.” (William Du Bois)

Eu digo que a cultura é o cadinho no qual se fundem todas as culturas. E é dessa fusão extraordinária que sai a arte. Até mes
mo a arte de viver. Os povos mais primitivos já nos deram essa lição. Eles nos mostraram o gosto pela arte expressa nas formas mais primitivas. E, pelo que vemos, não estamos demonstrando arte no nosso primitivismo. Ainda não entendemos que quem luta pela igualdade é porque se sente inferior. Você não precisa lutar pela igualdade nem pela superioridade. Basta saber e reconhecer que somos todos iguais nas diferenças.

Faz mais de sessenta anos que aprendi, nos treinamentos de Controle de Qualidade e Relações Humanas, que nunca devemos deixar de elogiar algo em alguém, seja quem for, como forma de reconhecimento no valor de cada um. Mas tenho observado que essa qualidade do ensino no relacionamento está caindo pelos barrancos da ignorância. O jornalista Apparício Torelly tem uma frase que receio, sempre publicá-la, por ela ser meio agressiva. Mas ela reflete bem as mudanças no comportamento feminino atual, em relação às diferenças e igualdades, como são consideradas, nas lutas sociais. Mas é bem verdade que a influência da mídia no comportamento social está preocupante.

Tenho feito essa experiência com frequência. Embora eu tenha aprendido nos treinamentos que devemos aprender a elogiar com elegância e respeito, não tenho visto bom resultado nos ensaios. Está perigoso você elogiar, por exemplo, até mesmo o brinco de uma mulher, sua desconhecida. Já vivi essa experiência, até mesmo quando não elogio. Ainda há pouco fiz uma experiência com os mesmo resultados negativos. 

Depois do almoço fui até o Posto de Saúde pegar uns comprimidos para a dona Salete. A moça me atendeu com elegância e presteza. Terminado o atendimento agradeci e lhe desejei uma boa tarde. A moça continuava sorridente. Mas estendi um pouco mais a conversa, dizendo que como já estávamos no final da sexta-feira, que ela tivesse também, um bom fim de semana. Observando seu comportamento, olhei para ela e ela estava com a cara amarrada e nem me olhou, nem agradeceu o cumprimento. Parei por um segundo olhando para ela, mas ela não olhou mais pra mim. Saí sorrindo com a confirmação do meu pensamento. Estamos vivendo uma guerra social entre os dois sexos, mostrando que em ambos os lados há uma necessidade premente de civilidade. Talvez estejamos nos preparando para o próximo dilúvio. Quem sabe. Talvez depois aprendamos que não devemos ignorar o sentido místico da espiritualidade. Pense nisso.

*Articulista

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99121-1460