Opinião

Opiniao 28 01 2020 9686

Assistindo BBB

 Rodrigo Alves de Carvalho*

 

– Querido, vêm! Está começando o Big Brother Brasil!

– Já estou indo querida. Só estou preparando uma coisinha gostosa pra gente comer.

– Então corre que o Tiago Leifert já vai começar o programa…

– Vou colocar o que preparei na geladeira. Depois a gente come.

O programa começa e o casal, juntinho no sofá, está vidrado na televisão, em mais uma maratona do BBB.

– Nossa querido, os participantes desse ano são tão bonitos!

– É verdade. Tem umas mulheres tão gostosas seminuas e uns rapazes tão musculosos…

– Se você quer ver gostosas peladas, porque não assiste um canal pornô?

– Porque o Big Brother é mais pornográfico que canais pornô, uai! E ainda por cima é liberado para a criançada…

Risos dos dois.

– Olha querida estão bebendo na festa!

– Vixi! Agora a mulherada fica louca.

– Estão misturando um monte de bebidas enchendo a cara e falando palavrões…

– Que legal!

– Mas e os jovens e adolescentes que estão assistindo irão querer fazer igual!

– Deixa eles. Se está passando na televisão, num horário, nobre é porque encher a cara deve ser uma coisa saudável…

– Querido…  querido, o participante está indo no banheiro!

– É verdade. Ele trancou a porta.

– Será que ele está fazendo xixi ou cocô? Nossa como eu queria uma câmera no banheiro para ver ele fazendo cocô.

– Credo! Esse cara fazendo cocô deve ser nojento e fedido. Mas a loirinha bonita fazendo um cocozinho deve ser lindo demais!

– Agora estão dormindo. Como é bonito ver nossos heróis dormindo!

– Olha como roncam e peidam nossos anjinhos!

– Estou com fome querido. Vai buscar o que você preparou para a gente comer.

Ele vai até a cozinha e volta com duas tigelas repletas de capim. Coloca as tigelas no chão e ficam de quatro comendo somente com a boca, sem usar as mãos.

Enquanto ruminam o capim e relincham, não tiram os olhos da TV onde assistem dois participantes do BBB fazendo sexo debaixo do edredom.

 

*Nascido em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos”, pela editora Clube de Autores.

Filosofia do afeto

 Walber Aguiar*

“O amor é como um baio, galopando em desafio, abre fendas, cobre vales, revolta as águas dos rios. Quem quiser seguir seu rastro se perderá no caminho, na pureza de um limão ou na solidão de um espinho…” (Djavan)

Era junho. Inverno de insetos e fecundações, de desejos reprimidos e comunhão de afetos, de aventuras conjugais e ilusões necessárias. Ali, entre a sobriedade da dor e a loucura do sentimento, brotou da lama das chuvas a intensa vontade de partilhar, de criar vínculos, de entender a felicidade do ponto de vista do jugo, da parceria, do homem enquanto ser gregário.

Condenado a ter esperança, surgia agora uma alternativa. Isso porque, confrontado com a ótica divina da conjugalidade, ao homem restava apenas a felicidade a dois, a tentativa de fundir as vontades, o desejo de caminhar e olhar na mesma direção.

Ora, sob a dimensão e a realidade da queda, o que era sólido tornou-se esboroável, o que se afigurava com eterno, relativizou-se diante da dúvida, das angústias e da complexidade conjugal. Nesse tempo de hermeticidade do sentimento, não há mais a inocência em relação ao mal; advindo daí o ciúme, a inveja, a cobiça, as relações por interesse.

Assim, nesse tempo das flores vermelhas da paixão e das flores amarelas do medo, da busca desesperada pelo complemento afetivo, há uma necessidade premente de se ver e se perceber como uma espécie de náufrago do afeto, onde seguir sozinho é uma possibilidade.

A partir daí nos deparamos com as paixões de Vinicius de Morais e seu essencial existencialismo do “mas que seja infinito enquanto dure”. Por outro lado, Mário Quintana optou pela solidão, pela ruminância das horas silenciosas, à semelhança de Carlos Drummond de Andrade. Dizia ele que as mulheres são seres complicados.

O que fazer com o casamento, a união estável, a proposta divina, a família como ideia de Deus? O “pra sempre” foi relativizado na poeira dos dias apressados, da desconfiança, da incompatibilidade de gênios, do cansaço relacional, quase sempre desgastado pela sufocante poeira do cotidiano sem aventura.

Era inverno. Tempo de solidão, de imaginação fertilizada pelo desejo de amar e ser amado; ou de, simplesmente, amar a si mesmo, incondicionalmente, lançando um novo olhar sobre a felicidade desacompanhada.

Estaríamos preparados para essa inquietante filosofia do afeto?

*Advogado, poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de Letras

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Lidere motivando

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Motivação é a arte de fazer as pessoas fazerem o que você quer que elas façam por vontade delas.” (Eisenhower)

E motivar não é tarefa fácil. É um assunto nada fácil, apesar de simples, numa linguagem curta, simples e agradável. Já foi objeto de muitas discussões, de infindáveis pesquisas e debates, durante longos e trabalhosos anos. A dificuldade de você levar às empresas e demais órgãos, os ensinamentos da motivação, para a liderança, está na simplicidade. Simples pra dedéu. Os maiores e mais renomados palestrantes sobre o desenvolvimento profissional está na sua capacidade de falar. O que, na realidade não é bem assim. Nos ensinamentos para a qualidade, está o princípio de que o bom conversador não é o que fala mais, mas o que escuta e ouve mais.

Foi já no início da década dos anos sessentas que o movimento para o controle da qualidade se espalhou e se desenvolveu na indústria paulista. Sinto-me feliz por ter participado daquele movimento, com entusiasmo e amor. Ainda em sessenta e quatro fiz, no SESI, em São Paulo, o primeiro curso de Controle de Qualidade no Trabalho e na Família. Foi um movimento dinâmico e produtivo. Durante dez anos trabalhei numa grande empresa paulista, dirigindo o Controle de Qualidade. Foi um período que me enriqueceu muito no preparo para o profissionalismo. Tenho histórias pra contar.

 Em 1980, desliguei-me de um grande estaleiro no Rio de Janeiro, onde exerci a função na qual me especializei, para ir para Roraima. Embora ido com intenções de exercer outras atividades fora da indústria, não resisti à tentação de permanecer levando às outras pessoas minha experiência no Controle de Qualidade. Mas não tive êxito. Não por ineficiência, claro, mas por não estar mais disposto a encarar as dificuldades no ambiente inexperiente. E nada mais difícil do que levar ao público em particular, ou seja, em reuniões, um ensinamento que não deve ser passado como ensinamento, mas como motivação. E não é nada fácil você querer orientar os que se julgam orientadores. A simplicidade é uma das maiores dificuldades onde não há simples.

Sinto-me triste quando ouço os comentários de autoridades e publicitários sobre como orientar o cidadão que vai para a rua proteger o cidadão. As autoridades ainda comentem o equívoco de tentar preparar o policial, por exemplo, para combater o marginal, quando deveria treiná-lo para proteger o cidadão. Vem desse desencontro o desencontro entre o público e o seu protetor. Se se levar em consideração as diferenças nas atividades, o mesmo vai ser considerado entre o vendedor e comprador. Pense nisso.

*Articulista

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99121-1460