Opinião

Opiniao 29 11 2019 9382

Faíscas da alma

Paulo Nicholas*

Faíscas de alma são aquelas pequenas ignições de inspiração que podem se transformar em grandes mudanças na sua vida. Novas direções ou novos trabalhos. Elas vêm do fundo de você, mas fazem seu corpo e sua mente tremerem com a excitação da mera expectativa de sua realização. Às vezes são meros pensamentos, ideias ou possibilidades que aparecem do nada em nossas mentes. Isso, se alimentado, pode se transformar no que chamo de “fogo na planície da alma”.

São elas fazem você único. Que te entregam satisfação pessoal e um verdadeiro sentido de significado. Por meio delas é que achamos o nosso lugar no mundo, animamos nossa paixão para mover as coisas para frente, para cima e para longe à medida que endurecem nossa determinação e estimulam a capacidade de trabalhar em prol de um sonho ou projeto pessoal.

Muitas vezes elas nascem de relacionamentos. Cônjuge, parceiro, amigos, filhos e outros. Enfim, daquelas pessoas que melhoram você. Aquelas que te seguram quando você precisa de apoio. Que te amam quando você está pra baixo e desafiam quando você está deslizando. Faíscas de alma por vezes são inspiradas por amizades verdadeiras e conversas espirituosas.

No trabalho

O trabalho é uma parte cada vez mais importante na vida do cidadão moderno. Encontrar um trabalho que nos emociona é sempre um desafio. Neste campo, as “faíscas da alma da carreira” são aqueles momentos em que nos deparamos com algo dentro, no qual, quando o puxamos, transforma-se em algo que queremos gastar nosso tempo de trabalho fazendo plena e apaixonadamente. Isso pode acontecer quando somos crianças e temos aquele sonho de ser astronauta, na adolescência, estabelecendo uma direção para a faculdade, mas também acontece durante nossa vida profissional, enquanto idealizando um projeto inovador. Elas são as fontes que mantêm nosso trabalho em uma trilha intencional, quando fazemos algo com um propósito em vez de apenas correr em círculos sem vida com o único propósito de pagar as contas.

Pra que?

Precisamos de faíscas na alma. Na verdade, não podemos realmente viver sem elas. Se você está se sentindo sem faíscas ou sem alma, então precisa repensar tua vida para encontrá-las e experimentá-las, ouvi-las e alimentá-las.

E isso é parte essencial de nossas vidas. Pode ser apenas fazendo coisas simples como ler aquele livro, meditar, ir àquela palestra, etc. Ter a faísca é apenas parte da fórmula; a outra parte é fazer algo com ela. É sua escolha acendê-las e transformá-las em um “fogo na planície da alma” e depois em realizAÇÃO.

Poucas pessoas, na minha experiência, alimentam suas faíscas de alma, mas devemos continuamente tentar nos colocar em posição de experimentá-las. Para cada centelha de alma que ganhamos, melhor será a nossa vida – e as vidas ao nosso redor -.

Como pai, filho, amigo, professor ou escritor, te asseguro: Devemos sempre tentar incentivar os outros a experimentar ou pegar uma centelha de alma para alimentar. Quanto mais a alma brilha, mais brilhante é a luz em tudo o que fazemos.

Eu acredito em faíscas de alma. E você?

*Advogado e escritor

UM BRASIL PLURAL QUE INSISTE EM SER SINGULAR

 Wender de Souza Ciricio*

De um lado o branco racista tendo que ser contido por artigos constitucionais que limitam que o mesmo extravase sua antipatia à outra cor que não seja a sua. Ao mesmo tempo vemos um ou outro heterossexual xingando e denegrindo o homossexual enquanto esse mesmo homossexual grita e apela nas paradas gay que todos devem aceitar esse status e comportamento. Alguns brigam e esbravejam defendendo a legalização do aborto sob qualquer hipótese. Na política vivemos dois extremos. A direita se vendo absoluta, insinua o fim de viés ideológico e esquece que ela mesmo é uma ideologia. A esquerda, durona e mesmo tendo visto suas ideologias ruírem com a queda no muro de Berlim, insiste que esse é único argumento válido. As igrejas, sem qualquer possiblidade ecumênica, levantam seus templos um ao lado do outro sem qualquer constrangimento e vence que tem mais volume na fala e mais poder contra as hostes malignas.

O que ouvimos quando diz que o mundo é plural? Ouvimos que todos os argumentos e comportamentos, mesmo sem serem exatamente no que creio, devem ser respeitados, a não ser que esses firam as leis gerando anomalia social, como é caso de alguém que rouba ou mata outro. Por plural entende-se que existe o direito de falar e lutar pelo que alguém ou um grupo acredita, mas sem impor que o outro lado concorde e aceite. Na concepção do plural o que se deve apreciar é o respeito às múltiplas diferenças de pensamento e comportamento. Entretanto, o que está pegando é que esse plural está insistindo em seu singular.

No debate e tentativa de impor ideias custe o que custar e doa a quem doer, o Brasil está ainda mais pobre de ideias, pensamentos e intelectualidade. Cremos numa causa mais por simpatia, emoção, do que por razão, leitura e compreensão para saber com mais clareza do que se trata. Nos entregamos a algo sem medir o que esse algo foi no passado e o que pode gerar no futuro, simplesmente queremos crer nisso e dane-se um grito diferente do outro lado para que ideias sejam ponderadas e avaliadas de forma menos ufanista e sentimentalista. Lemos duas páginas sobre o que cremos, e olha lá se lemos, e saímos destilando farpas e ódio contra pessoas diversas, amigos e parentes que pensam diferente. Cadê o plural?  Queremos, também, que o outro lado mude para o nosso lado o que até aí tudo bem, pois crer que essa nossa ideia faz bem para todos não é errado. O erro é impor, exigir e coagir o outro conceber nossas crenças e ideologias. Mesmo que algo tenha coerência o respeito deve ser prevalecer.

Enquanto estamos insistindo em coagir e enjaular as pessoas dentro de nossas ideias, fazendo com que nossa cabeça se transforme num calabouço ou numa solitária como de um presídio, os jovens estão lá fora perdidos e desnorteados enchendo-se de drogas e forte bebidas alcoólicas, os hospitais sucateados, as escolas tomadas por cupins e carteiras onde alunos sentam e se definham, meninas menores de idades dando a luz fora do tempo e do espaço, aumento da violência entre facções que não só matam como também tiram a cabeça da vítima e faz da
mesma uma bola de futebol. Nossa ideia considerada singular, única e legítima não está livrando pessoas da desgraça e da penúria. O mundo visto pela lente das avenidas e prédios são diferentes do que pregamos.

Estamos numa encruzilhada cansados de discursos, farpas, ódio e trocas de gentiliza. Não queremos o bom, pois o bom muitos fazem, o bom é pequeno para nossa carência e para nosso limite. Não nos interessa o plural querendo ser singular, queremos o extraordinário, queremos o excelente, somos humanos e o que nos interessa são soluções para a dor nostálgica que nos persegue, para nossa falta de recursos quando ainda faltam dez dias para o pagamento, queremos vida e fôlego para acreditarmos que o melhor existe e que não está longe de nós. Chega de mentira, de ódio e de falta de respeito. Chega de “verdades” que não produzem felicidade,

*Historiador, psicopedagogo e teólogo

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Mais um início

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Me encanta os pássaros,

em minha janela cedo da manhã,

solfejando suaves melodias,

numa só sinfonia, que me leva a meditar.”

(Neide Maria Rodrigues)

Na verdade eu também me encanto, todos os dias, com os pássaros cantando e os quero-queros passeando, em pernas longas, pelo gramado da Praça. Entrego-me ao encanto e fico na varanda assistindo ao espetáculo que a Natureza nos oferece, e nem sempre sabemos desfrutar. Sou feliz em poder viver os momentos agradáveis da vida, pela vida. O importante é que saibamos viver os momentos que devem ser vividos pelos que realmente devem vivê-los. E se isso está lhe parecendo sofrência, cuidado. Talvez você esteja desperdiçando o melhor de sua vida.

Era manhã ensolarada. O dia estava chamativo para uma caminhada pelos calçadões maravilhosos da Ilha Comprida. Mas preferi permanecer observando os movimentos dos pássaros, embelezando o dia que se iniciava maravilhosamente. Carros, bicicletas, motos e pedestres, passavam sem me chamarem a atenção. Mas logo me toquei. Todo aquele movimento fazia parte da beleza não compreendida, na simplicidade do dia a dia, quando sabemos vivê-lo. Saí de mansinho, fui até à prateleira, e peguei o livro “Reflexo De Um Amor Contido”, de minha queridíssima prima, Neide. Abri o livro e, para meu encanto, deparei-me com esse encanto escrito aí em cima.

Estamos iniciando mais um dia de mais um mês de um ano que está se afastando. O que deveria nos levar a uma reflexão sobre o que vivemos no ano que se despede. O que fizemos de bom e de ruim. E a maneira mais racional e civilizada de separar o joio do trigo é pensar positivamente. E só assim afastaremos dos pensamentos os maus momentos vividos. Comece esse exercício procurando o que está acontecendo de melhor ao seu redor. E o melhor pode estar no mais simples. Procure viver cada momento deste mês que inicia o término de mais um ano já vivido. Procure esquecer tudo que não valha sua atenção para sua felicidade. Temos só um mês para nos prepararmos mentalmente para viver o ano que se aproxima.

Crianças brincando nos escorregadores e correndo pelo gramado de praça pode muito bem ser um momento feliz. Mas só o será para quem quer ser feliz. E “O reino de Deus está dentro de nós.” Quando acreditamos nisso não há por que não ser feliz. Quando você saiu de casa, pela manhã, prestou atenção à florzinha da plante silvestre próxima ao seu portão? Se não prestou, perdeu. Faltou habilidade para buscar a felicidade onde ela estava. O que tornará seu dia mais cansativo e enjoado. O que vai cansar você na sua tarefa no trabalho. Simples pra dedéu. Pense nisso.

*Articulista

[email protected]

99121-1460