Opinião

Opiniao 10396

Subterrâneos da solidão

Walber Aguiar*

Eu sei tanto quanto eles,se bater asas mais alto, voo como um gavião. Zé Geraldo

As “baratas” estavam inquietas. nem era do veneno que lhes perseguia ou do antigo modelo de combate, as sandaliadas por cima do envernizado casco. Asas prontas a levantar voo e disparar na direção da cara feia de medo e nojo.

Já não se ajuntavam como antes, os insetos da pavorosa vida subterrânea. De vez em quando entravam em seus carros e iam até feiras e supermercados na tentativa de saciarem a fome ou mastigar qualquer coisa apetitosa. alguns insetos, menos afoitos, saíam de lá com um pãozinho apenas. Não tinham alto poder aquisitivo. Outras envernizadas vidas compravam sacos e sacos de mantimentos, no afã de mostrar aos fragilizados economicamente que a vida com elas tinha sido um tanto mais benevolente. Afinal, os buracos do existir e as reentrâncias da desigualdade social deixaram indelevelmente suas marcas.

Dali a pouco saltariam avidamente sobre notebooks e celulares, na ânsia por teclar assuntos importantes, banais, medíocres, naquela subterraneidade rasa, superficial, fisiologista. Alguns daqueles insetos amedrontadores faziam cara feia diante da ameaça de outros; isso porque, travavam ali, naqueles tempos de quarentena e pandemia uma guerra hercúlea, na tentativa de subjugar quem estava do outro lado da disputa nas arenas enlouquecidas das redes sociais. Já não podiam sair às ruas largas e abandonadas, encardidas e silenciosamente inquietas. Meu Deus! ninguém pra assustar, nem pra tentar destruir psicologicamente. Todos estavam diante da deusa dos raios azulados, a velha televisão, inimiga dos leitores e amiga dos velhos e entrevados, daqueles que a vida empurrou pra um canto.

“Pelamordideus”, era a expressão baratinada dos bichos escrotos e envernizados que tinham, forçosamente, que sair para garantir algumas migalhas de pão e de alento para a alma. Muitos cascudos já não aguentavam mais aquela vida posta, quase insepulta, entre a conservação do existir e o tédio, entre o desespero de se agarrar à saúde e o enauseamento sem graça e sem direção, naqueles dias sem nenhum perfume diferente ou alguma coisa inédita que lhes fizesse qualquer sentido, qualquer coceira no coração ou nos ouvidos quase moucos de silêncio e contemplação do nada.

Subterraneamente, os dias passavam lentos, num descompasso enlouquecido das pulsões e compulsões, numa piraçãotonteadora das horas sem desejo e aventura. A discussãopolítica girava entre os bichos, amontoados sobre as estatísticas da morte física e financeira, daqueles que se aventuravam pelas ruas e avenidas do medo e da subterraneidade do ser. Ofensas, mentiras, brilho nas notícias, enfatuamento de ideias, além do velho discurso batido dos seres de brilho aparente e casca dura naqueles dias de “profetas” encomendados e do baratinamento doutrinário inventado pelos insetos da religião, com a proximidade da tragédia anunciada e do famoso juízo final. Muito juízo e nenhuma misericórdia, muita casmurrice e pouco amor historiável, muito sentimento de vingança divina apregoado pelos bichos que advogavam o trágico e contabilizavam guerras, pestes, fome, tsunamis, terremotos e qualquer coisa que pudesse exterminar a todos os “insetos” que se escondiam nos subterrâneos do medo e da maldade.

As “baratas” mais tontas digladiavam virtualmente naqueles dias de pandemia e morte, isolamento e dor, desgraça política e decadência financeira. Ainda um bicho brincava com a morte, com o poder, com o tonteamento existencial daqueles que o seguiam com fervor e obtusidade. Os outros insetos que habitavam o subterrâneo tinham opinião diametralmente oposta na hora de expurgar de forma dedetizante aquele inseto cheio de desvario e baratinação diante da realidade.

Por fim, os bichos, inquietos, fragilizados e amedrontados, foram felizes. Não para sempre. Uns encontraram a felicidade na morte, outros continuaram buscando saída para o absurdo tempo e para a saída ansiosa e breve dos subterrâneos do existir. 

*Advogado, poeta, professor de filosofia, historiador, membro da Academia Roraimense de Letras

E-mail: [email protected]

Projeto Cartas Vivas – Homenagem aos profissionais da saúde

Dolane Patrícia*

André Rodrigo**

Dentre todos os profissionais que merecem a nossa homenagem, os profissionais de saúde fazem jus a nossa atenção e agradecimento.

Foi pensando nisso que a Escola Adventista de Boa Vista criou o Projeto Cartas Vivas, cujo nome foi escolhido a partir do seguinte versículo bíblico:

“Vós sois a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos os homens,” (2Co 3:2 ARA).

Trata-se de um projeto onde alunos escrevem cartas de agradecimentos aos profissionais da saúde em razão de todo seu empenho nesse momento tão delicado da história da humanidade.O projeto nasceu no coração dos alunos da Escola Adventista de Boa Vista visando reconhecer o trabalho dos profissionais de saúde que não cessaram suas atividades neste período de enfrentamento da pandemia (Coronavirus/COVID-19) que atuam no Hospital Geral de Roraima (HGR).

Sabendo-se que a cada dia 12 de maio comemora-se o Dia do Profissional de Saúde, a Escola Adventista de Boa Visa desenvolveu o Projeto Cartas Vivas onde serão enviadas cartas a esses profissionais de saúde escritas pelos próprios alunos. O Projeto Cartas Vivas além de exercer nos discentes a espírito de gratidão, concomitantemente desenvolve: o aspecto prático pedagógico da escrita, leitura, interatividade, coordenação psicomotora, etc. Orientações Gerais O projeto será desenvolvido da seguinte maneira: Os alunos que participarão serão os das turmas do Jardim 3 (Educação Infantil) e Primeiro ano (Fundamental 1);

As cartas serão escritas de próprio punho; o tipo de papel que será utilizado será papel A4 da cor de preferência do aluno; deverão conter no máximo cinco linhas escritas, pode conter desenhos e pinturas, além da parte escrita.

Após prontas, as cartas serão colocadas em envelopes personalizados com a logomarca da Educação Adventista para então serem entregues aos profissionais. As cartas serão recebidas, dos alunos, pelas professoras regentes.

Desde o mês de maio está ocorrendo os preparativos para que esse projeto se torne um momento inesquecível na vida das crianças e dos profissionais da saúde.Assim, dia 04/05 aconteceu o lançamento do Projeto, dia 23/06 Desenvolvimento das Cartas, dia 24/06 é o momento da entrega das Cartas na Escola e finalmentedia 25/06 Entrega das Cartas no HGR.

Quando uma homenagem ou uma mensagem de agradecimento é feita por uma criança, ela se torna ainda mais especial e significante, afinal, “a sinceridade de uma criança não se limita apenas às palavras. Embora seja verdade que as crianças dizem a verdade tão naturalmente que muitas vezes acaba sendo engraçado, a sinceridade das crianças também se expressa em suas ações.”

Por outro lado, os profissionais de saúde merecem todo nosso agradecimento, toda nossa gratidão. E a Escola Adventista de Boa Vista encontrou nessas cartas, uma forma de expressar o seu agradecimento por todo esforço, toda dedicação e renúncia que fazem a cada dia. Muitos desses profissionais ficaram distantes da família, sem ver os filhos e sem ver os cônjuges, a todos vocês a nossa imensa gratidão.

A propósito, quando falamos em profissionais da saúde, não estamos falando apenas dos méd
icos, mas de todos os profissionais da área que estão na linha de frente da batalha do novo Coronavírus. Fisioterapeutas, equipe da limpeza, enfermeiros, técnicos de enfermagem e todos os demais profissionais envolvidos direta ou indiretamente nessa luta diária para salvação de vidas.

A propósito, é importante ressaltar a pureza da resposta das crianças e a sua singeleza ao desenhar cada flor e escrever cada linha tentando demonstrar um pouco de sua gratidão. É um gesto dantesco, sublime e inesquecível, afinal:

“Se sinceridade fosse uma pessoa seria uma criança”.

*Advogada, juíza arbitral, escritora apresentadora de TV, colunista, personalidade da Amazônia e Personalidade Brasileira, Mestre em Desenvolvimento Regional da Amazônia. Pós-graduada em Direito Processual Civil e Direito de Família. Acesse o site dolanepatríciarr. 

Aplicativo DolanePatricia.

**Graduado em Teologia pela FADBA (Faculdade Adventista de Boa Vista) Pós graduado em Gestão Educacional. Diretor da Escola Adventista de Boa Vista.

Paixão intensa

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“A intensidade das paixões difere no homem e na mulher, e é por isso que homem e mulher não param de se desentender.” (Nietzsche)

Quando será que vamos entender isso? Não sei se isso vai melhorar as coisas. Mesmo porque, com certeza o Nietzsche, pelo que me parece, não está se referindo à paixão nos amores. Porque aí a coisa é diferente. No meu entender. Mesmo porque não sou especialista no assunto. Apenas vejo-o com minha maneira de ver as coisas à minha volta. Mas vamos caminhar devagarzinho nesse assunto. Ele é muito complexo e exige cuidado na conversa. Mas já observou como homens e mulheres estão sempre divergindo? E elas sempre levam o assunto para a discussão. O que não indica inferioridade, mas apenas diferenças de modos de pensar e ver. Simples pra dedéu.

O maior problema, no meu ingênuo entender, é que o homem sempre quer ser superior, e a mulher sempre é mais teimosa. Talvez por isso eu as ame tanto. Mas há um aspecto muito interessante nisso tudo. E só quando os homens amadurecerem é que vamos entender o engodo. Esse maldito confinamento a que estamos obrigados, está me despertando para o assunto. Embora a imprensa esteja mais atenta ao vírus, não podemos deixar de observar o crescimento da violência entre os casais. E o pior é que a grosseria está se explicitando no que já sabíamos: machismo doentio.

Uma das coisas mais simples nesse engodo é nossa ignorância quanto ao sentimento humano. E se nos limitarmos à convivência nos casais, ficaremos atentos. E as coisas são simples. Tão simples que a complexidade nos pensamentos ainda em evolução, confunde o simples com o vulgar. Que é o que acontece na desarmonia entre casais. Há uma coisa muito simples que não é considerada nem mesmo pelos especialistas no assunto: as diferenças entre o amor, o sexo, a paixão, e o ciúme. Eles formam o quarteto que domina nossas vidas, escudado no nosso despreparo. Algum especialista já lhe disse que o ciúme é uma doença, e perigosa?

Você já conheceu uma pessoa ciumenta e equilibrada mentalmente? Nem vai conhecer. Assim como não vai conhecer uma pessoa mentalmente equilibrada e ciumenta. Vá pensando nisso e analisando o problema com a seriedade que ele deve ser visto. O ciúme sempre leva ao crime, mesmo que este lhe pareça insignificante. Mesmo porque o crime de menores proporções só é considerado insignificante pela justiça. O ciúme é uma doença mental, a paixão um descontrole emocional, o sexo é vida, o amor é a felicidade na sua extensão superior. E homens e mulheres que não entendem isso vivem brigando. E na briga, perde o mais fraco fisicamente. Pense nisso.

*Articulista

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