Opinião

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Trabalho, emprego e renda Linoberg Almeida

Será que é pedir demais querer trabalhar em paz, de jeito honesto, ao invés da escravidão? Calma lá, antes que você diga que não somos mais aqueles, nem daqueles tempos da lida com açúcar, ouro, tabaco, olhe ao redor e veja se a falta de proteção, remuneração digna, direitos, e gestão, num excesso de informalidades e jeitinhos, não tiram a humanidade do mundo do trabalho.

É muito comum falar de taxa de desemprego tendo como base índices oficiais que só consideram como desempregada a pessoa que está sem trabalho, mas busca novas oportunidades. E aquelas que perderam emprego, subsistem de auxílios, e não estão no mercado por não conseguirem mais se encaixar, que mesmo na procura, não tiveram sucesso? 

Aí que entra o Estado, poder público como capaz de agir por um conjunto de ações focadas na melhoria da oferta de qualificação social e profissional. Para reduzir a vulnerabilidade social num lugar como Roraima, de olho no desenvolvimento, da autonomia e independência dos cidadãos, é urgente a atenção especial na prestação do serviço público e da qualidade de vida dos servidores, associada a políticas de incentivo e qualificação de negócios; isto é, público e privado de mãos dadas.

É mais que pagar salário de servidor em dia, honrar compromissos, mais que concurso e progressão. Há avanços sim, mas esta obrigação óbvia não pode ser chancela que cacife quem não tem plano de ação que saiba mensurar, avaliar erros e acertos imediatamente, criando uma cultura de avaliação sistemática de políticas, permitindo melhorias, ajustes, transparência à administração. Não ouvir de fato a população, agir sem informação de qualidade e com pouca tecnologia em 2021 significa desperdício de recursos públicos.

Sinceramente, temos que criar sinergias, agilidade de decisão e articulação, consenso de prioridades e atores políticos que façam seu papel efetivamente. Não falta comunicação ao governo do estado. Às vezes, falta o que comunicar; não pela quantidade de ações, é claro. O cabresto político eleitoral ao nosso redor é muito ruim para o bom desenvolvimento de outras relações de trabalho que criem um ambiente social saudável que não precarize a vida em todos os sentidos. 

Dizer que sem inovar, empreender, engajar, planejar não há gestão moderna é chover no molhado. Mas, se toda chuva molha o hospital, derruba ponte, alaga o São Pedro e o Jardim Tropical, isola municípios é sinal que já passou da hora de termos um Roraima inovador, competitivo, responsável, sustentável e democrático. Afinal de contas, nossa renda, fruto de trabalho ou emprego, e até a falta dela, é que banca tudo isso. 

Linoberg Almeida     Sociólogo, Professor/ UFRR

                                                              O fim das concessionárias de veículos como conhecemos hoje                                                                                                          *Ronaldo Nuzzi   Aquele orgulho de ser proprietário de um carro novo, algo intrínseco na cultura brasileira, começa a dar sinais de ruptura, de coisa do passado. Essa quebra de paradigma tem se intensificado com o modelo  de veículos por assinatura que começa a ser capitaneado pelas montadoras. Trata-se de uma prática que acaba competindo com seus grandes clientes – as locadoras de veículos – e, inclusive, com suas próprias redes de concessionárias.

Quando surgiu o transporte por aplicativo, a primeira hipótese era que uma pessoa que tivesse um veículo subutilizado, o usaria  em suas horas vagas para transportar passageiros. O aumento do desemprego tornou essa prática uma profissão. 

Com o rigor das exigências das empresas de aplicativos pela idade e condições dos veículos de sua frota, a saída de muitos motoristas foi alugar um veículo. Esse movimento fez com que as locadoras se tornassem as grandes clientes das montadoras, representando, em alguns momentos, até 60% de toda a produção de veículos do País.

A pandemia e o crescimento do home office derrubaram esse índice, impulsionando a devolução dos veículos locados. O carro por assinatura foi implementado pelas locadoras há alguns anos, um aluguel de longo prazo, e o grande mercado eram as pessoas jurídicas. Hoje, esse prazo caiu para um mês, com renovações automáticas mensais.

O carro por assinatura está em linha com uma tendência de mercado: transformar tudo o que pode ser considerado um produto em serviço pago mensalmente. O streaming nas smart tvs é um símbolo desse modelo.

O brasileiro ainda precisa ser convencido de  que vale mais a pena pagar por mês do que investir no veículo. Mas a grande maioria dos fabricantes já lançou programas de carro por assinatura, e tudo indica que os resultados estão muito acima do projetado. É uma realidade, e não apenas tendência. O serviço é muito simples na maioria das montadoras. O cliente entra com dados, um robô faz a checagem e define um score de crédito. Uma vez aprovado, receberá o contrato digital para ser assinado.

O prazo de entrega de até 150 dias ainda é um entrave, mas pode ser rapidamente reduzido  se a montadora obtiver escala. Ela obterá melhores condições de negociação com as seguradoras e também com toda a burocracia existente necessária para emplacar um  veículo zero  e torná-lo apto a ser utilizado. Outro grande mercado para os carros por assinatura é a entrada dos veículos elétricos no País, injustamente ainda muito caros. Os veículos usados seriam adquiridos apenas por pessoas que não tivessem acesso a crédito, o que ainda continuará a ser um percentual grande da população.

Mas se o contrato do carro por assinatura será vendido diretamente pela montadora para o cliente final, o que vai restar para as concessionárias de veículos? Não é de hoje que o impacto das tecnologias ameaça a capacidade de venda de veículos nas concessionárias. As montadoras se tornaram empresas de tecnologia, logo era de se esperar que elas fossem usadas não somente nos veículos, mas também no negócio.

A lei Ferrari que assegura a indenização no caso de uma concessionária ser invadida em seu território pela montadora, já há muito foi rejeitada tacitamente pelo mercado.

É imprescindível que as montadoras e as concessionárias entrem em sintonia. Há uma grande oportunidade para as concessionárias se transformarem em centros automotivos, onde as frotas de carros por assinatura seriam revisadas.

Se bem negociado entre as associações de concessionárias e as montadoras, a rede poderia se tornar exclusiva na revisão de toda a frota contratada por assinatura, e o veículo no fim do contrato seria disponibilizado para a concessionária vendê-lo como usado.

Com procedência conhecida e baixa quilometragem surgiria um grande mercado secundário de veículos usados, o mesmo mercado que hoje está dominado pelas locadoras. Assim seria o fim das lojas de usados, que atualmente estão sofrendo muito, e no médio prazo desaparecerão.

As concessionárias passarão a ser uma empresa de serviços e o líder do pós-vendas será o líder da concessionária. O show room
atual delas deveria ser negociado para se transformar em uma vitrine alugada pela montadora para apresentar seus produtos. Todos os veículos seriam negociados na internet, como hoje é feito pela Tesla.

O mercado tende a mudar rápido. Ao invés das partes buscarem soluções díspares, por que não unir forças e criar um grande projeto unificado? A tendência de a concessionária se tornar um grande centro de serviços é uma realidade que a obrigará a rever o que deveria ofertar e o que poderia ser terceirizado. Como tudo indica, está na hora do pós-venda tomar à frente das decisões estratégicas das concessionárias e assumir seu novo papel no mercado.    *Ronaldo Nuzzi, é CEO da Thompson Management Horizons e Matemático, com MBA pelo Institut Supérieur de Gestion/Paris e pós-mestrado pela Harvard Business School. [email protected] 

Prepare-se para a volta

Afonso Rodrigues de Oliveira

“A alma humana é como a água: ela vem do céu e volta para o céu, e depois retorna à terra num eterno ir e vir”. (Goethe)

O mais importante é levar isso em consideração sem confundir com filosofia, religião ou coisa assim. É apenas uma questão de esclarecimento no conhecimento da evolução racional. E primeiro devemos ter em mente que somos todos de origem racional. Viemos todos do mesmo universo, e nossa tarefa é nos prepararmos para o regresso ao nosso mundo de origem. Simples para dedéu.

E nos prepararmos para o próximo retorno é apenas nos prepararmos para a vida atual. No final dos anos trintas do século passado, o médico Miguel Couto disse: “No Brasil só há um problema nacional: a educação do povo”. E educar não é só ensinar a ler e escrever. Nunca seremos educados enquanto não entendermos o que realmente somos como seres humanos. Napoleão Bonaparte também disse: “Devemos construir mais escolas para não termos que construir mais presídios”. 

Talvez nem precisemos construir escolas quando aprendermos a educar no lar. Há outro pensamento que nos leva a reflexões importantíssimas sobre o que é educar: “A educação é como a plaina: aperfeiçoa a obra, mas não melhora a madeira”. E nunca educaremos enquanto não prestarmos muita atenção a esse fato. Não podemos educar sem considerar a personalidade de quem estamos educando. 

Já lhe falei do operário que trabalhava comigo, numa empresa paulista. Ele estava tentando sabotar a qualidade do seu trabalho, para ser dispensado e indenizado, pela empresa, para voltar para casa no sertão do Ceará. Mas recebeu uma carta do seu pai, um cidadão semianalfabeto, dizendo-lhe para ele não fazer aquilo, porque essa não fora a educação que ele lhe dera. O garoto mudou de ideia, orgulhou-se do pai e continuou trabalhando com dignidade.

Anos depois tive outro auxiliar, no Rio de Janeiro com comportamento diferente do primeiro. Era um jovem excelente no trabalho. Mas sempre tive que o corrigir, no pensamento que ele expressava, nas conversas: “O homem para ser safo tem que ser safado”. Certo dia mudei de empresa e nunca mais vi o auxiliar safadão, mas bom profissional. Mais de vinte anos depois, certo dia eu estava trabalhando quando a dona Salete me chamou apavorada: – Sinho… Venha rápido. Olha quem está aqui na televisão! 

O Cid Moreira acabava de apresentar o quarto maior traficante de drogas do Brasil, que acabara de ser preso: o Denis da Rocinha. Entristeci-me em ver ali, aquele ex-auxiliar que achava que o homem para ser safo tinha que ser safado. Nós somos o que pensamos, mas nem sempre o que pensamos que somos. Pense nisso. 

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